DANIEL JOHNSON, ARNALDO BAPTISTA, O DIABO E A MORTE

Cantor americano Daniel Johnston morre aos 58 anos
Cultuado no cenário independente, o músico folk sofria de transtorno bipolar e esquizofrenia. Segundo seu empresário, ele sofreu um ataque cardíaco

Por https://veja.abril.com.br/entretenimento/cantor-americano-daniel-johnston-morre-aos-58-anos/  

11 set. / 2019 - O cantor e compositor americano Daniel Johnston morreu aos 58 anos. Cultuado por bandas de rock alternativo, como o Nirvana, o músico folk foi tema do documentário The devil and Daniel Johnston (2005), que retratava sua originalidade e sua convivência com a esquizofrenia e o transtorno bipolar.

O empresário do artista, Jeff Tartakov, disse ao jornal The Austin Chronicle que Johnston sofreu um ataque cardíaco na noite da terça-feira 10.

O cantor, caçula de cinco irmãos, nasceu em 22 de janeiro de 1961 em Sacramento, Califórnia. Sua família mudou-se depois para o norte da Virgínia, quando o então garoto se apaixonou por Beatles e outras bandas de rock. Ele fez seu primeiro álbum Songs of Pain em 1980 e desde então ele lançou mais vinte discos.

Daniel Johnston era cultuado em circuitos de música independente. Um dos seus fãs era Kurt Cobain, que ajudou a divulgar seu trabalho ao usar uma camiseta com a capa do disco Hi, how are you, de 1983. Depois disso, artistas do mundo todo começaram a regravar suas canções.

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Arte de Daniel Johnston e tipografia do Barbieri

Daniel Johnston, Arnaldo Baptista e o Diabo
escrito por Antonio Celso Barbieri

Conta-se que Robert Johnson esteve, à meia-noite, numa encruzilhada onde fez um pacto com o Diabo. Lá, ele vendeu sua alma em troca da fama e transformou-se em uma lenda do Delta Blues. A história de Robert Johnson é misteriosa, assustadora e até hoje nos leva à imaginar e especular sobre o assunto.

No caso de Daniel Johnston somos confrontados com uma história mais próxima e atual onde um jovem aparentemente normal, vindo de uma família norte americana, cristã e conservadora, mas com um gênio primitivo e mente indomável, foge de casa e eventualmente acaba virando um ícone do rock na cena independente. Tudo isto acontece ao mesmo tempo que ele trava uma enorme batalha contra forças diabólicas que existem dentro da sua cabeça e também, contra as forças do mal que ele sente que existem lá fora.

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Daniel Johnston numa foto promocional
 

Apesar de ser um compositor muito prolífico e também eficiente promotor de si mesmo. Daniel Johnston, nas suas músicas, mostra um artista instável que não aceita nenhum tipo de comprometimento. É claro que certamente, Daniel Johnston será sempre um artista mais alienado e difícil de ser aceito por muita gente do que foi Robert Johnson mas, sua luta para tornar-se uma lenda, não deve ser subestimada e é digna de ser aqui lembrada.

Daniel fala com fluência mas sua voz soa como a de um eterno garoto de oito anos. Muito embora fisicamente ele tenha engordado bastante, mesmo agora que ele está na faixa dos 40 anos, seu timbre de voz continua infantil. Como adulto, seus grandes olhos mudaram e agora lhe dão uma expressão triste e introspectiva.

Sua condição de ícone cultural, durante os anos, tem sido cimentada pela afluência de muitos fãs famosos tais como Pearl Jam, Sonic Youth, Tom Waits, Beck e Kurt Cobain. Este último, por um tempo, usou constantemente a camiseta com o desenho da capa do seu cassete Hi, How Are You?, camiseta esta que foi desenhada pelo próprio Daniel, que também é um artista gráfico cujo trabalho vem recebendo grande atenção e respeito.

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Flea (Red Hot Chili Peppers) juntamente com Kurt Cobain (Nirvana)

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A empresa Activision confirmou que Kurt Cobain aparecere como personagem no programa Guitar Hero lançado no dia primeiro de setembo de 2009 usando a camiseta pintada pelo Daniel Johnston.
A mesma camiseta que ele muitas
vêzes usou ao vivo.

Muito embora, Daniel estivesse hospitalizado por causa de problemas nervosos, toda esta publicidade em torno do seu trabalho gerou, em 1990, uma competição entre grandes gravadoras para contratá-lo. Quem ganhou a competição foi a gravadora Atlantic Records e o álbum chamado Fun produzido por Paul Leary músico da banda Butthole Surfers foi lançado em 1994.

 


Daniel Johnston - FUN (1994)

 

Daniel sofre de um problema mental chamado Transtorno Afetivo Bipolar. O Transtorno Afetivo Bipolar, até bem pouco tempo, recebia o nome Psicose Maníaco-Depressiva.

Uma coisa é inegável, Daniel foi sempre muito sério na busca da sua arte e também na busca da glória. Curiosamente, sem apologias, ele sempre dizia para as pessoas que, tinha certeza de que um dia ficaria famoso.


Jeremiah, um dos personagens clássicos criados por Daniel Johnston

Depois de ter sido tirado da Kent State University e passado algum tempo no duplex da sua irmã Margie em Houston ele juntou-se à um circo.

