Palestina versus Israel

 We Are All Palestinians by Ben Heine
Nos somos todos palestinos arte de Ben Heine

O que você não sabe sobre a Faixa de Gaza
Escrito por Rashid Khalidi
Traduzido por Antonio Celso Barbieri
Publicado no jornal The New York Times
(07/01/2009)

Quase tudo que querem que você acredite sobre Gaza está errado. Abaixo segue alguns pontos essenciais que tem faltado na imprensa à respeito dos ataques à Faixa de Gaza.

A maior parte do povo de Gaza não está lá por vontade própria. A maioria das 1.5 milhões de pessoas amontoadas naquele pedacinho de terra conhecido como Faixa de Gaza pertencem à famílias que vieram de cidades e vilarejos fora de Gaza como Ashkelon e Beersheba (hoje considerada parte de Israel). Eles foram colocados em Gaza pelo exército israelense em 1948.

A OCUPAÇÃO

O Povo de Gaza tem vivido debaixo do controle militar israelense desde a guerra de 1967 conhecida como "Six-Day War". Israel é amplamente considerado como um país invasor mesmo depois que ele retirou suas tropas da Faixa de Gaza em 2005. Israel ainda controla o acesso à esta área no que se refere à importação e exportação e a entrada e saída de palestinos. Israel tem o total controle do ar e da costa marítima e suas forças militares entram em Gaza quando querem. Como uma força de ocupação, Israel tem a responsabilidade, de acordo com a IV Convenção de Genebra de garantir o bem estar da população civil.

O BLOQUEIO

O bloqueio da Faixa de Gaza feito por Israel com apoio dos Estados Unidos e da União Européia cresceu imensamente desde que Hamas ganhou as eleições do Conselho Legislativo Palestino em janeiro de 2006. Combustível, eletricidade, importação e entrada e saída de pessoas tem sido estrangulada lentamente, levando o povo à problemas muito sérios com relação às questões sanitárias, de saúde, fornecimento de água e transporte. O bloqueio causou desemprego, sofrimento e má nutrição. Esta atitude significa que Israel está punindo coletivamente - com suporte dos Estados Unidos - a população por terem exercido o seu direito democrático votando em Hamas.

A TRÉGUA

O levantamento do bloqueio de Gaza feito por Israel juntamente com a cessação do lançamento de foguetes rústicos criados em oficinas improvisadas feito por Hamas foi um dos principais itens do acordo que resultou na trégua de junho 2008 entre as duas partes. Este acordo resultou na redução do lançamento de foguetes vindos de Gaza que, de centenas em maio e junho foi reduzido para um total de menos de 20 nos 4 meses subseqüentes (dados fornecidos pelo próprio governo israelense). A trégua foi quebrada quando em novembro de 2008 as forças israelenses lançaram um grande ataque aéreo e terrestre onde 6 integrantes do Hamas foram mortos.

CRIME DE GUERRA

A matança da população civil feita tanto por Hamas como por Israel é potencialmente um crime de guerra. Toda vida humana é preciosa! De qualquer forma, os números falam por si mesmos: Mais de 700 palestinos, a maioria civis, foram mortos desde que este conflito começou no final do ano passado. Em contraste, 12 israelenses foram mortos, muitos deles soldados. Negociação seria uma forma muito mais eficiente de resolver o problema relativo aos foguetes e outros tipos de violência. Isto poderia ter acontecido se Israel tivesse cumprido os acordos relativos à trégua de junho 2008 e levantado o bloqueio da Faixa de Gaza.

Esta guerra contra o povo de Gaza não é realmente à respeito dos foguetes, nem é à respeito de restaurar a defesa de Israel (restoring Israel’s deterrence) como, a imprensa israelense quer nos fazer acreditar. Muito mais reveladora são as palavras de Moshe Yaalon chefe das forças de defesa israelense em 2002: "Os palestinos tem que entender no fundo da suas consciências que eles são um povo derrotado".

Rashid Khalidi

Rashid Khalidi, é professor de Estudos Árabes na Universidade de Columbia e autor do livro a ser lançado chamado "A Crise Plantada: A Guerra Fria e a o Domínio Americano no Oriente Médio (Sowing Crisis: The Cold War and American Dominance in the Middle East).

