Todos aqueles livros e nenhum deles fazia juz à música

Todos aqueles livros e nenhum deles fazia juz à música

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O autor do livro A Day in the Life: The Music and Artistry of the Beatles, Mark Hertsgaard, não é um beatlemaníaco.

Certamente ele sabe mais sobre a banda do que a maioria das pessoas. Afinal, leu literalmente todos os livros no assunto, cada entrevista que conseguiu achar e ouviu 50 horas de gravações inéditas dos Beatles e John Lennon nos arquivos da EMI em Abbey Road, Londres.

Pergunte sobre qualquer single do catálogo dos Beatles, e ele saberá lhe explicar exatamente tudo o que se conhece ou não sobre como a música foi feita. Mas pergunte o que foi crescer como fã do grupo, e ele fica perplexo.

“Cheguei a assistir a apresentação dos Beatles no Ed Sullivan”, disse o escritor nascido em Baltimore, Estados Unidos. “Mas não me liguei de verdade neles até entrar para a Universidade”.

Mesmo aí, eles dificilmente se tornaram o centro de sua vida. Hertsgaard, 38 anos, era novo demais para embarcar na primeira onda da beatlemania.

“Me lembro que achei aquilo empolgante”, recordando o programa de tevê onde o grupo apareceu. “Mas se não tivesse pesquisado, não saberia dizer o que eles cantaram no dia. Eram só aqueles rapazes com seus nomes na legenda, e todas as garotas da platéia gritando. Mas tinha sete anos. O que eu deveria achar?”.

Não foi nada planejado. Mesmo quando estava trabalhando num perfil para a revista New Yorker do arquivista Mark Lewisohn, especialista em Beatles, Mark Hertsgaard reagia mal à idéia de fazer o livro. Mas foi justamente desse encontro que nasceu A Day in the Life.

“Mark Lewisohn ficava me dizendo nas entrevistas que eu deveria escrever um livro sobre aquilo. Eu respondia ‘muito obrigado, mas isto aqui já é suficiente’”.

“Mais tarde, me dei conta de que havia lido todos aqueles livros, e nenhum deles fazia juz à música. Quase todos eram sobre as vidas particulares dos membros da banda e eram muito mal escritos e apurados. Estava perplexo por não encontrar documentação verdadeira sobre os Beatles nos livros”.

Ainda enquanto trabalhava na matéria sobre Lewisohn, Hertsgaard obteve acesso aos arquivos e escutou a várias horas de material de estúdio que quase ninguém fora do círculo íntimo dos Beatles tinha ouvido.

“Os próprios Beatles não ficaram satisfeitos por terem me deixado entrar lá”, ele disse. “Isso foi uma decisão da EMI. Nem mesmo Lewisohn teve acesso aos arquivos. São altamente secretos”.