A ser continuado...
(Mário Pacheco)
“Tenho 67 anos de idade.
Eu vivi sete décadas de mudanças rápidas.
Pratiquei o surfe em cada uma das ondas do século XX com
algum sucesso e diversão. Nos anos 40, passei cinco anos
no exército. Nos anos 50, fui um jovem professor, quadrado,
com filhos, casa no subúrbio, bebendo martinis. Nos anos
60, fiz tudo o que estava na moda: me liguei, pirei e só
Deus sabe - me afastei de tudo. Quais eram as alternativas? Desligar,
não pirar, adotar um conformismo cego? Os anos 70 foram
a década do prisioneiro político. Nixon colocou
os dissidentes na cadeia. Fui o primeiro a ir para a prisão,
logo em janeiro de 1970. Mais tarde, depois de Watergate,
chegou a vez da gangue de Nixon. Durante os seis anos seguintes,
assisti a meus perseguidores federais vindo se juntar a mim, atrás
das grades”.
Timothy Leary em entrevista
à David Sheef - Rolling Stone, 1987.
Timothy Leary, o guru da geração
psicodélica surgida nos anos 60, morreu às 4h44,
no último dia de maio de 1996, em sua mansão, em
Beverly Hills, na Califórnia. Leary tinha 75 anos e desde
janeiro de 1995 lutava contra um câncer na próstata
em estágio terminal. À medida que a doença
avançava, seu corpo parecia mais fraco, mas seu estado
de espírito continuava otimista. “Quando soube que
era um doente terminal estava apavorado. Queria agora entrar em
um desafio de como viver uma vida de incapacidade. Como terminar
meus dias com dignidade”.
O amigo e colega Doug Rushkoff,
o agente do seu último livro, informou que Leary morreu
em sua casa rodeado por um grupo de aproximadamente 20 pessoas,
incluindo o filho, Zach, e sua ex-mulher Rosemary. Ex-professor
de psicologia clínica da Universidade Harvard, em Boston
(Massachusetts, nordeste dos Estados Unidos). Leary ganhou notoriedade
ao incentivar as experiências com drogas, especialmente
o LSD.
Pouco antes de sua morte, ele havia
rompido com os adeptos da criogenia, movimento que preconiza o
congelamento dos cadáveres com a esperança de que
a ciência futura permitirá fazê-los ressuscitar.
“Não tem nenhum senso
de humor” disse Leary ao jornal Los Angeles Time.
“Preocupa-me a idéia de que depois de 50 anos eu
acorde cercado de gente tomando notas”.
Os entusiastas da criogenia consideraram
que as complicações médicas e legais suscitadas
por um suicídio tornam difícil a preparação
de um corpo para a “suspensão criogênica”
e outro de seus planos que não levado adiante foi o de
ter sua cabeça congelada e preservada.
O rompimento se deveu em parte à
vontade anunciada de forma pública do psicólogo
de “morrer on line”. A idéia foi comunicada
numa mensagem de correio eletrônico, espalhou-se rapidamente
pela rede e acabou assunto de reportagem nos grandes jornais norte-americanos
inclusive no The New York Times.
Para divulgar seus trabalhos e dar
informes sobre seu estado de saúde, Leary resolveu abrir
um espaço próprio na Internet, na sua homepage
Leary diariamente vinha correspondendo-se com fãs.
Chegou a anunciar que, quando não suportasse mais as dores
provocadas pelo câncer, se mataria em frente a uma câmera
de vídeo conectada à Internet, transmitindo a cena
para o mundo inteiro. Ao ouvir o escritor Ken Kesey, dizer que
esta era a melhor idéia que ele havia tido, Leary perguntou:
“É bom sim, mas o que eu faço para o bis?”.
Sua trajetória terminal transformou-se
num espetáculo no ciberespaço, que Leary definiu
como “o início da parte mais fascinante da minha
existência. Espero com alegria esta festa final da viagem
pela vida”. Timothy Leary declarou estar fascinado para
“passar ao outro mundo”.
“Não sei como vai acontecer,
nem o que vou descobrir”, disse no ano passado numa longa
entrevista que manteve com a AFP em sua casa.
“Espero (a morte) com impaciência...
Será a experiência final. A última exploração”,
disse Leary.
Um jornalista, Matt Drudge, realizou
uma enquete na Internet, perguntando se Leary devia ou não
se suicidar ao vivo. O resultado foi um quase empate, 452 a 415.
Drudge informou em sua página que a última droga
que Leary tomou foi uma cápsula de melatonina.
Embora não tenha sido transmitida na Internet, a morte
de Leary foi filmada por amigos, que não revelaram o que
farão com o filme.
Na sua página eletrônica,
no dia 31 de maio, lia-se a mensagem Timothy has passed...
