A pauta do movimento invisível

 

A pauta do movimento invisível

O Essencial é Invisível aos Olhos

book

por Mário Pazcheco

 

Para os gregos, a arkhé (princípio invisível da unidade) e a phýsis (princípio visível da unidade) – o Uno – se tornam o kosmos – o Múltiplo –, e se articulam através de duas dimensões: ordem e caos. Esse jogo dos opostos é a fonte da Harmonia Cósmica, dado que ela, a Harmonia, representa a qualidade de relação, ordenação e organização dessas dimensões.
 
 
A origem do termo Underground está no cinema
 
 
Filme "underground" foi a expressão utilizada inicialmente pelo crítico Manny Farber para referir os filmes de aventuras masculinas, de baixo custo, feitos nas décadas de 30 e 40. Em 1959, contudo, começou-se a estabelecer uma referência entre a palavra e os filmes pessoais de arte. Em um artigo intitulado Morning for the Experimental Film, publicado em Film Culture (nº 19, primavera, 1959), Lewis Jacobs empregou as palavras "filme que durante a maior parte de sua vida teve uma existência subterrânea". E diz o cineasta Stan VanDerBeek ter empregado a palavra subterrâneo naquele ano para os seus filmes, e para outros, cujas características se lhes assemelhavam.

 

 
 

underground

Na capa deste "Greatest Hits" do Country Joe & The Fish, eu conheci a palavra underground

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O selo d'O Terço também é Underground

 

O  underground é um meio de comunicação do individuo e para ele mesmo, como pesquisador e como artista.

O produto underground é feito para gastar muito pouco dinheiro.

E você será  uma pessoa de sorte se o seu patrocinador tiver objetivos idênticos aos seus.

 

 

Rendrix

PSYCHEDELIA
 
 
 
In the beginning was the Word and in 1966 the word was dope. Dope of all conceivable kinds arrived and spread very rapidly. It was either instrumental in altering the social climate of the young or was itself the most glaring symptom of change.
 
After the Beatles, groups did not need three hits before making an album. They secured more power and this began to determine the way their image was projected to the public. Groups’ interest in their own covers led them to employ designers, artists and protographers of their choice. The record companies left them to get on with it because what they got on with was found to be commercially successful.
 
To some extent, commercial criteria of the old order were forgotten and sleeves became abstract and as colourful and various as the records they wrapped.
 
The immediate result was a plethora of bizarre and colouful jackets (e.g. “Hapshash and the Coloured Coat” and “their Satanic Majesties Request”), featuring freakish photography (especially infra-red) and weird illustration. All this paved the way for diversity in sleeve design. After psychedelia anything goes.
 
 
 
 
 
livro

 

 

Final dos anos 70

Quando o assunto são drogas, a sociedade hipócrita dos anos 70 e de outros tempos perdeu o contato com a realidade. Incapazes de políticas públicas para atendimento aos viciados viram o quadro se tornar mais assustador do que o pintado por eles...

Os  apologistas da liberdade liam William Burroughs  (“Almoço nu”) escritores da Geração Beat,  , a chocante história de Christiane F., Carlos Castaneda (“A erva do diabo”), Walter Benjamin (“Haxixe”), M. Aguêiev “Romance com cocaína” e Jorge Lima Barreto (“Rock & Droga” um estudo de peso sobre os vícios do rock.

Nos anos 70, a sociedade queria um jovem careta. Nada de som ao ar livre e shows à noite com as luzes do recinto acesas.

A maior repressão de costumes acontecia através da igreja anglicana e seus panfletos e lendas urbanas: adolescentes fugiam de casa para viver em Arembepe à base de água de coco.

Independente deste cenário, nossa maior experiência psicodélica eram os inocentes Monkees na tevê e seriados da mesma época onde procurávamos referências.

Nunca nos pronunciamos abertamente sobre LSD. Colecionávamos quadrinhos de Crumb e representações gráficas do cristal.

 

Antes de tudo colecionadores...

Antes de assumir uma iniciativa artística menos espontânea que o desenho éramos colecionadores.

Acumulávamos gibis nas estantes, colávamos livros de recortes de jornais e revistas e caixas de papelão com documentos. Particularmente meu interesse gráfico estava ligado às iluminuras – processo ilustrativo do desbunde, da imprensa nanica, logotipo de bandas e todo o processo de criação emanado da Apple (a gravadora dos Beatles e seus departamentos como discos, filmes, eletrônicos, butique).

Missão conseguir e ouvir os discos experimentais da Apple com edições repletas de adereços gráficos, assistir aos filmes experimentais e de alguma maneira incorporar ao movimento invisível.

Pacientemente fomos procurando os tais discos com seus rótulos underground e os verbetes: East Coast, West Coast, garagem, freaks, Greenvillage...

