NORMA BENGELL QUERIA VOLTAR AO CINEMA (2013)

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   Musa do cinema,

   Norma Bengell foi

   a primeira atriz

   a fazer nu frontal


   Artista tinha 78 anos e morreu vítima de câncer no pulmão direito.
   Corpo será velado no Cemitério São João Batista, às 18h desta quarta (9 out/ 2013).

   Do G1 Rio

   A atriz e cineasta Norma Bengell de 78 anos, que morreu por volta das 3h desta quarta-feira (9) vítima de câncer no pulmão direito, atuou em diversas novelas e filmes. Em 1962, quando tinha 27 anos, ela atuou em "Os Cafajestes" - de Ruy Guerra -, em que exibiu o primeiro nu frontal do cinema brasileiro. Norma foi uma das musas do cinema e do teatro brasileiros nas décadas de 50, 60 e 70.

   
Atriz, vedete, cineasta, cantora e compositora, Norma Bengell começou a carreira na música no início dos anos 50. Em 1959 lançou o primeiro disco, com músicas de Tom Jobim e João Gilberto. Fez sucesso com sua gravação, das versões "A lua de mel na lua" e "E se tens coração" - incluída na trilha sonora do filme "Mulheres e milhões" -, de Jorge Ilely.

Norma também gravou LPs, fez participações especiais em alguns discos e também em diversos shows ao lado da turma da Bossa Nova, como Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius de Moraes e Roberto Menescal, entre outros. Ela foi uma das primeiras cantoras a gravar composições inéditas de Tom Jobim.

O corpo da atriz será velado às 18h desta quarta-feira, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, também na Zona Sul. Na quinta-feira (10), a cremação acontecerá no cemitério do Caju, Zona Portuária.

Confira a lista de discos da atriz:

• 1959 - "Ooooooh! Norma" - (Capitol/Odeon LP) • 1965 - "Meia Noite Em Copacabana" (Elenco LP)
• 1977 - "Norma Canta Mulheres" - (Phonogram LP) • 2001 - "Groovy - Faixa "Feaver" - (Sony Music CD)

Cinema

No cinema, participou de 64 filmes. Estreou nas telas aos 23 anos, no longa metragem o "Homem do Sputnik", estrelado por Oscarito, onde fez sucesso parodiando a famosa atriz francesa Brigitte Bardot. Nos anos 80, lançou-se diretora de cinema com "Eternamente Pagu". Norma também participou de várias novelas como "Partido Alto" e "Sexo dos Anjos", na TV Globo. O último trabalho foi como Deise Coturno, em 2009, no programa humorístico "Toma Lá, Dá Cá".

Confira os principais filmes da carreira de Norma como atriz e diretora:

Atriz:
• 1959 - O Homem do Sputnik • 1960 - Conceição • 1961 - Carnival of Crime • 1961 - Mulheres e milhões • 1961 - Sócia de Alcova
• 1962 - Mafioso • 1962 - O Pagador de Promessas • 1962 - Os Cafajestes • 1963 - I cuori infranti • 1963 - Il mito
• 1963 - La ballata dei mariti • 1964 - La costanza della ragione • 1964 - Noite Vazia • 1965 - Mar Corrente • 1965 - Terrore nello spazio
• 1965 - Una bella grinta • 1966 - As Cariocas • 1969 - Verão de Fogo • 1970 - Os Deuses e os Mortos • 1971 - A Casa Assassinada
• 1971 - As Confissões de Frei Abóbora • 1971 - Capitão Bandeira contra o Doutor Moura Brasiil • 1977 - Maria Bonita
• 1977- Mar de Rosas • 1981 - Eros, o Deus do Amor • 1983 - Rio Babilônia • 1988 - Eternamente Pagu
• 1992 - Vagas para Moças de Fino Trato • 2002 - Banquete

Diretora:
• 2005 - “Magda Tagliaferro - O Mundo Dentro de um Piano” • 2005 - “Infinitivamente Guiomar Novaes”
• 1997 - “O Guarani” • 1987 - “Eternamente Pagu”

Entrevista ao G1
Em 2007, Norma deu uma entrevista ao G1 sobre uma polêmica em que estava envolvida. A atriz teria comprado em 1996, por R$ 260 mil, um imóvel na época avaliado em mais de R$ 1 milhão. A compra foi realizada logo após a captação de dinheiro para a realização do filme “O guarani”. Dois anos depois, o apartamento foi vendido para uma empresa sediada no Uruguai, representada no Brasil por um ex-advogado dela.

No entanto, o Tribunal de Contas da União (TCU) considerou que Norma usou irregularmente o dinheiro captado para a realização do filme. “Estou sendo tratada como bandida. Coisa que nunca fui. Estou arrasada. Nunca soube de nada disso, não fui notificada nem chamada a depor", disse a atriz na época.

arquivos do próprio bol$o

Presa a dívidas, a uma cadeira de rodas e sem trabalho, Norma Bengell queria voltar ao cinema

André Miranda

norma

 5 abr. / 2011 - RIO - Numa sala espaçosa, na casa onde mora, na Gávea, Norma Bengell passa o dia num canto, sentada numa poltrona, vendo TV. Ao alcance da mão, uma garrafa d'água e dois maços de cigarro. Quando precisa se levantar, aperta uma campainha e chama a acompanhante, Vilma Gomes, que trabalha para ela há duas décadas. Para virar o corpo para a foto, ela tem dificuldades; para mudar o braço de posição, também. Aos 75 anos, sem filhos e viúva, a mulher que foi uma das principais estrelas do país, presente na música, no teatro, na TV e, sobretudo, no cinema, passa semanas sem sair de casa, sem uma fonte de renda regular há mais de um ano e, diz, sem poder saldar as dívidas acumuladas. Norma quer voltar a filmar.

