#DoPróprioBolso: Aos 43 Anos, Retoma a Essência que Nunca Perdeu (1982-2025)
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Prólogo • 1982
Naqueles tempos, os cabeçalhos dos zines traziam frases como "órgão oficial" e "órgão divulgador," e eu, desconfiado, enxergava nisso um eco do modelo de comunicação da ditadura. Era 1982, e baseado na contracultura, eu queria criar o meu próprio veículo de resistência cultural. Pelo menos, era isso que líamos nos livros dos teóricos da época: teoria, discurso e ação. Mas a prática era outra história. Nunca tinha sentado no banco de uma universidade — só no banco dos réus.
1988 • Dias de glória
Reza a lenda que Sting, o líder e frontman do The Police, apareceu na Chácara 13, na Colônia Agrícola Bernardo Sayão, no Guará, em algum dia de 1988. O cantor inglês estava acompanhado das mais belas funcionárias do quadro da Funai. Sting veio fazer uma visita aos índios que passavam o tempo mergulhando na única piscina particular daquele setor naqueles tempos. Ao perceber que os índios não tinham frutas em sua fruteira, decidiu subir até o comércio mais próximo para abastecê-los. Foi então que o criador do "DoProprioBolso" o interceptou no centro da praça da QE 32, após furar o cordão de isolamento. Da boca do cantor, ele ouviu: "Nothing like showbiz, I never imagined one of my records here!" – ou seja, "Nada como o showbiz, jamais imaginei um disco meu aqui!" O criador do "DoProprioBolso" então pegou um autógrafo no álbum duplo ao vivo de Sting, com capa simples, que ainda guarda até hoje. O resto da história é que uma turba avançou sobre o cantor, pois o criador do "DoProprioBolso" o reconheceu, com a ajuda do ajudante Waldemar, que disse: "Olhe ali, Mário, é o Sting! Pois quem anda com o Raony só pode ser ele – destoando da cor da pele dos demais e com o nariz alongado."
1997•1998
Nos primeiros dias de rock em casa, eu acabara de estacionar o caminhão-palanque naquele ponto, e minha primeira preocupação era alinhar as madeiras para que ficassem bem niveladas. Em seguida, precisava construir um piso de madeira, um trabalho sempre demorado e que consumia muitos pregos e parafusos. Enquanto trabalhava, minha mente divagava, sonhando com shows intercontinentais, mesmo sem termos aparelhagem alguma — nem mesa, caixas de som, muito menos microfones! Aliás, nunca víamos os microfones. Até hoje, temos medo que eles desapareçam como mágica.
Naquele tempo, tínhamos apenas uma guitarra guardada em uma caixa de sapatos. Passávamos o tempo lustrando aquele instrumento como se fosse um troféu. Foi nesse cenário improvável que King Johnny apareceu para me visitar. Para não deixá-lo sair de mãos vazias, ofereci um café, mesmo sem açúcar.
Johnny, com seu jeito direto, foi logo perguntando:
— E aí, o que vai fazer com esse caminhão? Tem que dar alguma utilidade pra ele...
Pensei em responder que planejava arrastá-lo pela cidade como um protesto, mas me contive e disse apenas:
— O território é livre.
Johnny tinha uma habilidade peculiar de coagir as pessoas, convencendo-as a trabalhar para ele em empreitadas nem sempre seguras. Às vezes, envolvia ir a uma boca de fumo ou trabalhar semanas sem receber. Quem sobreviveu a essas aventuras hoje se considera livre e afirma que "fez porque quis", como se não tivessem carregado sequelas psíquicas.
Eu conhecia Johnny de outros carnavais, e dessa vez ele veio até minha casa me convidar para uma sociedade. A proposta? Eu entraria com o caminhão, o nylon das telas e as camisetas, enquanto ele... bem, ele fazia tudo desaparecer no seu famoso "caixa dois".
Fui firme com ele, como sempre fui:
— Meu amigo Johnny, aqui é o seguinte: papai está na missão árdua de criar dois “catarrentos”. Estou construindo com esforço e não vou colocar um centavo nessa sua ideia. O caminhão está aí. Tem uma cuba debaixo dele. Contrate um pedreiro para fazer a ligação de água e levantar as paredes da cuba. Depois, instale um varal pra secar suas camisetas.
Enquanto falava, o vento cortante da região uivava, levantando partículas de areia que entravam em todos os cantos. Expliquei que, para montar uma estamparia ali, seria necessário um espaço hermeticamente fechado.
Johnny me olhou com uma expressão que misturava frustração e incredulidade, como se eu tivesse cortado todos os efeitos das drogas em seu cérebro. Sem dizer mais nada, virou-se e foi embora, provavelmente à procura de outro sócio.