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Daniel e sua musa Laurie Allen
 

Um pouco antes, ele tinha visto pela primeira vez a garota dos seus sonhos, a bela Laurie Allen. Ela foi a inspiração para incontáveis músicas. Daniel supostamente gravou 300 canções só para ela. Ele no entanto, insiste que foram “milhares”! Daniel ficou loucamente apaixonado, gravando Laurie em vídeo e pedindo para ela dizer “Danny eu te amo” no seu gravador. Infelizmente, seu coração partiu-se para sempre quando sua musa foi roubada e casou-se com um coveiro. Esta perda, resultou em inúmeras composições falando “daquela que se foi”.

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Mais tarde, depois de sua experiência de vendedor de sanduíches no circo, por pura sorte, Daniel acabou chegando em Austin onde ele eventualmente acabou ficando conhecido através das suas fitas cassetes gravadas em casa. Como Daniel não tinha como fazer cópias, ele regravava muitas vezes as fitas para distribuição. Era como que, se ele estivesse fazendo uma grande tournée sem sair de casa.

Em Austin, mesmo trabalhando como funcionário do McDonalds não o impediu que aparecesse no programa da MTV chamado The Cutting Edge em 1985 e, pouco depois, criando controvérsia, ganhasse o premio de Melhor Compositor e Melhor Artista Folk no Austin Music Awards.

Lamentavelmente, o seu Transtorno Afetivo Bipolar que, já era evidente desde os tempos de escola, começou vir à tona novamente com fúria total. Daniel tornou-se imprevisível e difícil de controlar. Ele parou de fazer tournée, fumou muita maconha junto com seu empresário e, depois de tomar LSD num show do Butthole Surfers em setembro de 1986, teve uma crise nervosa. Lá pelo fim daquele ano, Daniel estava tão "preso" no alucinógeno que acabou agredindo seu empresário com um cano de chumbo. Daniel passou o ano de 1987 na cama e tomando remédio. Devido ao seu comportamento errático, Daniel por um bom tempo andou hospitalizado, passando por várias instituições mentais.

Daniel, como resultado do seus problemas mentais, desenvolveu uma grande fixação pelo “demônio”. Esta fixação acabou sendo sentida na sua visita à Nova York quando foi gravar com os membros das bandas Half Japonese e The Velvet Underground. As tentativas para manter Daniel sobre controle e depois mandá-lo para casa falharam totalmente em função da sua teimosia em "seguir sua missão de divina". Numa gravação, ele choroso, lamenta e canta a música Don't Play Cards with Satan (Não jogue cartas com Satanás). Mais tarde, entre os muitos incidentes desconcertantes, Daniel aterroriza uma senhora idosa pulando da janela do seu apartamento e correndo atrás dela o que gera mais internamento hospitalar. Vários outros se seguiriam.

Enquanto isto a tentativa de manter a sua carreira flutuando foi, paradoxalmente, ajudada e prejudicada pela loucura causada pela sua insistência em ficar fora medicamentos. Por exemplo, sua performance no South by Southwest em Austin foi excelente mas, mais tarde, ele quase sofre um acidente fatal quando voando com seu pai que é piloto, desligou o avião em pleno ar e forçou uma aterrissagem de emergência. Uns dizem que ele queria matar o demônio que controlava o avião e outros dizem que ele simplesmente queria ser como um dos seus ídolos e, voar como Gaspazinho o Fantasminha Camarada.


Daniel Johnston - Casper The Friendly Ghost

A história de Daniel Johnston é cheia de momentos de glória alternadas com calamidades de todo tipo.

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Capa do DVD do documentário The Devil and Daniel Johnston. A arte é do próprio Daniel
 

Meu interesse pelo trabalho de Daniel Johnston começou quando assisti o filme The Devil and Daniel Johnston (O Diabo e Daniel Johnston) produzido por Jeff Feuerzeig, um produtor de cinema independente que morava em Nova York mas, agora vive em Los Angeles.

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Daniel Johnston e o diretor Jeff Feuerzeig

O filme é um documentário sobre a vida deste músico e artista gráfico incomum, que vive num universo só dele. The Devil and Daniel Johnston durou 4 anos para ser feito e, foi o segundo filme do Jeff Feuerzeig. Sua premiere aconteceu como convidado, em 2005, no famoso Sundance Filme Festival. O filme acabou ganhando o premio de melhor Direção de Um Documentário Americano.

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Daniel Johnston na frente de um mural pintado usando os seu personagens

 
 
Canções de dor: Dead C entrevista Daniel Johnston
Traduzido e adaptado por Antonio Celso Barbieri
(publicado online em 25/04/2008)

Bom, uns 20 minutos antes de entrevistar o cantor e compositor legendário Daniel Johnston, minha namorada Kim entra no Comet Tavern. Eu estou bebendo um Mac & Jacks African Amber e tentando organizar todas as notas e detalhes porque eu ainda acho, erroneamente, que eu serei capaz de conduzir uma conversa na direção que eu escolher, entrevistando um músico maníaco depressivo.

