Blondie & Dagoberto: lembranças de uma família nos quadrinhos

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Blondie & Dagoberto: lembranças de uma família nos quadrinhos

Houve um tempo em que os jornais de domingo eram esperados não apenas pelas notícias, mas também pelos suplementos de quadrinhos. Ali, entre super-heróis, patos falantes e detetives durões, aparecia um casal improvável que, mesmo sem poderes, conquistava multidões: Blondie & Dagoberto.

Criados em 1930 pelo americano Chic Young, eles atravessaram a grande depressão levando humor ao cotidiano. Blondie, a esposa loira, elegante e espirituosa; Dagoberto, o marido preguiçoso, desajeitado, mas irresistivelmente humano. Suas histórias giravam em torno das pequenas batalhas da vida doméstica: o chefe exigente, o cachorro no sofá, os filhos barulhentos, o sanduíche gigante antes da soneca. Era uma sátira suave ao modo de vida da classe média — e justamente por isso, universal.

No Brasil, Dagwood virou Dagoberto e encontrou espaço nos jornais e revistas desde os anos 1940. Muitos leitores cresceram vendo aquele marido bonachão cochilar na poltrona ou se atrapalhar no escritório, enquanto Blondie equilibrava a família com charme e presença de espírito. Para uma geração que acompanhava as tiras entre o café da manhã e o cheiro do jornal impresso, Blondie & Dagoberto se tornaram quase parentes distantes, visitados todos os dias em quadrinhos de três ou quatro quadros.

A simplicidade era o segredo: Chic Young dizia que sua ideia era mostrar que “todo mundo está sempre um pouco cansado”. Talvez por isso Dagoberto tenha se tornado tão próximo: nele víamos a preguiça que nos acompanha, a fome insaciável, o desejo de dormir só mais um pouquinho. Blondie & Dagoberto ofereciam ao leitor uma filosofia leve da vida: rir do que é banal, encontrar graça no desgaste diário.

Hoje, em tempos digitais, em que os jornais de papel rareiam e as tiras se perderam na pressa das redes sociais, é curioso lembrar que Blondie chegou a ser publicada em mais de 1.300 jornais, em 17 línguas (até em urdu!), com dezenas de milhões de leitores. Uma façanha cultural que, no Brasil, deixou rastros na memória de quem cresceu virando as páginas amareladas de suplementos dominicais.

Blondie & Dagoberto continuam existindo — ainda há quem leia as tiras nos Estados Unidos e em alguns cantos do mundo. Mas, para muitos de nós, eles permanecem como um retrato nostálgico: o casal simpático que nos fez rir das pequenas misérias e alegrias da vida em família. Uma lembrança impressa em papel-jornal, com cheiro de tinta fresca e a companhia de um bom café.