We'll fuck you like Superman



We'll fuck you like Superman
(Mário Pacheco)

 

Edvar Ribeiro, na edição nacional original de Sgt. Pepper´s, no espaço após A day in the life, para frente e para trás - fazendo inner groove - me mostrou Paul dizendo We'll fuck you like Superman

Devo ter feito umas mil viagens. Eu tomava ácido o tempo todo, como se fosse bala. John Lennon

Antes da viagem à Índia, para encontrarem-se com o Maharishi Mahesh Yogui, os Beatles organizaram, por iniciativa de Brian Epstein, um festa na casa deste último, em Sussex. Na festa seriam servidos diversos tipos de drogas junto com os driks. Mas, como havia problemas em conseguir o LSD na Inglaterra, os Beatles bolaram um plano para contrabandeá-lo dos Estados Unidos, onde um químico de confiança preparava a droga e poderia fornê-la. Enviaram uma equipe de filmagem a San Francisco, com a finalidade aparente de documentar o festival de Monterey, só que os direitos de filmagem do festival, no entanto, pertenciam a uma empresa norte-americana, e as câmeras enviadas pelo grupo não puderam sequer entrar no local. Na verdade, eles já sabiam dessa proibição e tudo não passava de um plano para transportar o LSD para Londres. O ácido foi colocado no interior das câmeras e passou, sem maiores problemas, na alfândega britânica.
Para a trip-party na casa de Epstein, foram convidadas diversas celebridades, entre as quais o stone Mick Jagger e o artista plástico Andy Warhol. Lennon, aproveitando a ocasião, resolveu decorar o seu Rolls-Royce com desenhos psicodélicos, para chegar abafando na festa. Ele foi pessoalmente ao aeroporto buscar as câmeras contendo a carga de LSD. No trajeto do aeroporto até a casa de Epstein, Lennon e um casal amigo, Derek Taylor e a e sua esposa, foram tomando um chá com doses de LSD e já chegaram na festa viajando. O episódio mais sério ocorrido nesta festa foi protagonizado pela esposa de Lennon, Cynthia. Sob os efeitos do alucinógeno, ela subiu ao terceiro andar da casa e ameaçou se jogar no jardim, sendo interceptada no último instante.
Durante as gravações de Sgt. Pepper’s, brincando com as fitas, ouvindo-as em velocidades diferentes, Paul descobriu que seu nome, tocando a fita de trás para diante, soava como Ian Iachimoe e chegou a publicar um conto com este pseudônimo. Era também o nome que usava como código para distinguir as cartas de amigos daquelas mandadas aos milhares pelos fãs. Uma das provas de que Paul McCartney “teria morrido” poderia ser obtida no final da canção Strawberry Fields Forever, que, tocada de trás para a frente, podia ser decifrada como John dizendo “Eu enterrei Paul”.
Quinze dias após o lançamento de Sgt. Pepper’s, nas vésperas de completar 25 anos, Paul confessou à revista Life que tinha tomado LSD. O jornal Daily Mail o chamou de “idiota irresponsável”. E o líder evangelista Billy Graham organizou uma série de orações para que a juventude inocente do mundo não seguisse o exemplo de Paul. Seis meses após a revelação, Paul voltou a tocar no assunto:
Michael Braun  — Você já usou (ou usa) drogas para se inspirar?