(Timothy partiu...). Quando esta frase era “clicada”
na tela do computador, uma nota oficial comentava seu falecimento:
“Logo após meia-noite, em sua cama favorita entre
amigos queridos, Timothy Leary partiu. Suas últimas palavras
foram ‘porque não?’ e yeah. Nosso
amigo e professor, guia e inspiração continuará
a viver dentro de nós. Uma celebração a sua
memória estava sendo planejada”. Cada visitante era
convidado a deixar seu nome, como um velório.
Uma procissão de celebridades
(semelhantes a que o próprio Leary organizou à casa
de Aldous Huxley, em 1963, às vésperas da morte
do escritor) seguiu em direção a mansão de
Beverly Hills. Lá estavam o cineasta Oliver Stone, a viúva
de John Lennon, Yoko Ono, os atores Tim Robins, Susan Saradon,
Wynona Rider (afilhada de Leary), Uma Thurman, William Gibson,
o músico Perry Farrel, e o jornalista brasileiro, Claudio
Julio Tognolli entre outros. Como
legado, o guru deixa 36 livros, tão alucinados e anárquicos
como sua biografia.
Timothy Leary alcançou a
categoria de guru em uma geração que acreditou em
seu chamado para “ingerir drogas” e “viver a
vida a sua maneira”, rechaçando as regras e normas
da sociedade estabelecida.
Mas para seus inimigos, Timothy era um
charlatão elegante que proclamava uma pseudo-religião
de bases absurdas e que desafiou o objetivo governamental de aplacar
a cultura da droga na década de 60. Nascido em Springfield,
Massachusetts, em 22 de outubro de 1920, filho de um dentista
e de uma professora, Timothy Leary casou-se cinco vezes (Marianne,
sua primeira mulher e Susan, sua filha se suicidaram), e deixou
o filho, John.
Doutor em psicologia, Leary passou
um ano na Academia Militar de West Point, sendo punido por aceitar
o convite de beber em companhia de recrutas mais velhos. Formou-se
em 1943 na Universidade do Alabama, quando entrou para o exército.
Após a Segunda Guerra Mundial,
Leary concluiu o mestrado na Universidade do Estado de Washington
e fez doutorado em psicologia na Universidade da Califórnia
em Berkeley, em 1950. Timothy Leary e seu colega Richard Alpert
atrairam as atenções dos Estados Unidos, quando,
em 1963, ambos foram acusados de incentivar seus alunos a experimentarem
substâncias alucinógenas como elementos expansores
e foram demitidos da Universidade de Harvard, onde lecionavam
e pregavam abertamente o uso do LSD para “expandir o nível
de consciência” entre os estudantes e distribuiram
cerca de 3.500 doses a mais de quatrocentos deles. Mudaram-se
para o México, onde fundaram uma Federação
Internacional de Pesquisa Interior, para ampliar suas experiências
psicodélicas, mas foram banidos do país pelo governo
mexicano. Fizeram de uma mansão em Millbrook, no Estado
de Nova York, o seu quartel-general. Possuíam uma fundação,
a Castalia Foundation, que funcionava numa fantástica mansão,
de 64 quartos sustentada pelo dinheiro de uma adepto milionário
de vinte e seis anos, William Hitchcock. Editaram uma revista,
a "Psychodelic Review"; descobriram
"O Livro Dos Mortos", um velho livro tibetano,
que se tornou a sua bíblia; e treinaram, numa escola especial,
jovens que serviram de guias para experiências psicodélicas.
No mês de março de
1965, Timothy Leary foi detido quando, na companhia de sua filha
de dezoito anos, trazia uma partida de marijuana do México
para o Texas. Foi julgado e condenado. Mas encarou a prisão
com um sorriso. “Na certa - disse ele - converterei ao LSD
80% dos presos e 10% dos guardas. A uns, ensinarei como deixar
de ser criminosos. Aos outros, como deixar de ser... criminosos”.
“O problema foi que o mundo
não estava preparado para nós, mas eu nunca senti
rancor contra Harvard”, declarou posteriormente. Com amigos
como os escritores William Burroughs, Abbie Hoffman, Ken Kesey,
Aldous Huxley e Allen Ginsberg, na década de 60 Leary aprofundou
sua investigação sobre a utilização
de componentes químicos. Escreveu vários livros
sobre o tema e acusações ligadas a drogas fizeram
com que Leary chegasse a ser preso, nos anos 70. Ao recuperar
a liberdade, o grisalho professor mantinha intacta sua defesa
do papel das drogas alucinógenas no aumento da consciência.
Em Los Angeles, Zach, o filho de
22 anos, contou: “Percebemos que Tim estava prestes a partir
e começamos a avisar os amigos mais próximos”.
Zach é filho de Leary com Barbara Leary, uma brasileira,
e esteve várias vezes em São Paulo para visitar
sua mãe que mora com o empresário Kim Esteve e viajou
para Los Angeles logo após o fato. Zach informou que a
família vai continuar o trabalho do pai na Internet e cumprir
o último pedido de cremar o seu corpo e mandar as cinzas
ao espaço.