1998
Naqueles dias, meus sapatos eram velhos, e ainda me lembro bem deles. Às vezes, minha chefe me dava camisas sociais que haviam pertencido ao marido dela, um delegado. De vez em quando, ele mesmo me levava até a delegacia, lá na ponta da Asa Norte, para mostrar a cela sempre cheia de gente.
Enquanto isso, eu me empolgava com o caminhão-palanque. Passava horas juntando parafusos e porcas em um saquinho, procurando retalhos de madeira e latas de tinta usadas no meio do entulho. Emendava metros de fios, sonhando com o dia em que tiraria um "rock" dali, no quintal de casa.
Naquele cenário, em Brasília, a autoproclamada Capital do Rock, surgiam inúmeras versões alternativas do famoso cantor e compositor Renato Russo. Em cada esquina ou mesa de bar, parecia haver um cantor em potencial. Muitas das boas bandas que começaram a despontar tocavam músicas da Legião Urbana, reinventando-as a seu modo.
Nos dias de folga, com meus sapatos velhos, eu caminhava pelo Conic à procura de uma mesa para tomar uma cerveja solitária e, quem sabe, jogar uma partida de palitinho. A frase "ele mexe com música" era como uma senha mágica, capaz de atrair todo tipo de compositor inexperiente. Eu ficava lá, "beiçando" a cerveja, ouvindo torrentes de sonhos embalados por uma nuvem de cifrões.
Depois de muita conversa séria, vinha o momento de despedida, e eu dizia:
— Olha, existe uma estrutura e energia elétrica. Os ensaios só podem ser aos sábados, depois das 14 horas. É isso que eu posso oferecer a vocês.
Meu interlocutor, invariavelmente, ficava triste e desanimado. Esperavam que eu patrocinasse a aparelhagem da banda que estavam idealizando. Eu odiava aquele momento. Sabia exatamente como eles se sentiam, pois os sonhos deles, um dia, também foram os meus. E eu sabia como isso doía.
"Porra, desiludi o menino: 'Ele não quer me patrocinar...'"
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• Levantei 226 tipos de ramificações de músicos em apresentações, seja em grupos, ora trios ou duos, ou em shows solo. Improvizações, jams e participações fazem parte desse conjunto. Encontros que nunca se repetirão, grupos que se lançaram em uma única apresentação, e cenas de vários clipes, realizando mais de 500 apresentações dentro e fora da casa, em todos os espaços disponíveis.
No 'Dia Mundial do Rock', 13 de julho de 2013, The Barbiras se apresentou no nosso palco.
Em plena pandemia e em dias de luto, a banda de reggae Deus Preto se apresentou aqui no dia 19 de dezembro de 2020.
Nas palavras do guitarrista Muganga, o jovem à esquerda da foto: 'Dos seus 40 anos de rock, eu estive presente em quase 10. Já o guitarrista Bleyvs, também à direita na foto, tem 30 anos de envolvimento com as produções do #DoPróprioBolso.
Da safra de 1982-2025, que completa 43 anos, ainda seguem comigo Miro Ferraz, guitarrista da Durango D'América, o quarteto punk Detrito Federal e Gilmar, do trio punk A.R.D.
Titi Rabelo: a experiência e pegada de um veterano da bateria
Desde o início da década de 1990, o baterista Titi Rabelo tornou-se hors-concours, assumindo a responsabilidade pela equalização e montagem do som após a perda prematura do brilhante guitarrista Cécé, ocorrida durante o melancólico Carnaval de 2001.
Estou cercado por muitas pessoas incríveis nessa jornada de 43 anos: Révero Frank, Julio 'Junk', André Azenha, Alexandre Renato. Entre os fiéis à proposta do #DoPróprioBolso, destacam-se o estilo e a elegância de Lya & Banda, a irreverência etílica dos covers da Banda Mais Lama, e o significado profundo da cultura afro-brasileira representado por Deus Preto. Não posso deixar de mencionar a querida Banda Ser, com seu hard rock em português, além das novas forças da cena, como O Fim do Mundo e Asteroide Lisérgico, trazendo um rock trovejante, pesado e psicodélico. Incrível, não é?
E tem também o DJ Teka, que dá ritmo às festas e celebrações com as bandas que nos propomos a fazer. Assim que a ressaca for embora e o baque da queda passar, prometo listar outros nomes importantes, como o lendário Zezinho Blues – guitarrista, gaitista e cantor – que deu início a tudo isso no universo do #DoPróprioBolso!
