Zoreia morreu com a satisfação estampada na cara e um cigarro no canto da boca. "Aqui em cima é melhor do que no Conic "
Ilustração: Guga Baygon

Lamentamos profundamente, a morte de dom Zoreia, figura ímpar do underground brasiliense

Início de março de 2021 – ou ainda esperou o carnaval passar para fazer a passagem – Conheci ainda menino, dom Zoreia, no Guará, era punk, envolto em coisas punks e ideiais de passar a limpo o mundo. Aliás, conheci quase todos os garotos rudes do Guará, Zoreia, era um deles. Sempre bem-humorado, a fim de contar um caso que ele testemunhou. Partiu para Sobradinho, onde os também punks carregavam a aparelhagem em carrinho de mão ou apertados davam um giro na joaninha da polícia.
Encontrávamos com ele, frente à entrada dos shows, vendendo discos na parte de trás do carro.
Renato Lemos, seu nome de fantasia, ajudou a revigorar o punk com apoios. Praticava a camaragem esperta para ajudar os independentes em justas trocas, compras e vendas, por isso era querido pela sua solidariedade.
Íamos à Goiânia, vender discos e ver os shows do punk original do velho mundo. Raramente tomávamos cerveja juntos, era na Asa Norte, com ele discotecando.

Me vendeu quase tudo o que eu ouço em CD e peças para fazer som de banda. Nosso papo era sobre ser pai, contas, alugueis. No dia do vencimento do condomínio, Zoreia orquestrava a famosa queima de vendas, onde as mercadorias recebiam 50% de desconto. Comprei dele uma filmadora gigante dos anos 80. – Pô, Mário, o Two tá cobrando... – Fala para ele testar as coisas antes de vender. Ríamos. Era flamenguista da gema, seu negócio era fazer a felicidade de quem curte som. Fará muita falta. Que Deus o receba com punk rock do D.R.I.

No Aeroporto de São Paulo, o encontro fortuito com o ídolo, Lemmy

Pense numa figura divertida, era ele, Zoreia. "Não sei porque não coloquei o nome de Zoreia Records, todo mundo me chama assim". Nosso papo era sobre a eterna resistência "Se não for assim, pode chegar um dia em que a lojinha não abra." Chegou esse dia triste.