Paul McCartney  — Há cerca de dois anos, eu tomei LSD por quatro vezes e cada viagem durou mais ou menos seis horas. Provei para ver como era e porque tinha lido muita coisa sobre o assunto. E conclui que, se os estadistas fizessem a mesma coisa, poderiam eliminar as guerras e a pobreza de uma vez por todas. Não sou, não fui e jamais serei um viciado em qualquer tóxico e de nenhuma forma aconselho a que as pessoas usem tóxicos. Mas não posso esconder a verdade de que o LSD transformou-me momentaneamente em membro de uma sociedade melhor, mais honesta e mais tolerante. Mais próxima de Deus, portanto.
Na época de Sgt. Pepper’s, John imagina um problema de afinação com a sua voz, que achava horrível. E pedia a Martin o tempo todo que a modificasse por meio de recursos eletrônicos. Muitas vezes, Lennon foi visto cantando através de um tubo de papelão, que dava um efeito especial aos seus vocais. Mas as excentricidade não eram “apenas” musicais ou psicodélicas.
Dos Beatles, John era o mais extravagante e usava seu dinheiro e poder para satisfazer todos os seus caprichos. De repente, às duas da manhã, no estúdio, chamava seu assistente Mal Evans, e ordenava:
 — Maçãs, Mal!
Algum tempo depois, Mal voltava carregando uma caixa de maçãs frescas que acabara de comprar no mercado de Covent Garden. Ou então John dizia:
 — Meias, Mal!
E o chão do estúdio logo ficava atapetado com pares e pares de meias multicoloridas que John ia provando uma atrás da outra. Fala-se também de um liberal consumo de euforizantes durante estas sessões, freqüentadas por jornalistas, amigos dos Beatles e celebridades do mundo pop.
“Ele parecia meio doidão, como se tivesse ficado viajando a noite inteira, sem ter dormido um minuto. Sua silhueta comprida e magra estava coberta por uma camada de gordura, resultado de edemas causados pela droga e de muita dissipação. O cabelo estava pegajoso e emaranhado e ele, de uma maneira geral, parecia que não tomava banho há algum tempo. Por trás dos óculos de aro metálico, as íris eram dois pedacinhos de carvão, e as pálpebras, duas janelas quase caindo.
(...) Aos 28 anos ele era virtualmente um viciado; com raríssimas e breves exceções, ele esteve ligado e/ou bêbado quase todos os dias de sua vida, desde que Cynthia o conheceu. Numa prateleira do solário havia um pilão e um almofariz brancos, de farmácia, onde ele misturava todas as combinações possíveis de bolinhas, barbitúricos ou drogas psicodélicas.
(...) Sempre que se sentia cair das alturas a que o barato o levava lambia o dedo, mergulhava-o nos ingredientes do almofariz e chupava o que vinha. Em algumas de suas viagens de ácido, ele ficava ligado durante semanas, até que todas as cores se apagassem e ele visse as coisas em preto e branco ”. ("The love you make", Peter Brown e Steven Gaines).
Jann Wenner - Durante quanto tempo você tomou LSD?
John - Durante anos. Eu devo ter feito umas mil viagens .
 — Literalmente mil ou umas duzentas?
— Muitas. Eu tomava um ácido atrás do outro.
 — Durante quais álbuns?
 — Não sei. No estúdio eu nunca tomava. Uma vez tomei, pensei que estava tomando um excitante. Não estava em condições de segurar uma viagem. Não me lembro que disco era. Mas tomei e percebi... de repente me senti superamedrontado diante do microfone. Disse, que é isso?, me senti doente (...) Disse: preciso tomar um pouco de ar. Eles me levaram para a cobertura e George Martin ficou olhando pra mim de um jeito estranho. Aí eu saquei que deveria ter tomado ácido
(...)  — Os outros Beatles tomaram tanto LSD como você?
— George acho que sim. (...) Acho que George também era ‘jogo duro’. Fomos provavelmente os que mais tomaram .