Bandeira Palestina
Bandeira Palestina

Antonio Celso Barbieri comenta:

É com grande desapontamento que vejo diariamente na TV a BBC limitando-se a fazer comentários superficiais e tendenciosos onde seus jornalistas nunca fazem as perguntas óbvias. O bom senso seria reconhecer que Israel é uma força de ocupação e Hamas foi eleito democráticamente porque o povo percebeu que o partido anterior fracassou e mostrou que Israel não está interessado em diálogo bloqueando toda tentativa de negociação pacífica.

União das Nações Unidas?

A ONU não é uma organização democrática no sentido de que os Estados Unidos (assim com outras grandes potências) tem poder de veto. A inatividade da ONU para impedir o genocídio acontecido na África e, o genocídio causado pela divisão da Yugoslávia assim como a sua indiferença e apatia quanto à invasão do Iraque onde morreram milhares e milhares de civis mostram que a ONU não é um órgão confiável.

Israel expandindo suas fronteiras

O que define uma nação? À meu ver, uma nação é definida pela sua língua, religião, cultura, área territorial e porcentagem demográfica. Ao longo dos anos o mapa da Palestina tem sido constantemente modificado.

O mapa da Palestina, bem ao estilo do livro chamado 1984 escrito por George Orwell tem sido apagado e redesenhado para satisfazer os interesses dos Israelenses. Será hoje muito difícil encomtrar um mapa geográfico correto desta região. Israel não só invadiu como também está repopulando a região criando conjuntos residências nas áreas invadidas. A muralha que tem sido construída para separar israelenses de palestinos é mais uma forma de exclusão e expansão de território e não tem nada à ver com segurança.

Muito embora eu considere religião o maior mal deste planeta, está claro que Jerusalém é o berço de nascimento de muitas religiões incluíndo a católica e deveria ser patrimônio universal. Jerusalém pela sua importância histórica não pertence à um povo em particular e sim à toda humanidade. Porque não transformar Jerusalém num tipo de Vaticano? Simplesmente porque é do interesse dos Israelenses e principalmente Norte Americanos manter o Oriente Médio desestabilizado.

Cabe ainda lembrar que, a divisão geográfica existente no Oriente Médio foi em grande parte criada pelo imperialismo da Inglaterra e França que não respeitou nem raça nem cultura quando dividiu e criou países segundo seus próprios interesses econômicos..

Certos países como Egito, Jordânia, Kuwait e Arábia Saudita, entre outros, foram "comprados" pelas grandes potências ocidentais. O Líbano está mudando de esfera de influência e saindo do controle da Síria para os Norte Americanos. O Momar Kadafi líder da Líbia foi "amaciado" e agora está calminho. O Iraque foi invadido e dominado assim como o Afaganistão. As únicas forças de oposição ao expansionismo Norte Americano são o Irã e a Síria.

Religião?

Aqueles que acreditam que intolerância religiosa é o maior problema estão totalmente enganados. O problema é um só: Petróleo. É muito importante que os árabes como um todo sejam divididos e dominados. Lembrem-se do grande ditado de guerra: Dividir para dominar!

Acreditem-me quando digo que os líderes mundiais não são religiosos! Extremismo religioso e imprensa controlada são as armas descobertas para manipular as massas neste tempo caótico em que vivemos. O presidente Bush foi eleito pelos radicais católicos do mesmo modo que Hamas foi pelos muçulmanos.

Violência é o alimento do radicalismo religioso! Não tem arma mais poderosa do que a fé cega alimentada por anos de repressão e violência. Os muçulmanos não precisam muito para se radicalizar pois, a violência contra eles é clara e evidente.

No ocidente atos terroristas monumentais aconteceram mas seus idealizadores e patrocinadores nunca foram realmente encontrados. Muitas são as contradições e perguntas nunca respondidas que, segundo várias teorias, apontam para um trabalho interno dos próprios órgãos de segurança dos Estados Unidos e Inglaterra para justificar mudanças na lei e, principalmente também justificar publicamente seus atos criminosos. A imprensa então, avaliza tudo, fazendo o seu jogo e criando o terror para que a massa de manobra, como ovelhas, aceitem as leis de emergência que estão jogando pela janela todas as conquistas relativas aos direitos humanos que foram conseguidas com muita dificuldade nos últimos 100 anos.

É muito triste ver a Inglaterra transformando-se num país totalitário onde lentamente a ditadura militar está chegando pela porta dos fundos. Eu sei muito bem o que é ditadura pois eu tive que engolir 30 anos dela no Brasil!

