Iggy Pop, O Fantasma do Rock

Iggy Pop, O Fantasma do Rock

por Ezequiel Neves*

fotos Neal Preston

Iggypop   “Quem é que quebra o microfone com os dentes, arranha o peito com os cacos de vidro, pula em cima da plateia e começa a cantar ‘The Shadow of your smile’ com sangue escorrendo da boca?

   James Osterberg, mais conhecido como Iggy Stooge, ou Iggy Pop. Iggy vocalista dos Stooges, o mais louco de todos os cantores loucos, atualmente de mudança para a Inglaterra, onde pretende morar.

   Iggy começou como baterista e seu nome é diminutivo de Iguana, como era chamado pelo pessoal de rock de Michigan. O sobrenome Pop é uma adaptação de Popp, nome de um amigo de infância que já morreu.

   Nenhum dos três outros Stooges eram bons músicos, até que Iggy resolveu dirigi-los. Depois de fazer dois álbuns com eles. The Stooges e Fun House, Iggy teve sérios problemas de saúde. Seu empresário, Don Hunter, diz que agora ele está recuperado: “Ele vem se cuidando há meses, fazendo exercícios, correndo, comendo muita carne, legumes e frutas”.

   Hunter diz que Iggy não quer mais se machucar durante seus shows – vivia sendo levado dos concertos para os hospitais. Agora vai ser louco sem auto-violência. Por isso os dois inventaram um aparelho que Iggy usará no palco.

   O que é? Hunter não quis dizer. Não vai ser parecido com nada já existente, como a cadeira elétrica de Alice Cooper. Não é uma coisa que possa definir, é preciso ver.

   Iggy ficou famosos quando mergulhou de cabeça no meio de uma plateia de 60 mil pessoas num concerto em Cincinnati, televisionado para o país inteiro. As pessoas passaram Iggy de mão em mão, enquanto ele esticava a língua pra fora de uma boca sangrenta. Em consequência desse show de grand guignol ele se mudou imediatamente para Nova York, lar de todos os malucos e começou a frequentar a patota de Andy Warhol”.

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 O texto que reproduzi acima é de autoria do jornalista John Kepler e saiu publicado, em 1972, na edição brasileira da revista Rolling Stone. E foi através das certeiras palavras de Kepler que tomei conhecimento da existência desse maluquete fascinante chamado Iggy Pop.

Lógico que em vez da palavra “fascinante” poderia ter usado “deprimente”. Mas estaria sendo moralista demais e o rock me ensinou a não ser preconceituoso. Isso porque esse gênero musical está repleto de criaturas selvagens que satisfazem nossa imaginação masoquista por terem a coragem de brincar com os limites do possível e de permissivo. Iggy, ao lado de Janis Joplin, Jim Morrison, Brian Jones, Lou Reed e Patti Smith, é uma dessas criaturas.

Hoje ele está com 30 anos e a própria vida o ensinou que a auto-flagelação é a coisa mais gratuita do mundo. Mas tente dizer isso a um rock’n’roller de 18 anos. Se ele não te chamar de careta é porque não é um rock’n’roller. O próprio Iggy só foi tomar consciência disso quando estava com 23 anos e teve a coragem de contar tudo a David Walley, editor da revista americana “Jazz & Pop”:

— Eu era um garoto solitário e infeliz. Só me sentia seguro quando estava vagando pelos becos de Ann Arbor com minha gang de moleques. Todos diziam que eu era esquizofrênico, talvez fosse mesmo, e quando estava com 18 anos minha cabeça ainda vivia cheia de fantasias malucas e muito sangue. Foi nessa época que sofri  meu primeiro acidente de carro. Vivia sonhando com James Dean e acabei jogando o carro contra o muro.

Ann Arbor era a cidade mais triste do estado Michigan. Isso fez com que o jovem Iggy, aliás James, decidisse mudar para Chicago. Quem sabe ai ele encontraria um trabalho interessante onde pudesse gastar muita energia? Mas Chicago era também a cidade onde o rock comia solto e James acabou tocando bateria numa banda local. Essa banda tinha o nome de The Iguanas e James trocou o nome para Iggy. Mas ele não se sentia legal tocando bateria e imediatamente deixou o grupo para ser o cantor de um outro conjunto, os The Prime Movers. Com os Movers Iggy estava à vontade. Ocupava o centro do palco, tinha um microfone na mão e podia cantar tudo que aprendera com bluesistas como Johnnie Young e Pete Wallingford.

Os Movers, entretanto, não satisfaziam os sonhos loucos de Iggy. Seu modo de cantar era violento, ele estava sempre agredindo a platéia e o grupo foi ficando amedrontado. Até que uma noite, num boteco, Iggy ficou conhecendo os irmãos Asheton (Dave e Scott) que o convenceram a formar um conjunto da pesada, Iggy topou. Aos três se juntou também o baixista Dave Alexander e estava formado os Stooges. Com Iggy na frente, é claro.