Se você pensa que o #DoPróprioBolso é coisa de gente bacana, está muito enganado – é coisa de quem precisa.
O quinteto juvenil, composto por quatro homens e uma contrabaixista, se apresentou no Pão, Circo & Rock' na noite de 8 de outubro de 2011.
Do Próprio Bolso e as Ramificações do Heavy Metal
Curse of Flames, Final Erosion, Byron, Deathwatch, Dark Insanity, Land of Lies, Cromus, Abismo e Fim do Mundo. Foram apenas nove nomes de bandas de heavy metal que, com o tempo, se espalharam entre Thrash Metal, Death Metal e Black Metal. Curse of Flames foi uma banda formada por meninos ainda antes dos tempos da universidade. Curiosamente, um vídeo deles circulou da Venezuela até a América Latina, e era engraçado ouvi-los contando que, por quase um mês, se reuniam diante da televisão para assistirem ao clipe. Final Erosion era uma banda veterana formada por músicos que hoje já ultrapassaram os 50 anos. Deathwatch, Dark Insanity e Land of Lies pertenciam à mesma faixa etária dos meninos do Curse of Flames. Gostei da apresentação do Dark Insanity; curiosamente, depois soube que eles faziam covers do Megadeth, o que só reforça o meu pouco entendimento sobre o assunto. Cromus veio de Luziânia com duas formações diferentes, que subiram ao palco nos anos de 2013 e 2017, e tinham uma dupla de guitarras bastante sólida. A banda Abismo realizou apenas uma apresentação aqui, e parte das cenas do clipe "F!ve" foram gravadas na chácara. Por fim, o grupo Fim do Mundo trouxe seu crossover, uma mistura de estilos, que promete voltar em 2025.
A BeerHead, agora com Davi Kaus nos vocais, se apresentou no palco do Do Próprio Bolso em 4 de março de 2017
Yes, Nós Tivemos Punk Rock: Um Registro da Cena no Do Próprio Bolso
Terror Revolucionário, A.R.D., BeerHead, Cabelo Duro, Bosco, Watchatcha, Zu Totën, Corte Seco, Indigentes & Indecisos, Alarme, O Dia D e Detrito Federal formam uma parte vibrante da história punk que passou pelo palco do Do Próprio Bolso. Em 2009, embora eu nunca tenha diferenciado com exatidão o punk rock do crossover, posso afirmar que Terror Revolucionário foi a primeira banda extrema a tocar em nosso espaço. Naquela noite memorável, Podrão subiu ao palco com eles para uma participação especial, algo inédito na trajetória de ambas as expressões. Minha apreensão inicial pela presença de Podrão logo se desfez.
Três anos depois, em 2012, a A.R.D. subiu ao palco como um trio improvisado após uma mudança de última hora na formação. Um ano depois, a BeerHead prestou tributo aos Ramones, e na mesma noite, a lendária Cabelo Duro tocou em uma formação embrionária, relembrando os primórdios da banda.
Em 2014, Bosco, do Detrito Federal, realizou uma apresentação solo marcante, enquanto bandas como Outubro HC, Watchatcha (trazida do Rio Grande do Sul por Ricardo 'Retz') e Zu Totën também deixaram sua marca. A Corte Seco, que tocou em nosso palco em três ocasiões diferentes: "O clipe que havíamos planejado não foi realizado porque não conseguimos obter as imagens da câmera principal. A pessoa responsável pela câmera nunca nos enviou o material. Por isso, acabamos produzindo este com algumas imagens gravadas no mesmo dia." (Renato MengaJam)
Os Indecentes & Indecisos, de São Sebastião, eram frequentadores assíduos dos nossos shows. O trio Alarme foi uma grande atração, e quase retornou para uma aguardada apresentação em 2024, mas problemas de saúde do guitarrista impediram o retorno. O Dia D trouxe uma energia contagiante com sua pegada punk, enquanto o último grande show punk do espaço foi realizado pela Detrito Federal, em 2024, com Bosco, Podrão, Bil e Marcus Guerra, prometendo voltar em 2025.
Esse registro reflete não apenas a diversidade e a força do punk rock que já passou pelo Do Próprio Bolso, mas também a possibilidade de trazer de volta várias dessas bandas. O punk, com seu ativismo, combina com o espírito independente do espaço. Apenas é preciso ter cuidado ao divulgar esses eventos para evitar excessos de adrenalina, garantindo que o público mantenha a energia no equilíbrio certo para celebrar a rebeldia com responsabilidade.