Peculiar até depois da morte,
Leary teve seu último desejo atendido: em outubro de 1996,
suas cinzas foram transportadas pela espaçonave Pegasus
e liberadas no espaço com auxílio de um satélite,
junto com as de Gene Roddenberry, criador de "Jornada
nas Estrelas", e de outros cientistas e pioneiros em estudos
aero-espaciais, tais como o físico da High Frontier Space
Station, Gerard O’Neill, e Todd Hauley, professor da International
Space University. A última viagem foi patrocinada
por uma instituição do Texas, a Celestis Foundation,
especializada no transporte de material ao espaço, ao custo
de US$ 4.800.
Segundo versão do jornal
Daily News, os fundos para tal empreitada teriam origem diversas.
Eles viriam de admiradores do escritor, como a atriz Susan Saradon
e o editor Bob Guccione Jr., dono da Playmate.
As últimas palavras de Timothy
Leary foram em uma conversa telefônica com seu amigo, o
escritor William Burroughs. “Ele disse a William que o amava
muito, e foi aos poucos perdendo a consciência depois de
uma espécie de derrame acompanhado de febre. Mas ele estava
sorrindo e parecia feliz”, contou Zach, que em português
garantiu “Está tudo bem, obrigado”.
De
que forma morrer é a cena final de um glorioso épico.
Harward
lamentou
A
morte de Timothy Leary foi anunciada nas principais redes de televisão
dos Estados Unidos.
Chamando Leary de “guru do
LSD”, os noticiários da CNN e New York 1 destacaram
ainda sua passagem pela Universidade de Harvard, de onde teria
sido despedido por causa dos suas experiências com LSD.
A universidade soltou uma nota oficial
lamentando a morte de Leary e informando sua ligação
com a instituição, entre 1960 e 1963. Segundo a
nota, ele foi afastado da universidade por faltar às aulas.
David MacCelland, chefe do Departamento
de Psicologia na época, afirmou que “Leary era extremamente
promissor”.
Aviso
aos brasileiros que vou usar de muito humor e exageros
Em
agosto de 1991, Leary trabalhava numa empresa dedicada à
criação de games interativos, que podiam
ser reformulados pelo próprio usuário durante as
partidas. Seis meses antes da sua chegada, Timothy Leary concedeu
entrevista exclusiva, onde falou sobre informática, drogas
e rock’n’roll a Claudio Julio Tognolli:
— O que o Sr. está estudando
agora?
— O objetivo de todo o meu
trabalho, por cinco décadas, tem sido encorajar as pessoas
a pensarem por si mesmas e questionarem a autoridade. Na última
metade de século eu me envolvi, com sucesso, em cinco revoluções
que liberaram as pessoas do controle de suas mentes.
— Quais são essas
revoluções?
— Na década de 50,
tivemos a revolução da mente. Usamos a força
psicológica, descartando psiquiatras e colocando os problemas
nas mãos das próprias pessoas. Na década
de 60, defendemos a automedicação, seja você
seu próprio doutor. Já em 70, nos devotamos à
política. Nada de políticos peronistas e burocratas
castristas. Nada de doutores republicanos manipulando notícias
contra estúpidos democratas da mídia. Nada de exploradores
capitalistas versos socialistas da burocracia.
— E as outras revoluções?
— Ainda em 70, tínhamos
a política dos indivíduos, foram as pessoas que
acabaram com a Guerra do Vietnã. Desacreditamos o militarismo
dos Estados Unidos, o presidente Nixon. Seguimos o compasso de
nossos poetas-filósofos, os conceitos originais de John
Lennon, Jim Morrison, Bob Dylan e Jimi Hendrix. Sabe, Gorbatchóv
ouviu as letras deles e as traduziu. Aquilo que nós chamávamos
de sexo, drogas e rock’n’roll é aquilo
que os russos chamam hoje de Perestroika e Glasnost. Já
na década de 80 eu gastei dez anos lutando contra computadores
primitivos, para torná-los capazes de incentivar a inteligência
e a criatividade.
— E agora, nos anos 90 qual
é a “ordem”?
— Nós lutamos para
converter os inexpressivos chips de CDs em espécies
de fones de olhos. Queremos sistemas para ajudar as pessoas a
criar, eletronizar suas salas, quartos e salas de aula. Queremos
lares eletrônicos em que todos, principalmente os jovens
do Terceiro Mundo, possam se visitar. Poder para os pupilos!
— O Sr. acha que o espírito
de liberdade dos anos 60 foi enterrado?
— Esse espírito viverá
enquanto as pessoas pensarem por si mesmas e questionarem a autoridade.
Acredito que redes de televisão, nas mãos de políticos,
padres e corporações, são a última
encarnação do mal. Mas acredito que os anarquistas,
hippies, libertários, engenheiros do caos e punks
cibernéticos estejam aprendendo a usar as tevês e
vídeos para fortalecer as pessoas individualmente.
