AVATAR: A “Nona Revolução” Cinematográfica?

AVATAR
Será que a nova realização do diretor James Cameron representa a “nona revolução” cinematográfica?
Primeira Revolução
Fotos em movimento: Em 1895 o eletricista britânico Robert W Paul inventou um projetor de filmes para mostrar ao público imagens animadas. Mais ou menos ao mesmo tempo, na França os irmãos Lumière inventaram o cinematógrafo, um aparelho portátil tipo 3 em 1 que incluía uma câmera, uma impressora e um projetor. Sejam bem-vindos ao cinema!
Segunda Revolução
Grande, longo e sem cortes: O filme A História da Quadrilha Kelly (The Story of The Kelly Gang) filmada em 1906 foi o primeiro filme à rodar por 60 minutos. De repente, “ilusionismos” viraram “longa metragens”.
Terceira Revolução
Som: “Vocês não ouviram nada ainda...” profetiza o filme O Cantor de Jazz (The Jazz Singer) em 1927 foi o primeiro filme com diálogo audível. Os filmes tinham aprendido a falar!
Quarta Revolução
Agora é em Tecnicolor: Com o primeiro longa metragem em Tecnicolor, Rouben Mamoulian nos brindou em 1935 com o filme Becky Sharp trazendo um arco-íris de cores para dentro dos cinemas.
Quinta Revolução
Cidadão Welles: Em 1941 Orson Welles, um gênio do teatro, faz a sua estréia como diretor lançando um filme fenomenal, um clássico do cinema, chamado Cidadão Kane. Cidadão Kane mostrava uma nova forma de fazer filmes. Na época poucos captaram a nova mensagem mas, aqueles que entenderam, perceberam imediatamente que, depois deste filme, o cinema nunca mais seria o mesmo.
Sexta Revolução
Cercando o público com som: Em 1940 a Disney lançou o filme Fantasia com som “Surround” onde a música ultrapassa a barreira dos dois canais (estéreo) mas, foi em 1976 com o filme Nasce uma Estrela (A Star is Born) que os ouvidos vibraram ao som do primeiro filme que trazia uma trilha sonora em “Dolby Stereo”.
Sétima Revolução
Sonhos digitais: Em 1998, com o filme A Última Transmissão (The Last Broadcast) inicia-se a revolução digital pois, este foi o primeiro filme lançado digitalmente.
Oitava Revolução
Entrando dentro do filme: Em 2004 o filme O Expresso Polar (Polar Express) foi o primeiro filme à ser lançado no formato IMAX 3D ao mesmo tempo que nos cinemas normais (2D). Os filmes em 3D venderam 14 vezes mais ingressos do que os em 2D. Evidentemente todo mundo, na indústria do cinema percebeu!
Nona Revolução
Em dezembro de 2009 o visionário diretor James Cameron lança um filme épico de ficção científica chamado Avatar. O filme incorpora atores reais com atores animados usando os melhores profissionais e as técnicas mais avançadas de desenho tridimensional, puxando a criação cinematográfica para níveis revolucionários. Será mesmo?
Nesta matéria vamos procurar analisar o filme para descobrir se todo este falatório é mais uma campanha publicitária de vendas ou, se a coisa é séria mesmo!
Eu adoro ficção científica!
Livros, revistas, filmes, animações, tudo! Sempre estou à busca de algo novo. Fico extasiado com idéias e soluções inteligentes e fico muito indignado quando o filme é paternalista e subestima minha inteligência. Porque tenho esta obsessão? Porque acho este gênero tão importante? A única resposta honesta e sincera que lhes posso dar é que acredito que tudo que o homem pode pensar pode ser concretizado.
Quer dizer, à meu ver, a mente é o palco onde possíveis cenários, possíveis universos e realidades são testados antes de tornarem-se realidade material. Portanto, ficção científica é uma janela aberta para o futuro, o nosso futuro, depois da nossa morte. Eu, vejo como uma forma de driblar a minha própria mortalidade. Portanto, em vez de ficar perdendo meu tempo com religiões enganosas que prometem o impossível eu prefiro a Ficção Científica que já provou, o seu poder profético, incontáveis vezes. Como vocês podem perceber, ficção científica é uma máquina do tempo que nos permite viajar para o futuro e, até muitas vezes, cruzar o próprio tecido da dualidade espaço/temporal permitindo-nos visitar outras dimensões paralelas à nossa. Sei lá, talvez eu seja apenas um sonhador vivendo no futuro.