• 2011, 23 de julho • Sétimo Céu
Durante o evento Sétimo Céu aconteceu um encontro memorável: Zezinho Blues comandando na voz e guitarra, acompanhado por Célio de Moraes no contrabaixo e Tiago Rabelo na bateria. Foi um dos tributos mais vibrantes a Raul Seixas já realizados naquela chácara. Infelizmente, não há registros fotográficos desse momento. A fotógrafa presente apagou o álbum do Facebook, e, por não ser nossa amiga, mas fã de outras bandas, o material acabou perdido para sempre.
• 2012, 8 de dezembro • Deem uma chance à paz
Ao cair da tarde, tivemos a oportunidade rara de apreciar o quarteto "Balaio de Pérolas", formado por Sérgio Vianna, na voz e percussão; o incrível Léo Lyra, no violão; e Nivaldo Ramos, no pandeiro. Como convidado especial, o carismático amigo da cidade, William “Visual”, na flauta. Rolaram altos "chorinhos". Da percussão, tiravam até faíscas do chão. O "Balaio de Pérolas" são andarilhos, malabaristas, literatos, teatrólogos e músicos. Uma verdadeira tropa de infantes – tudo seguia redondo, de ouvidos e goelas abaixo. Então, o Motoqueiro Fantasma chegou. O cara pretendia entrar pela porta da cozinha, mas não deixamos que ele entrasse com aquela moto assombrada. (O cara tinha pirado!?)
No dia seguinte, ele apareceu... Ficou tudo por isso mesmo. O nome dele? Sei que mora no Riacho Fundo. Foi por essas e outras que devagar fui fechando a porta. Não bastava a loucura dos músicos, tinha que chegar gente ainda mais louca.
• 2013, 3 de fevereiro • Patrulha do Espaço: A Força Imparável do Rock Nacional!
Voar com a Patrulha do Espaço!
É sobrevoar toda a minha trajetória como rockeiro, desde os anos verdes da juventude até os dias de hoje, próximos dos meus 61 anos. São 43 anos de vertigem e delírios ao som do rock cru da Patrulha do Espaço.
Não foi Marcelo, da QE, quem desfilava pela avenida principal da quadra em seu carro veloz, ouvindo no toca-fitas, em alto volume, as bandas de rock daquele longínquo 1982? Não foi com Tuca, do Extremo, o vocalista que me apresentou o segundo LP da Patrulha?
Naquele tempo, a cultura rockeira seguia uma tradição quase sagrada: de pai para filho, ou de amigo para amigo. Quem possuía o que interessava — discos, revistas, histórias de estrada — compartilhava com entusiasmo entre desconhecidos e companheiros de som.
Tudo começou quando os vi pela primeira vez na TV Cultura. Lá estava o trio mágico e máximo: Júnior na bateria, Dudu na guitarra e Serginho no contrabaixo. Uma performance visceral, que me inspirava a meter o pé — no tubo da TV e, claro, na estrada.
No princípio, foram cartas trocadas em 1988. Depois, a participação da Patrulha do Espaço em um livro lançado por mim em 1991. No ano seguinte, 1992, houve um show na capital paulista e uma sessão de gravação em estúdio. Muitos anos se passaram até um novo show, em 2006, desta vez em Goiânia, marcando também a primeira apresentação da banda em Brasília.
Mais uma longa espera: sete anos depois, no verão de 2013, em fevereiro, aconteceu um show privado para 50 fãs na sede Do Próprio Bolso.
O que eu lembro?
Uma casa exuberantemente decorada com fotos de todas as formações da banda e reproduções de cartazes. Ao fundo, um banner gigantesco da Patrulha, e na bateria, Júnior, o capitão, acompanhado pela vocalista Marta, Danilo na guitarra e Paulão no contrabaixo. Éramos apenas 50 fãs, escolhidos a dedo — pelo dedo de Deus, como diríamos.
Lembro também de ouvirmos "Sunshine." Que deleite! O som estava impecavelmente regulado, a energia deles era pura profissionalismo. Foi um momento para guardar na alma.
Gancho: Ainda hoje, nos encontramos em raras ocasiões. Não quero insistir ou fustigá-lo para ouvir fitas de rolo ou, pela milésima vez, ouvir histórias sobre Arnaldo, Dudu, Serginho ou Pappo.
Acompanhar sua trajetória como astro da bateria na Argentina é praticamente impossível para mim. São inúmeras sessões de gravação, shows e álbuns, uma carreira frenética.
Sempre que nos encontramos, o gravador fica off. Não que gravar seja proibido, mas é uma questão de ética: mantê-lo desligado permite que o papo entre fã e ídolo flua naturalmente.
Porém, nos dias atuais, algo especial aconteceu. Acabamos de escrever juntos um dos textos mais longos e profundos sobre Arnaldo Baptista e a Patrulha do Espaço. Um momento para celebrar!