— O Sr. ainda acredita nas teorias
de Karl Marx?
— Marxismo? Eu acho que você
se refere aos irmãos Groucho, Harpo e Chico. Você
está falando no comandante Mao e seu primo Karl? São
figuras históricas do século XIX. Foram heróis
do passado, ficando entre o monopólio capitalista e monopólio
socialista.
— Como o Sr. vê
a música pop de hoje?
— Vejo uma globalização
da arte e da cultura, um mundo eclético com música
híbrida. A mistura de reggae, hip hop, salsa, soul, rock
industrial de Chicago, house de Tokyo, funk, jazz, rock. Com os
sistemas de computador e vídeo, as pessoas vão captar
muitos sinais.
— As drogas, nos anos
60, eram parte do movimento de contracultura. Mas hoje temos os
barões da cocaína. O que houve?
— Nos últimos
20 anos houve nos Estados Unidos muitas culturas diferentes sobre
a droga. Por favor, não as confunda. A cultura das drogas
leves, de 1955 a 80, era pacífica, humanista amorosa, pagã,
tolerante, desorganizada, anárquica. Em 80 os cartéis
das drogas pesadas, a facção Reagan-Bush, tudo isso
tomou conta dos Estados Unidos.
— Com isso, a revolução
da contracultura ainda é possível?
— Sim, pela força do
cérebro, pela revolução cibernética!
Pouco antes de partir ao Brasil,
para as palestras, Timothy Leary concedeu outra entrevista exclusiva
a Claudio Julio Tognolli, em sua breve passagem pelas ilhas Key
Largo (70 Km ao sul de Miami).
“Aviso aos brasileiros que
vou usar de muito humor e exageros”, alertou.
— Como o senhor se auto-define,
aos 71 anos de idade?
— Sou, há 40 anos,
o filósofo dissidente mais controvertido da América.
Meu trabalho sempre visou a fortalecer as pessoas, em relação
a elas mesmas, e para que questionassem as autoridades. Nos últimos
40 anos, venho desenvolvendo técnicas para se aprender
a pensar e a conscientizar-se.
— O senhor divide seu
trabalho em etapas, pré e pós LSD?
— Na década de 50,
fiz terapias de grupo, a chamada psicologia do faça você
mesmo (DIV, do it yourself). Na década de 60,
dirigi o Programa de Drogas Psicodélicas da Universidade
de Harvard, junto de Aldous Huxley. Na década de 70, passei
cinco anos na prisão e três no exílio, graças
à minha oposição à Guerra do Vietnã
e ao presidente Richard Nixon. Na década de 80, desenvolvi
estudos segundo os quais os softwares ajudariam as pessoas
a pensar mais claramente, aumentando sua criatividade e capacidade
de comunicação. Já, nos anos 90, trabalho
sobre a nova geração de aparelhos eletrônicos
multimídia, que podem ativar os cérebros das pessoas,
para se comunicarem numa linguagem global e audiovisual.
— O que o senhor vai falar
no Brasil?
— Vou discutir o período
entre 1962 e 1992. Vou usar de muito humor, vou exagerar muito,
para chocar as autoridades políticas, culturais e religiosas
do Brasil. Vou estimular os que virão às palestras
a que pensem perigosamente.
Em
São Paulo
Timothy
Leary o guru da Nação Woodstock e de um
bom contigente de sobreviventes brasileiros do sonho, aos 71 anos,
visitou o Brasil no carnaval de 1992. Quando esteve em São
Paulo, no Maksoud Plaza para o “1º Encontro com os
Magos da Nova Era” de 9 a 15 de março, a abertura
aconteceu no dia 11 com uma palestra da antropóloga Laura
Jennings Yorke, sobre Cerimonial Mágico/Golden Dawn,
e Kabalah Prática, no dia seguinte. Os temas de
Leary foram: Exo Psicologia (dia 13) e Realidade
Virtual (dia 14), segundo ele, “com o domínio
do oitavo circuito do cérebro, é possível
que qualquer pessoa consiga contactar o RNA e o DNA”, o
que chamou de “novas formas de revolução”.
Estes trabalhos de Leary abarcavam o que ele definia como “realidades
virtuais”, estudos sobre o estreitamento das relações
dos jovens, a partir de softwares de última geração.
Leary, ainda mantém um pied-à-terre na
contracultura, seus esforços visam - com toda a ubiqüidade
que os caracteriza - a aumentar, com a comunicação
multimídia, “a consciência crítica das
pessoas, para libertá-las, no mundo inteiro”. Tido
como pai espiritual do movimento que previa, na década
de 60, a “expansão da consciência”, com
base em experiências com o ácido lisérgico,
droga proibida no Brasil, Leary batalhou pelo “poder aos
pupilos e alunos”. Atacou o marxismo, implodiu a psicanálise,
criticou as cadeias de televisão e a política institucional.
