PETER BROWN: — ‘SÓ RESTAM PAUL, RINGO E EU’ (2024)
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2024
4 DE ABRIL
ANTIGO SECRETÁRIO DOS BEATLES LANÇA LIVRO A PARTIR DE ENTREVISTAS COM A BANDA FEITAS NOS ANOS 1980: ‘SÓ RESTAM PAUL, RINGO E EU’
Peter Brown, de 87 anos, é citado na canção 'The ballad of John and Yoko'
Por Ben Sisario Em The New York Times — Nova York
Peter Brown estava no seu espaçoso apartamento em Manhattan, apontando primeiro para sua mesa de jantar e depois, através da janela, para a parte do Central Park batizada de Strawberry Fields.
— John sentou naquela cadeira, olhou pela janela e não conseguia tirar os olhos do parque — disse Brown.
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Este John, no caso, é John Lennon. E a história de como em 1971 o ex-Beatle cobiçou esta vista até que ele e a mulher, Yoko Ono, conseguiram um apartamento um quarteirão abaixo, no edifício Dakota, é apenas uma das incontáveis pepitas de Brown sobre a história dos Fab Four. Nos anos 1960, ele foi assistente de Brian Epstein, o empresário dos Beatles, e depois funcionário da Apple Corps, a empresa da banda. Figura-chave no círculo íntimo e secreto dos Beatles, Brown mantinha um telefone vermelho no seu escritório cujo número só era conhecido pelos quatro membros.
Foi Brown que, em 1969, informou Lennon de que ele e Ono poderiam se casar rápida e discretamente num pequeno território britânico à beira do Mediterrâneo, um conselho imortalizado em “The ballad of John and Yoko”: “Peter Brown telefonou para dizer: ‘Vocês podem fazer tudo bem/ Podem casar-se em Gibraltar, perto da Espanha’.”
Na próxima semana, Brown e o escritor Steven Gaines vão lançar nos EUA um livro, ALL YOU NEED IS LOVE: THE BEATLES IN THEIR OWN WORDS, composto por entrevistas que realizaram em 1980 e 1981 com a banda (desfeita dez anos antes) e pessoas próximas, incluindo representantes comerciais, advogados, esposas e ex-mulheres — a matéria-prima que Brown e Gaines usaram para a sua biografia anterior da banda, “The love you make: an insider’s story of the Beatles”, de 1983.
MEMÓRIA VIVA
Agora com 87 anos, Brown é mesmo uma figura fundamental na história dos Beatles. Ele foi testemunha de alguns dos momentos mais importantes do grupo e era um guardião de confiança de seus segredos.
— As únicas pessoas que restam são Paul, Ringo e eu — disse ele.
Numa visita ao apartamento de Brown, as “pistas” do seu acesso estavam por todo lado. No seu quarto, Brown mostrou uma imagem original da capa de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, com figuras de fundo (como Gandhi) que não entraram na versão final. Na sala de jantar, há pastas e caixas cheias de fotografias e correspondência relacionadas com os Beatles.
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Mas a publicação de THE LOVE YOU MAKE, há quatro décadas, também fez dele uma espécie de vilão. De acordo com Brown, a banda concordou em dar entrevistas para esclarecer a sua história. No entanto, o livro — escrito principalmente por Gaines, jornalista conhecido por perfis detalhados e impiedosos — foi visto como obsceno e sensacionalista, preocupado com vidas sexuais e conflitos internos, sendo a música um assunto secundário.
Para a banda e muitos dos que a rodeavam, foi visto como uma traição. Paul McCartney acusou Brown de o ter enganado ao apresentá-lo como um livro mais geral sobre a música nos ANOS 1960. Linda McCartney disse que ela e Paul queimaram uma cópia.
“Esse livro foi uma vergonha”, disse Mark Lewisohn, o mais proeminente estudioso dos Beatles, em uma entrevista recente. “É quase como se houvesse dois Peter Browns diferentes”, acrescentou Lewisohn. “Há o Peter Brown que eu conheço, um homem de negócios íntegro, respeitável e muito bem-sucedido. E há aquele que associou o seu nome a este livro de Steven Gaines.”
Peter Brown é citado em “The ballad of John and Yoko” — Foto: Amir Hamja/The New York Times
PALAVRAS SURPREENDENTES
Brown já ouviu todas as críticas antes, e as ignora. Sentado numa cadeira que herdou de Epstein — e elegante como sempre —, Brown disse que o livro é um retrato preciso, e que os Beatles sabiam muito bem em que estavam se metendo.
— Nunca houve qualquer esforço da minha parte para tornar os testemunhos negativos — disse Brown em sua voz suave e imperturbável, enquanto a música clássica soprava silenciosamente em sua casa.
O novo livro de Brown e Gaines, ALL YOU NEED IS LOVE, vai ainda mais fundo na história dos Beatles do que o primeiro. Oferece uma transcrição estendida de Ono negando, de forma não muito persuasiva, que tenha apresentado Lennon à heroína, e inclui vários relatos em primeira mão das ameaças e do caos que a banda enfrentou na turnê em Manila, nas Filipinas, em 1966. Ron Kass, que dirigiu a Apple para os Beatles, descreve a impossibilidade de gerir um negócio com Lennon e McCartney como patrões.
Há também comentários surpreendentes de McCartney e George Harrison sobre Lennon, revelando a tensão ainda presente uma década após a separação da banda, em entrevistas gravadas poucas semanas antes da morte de Lennon, em DEZEMBRO DE 1980. Harrison chama seu ex-companheiro de banda de “um pedaço de (palavrão)” e se pergunta por que ele “se tornou tão desagradável”.
Como em muitas histórias dos Beatles, há muitas contradições e memórias seletivas. Entrevistas com o empresário Allen Klein e o advogado John L. Eastman detalham uma guerra fria pelo controle dos negócios durante os últimos dias da banda. E Alexis Mardas, também conhecido como Magic Alex, engenheiro eletrônico que outros no livro chamam de vigarista, dá seu relato sobre o retiro dos Beatles na Índia em 1968.
Quando perguntado sobre como encontrar a verdade em meio a relatos contrastantes, Brown tornou-se filosófico.
— Depende de onde você está sentado — disse ele, mirando os Strawberry Fields.