• 2015, março • Noite mágica: 33 Anos do #DoProprioBolso
Guilherme Almeida (RJ) trouxe um folk vigoroso. Seria ele o garoto do rock autossuficiente, cantando canções em inglês e em dó menor na décima casa?
"Esse show foi da Rock Brasília Banda, já que não se tratava de uma performance solo do Murilo Lima. Estou na foto da banda aí acima, com a Fender para canhotos." (Rogério Águas)
• 2016, 9 de dezembro • Banda Rock Brasília & Murilo Lima
O segredo do show está em ser feito para um público pequeno. Nós alternamos entre apresentações externas, geralmente em bares, e shows exclusivos para fãs. Gosto de ambos os tipos de apresentações, mas acho que as produções caseiras dão mais trabalho. Temos que cuidar da aparelhagem, garantir a cobertura, e ainda convidar fãs que desempenhem seu papel, como pedir autógrafos, tirar fotos e oferecer o carinho que os músicos precisam.
Na última vez que estive com Murilo Lima, ele perguntou se ainda fazia as produções caseiras. Isso sugeriu uma possível volta, ao que respondi que depende dos produtores.
• 2017, 21 de Janeiro • Edu K no Do Próprio Bolso: Improvisos, Histórias, Performances e Guitarra Ardente
Era janeiro de 2017. Se alguém mencionasse o nome Eduardo Dornelles, poderiam pensar em um representante político, mas, ao ligar os pontos, chegariam ao verdadeiro Edu K: líder do DeFalla, que revolucionou a música brasileira ao misturar funk carioca, rap, house e influências de música eletrônica.
Naquele dia, após uma feijoada e esperando uma carona até Olhos d’Água, Edu K, acompanhado de Gérson de Veras, veio nos visitar no #DoPróprioBolso. Nossa churrasqueira tinha ares de um auditório do programa do “Gordo” Jô Soares, e os “quase sósias” estavam lá para fazer o que só uma TV de malucos faria. Eu aproveitei a oportunidade para conduzir uma breve, mas vibrante, entrevista para a rádio ZoomMusic.
No centro da cena, repousava uma guitarra branca. Sem dizer nada, Edu K a pegou e iniciou um ataque guitarrístico digno de Frank Zappa. Piramos! Gérson de Veras não ficou atrás, com improvisos vocálicos que impressionaram a todos. O show foi curto e intenso, com a banda formada em um quarteto clássico: guitarra, vocal, bateria e contrabaixo.
Como em todo auditório, havia o fã dedicado: Ricardo Retz, munido de uma pilha de LPs e CDs, ansioso para pegar autógrafos. Fizemos fotos e, em meio às conversas, Edu K compartilhou uma história curiosa: como um livro prometido nunca havia chegado às suas mãos no Sul. Para resolver isso, presenteei-o com uma das últimas cópias de meu livro “Balada do Louco”.
Durante o papo, ele contou sobre a formação do DeFalla no final dos anos 1980, que na época se inspirava no Aerosmith e fazia hard rock. Foi com essa formação que gravaram a música “Vou Me Afundar na Lingerie” para o tributo Sanguinho Novo (dedicado a Arnaldo Baptista). Porém, durante as gravações, Edu K adicionou uma provocação: o verso “My d* in your mouth.”**
O resultado? Tudo deu errado. Os produtores consideraram o verso desrespeitoso, e a gravação acabou sendo apagada. Apesar disso, minha impressão sobre Edu K foi a melhor possível: um profissional de altíssimo nível, irreverente e autêntico.
"Com Edu K, toquei e fiquei intrigado, afinal, ele, com sua imponente figura de Tiger Blood, conseguiu transformar Gérson de Veras em um garoto inseguro e balbuciante. Minhas experiências anteriores com Rolando Castello Junior, Loro Jones e outros medalhões do BRock me davam tranquilidade e segurança para encarar a empreitada, apesar de Eduardo Dornelles também tocar (e bem) bateria. Eu queria fazer 'Instinto Sexual' do álbum Rock Grande do Sul (Plug/BMG, 1985), mas estava além da capacidade momentânea de Gérson e do DJ Bruxxo." (Titi Rabelo)
• 2017, 23 de abril • A Primeira Vinda de Irmão Victor a Brasília: Psicodelia, Beatles e Missão Musical
— E aí, mano? Tá feliz? Tem canções novas, vida nova? E o amor e a carreira, como estão? Muitas perguntas porque tô com saudade de você.