Ele acreditava que a “felicidade” viria quando as
crianças do Terceiro Mundo tivessem em suas casas computadores
e televisões.
Sua viagem ao país foi organizada
pela associação mística Kaithar, a coordenadora
do grupo, Cleide Guedes, disse que Leary foi convidado porque
defendia o conhecimento global, holístico. Leary fez parte
do grupo Esalen, formado por intelectuais ligados à Universidade
de Berkeley. Os membros do Esalen formulam e discutem questões
de filosofia. A Kaithar tem vínculos
com o Esalen.
Como peça de marketing, Leary dizia que, em suas palestras,
chocaria “as autoridades políticas, culturais e religiosas
do Brasil”- num ostensivo convite a que a audiência
alterasse seu projeto valorativo.
Cada palestra durou cerca de três
horas com tradução simultânea. O ingresso
adquirido no dia custou US$ 70 e comprado com antecedência,
custava US$ 50. Sobre uma hipotética volta, Leary disse:
“Quero falar também em universidades nas próximas
visitas ao Brasil”.
Eletrônica
vai ser droga
Timothy
Leary, declarou em São Paulo que as alucinações
do futuro vão ser conseguidas combinando aparelhos eletrônicos
e produtos químicos. “Os hippies adorariam
isso nos anos 60”, declarou. Em sua única visita
ao Brasil, Leary afirmou que desenvolvia métodos de alucinações
usando disco laser com imagem e som.
Um “coquetel” misturando
computadores, vídeos e produtos químicos para o
cérebro foi a receita para alucinações preconizada
por Timothy Leary que declarou que pesquisava incursões
à “realidade virtual” através de luvas
e óculos que permitem “entrar” no computador.
E previu que a ciência “encontrará novas chaves
químicas para desenvolver o cérebro”.
Segundo Timothy, a droga Ectasy,
consumida na Europa e Estados Unidos, é mais fraca que
o LSD, mas ele aconselhou aos jovens a não usá-la.
“Não sabemos todos os seus ingredientes - alguns
podem ser perigosos”.
Leary, disse que era contra o programa
de combate às drogas como tudo o que o governo dos Estados
Unidos faz.
“Não me considero americano
e sim californiano, como os ucranianos, não mais soviéticos”.
Ele achava que as crianças
dessa década desenvolviam o cérebro com videogames
e que seus programas de discos laser óticos, já
disponíveis, chegariam às crianças do Terceiro
Mundo em grandes grupos por equipamento.
Do
ácido à realidade virtual
Os
navegantes cibernéticos sabem que não há
nada de paradoxal na passagem da contracultura, “o legado
cultural de John Lennon”: um amontoado de idéias
tão heterogêneas como o radicalismo gauche
de 68, a filosofia hippie de paz & amor, a consciência
ecológica, a revolução sexual, a experiência
das drogas, o misticismo oriental e o ocultismo ao mundo virtual.
A contracultura investiu de todos
os modos contra a racionalidade tecnicista; contra o que na época
chamou-se “Complexo Industrial-Militar”. Em meio ao
mundo psicodélico, alguns contraculturalistas passaram
a ver, no computador, a maravilha revolucionária, um deles,
Benjamin Woolley reconta a história em seu Virtual
Worlds, como começaram as ações para
fragmentar o monopólio da IBM no campo da computação.
E com a subsequente vitória do underground - não
interprete como algo fácil ou utópico, pois lá
eles dispõem dos meios - da vitória da contestação
arraigada e ferrenha da disposição contracultural,
o jovem Ted Nelson abstraiu-se do contexto e escreveu seu livro
Computer Lib e os também jovens Jobs e Wozniak
construíram o “Apple”, o modelo por excelência
do computador pessoal.
Daí que o filósofo
Pierre Lévy possa atestar que o personal computer
é um filho da “nebulosa underground”
do final da década de 60: uma espécie de desvio
contracultural de alta tecnologia.
Benjamin Woolley cita que o vínculo
com o LSD foi estabelecido bem cedo na gênese da realidade
virtual. Para dar um detalhe, Stewart Brand, um dos organizadores
do Festival Internacional de Música Pop em Monterey, em
San Francisco, foi parar no MIT, trabalhando com Nicholas Negroponte.
Psicodelismo e computador. Não
é de estranhar que alguns viajantes contraculturais dos
“estados alterados de consciência” tenham chegado
depois ao movimento da realidade virtual.
Entre as estrelas do movimento,
Jaron Lanier e Timothy Leary, movendo-se sempre sob o signo da
inquietude, estabelecia uma continuidade entre as viagens de ácido
e a realidade virtual.
Agora que Tim com seu ticket
sem volta da última virtual reality - para o além,
por dentro das estrelas, desejamos que a sua inquietude apesar
da lacuna física nunca abandone, nossa realidade.