Infelizmente as coisas não estão acontecendo do jeito planejado. Passei a câmera DV para a Kim que fará as fotos só para descobrir que tinha comprado a fita errada. Corro e compro nova fita e na hora H percebo que na correria esqueci-me de carregar a bateria. Que frustração! Com um passe fotográfico nas mãos mas, sem câmera! Uma grande oportunidade perdida…

Assim que atravesso a rua em direção ao local da entrevista, um lugar chamado Neumos Crystal Ball Reading Room, vejo o Dick Johnston, irmão do Daniel e também seu Chefe de Turnê. Eu o reconheci porque tinha assistido o documentário The Devil and Daniel Johnston. Dick apertou minha mão e foi me conduzindo até a esquina para entrar pela porta lateral do lugar. Quem viu o documentário, deve se lembrar-se que foi Dick, o irmão que teve a costela quebrada pelo Daniel no Natal. Foi justamente ele quem acertou esta entrevista para mim. O pai do Daniel é o empresário e a irmã Margie Johnston tem ajudado com a administração do seu lado artístico como pintor. Sua família está toda envolvida nas suas finanças de forma a garantir que Daniel pague o aluguel, pague as despesas, tenha dinheiro para alimentação, etc.

Quando viramos na esquina, vejo o Daniel de cabeça baixa fumando um cigarro. A ponta dos seus cabelos da frente estão ficando amarelecidos de tanta nicotina e ele está usando uma camiseta preta com o símbolo do Superman. Ali parado na frente do prédio, todo à vontade ele parece não tem idéia de quem ele é ou que tudo significa. Está ali parado como um ser invisível enquanto nós nos aproximávamos. Uma funcionária do lugar aproxima-se e pergunta se Daniel e Dick precisam de algo em termos de comida.

Daniel vive dizendo para todo mundo que ele está tentando perder o peso que ganhou todos estes anos, sem dúvida por causa dos remédios, e faz questão de especificar que ele quer uma Diet Coke junto com seu hambúrguer com queijo e batatas fritas (risos). A funcionária diz que vai buscar o pedido numa lanchonete no final da rua e, Daniel responde dizendo que ele vai lá buscar pessoalmente. Seu irmão cumpre sua função de Chefe de Turnê e relembra Daniel que ele ainda tem que fazer a passagem do som para o show, logo mais à noite, e puxa ele para dentro do prédio. Eu sigo atrás.

Até este momento eu não falei nada. Estou levando comigo um vinil da transmissão de rádio, ao vivo, do livro Frankenstein escrito pela Mary Shelly. Sabendo que Daniel gosta de monstros eu comprei o vinil especialmente para ele com esperança que ajude a quebrar o gelo no começo da entrevista. Considerando-se que, ele nem se interessou em saber que eu era ou porque eu estava lá, acho que fiz a coisa certa.

Eu disse “Alô”, informei-lhe que estava ali para entrevista-lo e entreguei-lhe o disco. Ele respondeu com alguma coisa tipo “Cara, muito legal! Eu amo Frankenstein!”. Dick informou Daniel que demoraria uns minutos para poder fazer a passagem do som e que aquele seria um bom momento para fazer a entrevista. Daniel concordou e dirigiu-se ao fundo da sala onde encontrou uma mesa redonda com um cestos de lixo invertidos para servir como cadeira. Eu preferi ir até o meio da sala e buscar uma cadeira de verdade para mim. No caminho deu para notar dois fãs do Daniel mantendo distância respeitosamente. Achei uma cadeira, trouxe até perto da mesa e, quando sentei-me, percebi que tinha sentado num chiclete. Não um chiclete duro mas um bem mole que se espalhou pela minha bunda toda! Que merda! Coloquei o gravador na mesa e apertei para gravar:

Daniel Johnston: Dick, dá para você me arrumar uma Diet Coke?
Dick Johnston: Daniel, a funcionária já está providenciando!
Daniel Johnston: Eu quero dizer, será que eles não tem nada para beber no bar? Alguma coisa, quem sabe Soda?
Dick Johnston: Daniel, ela foi providenciar!
Daniel Johnston: (rindo) Onde está ela? Eu quero dizer, no bar? Eu somente quero algo para beber agora, é só isso (inclinando-se na minha direção) Ok, desculpe-me.
Dead C: Tudo bem!
Daniel Johnston: (percebendo minhas anotações) Há! Estou vendo que você fez sua pesquisa! (levantado o vinil) Obrigado pelo álbum do Frankenstein. Eu AMO Frankenstein!
Dead C: Eu sei! (ele ri) Eu vi o álbum hoje, na loja, e resolvi comprar porque sei que você é um grande fã. (E, aproveitando a deixa entro direto no assunto) Então, é interessante, quando você gravou o álbum Yip/Jump você estava na casa do seu irmão Dick, certo?
(Daniel balança a cabeça afirmativamente enquanto a funcionária coloca na mesa, em frente dele, uma lata de Diet Coke)
Daniel Johnston: Obrigado!
Dead C: Então, naquela época, sua família não ajudava muito?
Daniel Johnston: Hu, huh.
Dead C: Mas, agora, sua família está envolvida em tudo que você faz?
Daniel Johnston: Hu, huh, Hu, huh.
Dead C: Você não vê uma certa ironia poética nisto tudo?
Daniel Johnston: Eu realmente não sei. Eu realmente não sei do que você está falando… (balança a cabeça) Eu não sei.
Dead C: Sua família realmente ajuda você agora, certo?
Daniel Johnston: Mmmm, hmmm.
Dead C: …com a sua música?
Daniel Johnston: (concorda com um balanço de cabeça)
Dead C: Eu ouvi dizer qualquer coisa de que você estaria fazendo algo com a gravadora Alternative Tentacles. Também ouvi dizer que você estaria preparando um álbum natalício. Alguma coisa aconteceu com relação à estas histórias?
Daniel Johnston: Hu… dá para você fazer a pergunta novamente?
Dead C: Eu li qualquer coisa à respeito de você fazer qualquer coisa com a gravadora Alternative Tentacles e…
Daniel Johnston: Mm Hmmm. É, bem, nós estamos trabalhando em um álbum chamado Death of Satan (Morte de Satanás) com a minha banda Danny And The Nighmares (Danny e os Pesadelos). Nós estamos trabalhando nisto por quase um ano e, esperamos, você sabe, eventualmente lançá-lo ainda este ano.
Dead C: E se for lançado será pela Alternative Tentacles?
Daniel Johnston: Mm Hmmm. Este é o selo que estamos apostando, então, temos esperança que vamos conseguir…sim.
Dead C: Você falou de um álbum de Natal. Você ainda está pensando em fazê-lo?
Daniel Johnston: Sim, um álbum de Natal. Nós estávamos pensando em fazer um álbum de Natal. Eu tinha uma fantasia de fazer um álbum de Natal com a banda The Butthole Surfers mas, nunca chegou à acontecer. Mas, um dos meus produtores sempre quis fazer um álbum de Natal.
Dead C: Você ainda conversa com o Gibby Haynes (da banda The Butthole Surfers).
Daniel Johnston: Sim, eu tenho visto ele por ai. Eu tenho visto…
Dead C: Eu sei que, tempos atrás, você andou fazendo muitos filmes…
Daniel Johnston: Uh, hun.
Dead C: …um monte de curta metragens e que você é muito interessado em arte e música. Você ainda faz filmes?
Daniel Johnston: Uhhhh… Sim, bem, nós andamos fazendo filmes com a banda. Você sabe o filme documentário foi lançado o ano passado… mas, fora isto nós temos feitos uns vídeos que ainda não estão terminados.
Dead C: Eu sei que você viu o documentário The Devil and Daniel Johnston várias vezes…
Daniel Johnston: Uh, hun.
Dead C: O filme te deu vontade de continuar documentando sua vida ou, te deu vontade de dar uma parada? Porque, o filme mostrou muito da sua vida, tudo de uma vez só. Deve ter sido muita coisa para você ver!
Daniel Johnston: Somente… Aconteceu tudo num instante! É com se minha vida acabasse no minuto que puseram ela para mostrar. (rindo desconfortavelmente) Certamente foi embaraçoso…
Dead C: Você acha que foi?
Daniel Johnston: …mas de certa forma foi também engraçado. Eu penso que teve senso de humor. É mais como se fosse eu sentado aqui na sua frente falando com você. E você pensando: “Mas que cara idiota!”
Dead C: Não!
Daniel Johnston: Eu fui um idiota no filme. É assim que eu sinto. Mas, eu sei que tenho senso de humor. Muito embora eles estivessem rindo de mim, pelo menos eles estavam rindo!
Dead C: Veja bem, eu não vejo desta forma. Você foi bem exposto mas desde que você veja as coisas desta forma… Eu também estive internado, eu sei!
Daniel Johnston: Sim, sim, eu sei… cara foi difícil fazer. Eu estive internado em hospital para doentes mentais por 5 anos da minha vida. Eu não estava escrevendo e muito menos pintando muito. Era somente uma tentativa desesperada de conseguir um cigarrinho no final da coisa toda. (risos) Nós tínhamos cigarro quando estávamos lá… sim, sim.
Dead C: Então era legal. Eles forneciam os cigarros?
Daniel Johnston: Uh, não. Eles tinham um pequeno quarto, uma área reservada. Sim, bem, eu não fumei até que fiquei internado num outro lugar. Lá eles diziam: “Toma um cigarro, intervalo para fumar!”. Eles nos davam cigarros. Então foi assim que eu comecei. Eu comecei fumar só por fumar e daí fui para outro hospital sem cigarros. Você sabe? Toda vez que eu comprava um pacote de cigarros dava para todo mundo. Eu era o Senhor Popular. Só que, quando eu não tinha mais cigarros, NINGUÉM me dava nenhum. É só para você ver como… (risos) …sim, eles disseram que eu era um narcisista e hypomaníaco… (ele balança a cabeça e toma mais um gole de Diet Coke).
Dead C: …e, a medicação. Deve ter sido difícil para você poder escrever. Quando foi que, finalmente você conseguiu…
Daniel Johnston: Bem, eles experimentaram em mim como se eu fosse uma cobaia. Eu quero dizer, eles nem diziam o que eu estava tomando. Os médicos nunca falavam comigo. Só enfiavam comprimidos pela minha garganta. Você sabe! Quando eu finalmente consegui sair e receber a medicação correta… Foi um tempo enorme e agora eu sei que tenho Transtorno Afetivo Bipolar. Já faz uns 10 ou 15 anos que venho recebendo a medicação correta, estou no controle e não voltei mais ao hospital. Sou muito agradecido por isto. Sim, o negócio que eu estou tomando é bom, A primeira vez que eu tomei, já fazia um ano que eu estava na cama pensando que eu tinha sido amaldiçoado por Deus ou qualquer coisa assim. Certo? Daí me deram Elavil anti-depressivo e, eu já fiquei em pé no dia seguinte, subi a colina até o meu piano e comecei compor imediatamente. E, quando dei por mim estava em Nova York granado meu álbum 1990.
Dead C: Este é um grande álbum!
Daniel Johnston: Obrigado!
Dead C: Eu gosto de ouvir o material antigo…
Daniel Johnston: Uh, huh.
Dead C: Onde você gravou estes álbuns, tipo Hi, How are you?. Você gravou tudo num gravadorzinho portátil?
Daniel Johnston: Mm hmm.
Dead C: Quer dizer, foi neste momento que você percebeu que poderia fazer tudo novamente?
Daniel Johnston: Sim, eu comecei escrevendo “pedaços”, você sabe, imediatamente. Tudo por causa do novo medicamento. Eu falo para todo mundo na industria do Rock’n’Roll que usa drogas e pílulas, que gosta de ficar chapado com maconha e tudo mais, que se eles querem ser realmente Rock’n’Rollers, eles deveriam ir no médico e pedir anti-depressivos, alguma pílula diferente ou o que o médico tiver para oferecer. Você vai ficar mais chapado com prescrição médica, mais do que fumar maconha o tempo todo, você sabe…
Dead C: Sim
Daniel Johnston: Mas, é verdade! Eu me sinto muito bem a maior parte do tempo e, eu não me sinto depressivo mais, do jeito que eu ficava antes. É um verdadeiro milagre!
Dead C: Eu sei que você gosta muito de revistas em quadrinhos. Você está interessado neste filme do Iron Man que está para ser lançado ou, você não gosta muito do Iron Man?
Daniel Johnston: Ho! Eu amo Iron Man. Eles queriam que eu fizesse uns desenhos para o filme…
Dead C: Puxa! Realmente?
Daniel Johnston: …para o cartaz. Você sabe? Eu fiz um monte deles. Eu não acho que ele serão capazes de usá-los. Eu quero dizer, eles poderiam mas, estou certo que eles poderiam arrumar alguém para desenhar uns melhores do que os que fiz. Eu não sei, mas… é um novo filme do Iron Man. E, por cima de tudo outro povo fez um sapato…
Dead C: (eu olho para os seus sapatos brancos)
Daniel Johnston: (rindo) Não são estes!
Dead C: (rindo) Há!
Daniel Johnston: …mas eles queriam que eu fizesse o design de um sapato com os meus desenhos nele. (risos) Este povo não tem mais o que inventar?
Dead C: Quem foi que pediu?
Daniel Johnston: All Star Converse
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Dead C: Ho! Legal!
Daniel Johnston: (enfiando a mão no bolso) Será que posso fumar aqui?
Dead C: Acho que só lá fora!
Daniel Johnston: Sim…sim.
Dead C: Então, eu sei que você é um grande fã dos Beatles.
Daniel Johnston: Mn hmm.
Dead C: Algumas canções suas, como por exemplo Greivances, soam mais como Bob Dylan. Você escuta muito Bob Dylan?