Por exemplo, toda vez que vejo alguém usando um telefone celular, um computador ou uma televisão de tela plana, para mim, é ficção científica que tornou-se realidade. Estas invenções visitaram as revistas em quadrinhos muito anos antes de materializarem-se nesta realidade em que vivemos. Se, o escritor Julio Verne foi à lua muito antes de todo mundo e eu, já visitei Marte, conheci outras civilizações na nossa galáxia e tenho um amigo robô. Não é fantástico!
Bom, depois desta glorificação à ficção científica, vamos voltar ao filme Avatar. Se eu divagar muito tenham paciência pois este assunto está impregnado no meu código genético.
Esta semana que se passou, foi feita aqui em Londres, a pré-estréia do filme Avatar. Poucos foram os privilegiados presentes: algumas celebridades e atores, profissionais ligados à industria cinematográfica e produtoras, além, é claro dos repórteres especializados.
Minha amiga, a diretora de cinema Stella Corradi estava lá para conferir o filme. Veja abaixo, seu curta metragem chamado Bon Appétit inspirado no trabalho do famoso diretor Jean-Pierre Jeunet.( Bon Appétit - Stella Corradi, 2009) (for web site: shortwEQbLskDx20)
No cinema, na entrada e durante a exibição, o clima foi típico de uma operação de guerra. Todos os presentes foram revistados, e tiveram que passar por detectores de metal e durante a exibição do filme seguranças observavam atentamente os presentes usando aparelhos para visão noturna. Todo este aparato de espionagem tinha apenas uma intenção: evitar que o filme fosse copiado e colocado na Internet.
Fiquei satisfeito com o fato de que sua avaliação coincidiu exatamente com a minha. Foi um bate-papo tão interessante que obviamente fui obrigado à escrever esta matéria.
Moebius
Eu como muita gente, só tive acesso à prévia publicitária (trailer) postada na Internet. Entretanto, para aqueles que, como eu, seguem a história deste gênero artístico por muitos anos, imediatamente notei a influência do trabalho genial do artista francês Jean Giraud mais conhecido como Moebius. A presença da arte de Moebius na ficção científica do cinema é marcante indo de Tron, Alien, Bladerunner passando pelo filme O Quinto Elemento. No mundo do rock sua presença ficará para sempre imortalizada pela sua participação no desenho animado de longa metragem chamado Heavy Metal. Aliás, devo deixar claro que, a autoria do design do monstro do filme Alien é de H. R. Giger mas, o design da nave espacial e uniformes é de Moebius.
H. R. Giger parece obcecado com a criação de um universo erótico, visualmente habitado por imagens contendo genitália, sado-masoquismo e necrofilia, tudo cuidadosamente construído dentro de um pseudo cenário gótico obscurecido e aterrorizante. Para quem não percebeu ainda, o mostro do filme Alien é baseado na forma de um pênis. Moebius por sua vez, apresenta uma flexibilidade tremenda, com uma temática muito variada. Seus personagens também tem um apelo erótico mas as suas formas são mais sutis, alongadas e andróginas bem no estilo dos personagens do filme Avatar. Moebius sempre gostou de brincar nos seus desenhos e ilustrações com o conceito de “força de gravidade”. Cidades construídas em cima de rochas flutuantes, personagens em meditação em frente de pequenos cristais levitando na palma das suas mãos, personagens voando em cima de pássaros pré-históricos domesticados, etc., são apenas alguns dos cenários por ele criados. Outra importante contribuição sua tem à ver com a arquitetura das suas construções com suas fiações e tubulações à vista (vide Alien, Bladerunner, etc., etc.) e, também como figurinista e designer de roupas onde, capacetes, uniformes e vestimentas, hoje, são presença obrigatória em tudo quanto é filme de ficção, chegando ao ponto de saturação. Seu estilo futurista é tão influente que até a própria moda foi mudada e, às vezes vejo pessoas na rua que, mais parecem visitantes do futuro. Quem sabe? Vai ver que são mesmo!
Mas, Avatar é bom ou não é?