Vovô
psicodélico
Timothy
Leary a Revista d’ nº101, Folha de São
Paulo, 15 de março de 1992.
—
Já fez algo de ilegal ou condenável?
— Milhares de vezes quebrei
a lei sobre como usei meu corpo. Gostaria de ter feito isso mais
vezes. Vivi minha vida sem nunca fazer nada em segredo que não
pudesse ser feito publicamente. Toda a sujeira dos militares,
do clero e dos políticos corruptos acontece porque eles
fazem coisas escusas secretamente. O FBI costumava fazer escuta
no meu telefone e eu dizia: Ótimo, talvez assim eles aprendam
alguma coisas.
— Como é ser subversivo
psicodélico com mais de setenta anos?
— Faço o que posso.
Ainda não me deixam entrar na Inglaterra, Irã e
China. Nesses países sou considerado um atentado à
ordem pública.
— Qual seu maior medo?
— Sem brincadeira, sou uma das pessoas
mais incríveis que já existiram. Não tenho
medo de nada, com exceção de ficar tão doente
que não possa fazer as coisas sozinho. Na minha idade isso
preocupa. Fiz um contrato com minha mulher: se eu me encontrar
nessa situação, ela fará com que eu vá
embora com a mesma dignidade com a qual tentei conduzir minha
vida. Farei o mesmo por ela. Também pertenço a uma
organização que me dá a opção
de congelar meu corpo após a passagem para outro terreno.
Sou um dos mais profundos estudiosos da consciência e estudo
a questão da preservação da alma. Estou até
escrevendo um manual a esse respeito.
— Qual a maior maldade que você
fez?
— Esta é uma questão
séria e eu não serei leviano. Porque estive tão
envolvido com meu trabalho, o que incluiu ser jogado na prisão,
não consegui ser um pai tão bom quanto teria sido
desejável.
— Qual seu candidato preferido
entre os que disputam a próxima eleição presidencial
nos Estados Unidos?
— Assim como a URSS, os Estados
Unidos vão entrar em colapso, portanto as eleições
americanas não me interessam. Ser presidente dos Estados
Unidos é um trabalho sem sentido. Se pudesse fazer meus
sonhos se tornarem realidade, para presidente dos Estados Unidos
votaria em um homem que já provou saber lidar com a situação:
Mikhail Gorbatchóv.
— Turn on tune in and
drop out (Se ligue, sintonize e caia fora) ainda é o melhor
grito de guerra?
— Este é um conselho clássico
para quem segue os ensinamentos socráticos. Porém,
os métodos sobre como se ligar e como sintonizar estão
mudando.
— Já tomou “smart
drugs”, as drogas espertas?
— Talvez devesse experimentá-las,
mas ainda não tive oportunidade. Não conheço
nada sobre essas novas drogas.
— Qual o lugar mais esquisito
em que já fez amor?
— Levaria horas respondendo
essa pergunta. Uma vez, estava fazendo amor com minha mulher Barbara
e a cama virou uma nuvem, depois um pântano e, finalmente,
transformou-se em oceano. No final nós dois estávamos
cobertos de líquido e eu fiquei com medo de me afogar.
— Quem é seu inimigo?
— Todo machão, general, Schwarzkopf,
Shwarzenegger, todos aqueles que vestem batinas e uniformes.
— Em qual dos três você
se encaixa: paranóico, hipocondríaco ou tarado?
— Sou o presidente da paranóia
e gostaria de ser um tarado, mas não se pode ter tudo.
— Se você fosse
uma mulher, qual a primeira coisa que faria?
— Tomaria o poder.
— Por que chorou a última
vez?
— Quando vi na tevê uma mulher
jogando flores sobre um tanque, durante o golpe contra Gorbatchóv.
— Já sentiu vontade morrer?
— Sim. Acho que foi Camus
que disse: na vida inteligente o homem considera o suicídio
com assiduidade.
— O que odeia fazer e
continua fazendo?
— Minha regra básica
na vida é não fazer nada de que não goste.
Me mando sempre que estou numa situação que me incomoda.
— De quem você não
compraria um carro usado?
— De qualquer político
vindo de qualquer partido.
— Qual seu pior vício?
— Cigarro*. Adoro fumar.
— O que você escreveria
em seu epitáfio?
— A ser continuado.
*Em maio de 1994, Leary foi multado
por autoridades do aeroporto Robert Mueller, em Austin, no Texas,
por fumar em área não permitida. Ele estava na cidade
para dar a palestra How to Operate Your Brain, não
ficou calado. “Esta lei é uma das muitas tentativas
do governo de controlar o comportamento das pessoas. Estou orgulhoso
por quebrar esta lei anticonstitucional”, disse.