 

A origem

Fanzine, a revista do fã

Os fanzines são os órgãos oficiais da comunicação e divulgação dos Fã-clubes que estão intimamente ligados aos grupos ou artistas. FANZINE é um neologismo criado a partir de fan’s magazine, ou fanatical spectator’s, da contração nasceu a expressão fanzine, que significa revista do fã e que rapidamente vai se popularizando na palavra reduzida de zine.

Um canal de comunicações que nasceu da necessidade de abrir caminho imediato para a troca de informações específicas, que não são veiculadas pela tradicional imprensa e que interessa a um grupo de pessoas que cultuam algo em comum, como a paixão por um esporte: o skate, uma banda ou sobre os quadrinhos e temas importantes, como a ecologia e manifestos apresentados através de colagens, poesias que até mesmo têm influenciado a mídia com suas informações apaixonadas e bem informadas.

Antigamente o grande barato era a “Revista do Rádio” e os fã-clubes dos ídolos da rádio. Com a chegada de Elvis Presley e os Beatles os roqueiros começaram a debater entre si e trocar correspondência.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Urbanamente no Guará 2, vários garotos estavam alinhados e começamos nossos fanzines fazendo colagens e letreiros com letras distorcidas baseadas nas iluminuras (Power flower) e descobrimos que pertencíamos a arte lisérgica.

William “Mancha” impressor de camisetas, fez os letreiros do primeiro e segundo números do fanzine, Oldies But Goldies. 

 

 

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Rogério “Punk” já pintava gândolas militares com a esfinges dos novos roqueiros como AC/DC.

Desenhou John Lennon em harmonia com o universo na edição especial "Give Peace a chance", e finalmente a edição impressa ganhava uma tiragem maior...

 

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Para a quarta edição do Jornal do Rock, William “Mancha” fez o letreiro Janis Joplin que foi o maior sucesso de edições desta era do Fanzine.

 

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No quinto número, finalmente Pedro “Bala” colaborou com a capa punk da quinta edição do Jornal do Rock. Pedro Veras era conhecido pelas folhas tamanho ofício com desenhos pintados a caneta bic preta que evocavam cogumelos.

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No sexto número do Jornal do Rock, William “Mancha” reapareceu com um letreiro digno da lenda Black Sabbath.

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No número 5, quando o culto se chamava “Sleeping Village Sabath Rock Club”, Diogo desenhou um realisticamente sangrento Ozzy Osbourne.

Arnaldo

 

No número 18 do Rock’n’Roll News edição especial “Arnaldo Baptista” materializaria a colaboração psicodélica do letreiro feito por Edvar Ribeiro.

 

 

Sofrimento ou sortilégio?

 

Edvar Ribeiro gostava de Andy Warhol! Ele modificava a forma de um objeto encapando-o. Usava plásticos douradose  amassados na frente das imagens.

Edvar Ribeiro sacava inglês com profundidade,  ele sabia as letras dos discos e cantava e ia traduzindo durante a audição

Era incrível andar pelas ruas com Edvar Ribeiro, suas mãos não paravam de receber folhas de revistas com matérias sobre arte e contracultura. Sua especialidade?

Encontrar os livros mais incríveis que as pessoas esquecem nas paradas de ônibus.

Ele só poderia ter um terceiro olho para apontar tantos detalhes e significados nos trabalhos gráficos, adorava ver os detalhes das fotos de Syd Barrett e apontava até um esparadrapo acima da sobrancelha de Syd Barrett.

Edvar Ribeiro pegou o disco Sgt. Pepper’s, no espaço após A day in the life, (e o tocou ao contrário ) para frente e para trás - fazendo inner groove – então claramente eu ouvi Paul McCartney dizendo We'll fuck you like Superman.

Como desenhista e ilustrador Edvar Ribeiro é imbatível. Poderia ter trabalhado em qualquer editora de quadrinhos de super-heróis. Criador de universos perturbadores sob forte influência de Gyger.

 

 

O que é eterno?

"Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo,

mas com tamanha intensidade, que se petrifica,

e nenhuma força jamais o resgata"

Carlos Drummond de Andrade

 

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Sons de estimação

Nosso cálice bento foi  “Pet Sounds” talvez a derradeira experiência psicodélica auditiva, o tempo parou.

A catarse psicodélica de 1985...

Assistir ao Marco Antonio Araújo Grupo!

Em 1986, o psicodelismo foi ressuscitado, todo um movimento de 1979 estava no apogeu, agora queríamos os discos da Elektra The Stooges, MC5.

Foi quando surgiu a gravadora californiana Enigma Records, naquele mar de metal nos refugiamos na ambivalência e ambiguidade de bandas com Plasticland.