Daniel Johnston - Greivances

Daniel Johnston: Ho, Bob Dylan está lá em cima junto com meus heróis! É verdade! Mas, eu amo The Beatles, nunca me canso, tenho todos os piratas e outras coisas. Nunca me satisfaço! (Joga as costas para trás ao mesmo tempo que joga longe a lata de Diet Coke vazia e, então, pega o maço de cigarro, tira um cigarro e depois põem de volta no maço)
Dead C: É culpa dos medicamentos, certo? Porque, quando você está fazendo show você fica sem tomar remédio por um tempo?
Daniel Johnston: Certo!
Dead C: É porque parece que você não pode viver sem eles? (os cigarros)
Daniel Johnston: Uh…
Dead C: Mas, quando você tem os certos, você pode?
Daniel Johnston: Uh… (encolhe o ombro) Sim… Eu penso que, não quero nunca mais regravar nada, à não ser que seja para uma coletânea tipo “Os Melhores” e, daí vou fazer novos arranjos… Você sabe… (Neste momento Daniel está segurando seus cigarros novamente e tremendo um pouco e percebo que está na hora de parar por isso jogo as últimas perguntas)
Dead C: Eu sei que você desenha muito… Você vê o diabo como uma oposição à arte? Você vê arte como a sua parte espiritual ou apenas como um meio para expressar-se?
Daniel Johnston: (contemplativamente) Eu concordo.
Dead C: É assim que você vê sua arte?
Daniel Johnston: É mais ou menos assim. Você sabe, eu desenho por um tempo, depois toco música por um tempo, depois assisto um ou dois filmes, depois… como um monte de comida, depois toco mais um pouco de música, depois, desenho mais um pouco, depois assisto outro filme… Este é o meu dia. Sozinho. Exceto quando minha banda se junta para fazer algumas gravações no fim de semana ou quando faço pequenas turnês como esta. Nós ainda temos mais 3 shows para fazer eu estou me divertindo muito, você sabe… Eu só espero que tudo dê certo e eu consiga gravar os álbuns que desejo e fazer as coisas que quero. Nós temos tido bastante público… e até lotação esgotada, você sabe, então… (encolhe os ombros novamente)
Dead C: Sim, você teve lotação esgotada em Portland. Eu acho que o povo não está vindo para ouvir o que você fazia no passado. Pelo que eu ouvi seu material continua muito bom e ainda é vital.
Daniel Johnston: Bom, já está ficando velho. Foi uma grande trajetória desde que eu tocava órgão de brinquedo.
Dead C: Bom, obrigado por ter me atendido.
Daniel Johnston: Eu também agradeço. Eu gostei. Obrigado pelo álbum! (trocamos apertos de mão)
Dead C: Eu sei que você quer aquele cigarro!
Daniel Johnston: Sim… (caminhando em direção à porta de saída) …Você está certo!
Dead C: Eu sentei num chiclete! (risos)
Daniel Johnston: Oh! Sinto muito!
Dead C: Não tem problema! Está tudo bem! (risos)

Eu acompanhei Daniel até lá fora. Já do lado de fora, nós conversamos mais um pouquinho mas, com muitos fãs envolta distraindo a atenção do Daniel, a coisa ficou por ali mesmo.