Uma
droga sobre a qual nunca tenham ouvido falar
No
início de 1981, a imprensa americana comentou muito o discurso
feito por Timothy Leary no palco de Keystone Club de Berkeley,
Califórnia. As notas foram unânimes em afirmar que,
apesar de sua aparência sóbria, Leary devia estar
doidão, com visto de entrada para o Planeta Claire ainda
válido. Entre outras coisas, os jornalistas ficaram chocados
quando Timothy declarou que a economia americana estava combalida
não pelo preço do petróleo mas, pelos altos
preços da cannabis importada. Além disso,
Leary defendeu a teoria de que os meios de comunicação
propalam uma alta da criminalidade para terem uma desculpa para
mais polícia nas ruas. Outra afirmação polêmica:
foi a de que “o LSD é, para o ser humano, o mesmo
que o cálcio é para as amebas”. Leary ilustrou
sua conferência com um show de slides supercoloridos dos
últimos lançamentos químico-recreacionais.
Entre eles, um tablete cor de laranja, em forma de coração
e ainda sem nome, que segundo o professor apura o sentido da audição,
sendo muito recomendado para amantes da música em geral.
Finalizando sua conferência e espantando mais a imprensa,
Leary aconselhou os desbundados presentes a descobrirem uma droga
sobre a qual nunca tenham ouvido falar.
*PUBLICADO NA REVISTA PSICODÉLICA
“DE QUANDO O ROCK ERA CONTRACULTURA’ VOLUME I
Timothy
Leary Dedo-duro?
(Mário Pacheco)
*
De
acordo com a revista "Veja - 7 de jul./1999":
Timothy Leary, quem diria, foi colaborador do FBI, a polícia
federal americana. Em 1974, Leary estava de novo atrás
das grades por posse de drogas, três anos depois de escapar
de uma prisão da Califórnia. Da primeira vez fugiu
do xadrez e do país com a ajuda de um grupo radical negro.
Na seguinte, esqueceu a pregação anti-establishment
e foi liberado ao entregar nome por nome do pessoal que o havia
ajudado. O dedurismo de Leary, morto há doze anos, está
registrado nos arquivos do FBI.
**
Em dezembro de 1976, os esquerdistas
acusaram Timothy Leary de delator... A revista americana "Head"
tentou descobrir se Timothy Leary realmente dedou seus amigos
em troca da liberdade:
HEAD
—
Disseram que você dedou algumas pessoas pra tentar sair.
E que citou nomes.
TIMOTHY
LEARY —
Você ouviu quais os nomes?
HEAD
—
Um nome era...
TIMOTHY
LEARY —
Caro amigo, fui acusado de tudo. Não existe nenhum pecado
contra Deus ou a humanidade do qual não tenho sido acusado.
Se você me apresentar a pessoa citada que virá
à frente e dirá, "Eu, Zé da Silva,
acuso você, Timothy Leary, de fazer isso", então
responderei à sua pergunta. Mas acusações
anônimas e fofocas de imprensa? Minha resposta é:
ninguém foi acusado ou condenado por qualquer coisa que
contei para o governo.
HEAD
—
Um desses nomes é Michael Kennedy. Ele não foi
acusado ou condenado pelo seu depoimento?
TIMOTHY
LEARY —
Pelo que sei, isso é falso. Michael Kennedy, um advogado
de San Francisco, nunca foi acusado ou condenado por qualquer
crime. Dizer que foi acusado é difamação,
cara. Você pode se dar mal. Nego terminantemente que cometi
qualquer crime e que deveria ter sido preso. Nego terminantemente
que saí da prisão por uma deduragem. Realmente
tentei criar uma rede de mocinhos inteligentes na polícia
com a qual eu pudesse trabalhar. Minhas tentativas pra fazer
isso não feriram ninguém e não colocaram
ninguém na cadeia. Pode ter assustado algumas pessoas
mas...
***"O
rebu de hojé é com Tim Leary". Entrevista
originalmente publicada no "Jornal de Música",
21 jan./ 1977 - Coluna, "Zeca Jagger News".
Flowers
for Tim
(Ken Kesey*)
Albert Hoffman & Timothy Leary
Entregue-as
enquanto eles podem apreciar o aroma
— Diz o anúncio da janela da loja de flores.
Durante os anos setenta Ken Babbs
e eu abrimos uma pequena revista doméstica chamada Spit
on the Ocean. A idéia era de ter um editor diferente
para cada número que saísse e deixar que cada
um decidisse o assunto, como é feito num jogo de poker,
cada um canta a jogada.
Dr. Timothy Leary concordou em
trabalhar o nosso terceiro número de Spit de
sua cela na prisão de San Diego onde ele estava sendo
re-aprisionado depois de ter sido recapiturado de uma fuga um
ano atrás.
Nós esperávamos
um frio blues de cadeia, do tipo — Ex Professor, Harvard
educado se degrada todo atrás das grades!. Mas não:
Dr. Leary nos escreve informando que o tema para o seu número
de Spit será Comunicação Com
Alta Inteligência - uma mirada ambiciosa mesmo de
cima da mais alta torre de marfim. Mas de trás das grades?