O movimento invisível escreveu e editou as ideias elásticas de Arnaldo Baptista.

Para a edição do livro foi utilizada a grana de um fusca que nunca retornou e nunca conseguimos fazer uma revista psicodélica com uma tiragem maior É claro como empreendedor do próprio bol$o, eu tinha uma tática para evitar o encalhe: escambo!

The Pink Floyd lançou um vinil-duplo chamado “A Nice Pair” (uma coletânea que reproduzia os dois primeiros trabalhos do conjunto inglês) e inspirou o nosso par de revistas psicodélicas. As fotocopias em preto-e-branco eram excelentes de grande qualidade, e a digitação no computador era mais prática. Agora havia a fotocopia colorida que era cara e na máquina no gabinete do ministro foram feitas as capas coloridas das revistas psicodélicas.

O par de revistas foram costuradas, coladas e refiladas em gráfica.

Quando saiu não escapou ao comentário – Pensei que seria impressa!

Estávamos definitivamente descendo ao underground.

Foi quando numa arrojada empreitada, o Movimento Invisível produziu o mais belo CD poético psicodélico “Onde é que está o meu rock’n’roll - Arnaldo Baptista Novamente Revisitado”.

O Movimento Invisível com certeza ficou menos evanescido e com a certeza de que as bandas que ouviram aquele disco beberam algumas influências.

No meio de 1998, Júpiter Maçã lançou o CD “A sétima efervescência” o dedo no botão que deflagrou o último ciclo da música psicodélica brasileira.

Em Brasília, surgiu uma jovem cena psicodélica Os Mamutes, Farrapo Joe, Azul Psicodélico, nos quintais da minha casa vi nascer Karniça (um trio punk que nunca usou este nome) depois viraram Submundo Stewart. De São Paulo vieram Trapp e Effervescing Elephant e uma única certeza, no repertório destas bandas todas tinham canções de Syd Barrett!

 

O som do ALÉM (Augusto Lima e Messias)

O duo ALÉM ( Messias de Oliveira Jr., o Cécé ex-Extremo na guitarra e Ricardo Augusto Lima também ex-Extremo na bateria) representou a última longa experiência psicodélica do Planalto!

Os dinossauros voltaram a caminhar pela Terra.

Eram longas suítes ou temas instrumentais hipnóticos. Alguns desconheciam a riqueza da melodia, outros chapavam com o som, quando trio encaixavam momentos mágicos, também tinham problemas de beat.

 

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A maior colaboração de Edvar Ribeiro & Pazcheco:

a recriação da capa de Sgt. Pepper’s na colagem “Marmalade skies”

 

 

 

O despertar e o lento caminhar n’A Era Digital

Desiludido com os custos de tintas, chapas, resmas de papel, impressão, horas de gravação, aparelhagem de filmagem,  o movimento invisível seguiu...

Não foi preciso panfletos ou camisetas. Sua beleza atraiu e cegou.

Entre 2003 e 2012 transformar as revistas psicodélicas em sites com uma capa clássica. Transformá-las em CD ROM e voltar ao ostracismo para novamente voltar a internet foi uma rotina árdua tudo em nome da independência.

Apesar do ataque recente do ECAD, que desdentou o site, nossa popularidade vai voltando ao patamar...

Foram 30 anos levando o estandarte Do Próprio Bol$o a frente.

 

carta

Hamilton Cruz imprimia as camisetas Do Próprio Bol$o...

 

Colaboradores

Felipe Caduco, Lya Lilith, Luiz Carlos Cichetto e Kleber Lima (Da Anta Casa Editora) e Révero Frank e Antonio Celso Barbieri.

Jacques do Caleidoscópio me explicou como um patrocinador forte mantém um programa na grade da rádio.

Depois desta longa introdução, alguns shows históricos, caóticos e uma característica, a efemeridade.

 

Pinturas da Alma - um talentoso trio vocal & acústico de amigos que aproveitou a chance e gravou Senhor F.  A gravação original foi apaguada e com os restos do sonho regravou-se num único take onde o slide desafinou. O violão desta gravação era de mesa de bar.

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Projeto Syd Barrett - a mais comovente homenagem ao acid head!

Ummaghumma - material pesado em português gravado para dois CD's! Prefiriram manter a amizade...

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Dínamo Z - Hit radiofônico e influência vital da Jovem Guarda, uma meteórica carreira... Voltem!

7river

River Phoenix - a arte experimental do som elevada a decibéis enlouquecedores.

Pavor de música!

No detalhe, dois bateristas massacram os ouvidos. Vocais contrabaixo e guitarra um helter skelter!

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Stoner Babe - rapidamente sua apresentação atingiu o status de "lendária".

São engraçados. O vocalista é meio Iggy Pop!