Israel esnobando Obama

 

Ataque à Gaza 
Israel esnobando Obama 
Escrito por  Chuck Spinney
Traduzido por Antonio Celso Barbieri

 

A última vez que os Estados Unidos colocou um freio em Israel e sua agressiva guerra sem fim foi quando o Presidente  Eisenhower  não aprovou o esforço Inglês/Francês/Israelense para tomarem controle do Canal de Suez em 1956.

Desde então, os Estados Unidos nem deram uma reprimenda que seja em Israel mesmo quando suas ações também prejudicaram USA. Por exemplo, durante a Guerra dos 6  Dias em 1967, Israel atacou o navio Norte Americano USS Liberty que estava fazendo um trabalho de inteligência em águas internacionais matando 30 marinheiros. É claro que os israelenses justificaram-se dizendo que tinha sido um acidente.  Esta justificação dos israelenses foi no mínimo questionável uma vez que os aviões de caça israelenses fizeram múltiplos ataques e depois, as lanchas israelenses ainda deram-se ao trabalho de metralharem os sobreviventes na água. Além do mais,  o USS Liberty  estava equipado com muitas antenas, o que dava-lhe uma aparência bem específica e, contava com uma enorme bandeira Norte Americana bem visível. Mesmo depois de toda a evidência, o Congresso Norte Americano nunca levantou um processo com a intenção de investigar a culpabilidade de Israel.  Esta foi a única vez na história dos Estados Unidos  que o Congresso falhou em investigar as causas de um desastre naval. A investigação feita pelo DoD (Departamento de Defesa) foi vergonhoso, acobertando toda a verdade.

Entretanto, hoje em dia, vendo em retrospectiva, a inadmissível reação dos Estados Unidos ao assalto feito ao navio USS Liberty teve um efeito estratégico muito grande. Na busca de seus interesses mercenários Israel estava, agora,  livre para ferir até os interesses dos seus próprios patronos.

Bom, é o que a história sugere porque, desde então, Israel tem operado totalmente livre  sem receber dos Estados Unidos, nem que seja uma reprimendinha cosmética para apaziguar as preocupações mundiais.

Os israelenses se sentiram livres para plantar espiões, como por exemplo, foi o caso de Jonathan Pollard, dentro do Governo Norte Americano.  Recentemente o Primeiro Ministro Omert vangloriou-se para a imprensa e cidadãos israelenses de que ele fez Bush  dançar ao tom da sua música, fazendo-o interromper um discurso que ele estava fazendo na Filadélfia para dizer para ele que ele deveria humilhar a incompetente Condolezza Rice forçando-a a abster-se  na votação pedindo o fim da luta em Gaza (Resolução esta que ela tinha ajudado à escrever, possivelmente com o apoio do Bush).

A verdade é que,  o povo Norte Americano tem financiado, ano após ano, o comportamento arrogante de Israel fornecendo bilhões de dólares em  novas armas e ajuda militar/econômica.

A transferência de armas de primeira geração para Israel tem sido justificada repetidamente como sendo uma necessidade de auto defesa. Entretanto, recentemente no Líbano (2006) e agora em Gaza, Israel repetidamente usou estas armas para ataques ofensivos.

No caso da Faixa de Gaza, Israel, novamente usando armas Norte Americanas, aproveitou a  distração com as eleições nos Estados Unidos para, em novembro de 2008, violar a trégua feita com Hamas. Depois que Israel conseguiu a esperada resposta militar de Hamas, Israel então colocou em ação o seu plano, preparado com bastante antecedência e, em dezembro, atacou Gaza com força total e brutalidade assassina. Isto tudo, apenas semanas antes da tomada de posse do Presidente Barack Obama. Obama foi encurralado. O governo de Israel puxou o tapete do Obama, exatamente no momento em que ele  estava  colocando todas as suas energias na tentativa de conseguir um apoio de todos os partidos para lidar com a maior crise econômica desde a Grande Depressão.

O caso da bomba de precisão GBU-39, talvez seja o que ilustra bem, como Israel foi ajudado pelos Norte Americanos na sua onda agressiva de guerra, isto indo mesmo contra os seus próprios interesses.

Depois dos desastrosos ataques israelenses ao Hezbollah no Líbano acontecidos em agosto de 2006, mais tarde em agosto e setembro de 2007 o Pentágono pressionou o Congresso Norte Americano para a aprovação e transferência de milhares de “bombas de precisão” para re-estocar o arsenal israelense. A bomba GBU-39 é  uma bomba de diâmetro pequeno e não foi incluída no “presente”. Entretanto, recentemente e sem um motivo aparente, 4 meses antes do ataque à Gaza, em agosto de 2008 o Pentágono pela primeira vez comunicou o Congresso sobre a transferência da bomba GBU-39. O Congresso estava em recesso mas,  devido ao eficiente trabalhos dos lobistas israelenses, em setembro 2008, assim que o Congresso voltou à funcionar este foi um dos primeiros itens aprovados.