Em 1967, em plena época da “paz e amor”, Iggy and the Stooges era um grupo visceral ao extremo. Eles faziam um rock anárquico, bravio e, acima de tudo, ensurdecedor. Foi o que bastou para se tornarem um fenômeno. Quando algum empresário tentava admoestá-los, Iggy gritava:

— O que vocês estão querendo? Nós somos o retrato podre da América. Isso aqui é um inferno e só vocês ainda não conseguiram perceber.

E tudo se precipitou no famoso concerto em Cincinnati. Iggy, depois de destruir o microfone com os dentes e cortar o peito com cacos de vidro, mergulhou sobre a plateia em delírio. As câmeras de televisão fizeram o resto. Num abrir e fechar de olhos eles ficaram famosos.

Os Stooges resolveram fazer de Nova York sua trincheira e campo de batalha. Eram jovens, loucos, tocavam um rock massacrante e se ofereciam em holocausto num festim de guitarras elétricas e muito sangue. E o melhor: a patota de Andy Warhol os apoiava. Na verdade, embora nenhum jornalista tenha matado a charada na época, Iggy e os Stooges estavam detonando o que algum tempo mais tarde seria rotulado de punk rock – o rock banido.

Aí, sou obrigado a confessar que não tive a sorte de ouvir os dois LPs gravados pelo grupo e produzidos por John Cale, o carismático guitarrista do Velvet Underground. Meu primeiro contato com o rock de Iggy somente aconteceu depois que li vorazmente o texto de Kepler. O ano era 1973 e Iggy já estava às voltas com David Bowie, que produziu para ele o antológico Raw Power.

Até hoje Raw Power me deixa de quatro. É um LP tão devastador que, perto dele, os Ramones parecem personagem de Walt Disney. Só para dar um exemplo: na época em que foi lançado pela Columbia, Raw Power teve a (des)honra de ser recusado por vários lojistas de Nova York. Eles simplesmente tinham pavor de vender algo tão violentamente anárquico e absurdo.

E foi o dramaturgo e jornalista Antônio Bivar que chamou minha atenção para o escândalo maior. Ele pegou a capa de Raw Power e apontou para as fotos de Iggy: “Veja só, Zeca. O cara é inteiramente louco. Parece ter vindo de outro planeta. Ele é um mutante. Extrapolou o ser humano, é um bicho muito perigoso”.

Por coincidência, nessa mesma época Iggy Stooges estava pagando caro o fato de haver desafiado todo o tipo de convenções. Apesar de toda a badalação, “Raw Power” foi um fracasso comercial. E Iggy via frustradas todas as tentativas de excursionar com seu grupo. Sua saúde estava péssima e basta dizer que no único show acontecido em Nova York ele saiu do palco numa maca e teve de ser internado duas semanas num hospital.

— Me descontrolei totalmente — diria ele mais tarde. Fui tentar girar o fio do microfone como um laço de vaqueiro e acabei perdendo vários dentes. O microfone arrebentou minha boca.

O que se seguiu foi uma barra pesadíssima. Aos 27 anos, cheio de dívidas, doente e com a cuca totalmente desintegrada, Iggy Pop – o maior delinquente que o rock já teve – parecia estar sendo vítima de sua própria e suicida ferocidade.

Durante dois anos ninguém soube dele. Histórias absurdas corriam de boca em boca. Ele era uma lenda e o rock precisa de lendas para serem devoradas. Novamente, a salvação surgiu na pessoa de David Bowie. Titio Bowie gostava ainda de Iggy – nem tudo estava perdido.

As revistas de rock voltaram a falar de Iggy Pop. Com o renascimento do punk rock, nenhum outro personagem merecia mais destaque que ele. Bowie sacou isso imediatamente e adorou ser transformado em mecenas desse príncipe do punk. Mas, estaria o universo punk disposto a aceitar um guerreiro de 30 anos?

Por enquanto, qualquer resposta fica adiada para o futuro. Sabe-se apenas que Bowie e Iggy voaram para a França e se trancaram nos estúdios do Chateau d’Herouville. Depois partiram para a Alemanha e voltaram a se fechar nos estúdios da Hansa. Aí, Bowie acabou de produzir um novo disco para Iggy. O título não pode ser mais significativo: The Idiot.

Críticos anglo-americanos já começaram a se manifestar. As opiniões são as mais contraditórias. Segundo John Rockwell, do “New York Times”, The Idiot é um disco muito mais de Bowie que de Iggy. David agora só se interessa pelo rock alemão e isso fica nítido nas faixas do LP de Iggy. A antiga fúria foi substituída por uma moldura instrumental mais de acordo com o Roxy Music e o Tangerine Dream do que com os velhos álbuns dos Stooges. Em todo o caso, a voz de Iggy ainda consegue surpreender. É como se Jim Morrison tivesse saído do túmulo.