Eu pesquisei bastante antes de fazer a entrevista e sabia que com Daniel as coisas seriam meio imprevisíveis. No passado nas entrevistas às vezes Daniel era totalmente inconsistente e em entrevistas mais recentes ele às vezes era lúcido e analítico e até articulava muito bem como por exemplo quando ele refletiu sobre as mudanças dos seus estados mentais e também sobre suas oportunidades perdidas: “Eu recusei a oferta da gravadora Electra. Foi uma coisa estúpida da minha parte! É que eu tinha medo do Metallica. É verdade! Eu fui idiota! Steven Spielberg tentou fazer com que eu assinasse um contrato com ele e, eu disse para a pessoa que estava no telefone que não queria ser outro ET. Foi o fim… Eu poderia estar fazendo algo com Steven Spielberg e eu fui tão estúpido que os caras nunca ligaram mais. Esta duas chances eu arruinei sem motivo algum!”.

Com referência aos seus pensamentos sobre o documentário feito sobre a sua vida ele disse: “Eu penso que para quem tem senso de humor o filme é bem engraçado. Se o filme tivesse som de risadas nas horas certas teria ajudado mais. Eu assisti o filme umas 10 vezes e gosto muito”.

James McNew da banda Yo La Tengo disse: “Faz um tempo, visitei Daniel num hospital para doentes mentais e foi difícil ter uma conversa com ele mas, quando ele está tocando ele ganha vida! Nos fizemos shows com ele e é como estar se apresentando junto com Papai Noel ou Coelho da Páscoa, uma criatura mística que só existe na nossa imaginação.” Eu acho que esta frase resume esta minha experiência com Daniel.

No show à noite, ele teve bastante ajuda com a instrumentação mas, na sua performance ele colocou a sua alma nos vocais. Ele executou clássicos como Walking the Cow e terminou primeiro tocando True Love Will Find You in the End (No final o amor verdadeiro o encontrará) e depois fazendo a platéia toda cantar com ele o clássico “a capela” Devil Tow.


Daniel Johnston - Walking the Cow


Daniel Johnston - True Love Will Find You in the End



Daniel Johnston - Devil Tow

Se você acredita como eu que a arte física é somente a manifestação do intangível dentro do tangível, ninguém é mais sucesso do que Daniel Johnston. Daniel Johnston escreve canções imortais sem camisinha!

 
Escrito por Dead C
 
Traduzido e adaptado por
Antonio Celso Barbieri

 

 

Barbieri Traçando Paralelos

 

Sendo um grande fã do nosso querido Arnaldo Baptista não pude deixar de notar, imediatamente, muitas similaridades. É uma pena que o Arnaldo nunca tenha publicamente falado sobre o seu problema que, certamente, deve afligir uma parte da população brasileira. No caso do Arnaldo Baptista, a atitude paternalista da nossa imprensa em tratá-lo, silenciosamente, por omissão, como um sobrevivente das drogas, um Sid Barret brasileiro, tira a luz do problema principal que é, a questão das doenças mentais. Infelizmente no Brasil falar em doenças mentais ainda é um grande tabu que, certamente merece uma atenção especial dos órgãos oficiais. Falta educação. No Brasil a solução simples é mudar a coisa de nome. É "deficiente" para cá, "deficiente" para lá mas, o tabu continua o mesmo. Aliás, cabe lembrar que a palavra "maníaco" como define o dicionário Aurélio significa: "Quem sofre de manias". Portanto é um erro classificar um "maníaco" como um "louco". Louco, também, segundo o dicionário Aurélio, significa: "Que perdeu a razão. Doido. Maluco". Portanto lembre-se que na classificação "maníaco depressivo" estamos nos referindo à uma pessoa depressiva e com manias, atitudes repetitivas.

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Daniel Johnston no piano


Comparações entre Daniel Johnston e Arnaldo Baptista

1) A primeira coisa que se nota é que os dois, apesar de terem mais de 40 anos falam com um tom de voz infantil.

2) Os dois sofriam de depressão e, tomaram LSD antes de sucumbirem seriamente à doença.

3) Os dois foram (ou são) obcecados por uma mulher.

4) Os dois pintam camisetas e quadros.

5) Os dois despertaram o interesse do falecido Kurt Cobain.

6) Os dois são grandes fãs dos Beatles.

7) Os dois possuem uma forma similar de compor, muito pessoal e suas músicas mostram influências de ficção científica, revistas em quadrinhos e tecnologia.