(George Harrison renunciou ao uso do LSD quando reparou no mágico efeito do sitar e descobriu nele "um caminho espiritual até Deus". "Deus no som".

(...) Acho que o LSD chocava profundamente Paul e Ringo.
 — Você teve muitas bad-trips?
 — Sim. Muitas, Jesus Cristo, eu parei de tomar por causa disso, sabe? Eu simplesmente não aguentava. (...).
John - Então parei não sei por quanto tempo. Recomecei a tomar um pouco antes de conhecer Yoko. (...) Li um negócio de que o ácido poderia destruir o seu ego. (...) Estávamos entrando num jogo em que todo mundo entrava e me destruí. (...) Destruí o meu ego. Não acreditava que eu pudesse fazer qualquer coisa, deixava as pessoas fazerem o que queriam. (...) Eu não era nada, eu era uma bosta. (...) E então fiz uma viagem com Derek Taylor (...) e ele disse coisas do tipo ‘você está bem’, e ele me mostrava as canções que eu tinha escrito e dizia: ‘você escreveu isso, e você disse isso, e você é inteligente, não fique com medo’. E na semana seguinte eu saí com Yoko e a gente tomou outro ácido e ela me fez realizar completamente que eu era eu e que estava tudo bem. E foi isso, e eu comecei a lutar novamente e a falar alto de novo, dizendo ‘posso fazer isso’ e ‘fodam-se’, ‘é isso que eu quero’ e ‘eu quero e não me encha o saco’. E fiz isso. É assim que estou agora ”. (Rolling Stone, dez. / 1970 - jan. / 1971).
David Sheff — Você ainda toma ácido?
John  — Há muitos anos que não. Um cogumelozinho ou um peiote eu não dispenso, sabe, talvez duas vezes ao ano, algo assim. Mas ácido é um produto químico. E gente ainda toma, mesmo que nós não ouvimos falar disso mais. Mas as pessoas ainda estão visitando o cosmos. Só que ninguém fala sobre isso, você acaba na cadeia.
 
Precisamos sempre lembrar de agradecer à CIA e ao exército pelo LSD. Isto é o que o povo esquece. Tudo é o contrário do que realmente é, não é? Eles inventaram o LSD para controlar o povo, e o que fizeram foi nos dar a liberdade. Às vezes trabalha-se de modo misterioso assombrando até pelo executado. Mas a verdade é que o inferno executa-os.
Se você der uma olhada no relatório do governo sobre ácido, os únicos que pularam de janelas por causa dele foram os que estavam no exército.
Eu nunca conheci ninguém que tenha pulado da janela ou tenha se suicidado por causa dele. Vamos e venhamos, até a filha de Art Linkletter que não usava ácido quando pulou de uma janela, isto aconteceu vários anos depois.
David Sheff - Um flashback (regressão)?
John  — Nunca conheci alguém que tivesse um flashback. Eu nunca tive um flashback em minha vida, e já tive milhões de viagens nos anos 60. Nunca conheci alguém que tivesse tido problema. Eu tive péssimas viagens e outras pessoas também tiveram péssimas viagens, mas eu já tive viagens ruins na vida real. Já tive viagem ruim com um baseado. Eu fico paranóico apenas por sentar num restaurante. Não preciso tomar nada.
Ácido só é vida real no cinemascope. Qualquer experiência que você já teve, é o que você teria de ter, de qualquer maneira. Eu não estou fazendo apologia - e fora com todos seus julgamentos - e eu não uso porque é químico. Mas todo esse lixo sobre o que ele fez às pessoas não passa de lixo. "The Playboy Interviews with John Lennon & Yoko Ono - Interviews conducted by David Sheff". Edited by. G. Barry Golson.
Certa vez, em Londres, recebendo um prêmio chamado Coração de Prata (Silver Heart), John ironizou, no microfone, diante de figurões “caretas”, que os Beatles estavam muito felizes por receber ali o Purple Heart. A platéia delirou. Purple Heart era o codinome do Mandrix.


Derek Taylor, assessor de imprensa dos Beatles, levou para Londres o LP Pandemonium Shadow Show, do cantor americano Harry Nilsson e o mostrou a John. Os Beatles ficaram ouvindo o disco vinte e quatro horas viajando de ácido perto de um lago.
Quando do lançamento da Apple em Londres, os jornalistas perguntaram quanto ao cantor favorito do grupo. E eles disseram que era Harry Nilsson Desta vez indagados quanto ao grupo favorito, repetiram:  — Harry Nilsson.
“Lembro-me de uma noite que estávamos deitados de costas viajando de ácido a mil, quando telefonou um cara com sotaque estrangeiro. John pegou o telefone e falou: ‘Yah... yah... uummm... yah sure, cheese cheese’. Era sua maneira de dizer sayonara, arriverdeci, aí eu caí na risada” - Harry Nilsson.