Como entretenimento é nota 10! Quando se fala de um novo filme de James Cameron, o mundo presta atenção. Um diretor de cinema que tem na sua bagagem nada mais nada menos que Terminator (Exterminador do Futuro), Aliens (o fantástico segundo filme), The Abyss (aliens pacíficos vivendo no fundo do mar) e Titanic (o melodramático, sucesso de bilheteria) não poria todo o seu peso e 300 milhões de dólares (o filme mais caro da história do cinema) num projeto que ele não acreditasse.
A minha amiga Stella Corradi, na pré-estréia, teve seus sentidos bombardeados por estímulos visuais e sonoros e, foi totalmente absorvida pelas imagens e pela história mas, quando saiu do cinema, seu senso crítico foi rapidamente restaurado e, as inevitáveis comparações vieram à tona. Comparações estas que, a maioria, eu já havia feito:
1) Norte Americanos querem explorar as riquezas minerais de um outro planeta mas, os nativos não querem deixar. Solução invadir e matar todo mundo. Os nativos resistem bravamente. Solução: infiltrá-los com um corpo de um nativo criado geneticamente onde foi transplantado a mente de um soldado, um Avatar. Em computação Avatar é um desenhinho que você coloca para representar uma pessoa ou emoção. Simbolicamente, trata-se de uma paródia do interesse Norte Americano pelo petróleo árabe, a invasão do Iraque e Afeganistão e o conseqüente desrespeito por outras culturas!
2) Os minerais que os Norte Americanos querem existem imediatamente abaixo de árvores cujas raízes interagem com os minerais guardando a memória e tradição do povo que vive ali. Quer dizer, retirar os minerais é destruir uma civilização. É claro que o Norte Americanos não estão nem um pouco interessados. Aí, vemos mais uma metáfora aos movimentos ecológicos que pregam viver em harmonia com a natureza e respeito ao planeta Terra.
3) Surpresa! O Avatar interessa-se por uma nativa. Há! Romeu e Julieta, só que tudo azulzinho! Que lindo! Só que eu já vi isto antes! É o pobre que quer casar com a rica ou a pobre que quer casar com o rico. O indiano que quer casar com alguém de outra casta. O negro que quer casar com a branca ou vice-versa. Dá-lhe novela da Globo!
4) A qualidade das interpretações das animações é muito boa. Eles são atores quase humanos mas ao fundo, a paisagem, o cenário em volta dos personagens, apesar de bom, não é muito diferente de filmes como Final Fantasy.
5) A temática lembrou um pouco o desenho animado chamado Princesa Mononoke produzido por Hayao Miyazaki um dos mais famosos diretores de animação japoneses.
Eu, cá com meus botões, fico pensando que é muito curioso como o governo Norte Americano tolera estas críticas à sua política externa terrorista. Acredito, que filmes onde os mais oprimidos vencem funciona como uma válvula de escape para a humanidade. É como ter um quarto na sua casa contendo um boneco com o rosto do seu inimigo para que você, de vez enquanto, possa dar uma surra. Lá fora, a realidade continuará a mesma, nada mudará mas, nós teremos uma falsa sensação de vitória.
Bom, divagações à parte, tudo indica James Cameron está imperturbável com qualquer crítica ou comparação. Ele sabe muito bem qual é o seu papel nesta história toda. Ele é o responsável por uma nova revolução, a nona. Por causa dele, cinemas do mundo todo estão trocando seus projetores. 3D veio para ficar!
Dia 17 de dezembro estréia oficialmente em Londres o filme Avatar. Apesar das inúmeras comparações e comentários eu estarei lá para assistir o filme todo, buscando por idéias inteligentes e soluções luminosas e assim, poder fazer um julgamento mais completo. Sugiro que o caro leito faça o mesmo!
EMERSON, LAKE & PALMER: Brain Salad Surgery
Here is the cover that H.R. Giger designed for Debbie Harry's debut solo album 'KooKoo':
http://www.youtube.com/watch?v=TDj1CuBrcV8&NR=1
http://www.youtube.com/watch?v=-9ceBgWV8io
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Será que a nova realização do diretor James Cameron representa a “nona revolução” cinematográfica?
Escrito por Antonio Celso Barbieri