8) Os dois tiveram filmes feitos sobre suas vidas. Arnaldo teve o filme Loki - Arnaldo Baptista do diretor Paulo Henrique Fontenelle e produzido pelo Canal Brasil e Daniel teve o filme The Devil and Daniel Johnston filmado e produzido por Jeff Feuerzeig.

9) Os dois estão com seus interesses artísticos sendo administrados pelos seus familiares.

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Arnaldo Baptista no piano. Foto: Fabiana Figueiredo

Compare a música feita por Daniel Johnston e Arnaldo Baptista

Daniel Johnston
The Monster Inside Me
Arnaldo Baptista
Everybody Thinks I'm Crazy


Compare os desenhos feitos por Daniel Johnston e Arnaldo Baptista

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Daniel Johnston no McDonalds

 

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Arnaldo Baptista em foto de Andre Burian

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Transtorno Afetivo Bipolar

O que é...

O transtorno afetivo bipolar era denominado até bem pouco tempo de psicose maníaco-depressiva. Esse nome foi abandonado principalmente porque este transtorno não apresenta necessariamente sintomas psicóticos, na verdade, na maioria das vezes esses sintomas não aparecem. Os transtornos afetivos não estão com sua classificação terminada. Provavelmente nos próximos anos surgirão novos subtipos de transtornos afetivos, melhorando a precisão dos diagnósticos. Por enquanto basta-nos compreender o que vem a ser o transtorno bipolar. Com a mudança de nome esse transtorno deixou de ser considerado uma perturbação psicótica para ser considerado uma perturbação afetiva.

A alternância de estados depressivos com maníacos é a tônica dessa patologia. Muitas vezes o diagnóstico correto só será feito depois de muitos anos. Uma pessoa que tenha uma fase depressiva, receba o diagnóstico de depressão e dez anos depois apresente um episódio maníaco tem na verdade o transtorno bipolar, mas até que a mania surgisse não era possível conhecer diagnóstico verdadeiro. O termo mania é popularmente entendido como tendência a fazer várias vezes a mesma coisa. Mania em psiquiatria significa um estado exaltado de humor que será descrito mais detalhadamente adiante.

A depressão do transtorno bipolar é igual a depressão recorrente que só se apresenta como depressão, mas uma pessoa deprimida do transtorno bipolar não recebe o mesmo tratamento do paciente bipolar.

Características
 

O início desse transtorno geralmente se dá em torno dos 20 a 30 anos de idade, mas pode começar mesmo após os 70 anos. O início pode ser tanto pela fase depressiva como pela fase maníaca, iniciando gradualmente ao longo de semanas, meses ou abruptamente em poucos dias, já com sintomas psicóticos o que muitas vezes confunde com síndromes psicóticas. Além dos quadros depressivos e maníacos, há também os quadros mistos (sintomas depressivos simultâneos aos maníacos) o que muitas vezes confunde os médicos retardando o diagnóstico da fase em atividade.

Tipos


Aceita-se a divisão do transtorno afetivo bipolar em dois tipos: o tipo I e o tipo II. O tipo I é a forma clássica em que o paciente apresenta os episódios de mania alternados com os depressivos. As fases maníacas não precisam necessariamente ser seguidas por fases depressivas, nem as depressivas por maníacas. Na prática observa-se muito mais uma tendência dos pacientes a fazerem várias crises de um tipo e poucas do outro, há pacientes bipolares que nunca fizeram fases depressivas e há deprimidos que só tiveram uma fase maníaca enquanto as depressivas foram numerosas. O tipo II caracteriza-se por não apresentar episódios de mania, mas de hipomania com depressão.

Outros tipos foram propostos por Akiskal, mas não ganharam ampla aceitação pela comunidade psiquiátrica. Akiskal enumerou seis tipos de distúrbios bipolares.

Fase maníaca

Tipicamente leva uma a duas semanas para começar e quando não tratado pode durar meses. O estado de humor está elevado podendo isso significar uma alegria contagiante ou uma irritação agressiva. Junto a essa elevação encontram-se alguns outros sintomas como elevação da auto-estima, sentimentos de grandiosidade podendo chegar a manifestação delirante de grandeza considerando-se uma pessoa especial, dotada de poderes e capacidades únicas como telepáticas por exemplo. Aumento da atividade motora apresentando grande vigor físico e apesar disso com uma diminuição da necessidade de sono. O paciente apresenta uma forte pressão para falar ininterruptamente, as idéias correm rapidamente a ponto de não concluir o que começou e ficar sempre emendando uma idéia não concluída em outra sucessivamente: a isto denominamos fuga-de-idéias. O paciente apresenta uma elevação da percepção de estímulos externos levando-o a distrair-se constantemente com pequenos ou insignificantes acontecimentos alheios à conversa em andamento. Aumento do interesse e da atividade sexual. Perda da consciência a respeito de sua própria condição patológica, tornando-se uma pessoa socialmente inconveniente ou insuportável. Envolvimento em atividades potencialmente perigosas sem manifestar preocupação com isso. Podem surgir sintomas psicóticos típicos da esquizofrenia o que não significa uma mudança de diagnóstico, mas mostra um quadro mais grave quando isso acontece.