— Fala, Mário! Que saudade de você. Tudo bem por aí? Tô super feliz, agora morando no Rio com minha guria. E aí, como estão as coisas?
Ele chegou até nós vindo diretamente de Passo Fundo (RS). Jovem, mas agora mais maduro, Irmão Victor trazia consigo o peso de uma nova música psicodélica brasileira, que nós — eu e Tiago Rabelo — considerávamos a sucessora natural de Arnaldo Baptista e Júpiter Maçã. E não deu outra.
Em Brasília, o avistei de costas lendo nos jornais a manchete: "Irmão Victor em Brasília!" seguido por um fervoroso cordão de seguidores. Quando finalmente chegou em casa, ele dominou a guitarra e a voz em "Onde é Que Foi Parar o Pedro Alcides?" e ainda nos presenteou com uma versão instrumental de "Taxman". Nas duas, Tiago Rabelo, em êxtase, acompanhou na bateria como se fosse sua missão.
Os Beatles nos deram a trilha sonora daquela noite, que nos levou até Ceilândia, onde uma banda local de tributo se apresentava em um bar no meio da rua, lotado. Irmão Victor gostou, sorriu e circulou pela periferia, tirando fotos e visitando fãs em suas casas, como um verdadeiro missionário da música.
Lembro-me bem daquela guitarra preta e branca que ele carregava nas costas. Num momento infeliz, guardei-a no porta-malas, mas fiquei segurando-a com desconfiança, sentindo-me o roadie mais feliz do mundo, como se estivesse acompanhando uma banda de rock nos bastidores.
Fragmentos de conversas ecoam na memória, assim como flashes de fotos que nem chegaram a ser tiradas. E claro, tivemos nossos momentos psicodélicos. Esses episódios marcaram a primeira vinda de Irmão Victor a Brasília, em 2017, histórias até hoje inacabadas e vivas em nossa lembrança.
• 2017, 30 de dezembro • O Som da Lata
— Eduardo, como foi esse negócio do The Black Monkeys?
Resposta: — Antes de chegarmos ao rótulo "Módulo 1000", passamos por alguns outros nomes. The Monkeys (acho que sem o Black) foi um deles. "Os Quem" foi outro, depois Código 20. Quando chegamos em São Paulo, já existia o grupo "Código 90". Chegamos 70 números atrasados, foi aí que decidimos batizar de Módulo 1000. Isso foi em 1969. Homem na Lua, descendo no Mar da Serenidade. Foi um ano bem legal! (Eduardo Leal Neto)
Ainda ontem –, outro guerrilheiro correu da chuva e trouxe uma enxurrada de blues. Ainda ontem, vimos Paulo 'Bicko' com o olhar que atravessa tempestades, guerrilhas e encruzilhadas. Nesses tempos de febre amarela, não é medo de avião, é medo de ir ao Rio de Janeiro. Paulo 'Bicko' queria muito, mas não tocou em Belo Horizonte (MG). Desceu aos buracos de Minas e voltou ao planalto. Trouxe o songbook, trouxe a fumaça ainda de Minas. Palavras cruzadas na nota mi martelam a mi da guitarra como tecla. Palavra gravada, trilha corrida. Vão tocar em Itacaré (BA), no balanço da embarcação. Siga na catimba, na timba com Eduardo Leal Neto.
Ah, o povo, né? Sempre esperto, e não adianta discutir. Uma vez, ouvi de uma menina que apareceu lá em casa em um dia de agito:
— Preciso trazer o Eduardo Leal aqui?
E eu respondi:
— Ele já veio e tocou muito aqui com a gente.
Ela me olhou como se eu tivesse o nariz do tamanho do do Pinóquio!
• Sérgio Pinheiro, vocalista e membro fundador do Mel da Terra, um dia resolveu morar na QE 40 e chegou a bordo de seu Fusquinha. Até aqueles dias, ele era nosso ídolo, técnico de som, emaranhado em cabos no Teatro Garagem, ajudando as bandas de rock locais. Éramos fãs que acompanhavam o Mel da Terra desde os seus primeiros shows, e depois, esporadicamente, passamos a dividir a mesa do Beirute, na companhia do cantor do Sepultura de Brasília, Magu Cartabranca.
Sérgio Pinheiro, também conhecido como Serginho, apareceu lá em casa com a turma e me mostrou fitas K7 que ele gravava durante apresentações. Ele falou de algumas performances no Teatro Garagem. Aos poucos, ele foi voltando, e em algumas ocasiões, soltou a voz. Houve uma vez que até planejaram montar uma banda – ele, Serginho, mais Paulo 'Bicko' e Eduardo Leal – diante de um ensaio prolífico com composições do Mel da Terra e do Liga Tripa.
