Willie viu o blues...

 

mais uma dose ardente de blues para...
Willie Dixon, Jorge Amiden,  Leonardo Almeida Filho e  Zé que vem a ser Bemol; baixista e vocalista do Oficina Blues, um dos primeiros caras da nossa geração à compor blues em português.

Homem das crônicas

Já o paraibano Leonardo Almeida, vulgo Léo; é escritor de palimpsestos mestre em literatura e pior de tudo  é guitarrista e flamenguista.

Seus  recentes memorais rolam em mp3memoria.blogspot.com - "Homem das crônicas" espelho em papel do que rola no blog,  sairá num box com um volume de ensaios escritos com Bel e Hermenegildo...

Na noite líquida, uisque e skol dedilhadamente falamos em ressuscitar a 'Willie viu o blues'  seminal banda que deixou saudades pelos bares e palcos da vida...

Léo encontra o pai da tritarra...

Em Brasília, no ano de 1978, casualmente, Leonardo conheceu Jorge Amiden... Abusando da sorte, Leornardo duvidou da autenticidade do guitarrista e um dos fundadores d'O Terço, na manhã seguinte, Jorge Amiden apareceu na Agência da Caixa Econômica mostrando-lhe o compacto onde ele aparecia na capa.

 

Mário Pacheco 

Amostra grátis  sexta-feira, 7 de maio de 2010

Tânatos
escritor por: leonardo almeida filho em mp3memoria.blogspot.com

 
A morte chegou na minha vida com uma carta de apresentação violenta, surpreendente. Na noite de 19 de dezembro de 1971, voltávamos da festa de Natal dos funcionários da Rádio Nacional. Quando atravessávamos a rua para adentrar a SHIS Norte, dois faróis ensandecidos, como um animal de aço faminto, arrancou minha irmã das mãos de minha mãe e a levou para o caos, arrastando-a pelo asfalto, por muitos infindáveis metros e gritos. Dias em coma, sucessivas cirurgias, e seu corpo foi sepultado em 27 de dezembro. De repente, na ausência de minha irmã, senti a presença da morte em minha casa e era uma presença escura, densa, muito dolorida, marcada no rosto triste de minha mãe, na figura esquálida do meu pai. Uma espécie de vazio cheio de angústia instalou-se à mesa nas refeições. Um ano após esse acidente, um grande amigo encontrou-se com essa mesma presença macabra e, como eu, sentiu sua força. O Hideraldo perdeu seu irmão mais velho. O carro em que ele viajava, no banco de trás, acidentara-se seriamente no local onde se dava a construção dos viadutos que unem a W3 norte e sul, por onde passa o Pacotão nos carnavais. Avisaram-me da tragédia e eu fui correndo para ver meu amigo. Movia-me a necessidade de dizer a ele que eu sabia muito bem o que ele estava sentindo e que eu estava lá para ajudá-lo de alguma maneira. Na sala, parentes choravam, abraçavam-se. Essa cena é muito familiar. Lembro que quando minha irmã morreu, estava na casa da minha tia, sentado no chão da sala, assistindo Perdidos no espaço. Minha mãe na cozinha, conversando com minha tia. Vi o rosto de meu pai na janela, chorando. Minha, vendo-o do lado de fora, correu para abrir-lhe a porta. Era um farrapo estenuado que dizia, aos prantos: Nossa filhinha morreu, Zélia. Essas coisas parecem gravar-se na memória como inscrições no mármore. Entrei pela casa do meu amigo, procurando-o. Alguém me disse que ele estava no quintal. Encontrei-o sentado no chão, encostado no muro, abraçado às pernas que estavam encolhidas, em choro sentido. Fiquei em pé na porta, olhando-o em silêncio. Não sabia o que dizer e mesmo que soubesse não diria, pois estava relembrando uma cena que presenciara na virada do ano de 71 para 72. Da janela de casa eu vi, naquela noite de Réveillon, meu pai e minha mãe abraçados, chorando a perda da minha irmã.

Pois é, pra quê (Sidnei Muller)
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http://www.youtube.com/watch?v=sAhFBHeG-os