Fase depressiva

É de certa forma o oposto da fase maníaca, o humor está depressivo, a auto-estima em baixa com sentimentos de inferioridade, a capacidade física esta comprometida, pois a sensação de cansaço é constante. As idéias fluem com lentidão e dificuldade, a atenção é difícil de ser mantida e o interesse pelas coisas em geral é perdido bem como o prazer na realização daquilo que antes era agradável. Nessa fase o sono também está diminuído, mas ao contrário da fase maníaca, não é um sono que satisfaça ou descanse, uma vez que o paciente acorda indisposto. Quando não tratada a fase maníaca pode durar meses também.


Exemplo de como um paciente se sente

Ele se sente bem, realmente bem..., na verdade quase invencível. Ele se sente como não tendo limites para suas capacidades e energia. Poderia até passar dias sem dormir. Ele está cheio de idéias, planos, conquistas e se sentiria muito frustrado se a incapacidade dos outros não o deixasse ir além. Ele mal consegue acabar de expressar uma idéia e já está falando de outra numa lista interminável de novos assuntos. Em alguns momentos ele se aborrece para valer, não se intimida com qualquer forma de cerceamento ou ameaça, não reconhece qualquer forma de autoridade ou posição superior a sua. Com a mesma rapidez com que se zanga, esquece o ocorrido negativo como se nunca tivesse acontecido nada. As coisas que antes não o interessava mais lhe causam agora prazer; mesmo as pessoas com quem não tinha bom relacionamento são para ele amistosas e bondosas.

Sintomas (maníacos)

Sentimento de estar no topo do mundo com um alegria e bem estar inabaláveis, nem mesmo más notícias, tragédias ou acontecimentos horríveis diretamente ligados ao paciente podem abalar o estado de humor. Nessa fase o paciente literalmente ri da própria desgraça.

Sentimento de grandeza, o indivíduo imagina que é especial ou possui habilidades especiais, é capaz de considerar-se um escolhido por Deus, uma celebridade, um líder político. Inicialmente quando os sintomas ainda não se aprofundaram o paciente sente-se como se fosse ou pudesse ser uma grande personalidade; com o aprofundamento do quadro esta idéia torna-se uma convicção delirante.

Sente-se invencível, acham que nada poderá detê-las. Hiperatividade, os pacientes nessa fase não conseguem ficar parados, sentados por mais do que alguns minutos ou relaxar.

O senso de perigo fica comprometido, e envolve-se em atividade que apresentam tanto risco para integridade física como patrimonial.
 
O comportamento sexual fica excessivamente desinibido e mesmo promíscuo tendo numerosos parceiros num curto espaço de tempo.

Os pensamentos correm de forma incontrolável para o próprio paciente, para quem olha de fora a grande confusão de idéias na verdade constitui-se na interrupção de temas antes de terem sido completados para iniciar outro que por sua vez também não é terminado e assim sucessivamente numa fuga de idéias.

A maneira de falar geralmente se dá em tom de voz elevado, cantar é um gesto freqüente nesses pacientes.

A necessidade de sono nessa fase é menor, com poucas horas o paciente se restabelece e fica durante todo o dia e quase toda a noite em hiperatividade.

Mesmo estando alegre, explosões de raiva podem acontecer, geralmente provocadas por algum motivo externo, mas da mesma forma como aparece se desfaz.

Sintomas (na fase depressiva)

Na fase depressiva ocorre o posto da fase maníaca, o paciente fica com sentimentos irrealistas de tristeza, desespero e auto-estima baixa. Não se interessa pelo que costumava gostar ou ter prazer, cansa-se à-toa, tem pouca energia para suas atividades habituais, também tem dificuldade para dormir, sente falta do sono e tende a permanecer na cama por várias horas. O começo do dia (a manhã) costuma ser a pior parte do dia para os deprimidos porque eles sabem que terão um longo dia pela frente. Apresenta dificuldade em concentra-se no que faz e os pensamentos ficam inibidos, lentificados, faltam idéias ou demoram a ser compreendidas e assimiladas. Da mesma forma a memória também fica prejudicada. Os pensamentos costumam ser negativos, sempre em torno de morte ou doença. O apetite fica inibido e pode ter perda significativa de peso.

Generalidades

Entre uma fase e outra a pessoa pode ser normal, tendo uma vida como outra pessoa qualquer; outras pessoas podem apresentar leves sintomas entre as fases, não alcançando uma recuperação plena. Há também os pacientes, uma minoria, que não se recuperam, tornando-se incapazes de levar uma vida normal e independente.

A denominação Transtorno Afetivo Bipolar é adequada


Até certo ponto sim, mas o nome supõe que os pacientes tenham duas fases, mas nem sempre isso é observado. Há pacientes que só apresentam fases de mania, de exaltação do humor, e mesmo assim são diagnosticados como bipolares. O termo mania popularmente falando não se aplica a esse transtorno. Mania tecnicamente falando em psiquiatria significa apenas exaltação do humor, estado patológico de alegria e exaltação injustificada.

O transtorno de personalidade, especialmente o borderline pode em alguns momentos se confundir com o transtorno afetivo bipolar. Essa diferenciação é essencial porque a conduta com esses transtornos é bastante diferente.

Qual a causa da doença

A causa propriamente dita é desconhecida, mas há fatores que influenciam ou que precipitem seu surgimento como parentes que apresentem esse problema, traumas, incidentes ou acontecimentos fortes como mudanças, troca de emprego, fim de casamento, morte de pessoa querida.?Em aproximadamente 80 a 90% dos casos os pacientes apresentam algum parente na família com transtorno bipolar.

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Daniel Johnston desenhando

 


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