Em suas entrevistas, Iggy é reticente. Pede desculpas por não falar nada e estrategicamente só tem elogios para os novos grupos punks, como os Sex Pistols, O Damned e o Clash. “Eles se parecem comigo há muitos anos atrás” – diz ele. Bowie o socorre diante de jornalistas surpresos: “Iggy está ótimo, vamos excursionar, eu estarei ao seu lado tocando piano”

E por enquanto tem sido exatamente assim. Só que as plateias reagem muito mais quando vêem Bowie ao piano do que Iggy ao microfone.

Ao final dos concertos a audiência provoca Iggy atirando garrafas no palco e exigindo que ele rasgue o corpo com seus cacos. Iggy tenta sorrir, acena para o público, e abandona o palco lentamente.

Um amigo meu acaba de chegar da Inglaterra e me conta um desses shows. “É triste ver um cara como o Iggy tentando sobreviver como um fantasma”. Sua conclusão me deixa no maior bode:

— Tenho a certeza que Iggy só voltaria a ser uma lenda se amanhã a gente abrisse um jornal e desse de cara com a notícia de sua morte.

*Ezequiel Neves - Jornal Hit Pop encartado na revista Pop, 1977

 RON ASHETON: Depois que Dave e eu voltamos da Inglaterra, toquei numa banda, a Chosen Few, e quando essa banda acabou, depois do segundo grau, toquei na banda em que Iggy era o baterista, a Prime Movers.

 

Mas fui despedido. Então voltei e rirei roadie deles. Eles sempre me deixavam participar e tocar umas canções, mas aí Iggy caiu fora. Ele decidiu que Sam Lay, o famoso baterista negro de blues, ia ser mentor dele, então foi pra Chicago (...)

 

RON ASHETON: Iggy me ligou de Chicago e disse: "Hey, que tal vocês virem aqui me buscar?" Este foi o começo da decisão de Iggy; "Hey, por que não começamos uma banda?"

 

UM HISTÓRIA SEM CENSURA DO PUNK VOL. I POR LEGS MCNEIL & GILLIAN MCCAIN MATE-ME POR FAVOR (PLEASE KILL ME)

 

Bowie

 

 Raw Power: Edição especial, Iggy Pop (Sony Music)

ig
Neal Preston/Corbis/Latinstock

DISCO
Iggy Pop: precursor do punk – e mais brutal que ele

 

 

Lançado em 1973, Raw Power, do cantor americano Iggy Pop e sua banda, The Stooges, foi um dos precursores do punk rock. O disco trazia elementos que mais tarde seriam banalizados por artistas do gênero: vocais urrados, riffs de guitarra distorcidos (cortesia do guitarrista James Williamson, que fazia sua estreia na banda) e letras transbordantes de desespero e caos. Raw Power foi também a primeira colaboração de Pop com seu admirador David Bowie, que levou o cantor para sua empresa e produziu o disco. (Mais tarde, Iggy Pop, dizendo ter odiado o som do álbum, lançaria sua própria – e inferior – versão de Raw Power.) Esta nova edição é imperdível por dois motivos. Primeiro, trata-se da mixagem de Bowie, que estava fora de catálogo, e que era disputada a tapa pelos fãs que caíram na conversa de Iggy Pop e se desfizeram do CD original. Segundo, ela traz um disco bônus, com faixas ao vivo e sobras das gravações. Passados 37 anos de seu lançamento, Raw Power não perdeu o impacto: faixas como Search & Destroy e Penetration continuam vivas e brutais.

Revista Veja 2 jun. / 2010

 

 

Iggy Pop quer Lindsay Lohan como sua intérprete nos cinemas

 Por FAMOSIDADES

12 out. / 2010 - São Paulo - Já imaginou Lindsay Lohan caracterizada como Iggy Pop? Estranho, não? Mas, o que parece improvável, pode virar realidade se depender da aprovação do próprio roqueiro.

Em entrevista a uma rádio da Austrália, o músico disse que a problemática atriz seria perfeita para vivê-lo nos cinemas. "Ela parece comigo e tem atitude suficiente para me interpretar nas telas. Além disso, foi para prisão na idade certa, tem tudo para dar certo", declarou.

Uma cinebiografia do roqueiro estava sendo planejada, com Elijah Wood, da saga O Senhor dos Anéis, no papel principal. O projeto, no entanto, foi arquivado, abrindo possibilidades para outros atores. Resta saber se Lindsay vai aceitar o convite. Até lá, Iggy já está pensando em tudo: "Acho que ela pode esconder os seios dela com uma faixa, ou sei lá, mas dá para fazer".