SANDRO NEIVA: VIDEOMAKER ROQUEIRO (2010)

sandro   De: Paracatu
   Para: Brasília
   Assuntos: Sandro Neiva: um "videomaker roqueiro" 
   Retina Rock / Sessão Zine Oficial
   Classificação indicativa: 18 anos.
   Sábado 24 de julho a partir da 20h30min
   Domingo 25 de julho a partir das 16h30min
   Shows ao vivo e exibição de clipes de bandas do DF e Entorno
   no Blues Pub, CSA 01 Taguatinga Centro

 
   Brasília-DF, 21 de julho de 2010

   O Retina Rock, festival de rock candango que procura estreitar ainda mais a relação do rock com vídeo, foi programado para acontecer nos dias 24 e 25 de julho, no Blues Pub, CSA 01 Taguatinga Centro.

   O evento homenageia em vida (e louca vida!)  o videomaker roqueiro Sandro Neiva, exibindo a cada dia do evento um vídeo seu. Ex-vocalista da banda Murro no Olho, paracatuense radicado em Brasília, roqueiro de alma punk, fanzineiro, jornalista, videomaker, roteirista, diretor e fã incondicional da cena underground.
 
   A programação do Retina Rock inclui também shows ao vivo sábado, 24/07, a partir das 20h30min com as bandas Totem, Queimando Vivo, Kábula e Terno Elétrico. No domingo, 25/07, as apresentações ao vivo começam às 16h30min, com as bandas Steel Invaders, Hell Bound, Estamira e  Revhange. No repertório de sábado: hard rock, rock´n roll e blues, no domingo metal.
 
   O ingresso custa R$ 5,00 por dia com direito a um saquinho de pipoca para o clima do "escurinho" ficar completo. Antes das apresentações ao vivo e durante os intervalos, exibição de clipes de bandas do DF e Entorno. O clipe mais votado pelo público a cada dia receberá o ZOscar, o "Oscar" do Zine Oficial.
 

 


Entrevista com Sandro Neiva conduzida por Fellipe CDC 
Publicada no Zine Oficial número 30
 

 
01) Zine Oficial - Caro amigo Sandro, que prazer tê-lo aqui no Zine Oficial. Há um bom tempo você escrevia em um fanzine. O fato de ter escolhido o curso universitário e se formado em jornalismo teve alguma relação com esse seu início zineiro?

Sandro: Olá Fellipe e Tomaz, tudo beleza, pessoal? É uma honra pra mim estar aqui. Sem dúvida, optei pelo curso de jornalismo pelo gosto e facilidade que sempre tive com a leitura e a escrita. Nunca sonhei em ser um William Bonner ou algo asim, entende? Quanto aos fanzines, na verdade eu escrevia apenas como colaborador num zine do Régis (Murro no Olho) chamado Mensalão do Capeta, um zine bem legal, totalmente niilista, misantropo e anticlerical. Aliás, os zines impressos são muito mais legais que os atuais webzines. Escrevia pro Mensalão do Capeta uns contos insanos sob o pseudônimo de Syd Nei. Mas também escrevi em 2002 um livro autobiográfico de 21 capítulos (com nomes fictícios) chamado Memórias Junkies - Uma história de rock e drogas no interior das Minas Gerais. Nunca tive grana pra publicar, daí imprimi em papel A4 mesmo e muita gente da cena já leu.
 
02) Zine Oficial - Aproveitando a oportunidade, o que você achou da decisão promulgada pelo Supremo Tribunal Federal quanto a não exigência do diploma do curso de jornalismo para que uma pessoa possa escrever em uma revista e/ou jornal?

Sandro: Acredito que não muda muita coisa. É uma prática que sempre existiu em todos os veículos de comunicação. Para que uma pessoa escreva bem, com conhecimento de causa e domínio do assunto a ser tratado, ela não precisa, necessariamente, de um diploma de jornalismo. Aliás, sou a favor da democratização total dos meios de comunicação. Todos tem direito de expressar suas ideias e a internet pode ser uma ferramenta extremamente eficaz.
 
03) Zine Oficial - O que é, o que faz e quando começou a Pervitin Filmes?

