AFINAL, QUEM É RODRIGUEZ? (2025)

O enigma de uma voz que nunca se calou

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Afinal, quem é Rodriguez? O enigma de uma voz que nunca se calou
Rodriguez é um mistério da música americana – um cantor e poeta que passou décadas praticamente invisível nos Estados Unidos, mas que se tornou um ícone de resistência e esperança em terras distantes. Boêmio errante, compositor de canções de protesto, ele estampava com orgulho seu sobrenome na capa do seu primeiro disco, Cold Fact. Mas afinal, quem é esse artista?

Enquanto seu talento não era reconhecido em casa, na África do Sul suas músicas se transformaram em hinos da resistência contra o apartheid – o regime de segregação racial que oprimia a população negra por quase 50 anos. As letras de Rodriguez, carregadas de críticas sociais e melodias suaves, encontraram um público ávido por esperança e luta.

Minha primeira aproximação com essa história veio por acaso: um post no Instagram falando do documentário Searching for Sugarman, que conta a trajetória surpreendente de Sixto Rodriguez. O filme é um verdadeiro road movie, que nos leva de Detroit a Londres e à África do Sul, revelando um destino que parecia uma história de detetive.

Rodriguez não é apenas mais um músico esquecido. Ele é um espírito que desafiou o silêncio imposto pela indústria musical, pela censura e pelo tempo. Durante o apartheid, o cerceamento cultural isolou a África do Sul, mas paradoxalmente criou um terreno fértil para que suas músicas se espalhassem, mesmo que de forma pirata, e se tornassem símbolo de liberdade.

Sua obra ganhou um culto silencioso e verdadeiro, nascido da identificação de uma população progressista que via nas entrelinhas de suas letras um reflexo da própria realidade.

Musicalmente, Rodriguez traz lembranças de nomes como Bob Dylan, José Feliciano e Paul Simon, mas sua poesia carrega um tom mais sombrio e profundo. Suas composições caminham por melodias que vão do jazz ao folk, com uma elegância rústica que lembra Van Morrison ou Nick Drake – mas, ao contrário deste último, Rodriguez sobreviveu ao ostracismo, vivendo uma vida simples, longe dos holofotes.

No Brasil, seus paralelos seriam artistas como Arthur Verocai ou Di Melo – talentos incríveis que também sofreram o isolamento, mas sem conquistar o status internacional que Rodriguez atingiu.

Searching for Sugarman é mais do que a história de uma redescoberta musical. É o retrato de um artista desamparado diante de contratos obscuros, da ausência de um terceiro disco e da solidão de uma voz que demorou a ser ouvida.

Em 2022, pouco antes de sua morte, Rodriguez finalmente acertou os direitos retroativos com a gravadora Gomba Music – um reconhecimento tardio, mas merecido.

Mais do que um documentário, essa história revive um período doloroso da África do Sul e nos lembra que, mesmo em tempos sombrios, a arte é uma forma poderosa de resistência e transformação. (texto pesquisa de mário pazcheco)

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Sixto Rodriguez, Gallup Park, Ann Arbor undated Photographer: Andrea Fulton. Via/From: Bob Fischer - 

 

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Sixto “Sugarman” Rodriguez – Local da foto usada no cartaz do filme 'Searching for Sugarman'
(Studio Canal / Sony; 2012)
(Oscar de Melhor Documentário – 2012)
E DO ÁLBUM DA TRILHA SONORA
(Light in the Attic / Legacy; 2012)

📍 Localização: na Gunthorpe Street (anteriormente chamada George Yard), próxima ao cruzamento com Wentworth Street, em Whitechapel, Londres.

📷 Fotografia de Hal Wilson, 1970

From: Bob Fischer - Administrador do grupo Detroit Rock City

Sixto Rodriguez, de Detroit, lançou dois álbuns de folk/psicodelia entre 1969 e 1970 que não tiveram sucesso comercial nos Estados Unidos.
Mas, sem que ele soubesse, devido à falta de relatórios precisos das gravadoras, seus discos fizeram enorme sucesso na África do Sul, onde ele acabou ganhando uma reputação comparável à de Bob Dylan — e com o tempo atingiu um status quase mítico, pois muitos acreditavam que ele estava morto.

Anos depois, dois sul-africanos o procuraram e finalmente o encontraram vivo em Detroit.
Um documentário sobre essa busca foi feito, e Sixto acabou retornando à África do Sul, onde tocou para plateias gigantescas.
(Nesse meio-tempo, ele também teve seguidores na Austrália, onde continua popular até hoje.)

Como é um dos favoritos de Marie Fotini, correspondente-chefe europeia do PopSpots, e meu também, nós dedicamos muito tempo à busca por essa rua, que praticamente não tinha nenhuma pista.
Marie finalmente encontrou o local da foto, após uma busca longa e metódica, seguindo uma série de pequenas pistas que a levaram ao bairro de East London, famoso por Jack, o Estripador.

O cruzamento onde Sixto está caminhando ainda existe, mas apenas o prédio que aparece à sua esquerda (ao fundo) ainda está de pé.
Para ver o local no Google Street View, clique aqui: http://bit.ly/2dlgSR7
(Mais localizações dessa sessão fotográfica serão publicadas em breve.)

(Um PopSpot de 2016)

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A frase completa aparece no refrão de “Sugar Man”, faixa de abertura do álbum Cold Fact (1970), o primeiro disco de Rodriguez. 
“For a blue coin
Won’t you bring back all those colours to my dreams?”

“Por uma moeda azul
Você não traria de volta todas aquelas cores aos meus sonhos?”

Trata-se de um pedido melancólico e poético para que, por um preço simbólico, algo (ou alguém) devolva o brilho e o significado aos seus sonhos – uma súplica marcada por solidão e desejo de transcendência.