50 Anos de Lóki?: O Grito de Liberdade de Arnaldo Baptista (1975-2025)

50 Anos de Lóki?: O Grito de Liberdade de Arnaldo Baptista

Lançado no Carnaval de 1975, Lóki? completa 50 anos como um dos discos mais intensos e emocionais da música brasileira. Primeiro álbum solo de Arnaldo Baptista após sua saída dos Mutantes, a obra transborda sentimentos de dor, amor e solidão, refletindo o turbilhão emocional vivido pelo artista na época.
Com letras confessionais e uma sonoridade que mistura rock progressivo, psicodelia e influências da MPB, Lóki? traz clássicos como Não Estou Nem Aí e Cê Tá Pensando Que Eu Sou Lóki?, reafirmando Arnaldo como um gênio visionário e vulnerável. Meio século depois, o álbum segue cultuado, inspirando gerações e reafirmando sua posição como um dos discos mais autênticos da música brasileira.

1975

MARÇO
ARNALDO BAPTISTA LANÇA O EMBLEMÁTICO LP LÓKI?

O disco Lóki? evoca medo e inquietação; essa sensação é palpável desde a capa até os títulos das faixas. Ele poderia ser chamado de Disco Voador — um álbum repleto de lendas, cuja gravação teria sido feita em apenas um dia (o que é exaltado pela gravadora). É um disco feito para ser ouvido em alto volume, mas que pode provocar certo desconforto no ouvinte, com seus 16:50 minutos distribuídos entre os lados A e B. Lançado sem divulgação na quarta-feira de cinzas de 1975, Lóki? ainda assim ganhou um belo videoclipe da canção "Será que eu vou virar bolor?". Arnaldo Baptista reclamou que a gravadora não financiou o teatro para a temporada de lançamento do show. Ele teria condições de se apresentar ao vivo?

Quanto à questão da cisão, diz-se que Liminha queria que apagassem a fita por ela soar como Sérgio Mendes. O baixista se ressentiu da falta da guitarra ou do seu papel na música?

Sentimentalmente, o disco reflete uma visão do amor e a bad trip existencial de John sem Yoko. É um álbum de êxtases, que expressa linguisticamente um apetite sexual e lisérgico exacerbado, além de uma crise precoce de meia-idade e o fim das utopias. Algum dia será revelada a ordem de gravação das músicas? Haverá instruções anotadas na caixa da fita pelo artista?

Arnaldo foi considerado louco por ter incendiado o piano "desafinado" de sua mãe. No único espaço que encontrou na revista Amiga, pediu que esclarecessem essa intriga e reforçou que era um profissional!
Este é o disco que coloco para tocar quando estou irritado. É o álbum que, quando estou perdido e sozinho, aumento o volume para encobrir as minhas lágrimas. Como faz falta Arnaldo Baptista!

A vida de um artista em sua autobiografia

Para o lançamento do LP Lóki?, uma nota "autobiográfica" acompanhava o disco. Nela, havia a frase: “Em criança, teve que consultar psicanalista para continuar os estudos do segundo ano primário.” Essa frase sugere que, na infância, Arnaldo Baptista enfrentou dificuldades psicológicas que comprometeram seus estudos, levando à necessidade de acompanhamento psicanalítico.

A nota autobiográfica que acompanhava o disco já dava indícios da luta interna enfrentada pelo músico desde a infância, algo raro de se revelar em um cenário musical da época, onde a vulnerabilidade não era um tema comum.

“Depois que os Mutantes acabaram, eu lancei um disco pelo selo Philips — um disco que, inclusive, hoje é vendido por 7 mil cruzeiros e virou item de colecionador. Ele teve uma tiragem muito pequena, mas tinha certa qualidade, e o público gostou bastante. O LP chamava-se Arnaldo Lóki? Baptista e tinha uma faixa que, na época, eu não gostei muito, chamada ‘Lóki?’. Hoje em dia, não vou mais com a cara dela, mas foi algo que fiz naquela época, e foi importante.”
Conforme relato de seu irmão Sérgio Dias à revista Bizz: “Arnaldo odiou o título”. Essa insatisfação pode ter contribuído para a rescisão de contrato com a Phonogram meses depois.
Seis anos após o lançamento de Lóki?, a insatisfação do artista com o nome do álbum ainda era evidente. Décadas depois, em 2008, Arnaldo teve que aceitar o título Lóki (sem interrogação) em um documentário sobre sua vida. A exclusão do símbolo no título confirmou a fragilidade emocional do artista.

Crueldade da mídia

Outro fator determinante foi a maneira como a mídia explorou a situação de Arnaldo Baptista. O crítico Ezequiel Neves, em um texto polêmico, escreveu: “É a primeira bad trip transformada em LP. Palmas para a Phonogram que teve a ousadia de lançar esse autêntico bootleg. Vai ver a gravadora pensou em fazer do fundador dos Mutantes o Syd Barrett dos trópicos.”
De forma incisiva, a crítica justificou a escolha do nome Lóki?, aludindo à fragilidade de Arnaldo naquele momento. A abordagem sensacionalista de parte da imprensa contribuiu para consolidar a imagem de Arnaldo como um artista "fora da curva".
Apesar disso, anos depois, Arnaldo, mesmo com o cérebro comprometido, defendeu-se com dignidade: “Syd Barrett? Não! Lóki? vai muito mais para o lado de Frank Zappa.”

sergio

 2025, 25 de fevereiro

 O guitarrista Sérgio Dias deixou para trás a tranquilidade de uma pequena cidade do interior da França e agora aproveita o brilho e a energia de Las Vegas. Acompanhado pelos Mutantes, ele se prepara para dar início ao braço europeu da turnê, começando pela Polônia.

 No print, a interação de Sérgio Dias com o texto sobre os 50 anos do LP Lóki?, de seu irmão Arnaldo Baptista, escrito por Mário Pazcheco e publicado na fanpage "Os Mutantes", que conta com a adesão de Sérgio e mais de 12 mil fãs no Facebook.