Sérgio Pinheiro voltaria outras vezes para empunhar a guitarra e cantar suas novas composições.
Ranking de Apresentações no #DoProprioBolso: Quem se Destaca?
O ranking de apresentações no Do Próprio Bol$o, baseado no número de performances, coloca o guitarrista Bleyvs no primeiro lugar incontestável, seja em apresentações solo ou em grupos. Em segundo, está a banda A Banda Mais Lama da Cidade (ABMLC). O baterista veterano Tiago Rabelo assume a terceira posição. Na quarta posição, está o cantor e gaitista Zezinho Blues. A Barbarella B assume a quinta posição, e Magu Cartabranca, cantor veterano de bandas como Sepultura, Banda Rock Brasília e Os Candangos, ocupa a sexta posição.
#DoPróprioBolso: Um Mosaico Sonoro da Música Popular de Brasília
Apesar de ser um espaço dedicado ao rock instrumental, experimental, contracultural e psicodélico, o Do Próprio Bol$o abriu as portas para a música popular de Brasília por meio de Renato Matos e sua mistura africana, além de Gérson de Veras, com seus ritmos de triângulo e coco, tudo sob uma verve rica. Artistas já falecidos, como o grande violonista Carlinhos Piauí, também marcaram presença no palco do Do Próprio Bol$o.
Betto Tutu & Izabel Tutu subiram ao palco diversas vezes, ora em duo, ora acompanhados de banda. Sérgio Pinheiro, sozinho ou ao lado de Paulo Bicko e Eduardo Leal, trouxe à cena a música autoral de Brasília, ecoando influências das bandas Mel da Terra e Liga Tripa. Eduardo Leal imprimia um ritmo especial na timba.
Houve ainda apresentações de Balaio de Pérolas, César de Paula e Fernando Juka, que completaram esse mosaico sonoro, evidenciando que alguns ouvidos buscam mais do que rock. Contudo, em algumas ocasiões, percebi que faltava educação por parte do público para apreciar a música de Brasília, devido ao volume das conversas e ao barulho ambiente — como diz o refrão: Toca Raul!
Há mais de dez anos
Papo de doido. Peguei uma beira, né? Naquele tempo em que eles atravessavam madrugadas tocando debaixo da parada deserta em Arniqueiras, onde o silêncio era quebrado pelas notas cruas de suas canções. Isso já faz mais de dez anos. Hoje me dei conta: faz quatro anos que não vejo David Kaus. Seu talento era uma tormenta para mim – como ele escrevia com maestria e, como guitarrista, extraía sons que pareciam vir direto dos demônios que habitavam a garganta de Kurt Cobain.
Lembro quando ele me disse: "Mário, você é mais louco do que eu." Vesti o manto da loucura como se fosse um elogio, mas, no fundo, era o prenúncio de que David Kaus estava descendo ladeira abaixo. Como um saltimbanco perdido, ele escalou muros que não conseguiu transpor.
Fazem quatro anos desde a última vez que me ajudou em um momento difícil. Suas palavras, naquela ocasião, eram bálsamo. Onde havia dor, injustiça e sofrimento, David Kaus levava seu canto, tentando amenizar o peso da alma alheia.
A Noite de Ontem com Magu Cartabranca (2025)
Liguei para o celular de Magu Cartabranca, e ele atendeu declamando poesia própria — afinal, era dia de ensaio no Estúdio Formiguero, às 22 horas. Ele falava de dentro de um carro branco importado, que estava na contramão, estacionado sob um poste, despertando suspeitas. Havia algo de surreal na cena, mas a estranheza atingiu o ápice quando os vi, de pé, aliviando-se contra o muro do condomínio.
“Ei, aí não!”, gritei, indignado. Um deles balbuciou algo sobre pedir perdão. A cena era um espelho pálido do pequeno escândalo dos Rolling Stones em 1965, presos por urinar na parede externa de um posto de gasolina. As manchetes da época transformaram o ato em lenda.
Mas aquela não foi minha primeira interação em 2025 com Magu Cartabranca, o ícone do rock Brasília. O imagético Magu, como costumo chamá-lo, tem a peculiaridade de me mandar PDFs de revistas e jornais. Consumo tudo avidamente, como se ele quisesse, de alguma forma, me mimar. E, olha, penso que consegue. Magu é diferenciado.
Foi ele quem me ligou, no escuro, quando eu nem consegui identificar o número. Disse que viria me trazer uns presentes. Me senti quase um menino Jesus esperando os reis magos. E ele veio.