Tem muita gente botando fé no Obama mas, eu só acredito vendo! Eu quando presenciei a derrubada da Margareth Tatcher acreditei no Blair e veja só no que deu! Eu também esperava muito mais do Lula afinal, como um trabalhador ele deveria ter feito muito mais pelo povo. Depois de todos estes anos, muito das suas medidas foram demagógicas, paleativas e no fundo no fundo seu partido é conservador e beneficia desproporcionalmente somente as classes mais altas. Parece que estou divagando mas, o eu que quero dizer é que, no final das contas, sempre que um partido chega ao poder ele muda o discurso político e é justamente por isto que, quanto ao Obama, como disse anteriormente só acredito vendo.

Antonio Celso Barbieri

 Palestina

O dilema de Israel
Publicado online na Revista Época

Nota do Antonio Celso Barbieri:

Leia a matéria abaixo mantendo uma visão crítica porque é muito fácil adjetivar o Hamas como sendo um grupo extremista sem levar em conta que geralmente o extremismo aparece quando são esgotadas todas as possibilidades de uma negociação justa e pacífica. Veja só a lógica: Você torutra um animal até que ele lhe dê uma mordida. Aí então, mata-se o animal com a justificativa de que ele é selvagem e incontrolável e, você apenas agiu em defesa própria.

Após duas semanas de operação militar e cerca de 800 mortes, Israel ganhou um problema em Gaza: não quer uma ocupação custosa, não aceita deixar o Hamas no poder e não tem como escolher outros líderes para os palestinos.

O lançamento de 3.484 foguetes contra Israel desde a desocupação da Faixa de Gaza pelas tropas israelenses, em agosto de 2005, parecia prenunciar com clareza uma resposta dura. E a força com que Israel bombardeou seus alvos, adicionada à mobilização de tropas e ao apoio interno que o governo recebeu pela ação, deixava claro que a operação não iria se restringir aos ataques aéreos. O que é muito menos claro – após duas semanas e cerca de 800 mortos, incluindo mais de 250 crianças e adolescentes – é como esse conflito vai acabar.

Existem bons motivos para acreditar que o fim esteja próximo. Primeiro, há relatos de gente do governo israelense de que o ministro da Defesa, o ex-primeiro-ministro Ehud Barak, e a ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, são favoráveis ao cessar-fogo e à retirada de tropas da Faixa de Gaza. Faltaria apenas convencer o primeiro-ministro, Ehud Olmert. Segundo, a posse do presidente eleito americano, Barack Obama, está próxima (no dia 20), e ele já teria dado a entender que fará pressão para que Israel pare os bombardeios. Em terceiro lugar, Israel já pode considerar cumprido um de seus objetivos, provavelmente o principal: a capacidade militar do Hamas foi seriamente reduzida. Em quarto lugar, as imagens que correm o mundo de civis mortos, especialmente crianças, já provocaram uma onda de protestos mundiais que preocupa Israel. Por mais que se considere justificado em sua decisão de recorrer às armas, nenhum país gosta de ser retratado como opressor.

Infelizmente, há também fortes motivos para crer que o conflito vai perdurar. Primeiro, os dois lados rejeitaram de pronto uma proposta de cessar-fogo que o Conselho de Segurança da ONU aprovou na quinta-feira à noite, levando a crer que não estão interessados em parar a briga. O Hamas, grupo extremista que governa Gaza, afirmou que a resolução “não atende aos interesses do povo palestino”, como se o 1,5 milhão de residentes de Gaza não se importassem de continuar sendo bombardeados. E o governo israelense afirmou que a ofensiva “continuará até que o Exército complete sua missão”, sem dizer que missão é essa. Aí está um segundo motivo para pessimismo: se Israel definir que só considerará sua missão cumprida quando o Hamas for eliminado, é provável que a ocupação se prolongue indefinidamente.

 

Para entender o conflito entre Israel e o Hamas

1. Qual a origem do conflito?

Em novembro, o Exército de Israel matou seis palestinos depois de descobrir um túnel em Gaza supostamente usado para sequestrar soldados israelenses. A reação do Hamas, grupo radical que governa o território palestino desde 2006, foi retomar o lançamento de foguetes contra Israel. Era o fim da trégua estabelecida em junho.

2. O que diz o Hamas?

O grupo palestino afirma que Israel descumpriu a trégua por não suspender o bloqueio econômico a Gaza, limitando o trânsito da população e a entrada de mantimentos.