   O último papel de Norma foi na televisão, como a personagem Deise Coturno no humorístico "Toma lá, dá cá", da TV Globo, encerrado em dezembro de 2009. Pouco depois, ela escorregou num tapete de casa, sofreu um tombo e precisou operar a coluna e o cotovelo. Dali em diante, a atriz só deixou sua casa para ir ao hospital e para dar entrada no pedido de aposentadoria, que ainda não saiu. Até agora, Norma também não recebeu a pensão de anistia do governo, que requereu por ter sido presa durante o regime militar: o valor seria de R$ 2,7 mil mensais, mais uma indenização retroativa de R$ 254,4 mil. Na última semana, um perito médico examinou a atriz e disse que o dinheiro pode sair em 60 dias.

   Norma teve suas contas bancárias e bens bloqueados depois da polêmica envolvendo o filme O Guarani (1996), dirigido e produzido por ela. Na época, o Ministério da Cultura e o Tribunal de Contas da União encontraram irregularidades nas notas de prestação de contas do longa. Norma recebeu críticas de todos os lados. E processos. Os criminais foram arquivados. Outros dois - tributários - aguardam decisão. Enquanto isso, além dos bens bloqueados, ela está impedida de assinar projetos como produtora.

- Publicaram que eu não tinha feito filme algum, que tinha comprado uma cobertura com o dinheiro. Mas o filme estava pronto, passou na TV para milhões de espectadores - ela diz.

Hoje, o maior problema da atriz-diretora-produtora são as dívidas. Com o plano de saúde, já são R$ 3 mil, e o serviço deve ser cancelado este mês. Ela também não consegue mais pagar o fisioterapeuta, as contas do cartão de crédito, um empréstimo bancário, o salário de Vilma e nem o aluguel da cadeira de rodas, a R$ 150 mensais. Norma já vendeu joias e quadros, e os amigos consideram levá-la para o Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá.

- Não vou. Não quero sair daqui. Moro nesta casa há quase dez anos - diz. - Algumas pessoas estão me ajudando, mas o que eu preciso é de patrocínio para rodar meu filme. Tenho um projeto de um média-metragem sobre o J. Carlos, o cartunista, que o Silvio Tendler vai produzir. Eu consigo dirigir da cadeira de rodas, só preciso de alguém que apoie.

O desejo é compreensível. Durante muito tempo, Norma disputou com Odete Lara o título informal de musa do cinema nacional. Depois de fazer sucesso como vedete nos espetáculos de Carlos Machado, sua estreia nas telas aconteceu em 1959, quando contracenou com Oscarito na chanchada "O Homem do Sputnik", de Carlos Manga. No mesmo ano, ela levou para as lojas o disco "Ooooooh! Norma", em que aparecia lindamente seminua na capa, num projeto de César Villela, e surpreendia a todos cantando bossa nova, ainda nos primórdios do gênero.

Mas os dois trabalhos fundamentais para sua carreira só foram lançados em 1962. Primeiro, a atriz escandalizou a conservadora sociedade brasileira ao protagonizar o primeiro nu frontal da história do cinema brasileiro, em "Os Cafajestes", de Ruy Guerra, em que atuava ao lado de Jece Valadão e Daniel Filho.

 Em seguida, foi a vez de interpretar a prostituta Marli em "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte, o primeiro e até hoje único longa-metragem brasileiro a receber uma Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Dali, ela foi morar na Itália, casou-se com o ator Gabrielle Tinti, já falecido, e despontou para o estrelato, com filmes no Brasil e na Europa. Por aqui, foi dirigida por Domingos Oliveira, Julio Bressane, Rogério Sganzerla, Antônio Calmon, Walter Hugo Khouri, Paulo Cesar Saraceni, Glauber Rocha, Neville D'Almeida e Paulo Thiago.

- Aquela cena dos Cafajestes deu muito o que falar. A TFP (a organização Tradição, Família e Propriedade) mandou tirar meu nome de todos os cartazes e organizou uma passeata contra mim. Disseram que, se eu fosse a Belo Horizonte, iria morrer a paulada - lembra. - Eu nunca tinha ficado nua assim. O Ruy Guerra falou para eu entrar na água, e eu tirei o maiô dentro do mar. Aí ele botou a câmera atrás de um jipe, disse "corre", e eu saí correndo pela praia. Foi feito uma vez só.

Hoje, a rotina de Norma é reduzida à fisioterapia que faz cinco vezes por semana - o fisioterapeuta continua atendendo mesmo sem receber há dois meses -, a assistir a programas na tevê e à internet. Norma acorda cedo, por volta das 6h30m, e só consegue se locomover na cadeira de rodas e com auxílio de alguém. Seus ambientes se limitam ao quarto, à sala e ao escritório, onde responde a e-mails e lê notícias na rede. Fuma bastante. Já tentou parar, mas nunca conseguiu. E vive cercada de prêmios, fotos antigas e cartazes de filmes.

Ao contar suas histórias, Norma às vezes ri ("o Anselmo Duarte era tão engraçado", diz), em alguns momentos olha para o alto ("Ah, eu briguei com o Glauber no 'Idade da Terra'"), e muitas vezes chora. O choro é de quem gostaria de voltar a exercer seu ofício mais uma vez, mais de 50 anos após o início de uma muita bem-sucedida carreira artística.

- Eu não sou saudosista, vivo muito o presente, não sinto falta daquele tempo. Mas sinto falta de atuar. Quando a luz acende, a gente se sente outra pessoa. É lindo - afirma. - E também sinto falta do mar. Eu gostava de nadar, de sentir aquele cheiro de sal. Mas eu acho que tudo vai melhorar. Se eu não achar, eu morro.