"Fun House" (The Stooges) faz 40 anos

 

Morre Scott Asheton, baterista do The Stooges

 

Anúncio foi feito por Iggy Pop neste domingo (16) em rede social.
Banda dos anos 60 influenciou o movimento punk.

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ggy Pop e Scott Asheton, do The Stooges, em 2010
(Foto: Stephen Lovekin / Getty Images
North America / AFP)

17 mar. / 2014 - Scott Asheton, baterista da banda norte-americana The Stooges, morreu na noite deste sábado (15), segundo anunciou o músico Iggy Pop, vocalista da banda, neste domingo (16) em rede social. A causa da morte não foi divulgada.

“Scott era um grande artista, nunca ouvi ninguém tocar bateria com mais significado do que Scott Asheton. Ele era como meu irmão”, afirma Iggy Pop no comunicado.

Scott tinha 64 anos e era irmão de Ron Asheton, guitarrista do The Stooges, que morreu em 2009. “Ele (Scott) e Ron deixaram um legado enorme para o mundo. Os Asheton sempre foram e continuam sendo uma segunda família para mim”, diz Iggy Pop em rede social. "Meus pensamentos estão com sua irmã Kathy, com a mulher, Liz, e com a filha, Leanna, que era a luz de sua vida".

A banda foi formada no final da década de 60, em Ann Arbor, cidade na região metropolitana de Detroit, Michigan. Com seu som primitivo e agressivo, os Stooges foram considerados uma das maiores influências para o movimento punk surgido na década de 70.

Em 2009, a banda se apresentou em São Paulo, no festival Planeta Terra
 
 
 
 
 
Funhouse
Iggy Pop and Stooges

 Um dos maiores discos de rock da história completa 44 anos

André Barcinski
Crítico da Folha de São Paulo

14 jul. / 2010 - O líder do White Stripes, Jack White, não tem dúvidas: "É o maior disco de rock de todos os tempos". Joey Ramone, o finado cantor dos Ramones, Steve Albini, produtor de Nirvana e Pixies, e Trent Reznor, do Nine Inch Nails, concordam: Funhouse é o que há.

A obra-prima de Iggy Pop e sua banda, os Stooges, está completando 40 anos. Considerado o disco que inaugurou o punk rock, Funhouse foi um fracasso de vendas tão grande que o grupo acabou chutado da gravadora Elektra. Como explicar que um fiasco desses possa ter adquirido o status mítico que tem hoje?

Se as vendas foram pequenas, a influência do disco é imensa. Funhouse inspirou diversas gerações de artistas: David Bowie ficou tão obcecado pelo som que criou seu personagem mais famoso, Ziggy Stardust, inspirado em Iggy Pop. A primeira geração do punk Clash, Sex Pistols, Ramones idolatrava "Funhouse".

Para o jornalista Paul Trynka, ex-editor da revista inglesa Mojo e autor de Iggy Pop Open Up and Bleed, sensacional biografia de Iggy ainda inédita no Brasil, os Stooges influenciaram também o rock dark e gótico de bandas como Jane's Addiction e Nine Inch Nails. Nesta entrevista exclusiva, Trynka fala de Funhouse, da carreira de Iggy Pop, e de seu próximo livro, uma biografia de David Bowie.

Jean-Paul Pelissier/AP
Iggy
O cantor Iggy Pop, vocalista dos Stooges, cujo álbum "Funhouse" é considerado por muitos o melhor disco de rock da história

Folha - Por que você acha que Funhouse é um disco tão influente? O que ele tem de especial?
Paul Trynka - A raiva pura e a intensidade do som são o que tornam esse disco tão influente. A música crua e a maneira agressiva como ela é executada têm sido copiadas muitas vezes, mas nunca igualadas. Os Stooges começaram fazendo art-rock, mas quando chegaram à Elektra Records, em Los Angeles, estavam vivendo na beira do precipício, e a música reflete isso. O som dos Stooges nunca poderá ser recriado eles descobriram esse som pela primeira vez. O disco tem um frescor e uma ingenuidade que são só dele, assim como seu glamour e decadência.

Por que os Stooges ainda são um mistério para o grande público?
Porque eles foram originais, não eram refinados, e o som não tem nada de bonito ou comercial. Muitos artistas, como David Bowie ou U2, refinaram essa música e a tornaram comercial. Mas, no estado bruto, ela assusta as pessoas.

Que artistas falaram com você sobre a influência que sofreram de Funhouse?
Dois artistas em especial foram Jack White que eu escalei para entrevistar Iggy para a Mojo, e que vê o álbum com reverência, e pessoas como Glen Matlock, dos Sex Pistols, e Brian James, do The Damned, duas peças fundamentais da criação do punk britânico e que estavam tentando, cada qual à sua maneira, chegar perto do que os Stooges haviam feito.

Como Iggy reagiu ao livro?
A última notícia que tive foi que ele tem uma cópia em sua casinha em Miami. De vez em quando ele tira o livro da estante, lê algumas páginas, e depois o coloca de volta. Acho que ele esqueceu muitas das coisas loucas que aconteceram, e quer mantê-las esquecidas!

Qual foi a reação de outros personagens importantes do livro, como os irmãos Asheton (dos Stooges) e David Bowie?
Eu nunca soube de nenhuma reação de Bowie, o que é desapontador, porque acredito que seja o primeiro livro a tratar com justiça da relação dele com Iggy. O que me deixou mais feliz, no entanto, foi saber que Ron Asheton e James Williamson (guitarrista que tocou nos Stooges e gravou diversos álbuns com Iggy) acharam o livro justo e verídico. Fico contente por ter ajudado a imortalizar a imensa contribuição que esses dois deram à música.

Uma das partes mais interessantes de seu livro é sobre o relacionamento de Iggy e Bowie, e como um afetou o trabalho do outro. Você já parou para pensar o que teria acontecido com Iggy caso eles não tivessem se encontrado?
Sem Bowie, Iggy possivelmente estaria vivo, embora isso não seja certo, mas ele certamente seria uma autoparódia, provavelmente reverenciado por alguns e ridicularizado por outros. Bowie lhe devolveu a dignidade.

Você pode adiantar algo sobre sua biografia de David Bowie? Ele colaborou com o livro?
Não, Bowie não colaborou. De certa forma, estou até feliz por isso, porque no livro cito várias vezes como ele foi generoso e inspirador. Se ele tivesse me ajudado, poderia parecer que eu estava retribuindo de alguma forma. Acredito que eu seja o primeiro jornalista que pesquisou como ele se tornou uma estrela, como ele se transformou de um adolescente ambicioso com pouquíssimo talento musical se é que tinha algum em um fenômeno. As pessoas acham que Bowie só mudou seu visual. Este livro vai mostrar que ele mudou por dentro também.