Primeiro, uma camiseta com a estampa da sua banda, Os Candangos. Depois, a Terceira Coletânea da Academia Cruzeirense de Letras — “esse povo trabalha!”, pensei. Mas os presentes não pararam por aí. Magu abriu o porta-malas e de lá retirou uma nova manequim, a ser transformada em modelo. Instantaneamente, minha mente viajou ao Carnaval e à célebre frase de Joãosinho Trinta: “Quem gosta de pobreza é intelectual, o povo gosta de luxo!”.
Já imaginei pintando os mamilos da manequim com tal vivacidade que dariam vontade de tocá-los. O impacto estético, o simbolismo.
Nosso papo foi breve, mas intenso. Falamos de aviões e discos voadores, e da vontade latente de fazer um pocket show dos Candangos. Magu e o guitarrista prometeram uma visita em breve.
Eu os vi partirem e senti o tempo suspenso. Amizade é isso: é para se ver, tocar e, às vezes, rir da insanidade das noites ordinárias que viram extraordinárias.
★ Do Próprio Bolso mantém uma eterna gratidão a Marcelo Lafaro.
★ Um abraço de saudade à fotógrafa Joelma Antunes, que registrou tantas bandas de Brasília e do mundo - sentimos a falta de suas lentes.
★ Meu profundo agradecimento a Marcão Gomes, amigo de grandes datas, integrante do grupo Persona non grata e mestre em captar a essência das ruas, cuja arte enriquece nossa cultura e memória.
★ Minha gratidão à Marizan, parceira ideal, que tem contribuído com imensa qualidade nas minhas iniciativas, algo que considero essencial.
★ Agradeço sinceramente a Juliana Krause, cuja presença e dedicação são essenciais para esta página on-line, fortalecendo nosso propósito a cada passo.
★ Meu agradecimento ao devotado gerente de Cultura, Julimar, que tem divulgado minha imagem com tanto empenho e dedicação pelos canais afora.
★ Agradecimento ao fotógrafo, comunicador e filósofo Sandro Alves.
★ Agradecimento à banda parceira Barbarella B, que desde 2007 ocupa nossos palcos, trazendo a essência da resistência do rock indie brasileiro.
★ Agradecimento ao grande contrabaixista Célio de Moraes, o imperador do blues, com mais de mil noites de ação.
★ Agradecimento ao cantor Magu Cartabranca, da banda Sepultura de Brasília, e mestre da comunicação televisiva.
★ Agradecimento a Lucky at Yourself, o grande gritador do hard rock, que dança como James Brown no palco.
★ Agradecimento a Cida Carvalho, o grito poético em acalanto aos descamisados e “despalcados” do rock de Brasília.
★ Agradecimento ao Detrito Federal, uma das bandas mais queridas que já passaram por aqui.
★ Um agradecimento especial e firme a Bleyvs, parceiro e guitarrista paladino, que sempre vem fazer justiça neste deserto de foras da lei.
★ Agradecimento a Tiago Rabelo, o baterista insubstituível, que canta junto com o ritmo quente de Uriah Heep, Grand Funk, Black Rainbow e Pholhas.
★ Um abraço caloroso ao guitarrista e luthier Miro Ferraz, que cuida e mantém vivos nossos amuletos musicais.
★ Um abraço fenomenal a Edson "El" Salazar, o visionário dos meios de comunicação e mestre do ZoomMusic.
★ Um salve à Banda Deus Preto, que transforma seu reggae em matéria-prima de exportação para Angola.
★ Um salve aos fígados dos integrantes da Banda Mais Lama, a banda mais bukoskiana do planeta.
Sinto mais pena de mim mesmo do que daqueles que, por algum motivo, esqueci, ignorei ou fui negligente em lembrar. Peço mais presença de espírito, pois essa é, geralmente, a razão do esquecimento.
Ricardo "Retz", uma figura imortal no underground de Brasília, foi o mais dedicado fã do Do Próprio Bolso, destacando-se tanto pela identificação quanto pela colaboração. Sempre generoso, ele nos presenteava com materiais preciosos, como fitas cassete, flyers, revistas – tudo o que estivesse ao seu alcance era compartilhado conosco. Cada vez que surgia diante do nosso palco, independentemente da banda que estivesse se apresentando, era inevitável que alguém fizesse questão de saudar sua presença. Ricardo "Retz" era, e sempre será, um verdadeiro ícone do colecionismo e da cena underground brasiliense.
"Algumas vezes eu ficava mais fora de mim do que o habitual; o verdadeiro desafio era permanecer sóbrio. Como consegui segurar a onda por tantos anos? Fazia um rock, tirava férias e, na volta, fazia outro rock."
(Mário Pazcheco)