Estas armas assim como seus acessórios foram encaminhadas rapidamente para Israel e em menos de 3 meses depois de terem sido aprovadas pelo Congresso, 1000 GBU-39s estavam preparadas aerodinamicamente para serem lançadas dos aviões, tendo sido colocadas nos inventários como armas em estado operacional. Tudo em tempo para o ataque israelense à Faixa de Gaza. A bomba GBU-39 é uma das mais modernas armas do acervo Norte Americano.

Em setembro de 2008, a imprensa israelense anunciou em altos brados que as GBU-39s eram bombas perfeitas para destruição de fortificações em caso de um possível ataque ao Iran.  A verdade é que esta declaração absurda mais parece um tentativa de desinformação, uma vez que nós agora sabemos que os israelenses estavam planejando o assalto ao Estreito de Gaza já por pelo menos 3 meses.

Tratava-se de uma proposta ridícula porque a bomba GBU-39, que pesa 127 quilos, possue uma ogiva muito pequena contendo apenas 22,67 quilos de explosivos. O seu tamanho pequeno e, teoreticamente, seu alto nível de precisão faz desta arma a escolha óbvia para o assassínio de indivíduos ou pequenos grupos em áreas urbanas densamente povoadas como Gaza e não para destruição de fortificações, partes de plantas nucleares, enterradas no Iran à vários metros abaixo do solo.

Infelizmente para o pobre povo de Gaza as GBU 39s não foram tão precisas quanto anunciadas.

Segundo minhas fontes de informação, algumas com experiência no uso desta arma, a GBU 39 apresenta, entre outras coisas, problemas quanto a sua precisão. Uma das minhas fontes disse-me que os problemas da GBU 39 para ele eram um passo atrás em termos de eficiência. Para tornar as coisas mais difíceis,  a “inteligência” quanto aos objetivos e alvos a serem atacados nunca é tão boa como enfatizam os entusiastas e defensores do poder militar aéreo.

No mundo real, depois do bombardeamento, é feito o “feedback”  que é a apuração do resultado para melhorar a precisão das próximas bombas. Estes resultados são no máximo, ambíguos e, conseqüentemente a listagem de alvos e objetivos cresce absurdamente como foi o caso na Segunda Guerra Mundial, Guerra da Coréia, Guerra do Vietnam. As duas Guerras do Iraque, a Guerra de Kosovo, as duas Guerras do Líbano e agora a do Estreito de Gaza.

Bom, com respeito á este apoio cego feito pelos Estados Unidos não podemos deixar de perguntar à Israel:  Tudo tem um limite?  No dia 19 de janeiro no Jornal Providence, Bruce Robbins desabafou dizendo: ‘Chega significa chega!”

A declaração feita por Israel de que estava agindo em defesa própria é falsa porque a trégua com Hamas estava funcionando. Bruce Robbins mostra números fornecidos por Israel demonstrando que o número de foguetes disparados de Gaza em julho, agosto, setembro e outubro de 2008 foram respectivamente 1, 8, 1 e 2 enquanto antes da trégua foram lançados 149 e 87 foguetes. A trégua foi quebrada por Israel no dia 4 e 5 de novembro 2008, que aproveitou enquanto a atenção mundial estava distraída com as eleições Norte Americanas, para lançar uma ofensiva aérea e terrestre contra Hamas (parece-lhe familiar!).

Não tenha dúvidas de que, a razão mais provável para este novo capítulo cheio de atrocidades, foi as eleições parlamentares israelenses que estão próximas. Este novo ataque à Gaza não tem nada à ver com mais alguns foguetes que bem provavelmente não devem nem ter sido lançados por Hamas e sim por algum grupo dissidente mais radical como por exemplo o grupo Islamist Jihad.

O que Bruce Robbins não disse, é que a maioria dos foguetes lançados de Gaza são foguetes Qassam. Estes foguetes primitivos não possuem um sistema direcional.  Suas ogivas  podem pesar, dependendo do modelo, aproximadamente de meio quilo à 10 quilos e são feitas usando explosivos contrabandeados; TNT (dinamite) ou Nitrato de Uréia (fertilizante). O combustível do foguete é formado por uma mistura de Nitrato de Potássio (outro fertilizante)  e Açúcar. O detonador  usado para explodir a ogiva é feito de um cartucho de rifle ou revolver, uma mola, e um prego. Durante o vôo o foguete não tem nem estabilizadores anti-giratórios. Os estabilizadores são pequenas asas feitas de folhas de metal fixadas por pinos primitivos. É justamente pela falta de estabilizadores dinamicamente ajustados que, quando lançados, em direção à Israel, os foguetes deixam rastros loucos de fumaça espiralados pelos céus.

Na verdade nada disto tem nenhum significado. Não tem importância nenhuma o fato de Israel ter assassinado 1300 pessoas na Faixa de Gaza contra a perda de somente 13 israelenses, porque o Congresso Norte Americano está aplaudindo onde passou na casa uma resolução de total suporte (390 à favor/5 contra) aos Israelenses. Não tem importância que, Obama seja botado para escanteio e provavelmente humilhado e forçado entrar na linha porque ele jurou preservar esta relação especial com Israel.

Franklin "Chuck" Spinney 

Nota: Franklin "Chuck" Spinney foi um analista militar para o Pentágono. Hoje ele vive num barco no Mar Mediterrâneo. O leitor pode contatá-lo no email This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.