Primeira Revolução

Fotos em movimento: Em 1895 o eletricista britânico Robert W Paul inventou um projetor de filmes para mostrar ao público imagens animadas. Mais ou menos ao mesmo tempo, na França os irmãos Lumière inventaram o cinematógrafo, um aparelho portátil tipo 3 em 1 que incluía uma câmera, uma impressora e um projetor. Sejam bem-vindos ao cinema!

Segunda Revolução

Grande, longo e sem cortes: O filme A História da Quadrilha Kelly (The Story of The Kelly Gang) filmada em 1906 foi o primeiro filme à rodar por 60 minutos. De repente, “ilusionismos” viraram “longa metragens”.

Terceira Revolução

Som: “Vocês não ouviram nada ainda...” profetiza o filme O Cantor de Jazz (The Jazz Singer) em 1927. Este foi o primeiro filme que continha um diálogo audível. Os filmes tinham aprendido a falar!

Quarta Revolução

Agora é em Tecnicolor: Com o primeiro longa metragem em Tecnicolor, Rouben Mamoulian nos brindou em 1935 com o filme Becky Sharp trazendo um arco-íris de cores para dentro dos cinemas.

Quinta Revolução

Cidadão Welles: Em 1941 Orson Welles, um gênio do teatro, faz a sua estréia como diretor lançando um filme fenomenal, um clássico do cinema, chamado Cidadão Kane. Cidadão Kane mostrava uma nova forma de fazer filmes. Na época poucos captaram a nova mensagem mas, aqueles que entenderam, perceberam imediatamente que, depois deste filme, o cinema nunca mais seria o mesmo.

Sexta Revolução

Cercando o público com som: Em 1940 a Disney lançou o filme Fantasia com som “Surround” onde a música ultrapassa a barreira dos dois canais (estéreo) mas, foi em 1976 com o filme Nasce uma Estrela (A Star is Born) que os ouvidos vibraram ao som do primeiro filme que trazia uma trilha sonora em “Dolby Stereo”.

Sétima Revolução

Sonhos digitais: Em 1998, com o filme A Última Transmissão (The Last Broadcast) inicia-se a revolução digital pois, este foi o primeiro filme lançado digitalmente.

Oitava Revolução

Entrando dentro do filme: Em 2004 o filme O Expresso Polar (Polar Express) foi o primeiro filme à ser lançado ao mesmo tempo, no formato IMAX 3D e também no formato 2D (para os cinemas normais). Os filmes em 3D venderam 14 vezes mais ingressos do que os em 2D. Evidentemente, isto chamou a atenção de toda a indústria do cinema.

Nona Revolução

Em dezembro de 2009 o visionário diretor James Cameron lança um filme épico de ficção científica chamado Avatar. O filme incorpora atores reais com atores animados usando os melhores profissionais e as técnicas mais avançadas de desenho tridimensional, puxando a criação cinematográfica para níveis revolucionários. Será mesmo?

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Nesta matéria vamos procurar rápidamente analisar o filme para descobrir se todo este falatório é mais uma campanha publicitária de vendas ou, se a coisa é séria mesmo!

Primeiro eu preciso deixar claro: Eu adoro ficção científica!

Livros, revistas, filmes, animações, tudo! Sempre estou à busca de algo novo. Fico extasiado com idéias e soluções inteligentes e fico muito indignado quando o filme é paternalista e subestima minha inteligência. Porque tenho esta obsessão? Porque acho este gênero tão importante? A única resposta honesta e sincera que lhes posso dar é porque acredito que tudo que o homem pode pensar pode ser concretizado.

Quero dizer, à meu ver, a mente é o palco onde possíveis cenários, possíveis universos e realidades são testados antes de tornarem-se realidade material. Portanto, ficção científica é uma janela aberta para o futuro, o nosso futuro, depois da nossa morte. Eu, vejo como uma forma de driblar a minha própria mortalidade. Portanto, em vez de ficar perdendo meu tempo com religiões enganosas que prometem o impossível eu prefiro a Ficção Científica que já provou, o seu poder profético, incontáveis vezes. Como vocês podem perceber, ficção científica é uma máquina do tempo que nos permite viajar para o futuro e, até muitas vezes, cruzar o próprio tecido da dualidade espaço/temporal permitindo-nos visitar outras dimensões paralelas à nossa. Vocês acham loucura, escapismo? É só dar uma olhadinha à sua volta e verá que a loucura está aqui e agora.

