O pai do Torquato Neto morreu e não me avisou...

O pai do Torquato Neto morreu e não me avisou...

por: Zeferino Alves Neto


Meus amigos, anos atrás eu escrevi uma crônica neste espaço, onde contava  como tinha conhecido e convivido com o pai do grande poeta piauiense Torquato Neto, desde minha infância e adolescência.

Agora quero contar um pouco da minha última conversa com esse cidadão que eu a vida toda admirei não por ser pai do Torquato, porque quando o conheci há mais de cinqüenta anos atrás Torquato devia ser um adolescente projeto de poeta...

Voltando ao Piauí depois de quase trinta anos ausente tinha prazeres diários andando pelas ruas de Teresina ou daqui mesmo de minha cidade Campo Maior,  reencontrando pessoas como o Dr. Eli da Rocha Nunes, como era conhecido civilmente. Encontrei esse cidadão uma ou duas vezes; a última foi há mais ou menos um ano atrás. Caminhava ele ali pela rua Barroso, próximo à rua “climatizada”, uma rua que tinha uma cobertura e ventiladores e bancos onde a gente pode se refazer do calor desesperado que faz por ali pelo centro de nossa capital cidade verde. Num passo e pose de quem viveu e não se arrependeu do que fez, elegantemente espigado nos seus um metro e oitenta de pura vivacidade e simpatia. Abraçamo-nos e nos sentamos num banco da tal rua climatizada. Tivemos uma conversa de mais ou menos meia hora. Dessa vez eu perdi o acanhamento de lhe falar dum assunto que me atazanava o juízo desde que li ainda em Brasília, o livro do Kenard Kruel sobre Torquato. Especificamente do polêmico “encontro” dele Dr. Eli, com a voz de uma alma que lhe teria sussurrado ao ouvido que seu filho único e mui amado reencarnaria em breve. Conheci desde menino Dr. Eli como kardecista, indiretamente por conta disso me tornei também kardecista anos depois, porque em suas andanças por aqui nos anos 50, quando o conheci eu ainda menino, ele fundou junto com meu pai e uns amigos deste, o Centro Espírita que ainda hoje existe aqui ao lado da rodoviária da cidade.

Eu lhe perguntei, me esclareça àquela passagem do livro, porque tanto eu como outras pessoas que conheceram Torquato Neto, aquela passagem do livro do Kenard Kruel, por sinal um belo livro que eu ainda não li a edição revista que se encontra nas livrarias de Teresina e do país, acharam aquele relato meio estranho. Ele me disse naquele seu jeito educado e gentil: “Zan, não foi exatamente daquele jeito que está contado no livro do Kenard...  A coisa foi desse jeito: eu estava em Floriano, numa instituição filantrópica que fundei e administro com amigos de lá, quando chega uma moça desesperada me dizendo que tinha uma mulher na beira do rio Parnaíba, ameaçando jogar duas crianças pequenas no rio e em seguida se suicidar, porque não tinha condições de criar aquelas crianças... Eu me dirigi imediatamente ao local onde estava a mulher, providenciei que se levasse algum alimento para as crianças e lá chegando tentei com outras pessoas acalmar a mulher... o que conseguimos depois que as crianças, alimentadas, parassem de chorar. Levamos a mulher e essas crianças para essa instituição, onde tanto ela como as crianças receberam abrigo e ainda hoje vivem lá... Soube por via mediúnica, que uma dessas crianças era Torquato reencarnado” Tirou da carteira uma foto de duas crianças na faixa de dez doze anos e me perguntou qual dos dois eu achava que era Torquato, achei graça e apontei um dos meninos da foto que tinha algum traço físico do Torquato e acertei na mosca... Bom, terminada a conversa eu lhe perguntei se poderia publicar o relato daquele encontro com ele num blog que já tinha (www.blogdozancm.blogspot.com) , ele me disse faça o que você quiser disso. Eu nunca pensei em falar disso em público ou publicar o relato, por respeito ao Dr. Eli, que poderia ser mal-entendido ou julgado pelo fato de falar essa história envolvendo seu filho famoso... Se for verdade o que ele me falou, já que desencarnou sem me avisar... Fiquei sabendo de sua morte meses atrás por terceiros, se ele não encontrou a alma do filho do lado de lá, é porque ele realmente já voltou pro lado de cá... Mas isso é polêmico demais pra não gerar muita controvérsia...

Zeferino Alves Neto é piaiuiense e voltou a morar no Piauí em Campo Maior. Gosta de futebol, teatro e revistas semanais.
O calor e a preguiça o impedem de colaborar mais...