3. Por que o confronto é restrito a Gaza?

O pequeno território (com área equivalente a um terço do município do Rio de Janeiro) sempre foi o reduto do Hamas, um grupo de origem terrorista que obteve a maioria das cadeiras no Parlamento palestino em 2006, tomando o poder do Fatah, partido político mais moderado. Em 2007, o Hamas expulsou de Gaza o Fatah, que se isolou na Cisjordânia, e radicalizou seu discurso anti-Israel. Mesmo após a trégua de junho, os israelenses sempre mantiveram uma relação tensa com o Hamas.

4. Se o Hamas lança foguetes contra Israel há sete anos, por que a ofensiva veio só agora?

A atitude de Israel estaria inserida num contexto político: o país terá eleições em fevereiro, e o partido governista (Kadima), criticado por não responder aos foguetes do Hamas, vinha perdendo nas pesquisas para o Likud, de direita. A ação seria uma demonstração de força. O governo também teria aproveitado o fim do mandato do presidente americano George W. Bush, antigo aliado, antes de uma eventual mudança de posição com Barack Obama

5. A guerra era a única saída para Israel?

O governo israelense sustenta que sim, porque a população estava farta dos foguetes do Hamas e a guerra seria a única forma de detê-los. Os críticos dizem que o país poderia ter tentado amenizar o bloqueio contra Gaza para prolongar a trégua com o Hamas – sem custo humano

6. A resposta de Israel é proporcional aos ataques?

As convenções internacionais não exigem que os países reajam na guerra com a mesma força com que são atingidos. Em geral, a resposta extrapola a agressão e atinge civis. Mas o ataque continuado a um dos pontos de maior concentração urbana do planeta, como Gaza, traz mais vítimas inocentes do que a sensibilidade internacional é capaz de aceitar.

7. Quanto tempo vai durar a guerra?

Depende do gabinete israelense e da diplomacia internacional, mais que do campo de batalha. Se o objetivo israelense for esmagar o Hamas, a ocupação deverá se estender. Mas os apelos internacionais por um cessar-fogo deverão crescer. O fiel da balança poderá ser Barack Obama, que tomará posse como presidente dos EUA no dia 20 e já se disse preocupado com a morte excessiva de civis.

8. Por que a Palestina é importante para judeus e muçulmanos?

Os judeus acreditam que aquela é a Terra Prometida por Deus a Abraão, para onde Moisés levou as tribos israelitas que libertou da escravidão no Egito. Por volta de 1.000 a.C., Davi fundou ali o reino dos judeus. Para os muçulmanos, Jerusalém é o terceiro local mais sagrado. A Cúpula da Rocha (foto) fica no local de onde Maomé teria ascendido aos céus.

9. Quem expulsou os judeus da Palestina?

Perseguida por assírios, babilônios e romanos, a maior parte dos judeus se dispersou pelo mundo. A migração de volta à Palestina foi muito restrita até o século XIX, quando surgiu o movimento sionista, com o ideal de criação de um Estado judeu e o incentivo à fixação de comunidades judaicas na região.

10. Como Israel se tornou um Estado?

O Império Otomano controlou a Palestina por séculos, até ruir após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Coube à Inglaterra administrar a região. Incapazes de sufocar os levantes palestinos e judaicos por maior autonomia, os britânicos devolveram a região em 1947 para o controle da ONU, que propôs a partilha do território em dois Estados: um judaico e um palestino. Mais organizados, os sionistas proclamaram a independência de Israel em 1948.

11.Qual é a origem da guerra árabe-israelense?

Os países árabes não aceitaram a partilha da ONU, em 1947, e declararam guerra. Israel venceu e ocupou um território maior que o previsto no plano das Nações Unidas. Os palestinos se concentraram em Gaza e na Cisjordânia ou se exilaram.

12. Como está o processo de paz?

Em 1993, o líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Iasser Arafat, e o primeiro-ministro israelense, Yithzak Rabin, assinaram em Washington, ao lado do presidente Bill Clinton (foto), o Acordo de Oslo. Os israelenses reconheciam a autoridade palestina, e a OLP abandonava o objetivo de destruir Israel. Os palestinos passariam a administrar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Os acordos sofreram oposição dos dois lados. O sucessor de Rabin – assassinado por um extremista judeu em 1995 –, Benjamin Netanyahu, discordava dos termos do acordo. A liderança de Arafat, morto em 2004, foi minada pela ascensão de grupos radicais – como o Hamas.

Juliano Machado. Com reportagem de José Antonio Lima