Por exemplo, toda vez que vejo alguém usando um telefone celular, um computador ou uma televisão de tela plana, para mim, é ficção científica que tornou-se realidade. Estas invenções visitaram as revistas em quadrinhos muito anos antes de materializarem-se nesta realidade em que vivemos. Se, o escritor Julio Verne foi à lua muito antes de todo mundo, então eu já visitei Marte, conheci outras civilizações fora da nossa nossa galáxia e tenho um amigo robô. Não é fantástico!

Bom, depois desta glorificação da ficção científica, vamos voltar ao filme Avatar. Se eu divagar muito tenham paciência pois este assunto está impregnado no meu código genético.

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Barbieri e Stella discutem cinema em geral e o filme Avatar em particular

Esta semana que se passou, foi feita aqui em Londres, a pré-estréia do filme Avatar. Poucos foram os privilegiados presentes: algumas celebridades e atores, profissionais ligados à industria cinematográfica e produtoras, além, é claro dos repórteres especializados.

Minha amiga, a diretora de cinema Stella Corradi estava lá para conferir o filme. Veja abaixo, seu curta metragem chamado Bon Appétit inspirado no trabalho do famoso diretor Jean-Pierre Jeunet.


Bon Appétit - Stella Corradi, 2009

No cinema, na entrada e durante a exibição, o clima foi típico de uma operação de guerra. Todos os presentes foram revistados, e tiveram que passar por detectores de metal e durante a exibição do filme seguranças observavam atentamente os presentes usando aparelhos para visão noturna. Todo este aparato de espionagem tinha apenas uma intenção: evitar que o filme fosse copiado e colocado na Internet.

Fiquei satisfeito com o fato de que sua avaliação coincidiu exatamente com a minha. Foi um bate-papo tão interessante que obviamente fui obrigado à escrever esta matéria.

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Uma das milhares de ilustrações do grande Moebius

Moebius

Eu como muita gente, só tive acesso à prévia publicitária (trailer) postada na Internet. Entretanto, para aqueles que, como eu, seguem a história deste gênero artístico por muitos anos, imediatamente notei a influência do trabalho genial do artista francês Jean Giraud mais conhecido como Moebius. A presença da arte de Moebius na ficção científica do cinema é marcante indo de Tron, Alien, Bladerunner passando pelo filme O Quinto Elemento. No mundo do rock sua presença ficará para sempre imortalizada pela sua participação no desenho animado de longa metragem chamado Heavy Metal. Aliás, devo deixar claro que, a autoria do design do monstro do filme Alien é de H. R. Giger mas, o design da nave espacial e uniformes é de Moebius.

hr_giger_eml_1
Brain Salad Surgery, uma capa do H. R. Giger feita para banda Emerson, Lake & Palmer

H. R. Giger parece obcecado com a criação de um universo erótico, visualmente habitado por imagens contendo genitália, sado-masoquismo e necrofilia, tudo cuidadosamente construído dentro de um pseudo cenário gótico obscurecido e aterrorizante. Para quem não percebeu ainda, o mostro do filme Alien é baseado na forma de um pênis. Moebius por sua vez, apresenta uma flexibilidade tremenda, com uma temática muito variada. Seus personagens também tem um apelo erótico mas as suas formas são mais sutis, alongadas e andróginas bem no estilo dos personagens do filme Avatar. Moebius sempre gostou de brincar nos seus desenhos e ilustrações com o conceito de “força de gravidade”. Cidades construídas em cima de rochas flutuantes, personagens em meditação em frente de pequenos cristais levitando na palma das suas mãos, personagens voando em cima de pássaros pré-históricos domesticados, etc., são apenas alguns dos cenários por ele criados. Outra importante contribuição sua tem à ver com a arquitetura das suas construções com suas fiações e tubulações à vista (vide Alien, Bladerunner, etc., etc.) e, também como figurinista e designer de roupas onde, capacetes, uniformes e vestimentas, hoje, são presença obrigatória em tudo quanto é filme de ficção, chegando ao ponto de saturação. Seu estilo futurista é tão influente que até a própria moda foi mudada e, às vezes vejo pessoas nas ruas que, mais parecem visitantes do futuro. Quem sabe? Vai ver que são mesmo!

