Miro Ferraz: O Bruxo das Guitarras (2025)

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O FEITICEIRO DAS CORDAS E DOS SONHOS

Os bruxos entrarão em cena com mistério: caminharão pelo palco ou farão suas guitarras levitarem? Sumirão em uma nuvem de fumaça ou encantarão o público com feitiços sonoros? E que tipo de bruxos serão esses guitarristas? Mestres das sombras, envoltos em capas escuras e cartolas à la Ritchie Blackmore, ou alquimistas sonoros forjando riffs em chamas?

Entre os amigos do Guará, é em Miro Ferraz que encontro mistérios divinos e prazeres da existência, além de testemunhos de vida. Ele é daqueles que sabem valorizar a longa amizade, fazendo da diplomacia sua arte.

Hoje pela manhã, estive em sua oficina, repleta de planos para o amanhã. Miro é um estrategista das palavras, gravando suas frases certeiras em outdoors e faixas – e nelas, não há mentira. Ele habita dois mundos: o do Guará, entre os conjuntos da QE 40, onde ganha o pão, e o de Olhos D'Água (GO), onde exercita a mente.

Na sua churrasqueira, liga o amplificador e deixa fluir a nova criação sonora, sentindo-a tomar forma, como quem traduz o pensamento em música.

A grande arma de Miro Ferraz é a paciência suprema, essencial para os retoques e reconstruções de estruturas musicais. Às vezes, você pode pensar que o dano em um instrumento – um violão desgastado, por exemplo – é irreversível. Mas Miro, com seu dom, devolve a vida ao que parecia perdido.

Ele me detalha sua técnica para reduzir milímetros do braço do violão e suavizar a altura das cordas, explica o reparo meticuloso com um pedaço de madeira para recolocar a tarraxa. Sua habilidade vai além do conserto: ele é capaz de desmontar completamente um instrumento e, com uma plástica magistral, restaurá-lo à sua forma ideal. Quando finalizado, o violão renasce, pronto para soar novamente – como um pássaro livre de sua gaiola.

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Os muitos estágios de sua vida passam diante de seus olhos enquanto ele me conta sobre suas origens. Tudo começou ao lado do pai, técnico em eletrônica, mas Miro logo percebeu que seu destino era outro: fugir mundo afora e seguir sua verdadeira paixão, tornando-se um empreendedor livre.

Estou acostumado a estacionar o carro em frente à sua oficina e mergulhar em suas histórias, sempre ricas em personagens e com finais felizes. Nesta manhã, ele me revelou seu novo projeto: restaurar dois instrumentos de cordas do mestre Manassés – primeiro, um cavaquinho, depois, uma guitarra portuguesa. Espero voltar para vê-los renascidos.

Sobre Olhos D’Água, Miro me diz que lá a vida rima com liberdade e que será seu destino quando a aposentadoria chegar. Mas esse dia ainda parece distante, pois ele ama trabalhar e tocar.

Hoje, vi Miro sentado, segurando a câmara de abafador, a parte externa do silenciador do escapamento de um carro. Diante daquela cena inusitada, tive que registrar o momento com uma foto – minha incredulidade pedia uma prova.

Ele então falou sobre captadores, esquemas de ligação elétrica, o "corpo" da guitarra e como, com precisão artesanal, usou uma simples furadeira para abrir espaço para a fiação elétrica dessa guitarra inoxidável.

E, como tantas vezes, ali na oficina, sua guitarra ligada ao amplificador falava alto – tão alto quanto seus sonhos. Sim, tive que admitir: Miro Ferraz é um bruxo, talvez um gênio da construção de guitarras.

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E, por fim, a pergunta inevitável: quantas guitarras são necessárias para satisfazer um bruxo?

Centenas!