Sandro: A Pervitin Filmes é uma produtora independente, que realiza  documentários em formato digital e grava apresentações de bandas de rock underground locais, nacionais e internacionais. Tudo por amor ao cinema documentário e ao rock'n'roll. Os documentários eu inscrevo e participo em alguns festivais de cinema no Brasil. Os shows de rock eu posto aos poucos no blog da Pervitin e faço alguns DVD-R com os que eu considero melhores. Tenho muito material de arquivo, de shows antigos. Gosto de guardar por um tempão, uma hora retiro da gaveta e disponibilizo para as pessoas. O legal do rock é isso, o material nunca fica ultrapassado ou com data de validade vencida. O primeiro documentário da Pervitin foi Meu Parceiro Julião, de 2002. Mas tenho shows gravados desde o princípio da década de 1990. Esses dias retirei do baú um material do Cólera, tocando em Brasília (buraco do rock) em 1991. Material raro, que vai agradar aos muitos fãs da banda. Nas imagens, dá pra identificar na plateia o Gilvani, o Julião etc. Vou disponibilizar em breve.
 
04) Zine Oficial - Depois que você deixou a banda Murro no Olho a sua relação com a música é agora só de admirador, documentarista e videomaker?

Sandro: É, eu não tenho mais banda, mas o rock é pra sempre, né cara, sempre vou aos shows e vez por outra participo de uma jam session ou ensaio com os amigos.
 
05) Zine Oficial - Como foi o tempo em que esteve à frente da Murro no Olho. Cite três más e três boas lembranças desse período.

Sandro: Sempre irei me lembrar com carinho, como uma época de muita diversão, apesar de toda a loucura junkie. Como em toda banda e todo casamento, desavenças acontecem, é normal. Quando as amizades são verdadeiras, elas permanecem. Se as amizades são frágeis, elas acabam. Isso também é normal. Continuo amigo do Di Menor (Under The Ruins), que foi o primeiro baixista, do Fofão (Besthoven), primeiro baterista e do Régis, cuja filha sou padrinho, e lógico, sou brother do Juliano e da Amanda (formação atual). Três lembranças boas: 1) Murro no Olho tocando em Goiânia, para um público desconhecido, insano e brutal; 2) Murro no Olho gravando o CD-demo "A Nova Catacumba", no ME Estúdio em 2005; 3) Murro no Olho se encharcando de Cachaça Paracatulina e haxixe nos ensaios. Três lembranças más: 1) Murro no Olho fumando a pedra da morte; 2) Murro no Olho dormindo ao relento e passando frio, após show em Goiânia; 3) Murro no Olho a bordo de um automóvel suicida/homicida, todos bêbados, encocainados e há três dias sem dormir, na volta pra casa, após show no Jardim Ingá (GO), em 2005.
 
06) Zine Oficial - Quanto ao seu lado de documentarista, queria saber quando ele foi atiçado e como foi a repercussão do "Ouro de Sangue". Aliás, belíssimo filme. Parabéns! Você ainda acompanha e participa socialmente da política em Paracatu (MG)?

Sandro: Com as novas tecnologias, aquela velha máxima do Glauber Rocha - Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão - continua cada vez mais atual. Com uma câmera razoável e um bom computador, você pode fazer cinema digital de forma totalmente independente, sem maiores custos e sem se atrelar a interesses publicitários ou comerciais. Creio que essa facilidade "atiça" novos realizadores. O filme Ouro de Sangue foi realizado em 2008 e tive a oportunidade de viajar por algumas cidades do país para apresentá-lo em festivais de cinema como a Jornada Internacional de Cinema da Bahia, em Salvador, o festival de Cinema de Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro e o Festival de cinema na Floresta, em Alta Floresta, amazônia matogrossense. O documentário não recebeu nenhuma premiação, devido a seu baixo orçamento, mas já me senti premiado apenas em veicular o filme, viajando pelo país. Além disso, ele foi exibido em várias faculdades brasileiras, tem servido como material de estudo para alunos em cursos de doutourado no exterior e o melhor de tudo, foi exibido em Paracatu para uma plateia composta de simplesmente TODOS os funcionários (milhares) da mineradora Kinross, como um filme maldito  e subversivo. É um prêmio ou não é? Pra quem não viu, em breve estará disponível na íntegra em www.pervitinfilmes.blogspot.com

Fiz esse filme como sinal de revolta e protesto contra a exploração transnacional de uma mineradora canadense que atua a céu aberto e está literalmente roendo a cidade de Paracatu (MG). Nunca atuei na política partidária, nem em Paracatu ou qualquer outro lugar. Penso que partidos políticos, da mesma forma que as igrejas, são confrarias que alienam e exploram a boa fé das pessoas. Mas, ainda assim, procuro ser atuante de forma independente, como por exemplo, numa entrevista coletiva para a imprensa em Brasília, questionei a senadora e candidata à presidência Marina Silva sobre os impactos socioambientais da mineração a céu aberto em Minas Gerais. Coloquei a entrevista no You Tube para que as pessoas tirem suas próprias conclusões.
 