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Mas, Avatar é bom ou não é?

Como entretenimento é nota 10! Quando se fala de um novo filme de James Cameron, o mundo do cinema presta atenção. Um diretor que tem na sua bagagem nada mais nada menos que Terminator (Exterminador do Futuro), Aliens (o fantástico segundo filme), The Abyss (aliens pacíficos vivendo no fundo do mar) e Titanic (o melodramático, sucesso de bilheteria) não poria todo o seu peso e 300 milhões de dólares (o filme mais caro da história do cinema) num projeto que ele não acreditasse.

A minha amiga Stella Corradi, na pré-estréia, teve seus sentidos bombardeados por estímulos visuais e sonoros e, foi totalmente absorvida pelas imagens e pela história mas, quando saiu do cinema, seu senso crítico foi rapidamente restaurado e, as inevitáveis comparações vieram à tona. Comparações estas que, a maioria, eu já havia feito:

1) Norte Americanos querem explorar as riquezas minerais de um outro planeta mas, os nativos não querem deixar. A solução é invadir e matar todo mundo. Os nativos resistem bravamente. A nova solução é infiltrá-los com um corpo de um nativo criado geneticamente onde foi transplantado a mente de um soldado, um Avatar. Em computação Avatar é um desenhinho que você coloca para representar uma pessoa ou emoção. Simbolicamente, trata-se de uma paródia do interesse Norte Americano pelo petróleo árabe, a invasão do Iraque e Afeganistão e o conseqüente desrespeito por outras culturas!

2) Os minerais que os Norte Americanos querem existem imediatamente abaixo de árvores cujas raízes interagem com os minerais guardando a memória e tradição do povo que vive ali. Quer dizer, retirar os minerais é destruir uma civilização. É claro que o Norte Americanos não estão nem um pouco interessados com o bem estar dos nativos. Aí, vemos mais uma metáfora aos movimentos ecológicos que pregam viver em harmonia com a natureza e respeito ao planeta Terra.

3) Surpresa! O Avatar interessa-se por uma nativa. Há! Romeu e Julieta, só que tudo azulzinho! Que lindo! Só que eu já vi isto antes! É o pobre que quer casar com a rica ou a pobre que quer casar com o rico. O indiano que quer casar com alguém de outra casta. O negro que quer casar com a branca ou vice-versa. Dá-lhe novela da Globo!

4) A qualidade das interpretações das animações é muito boa. Eles são atores quase humanos mas ao fundo, a paisagem, o cenário em volta dos personagens, apesar de bom, não é muito diferente de filmes como Final Fantasy.

5) A temática lembrou um pouco o desenho animado chamado Princesa Mononoke produzido por Hayao Miyazaki um dos mais famosos diretores de animação japoneses.

Eu, cá com meus botões, acho muito curioso como o governo Norte Americano tolera estas críticas à sua política externa terrorista. Muitos de vocês vão dizer que isto é mais um exemplo de democracia mas, eu discordo. Para mim é mais um exemplo de hipocrisia. Acredito que, filmes onde os mais oprimidos vencem funcionam como uma válvula de escape emocional para a humanidade. É como ter em um quarto da sua casa um boneco com o rosto do seu inimigo para que você, de vez enquanto, possa dar-lhe uma surra. Lá fora, a realidade continuará a mesma, nada mudará mas, nós teremos uma falsa sensação de vitória.

Bom, divagações revolucionárias à parte, tudo indica James Cameron está imperturbável com qualquer crítica ou comparação. Ele sabe muito bem qual é o seu papel nesta história toda. Ele é o responsável por uma nova revolução, a nona. Por causa dele, cinemas do mundo todo estão trocando seus projetores. 3D veio para ficar!

Dia 17 de dezembro estréia oficialmente em Londres o filme Avatar. Apesar das inúmeras comparações e comentários eu estarei lá para assistir o filme todo, buscando por idéias inteligentes e soluções luminosas e assim, poder fazer um julgamento mais completo. Sugiro ao caro leitor que, quando tiver oportunidade, faça o mesmo! Nos encontramos lá em Pandora!