ALCOVAS DE ALUGUEL 5 (Sob a Lua de Sangue)

ilha

Sob a Lua de Sangue

A vida segue seu curso e com o cabra e a guria não era diferente. Já não se limitavam ás alcovas de aluguel, desfrutavam do jardim paradisíaco da residência, onde as lembranças já não incomodavam a moça, entre os livros da biblioteca, descobriram o recanto perfeito para sucumbirem à paixão carnal e por fim em certa noite festiva se deram ao luxo de terem sua primeira noite inteira juntos na cama núpcial, como um verdadeiro casal.

Contudo, se negavam a entregar-se a um cotidiano e, embalados pelo fogo ardente que rompe das entranhas dos dois, sempre que podem, fogem para os tais motéis baratos, onde chegam e já não tem mais tempo para colocarem trilha sonora ou se deterem às decorações vulgares e exóticas de tais lugares, perderam o pudor e se entregam à selvageria dos corpos loucamente por duas extenuantes horas.

Mas, naquela quarta-feira havia uma magia no ar.

O noticiário chamava atenção para tal “Lua de Sangue”, momento no qual o satélite natural da Terra atingiria seu ponto mais próximo do planeta e por isso, seria vista em tamanho superior e coloração avermelhada, combinado a um eclipse total da Lua naquele mesmo dia, então, a energia da data estava absolutamente peculiar.

Combinaram uma caminhada para observar o fenômeno. Partiram da igrejinha no inicio do Eixo monumental rumo a Torre de TV, como sempre, com muita conversar, cumplicidade, fotos e carícias. Na altura do Memeorial JK observaram o acontecimento que de fato era de uma beleza impar. A Lua estava imensa, de um alaranjado vistoso, observado por grande público na Praça do Cruzeiro, e em todo o percurso feito pelo casal.

De frente, ao palácio do Buriti o cabra contou várias histórias dos servidores públicos de Brasília, com uma grande pitada de erotismo, coisa que aconteciam em outros tempos ali naquela praça das fontes.

A moça com muita discrição a tudo observava, pois apesar de ser candanga, nunca tinha visitado aquele sitio.

Tais relatos despertaram os instintos animalescos que pouco dormem naquele corpo fogoso.

Aportaram na Torre de TV, se deliciaram com ótima comida chinesa e depois de muitos carinhos tomaram o grande percurso de volta para buscarem o carro. Mas...

As conversas apimentadas foram tomando o seu devido lugar entre o casal. Foi se formando o elo de sensualidade tão comum entre os dois e ao alcançarem a tal praça, locação antiga de sacanagens, o danado casal se entregou à orgia sob a Lua de Sangue.

Apesar dos 22 graus de temperatura ambiente, o casal fervia encostado ao pedestal depredado onde devia estar o busto de Che Guevara.

Os beijos alucinantes, as mãos que buscavam os caminhos corporais já conhecidos para o prazer, o fervilhar de hormônios, salivas, fluidos corporais que explodiam por debaixo daquelas roupas de ginástica foram abruptamente surpreendidos por um carro da ronda da polícia que garantia a segurança no centro cívico; contudo antes que fossem alcançados pelas vistas da vigilância, incorporaram o casal de turistas que apenas observava a cultura mal cuidada do centro.

Logo que escaparam das vistas dos gambés, procuraram um aconchego debaixo de uma mangueira frondosa que na ausência de leito mais adequado os serviu de apoio para a entrega mais selvagem que aqueles dois já tiveram até então.

Se houvera uma plateia a observar o enlace, certamente eles não a perceberam, pois não havia olhos para nada além um do outro, entregaram-se à lascívia como se não houvesse amanha, se amaram sob a luz da Lua, sem reservas, na Praça cívica, no motel do Buriti, como o moço o intitulava... Foram dados 30 minutos da mais voluptuosa luxúria e após os uivos contidos na boca um do outro, de pernas bambas sentaram-se no banco da praça como dois bêbados trôpegos de amor.

Ali permaneceram por uns 10 minutos, abraçados em silêncio a bebericar a presença do cansaço que toma os corpos dos amantes após a entrega sem reservas.

Retomaram a caminhada, já por volta das 10 da noite, sem nenhum andarilho por companhia, sem medo, satisfeitos em seus corpos e com suas almas acalentadas pela certeza de que abandonaram o caminho da solidão.

Justine de Sade