07) Zine Oficial - E o filme "Às Margens do Velho Chico", não houve maiores notícias sobre ele até agora. Desculpe a ignorância. Fale, por gentileza, brevemente sobre esse filme.

Sandro: Infelizmente, esse filme ainda não saiu, Fellipe. Tenho 18 horas de material bruto filmado em várias cidades do Alto São Francisco, de São Roque, na Serra da Canastra até Pirapora, na divisa com a Bahia. O material está guardado, qualquer hora eu o desenterro da gaveta. Será um documentário, mas sob a ótica dos ribeirinhos do rio São Francisco. No momento, acabei de finalizar o curtametragem "Cerrado em Pé", que em breve também estará disponível no blog da Pervitin.
 
08) Zine Oficial - Quais clipes de música você já produziu? Nos daria o prazer de projetar algum deles em nosso evento Retina Rock / Sessão Zine Oficial?

Sandro: Na verdade, é a minha esposa Sheila a responsável pelas edições da Pervitin Filmes. Ela produziu dois clips para o Murro no Olho (faixas "Chuva de Horror" e "Ouro de Sangue" (trilha Sonora do filme), ainda comigo nos vocais. Claro que estão à disposição do Retina Rock.
 
09) Zine Oficial - De todos os muitos shows que gravou (Rattus, The Exploited, Inocentes, Suicidal Tendencies, Garotos Podres, etc...), qual lhe trouxe maior prazer e satisfação.

Sandro: Eu só gravo shows de artistas cujos trabalhos realmente amo de verdade. Logo, assisto a todas as gravações com o maior prazer, de fã que sou. O show do Exploited realmente foi muito foda, cara. Tinha muita vontade de ver uma apresentação dos caras e realmente foi muito bom. Tá tudo gravado na íntegra. Mas em 2006 com o Cólera foi mais gratificante pois sou fã desde adolescente e consegui uma grande entrevista. Ao término do show deles no Porão do Rock, eu e o cinegrafista Arcanjo passamos o resto da noite tomando cerveja e chapando com os caras até 7 da manhã no Hotel Meliat. Algo que enche os olhos de qualquer fã, saca? Eu e o Fofão (Besthoven) pretendemos transformar a entrevista num documentário.
 
10) Zine Oficial - Muito obrigado pelo seu tempo. Por favor, suas últimas considerações e o seu contato para o caso de algum leitor se interessar por seus trabalhos, os quais recomendo.

Sandro:
Sou eu quem agradeço o espaço e a oportunidade. Bem aventurados sejam aqueles que conservam acesa a chama do rock em suas veias. Tenho 41 anos e pretendo viver até os 112 (risos). Um abraço a todos. Long Live Rock!
 
 
Breve sinopse do Retina Rock:  uma história de cinema com trilha sonora rock´n roll!
 
Em 19 de junho de 1889 aconteceu a primeira filmagem no Brasil. Aproveitando o gancho, em 2009, exatamente no dia 19 de junho, foi realizada a 1ª edição do Festival Retina Rock, com o objetivo de estreitar ainda mais a relação entre cinema e rock. Naquela ocasião, foi homenageado o cineasta Afonso Brazza, falecido em 2003, aos 48 anos de idade.
 
Brazza, também conhecido como “O Cineasta Bombeiro”, por integrar o Corpo de Bombeiros do DF, produzia filmes trash em Brasília e Região, com baixos orçamentos. Alguns desses filmes contaram com a participação voluntária de muitos integrantes de bandas de rock que fizeram a cena do DF e Entorno nos anos 1990.
Mais informações: www.zineoficial.com.br ou pelos telefones (61) 3037-9355 ou (61) 8534-0500 (Tomaz)