Babbs e eu voamos para o sul a
fim de fazer algumas perguntas ao nosso editor encarcerado.
Confesso que tive algumas precauções.
O famoso Dr. Leary tem sempre sido um fenômeno mais distante,
do que um amigo do peito. Tentativas anteriores para encontros
amistosos não deram certo. O verão de 61, por
exemplo. Minha família e meus colegas foram catalogados
um seminário de alto nível com Leary e Alpert
e a Federação para Liberdade Interna na sede do
paraíso de inverno IFIF em Ziuwataneo. Fomos correndo
para o aeroporto de San Francisco para o nosso vôo na
Companhia Mexicana, quando vimos no jornal SF Chonicle, em letras
grandes: DOPE DOCTORS PRESOS NUMA MANSÃO MEXICANA.
Leary, Alpert e a turma do LSD
foram obrigados a escolher: voltar pra casa ou ser jogados na
cadeia. Chega de Paraíso.
Algum tempo mais tarde fomos de ônibus para uma maloca
do IFIF no entorno de Nova York. Este ponto de encontro não
teve melhor sucesso que aquele acontecido no sul. A nossa chegada
espirituosa à mansão Millbrook foi recebida com
frio entusiasmo. Quem diria? Poderia ter sido a maneira como
chegamos invadindo numa manhã sonolenta de domingo num
carro todo enfeitado soltando fumaça verde e laranja
pelo capô e com o alto-falante em cima da cabine esgueiando
Neal Cassidy. Nos informaram que o Dr. Leary estava no andar
de cima, curtindo uma lombra. Saímos antes que
ele acordasse.
Aqui estávamos nós
para mais uma tentativa, na sala de visita da Penitenciaria
Federal de San Diego, esperando pela decisão do carcereiro
de cara fechada, se é de interesse da sociedade ou não,
deixar que visitemos o prisioneiro Leary. Este carcereiro está
mesmo embromando. Ele quer que todo mundo seja cozido em fogo
brando por algum tempo. Eu abaixo meus óculos de sol
e espero.
Eu não era nenhum estranho,
em se tratando de servir tempo de cadeia. Passei seis meses
num campo de trabalho em Redwoods. Imaginem servir uma sentença
nesse calabouço, trancado com um carcereiro de cara dura,
Deus sabe por quanto tempo e pior ainda, por quantas acusações!
Seria horrível. Não é de se admirar porque
Dr. Leary deixou aquela gang misteriosa de revolucionários
chamados de Os Meteorologistas convecê-lo daquela desastrosa
fuga da prisão de San Luis Obispo ano passado.
O plano dos Meteorologistas? Às
quinze pras dez Leary se desculpa do filme domingueiro a noite
no refeitório - diz pro guarda : - Uma mijada patrão,
entra na cozinha, ao invés do banheiro... dez pras dez,
sobe pelo gorduroso túnel de ventilação
acima na cozinha direto pra o telhado. Cinco pras dez trepa
no principal poste de luz da prisão. Se tudo saísse
de acordo com o planejado os Weathermen estourariam o transformador
na rua às dez em ponto. Leary teria que palmar arame
acima do muro e descer pelo poste da esquina antes que o suprimento
auxiliar de energia entrasse em ação. Três
minutos. Seus cúmplices o estariam esperando. Imaginem:
Você um psicólogo de meia idade, ex-aluno da Academia
de West Point e um professor desacreditado da Harvard, servindo
de cinco a dez anos por ter caído numa fria com sua filha
na fronteira do Texas, quando você tentou livrá-la
de dois baseados escondidos em sua calcinha. Agora você
está trepado no topo de um poste de luz na prisão,
um olho no seu relógio enquanto o outro contempla um
fio que o levará à liberdade, de uma maneira ou
de outra.
“Foram os três minutos
mais longos da minha vida.” Agora imagina ser evaporado
para fora do país e zipped para a Algéria
onde você será recebido por colegas fugitivos como
Eldridge e Kathleen Cleaver e Black Panthers os quais entendem
amaciar seu couro! Quer mais? Fustigado pelos Black Panthers
por um lado e ameaçado do outro, enquanto a inescrupulosa
polícia algeriana campeia pelas ruas com olhos de lobos
famintos. Prefiro ter ficado em San Luis Obispo.
Agora veja isto: Nesta situação
apertada uma súbita sirene aparece no sentido de te salvar,
te apanha e te livra dos Black Panthers e da polícia
com olhos de lobos famintos, casando com você! Pareceu
que as coisas estavam melhorando finalmente.
Para a lua-de-mel, sua noiva quer
levar você para o grande encontro na mansão da
família logo do outro lado da fronteira. Mas não
estavam lá seus sogros e cunhados pra encontrar vocês
quando o avião pousar. - São quatro agentes da
CIA, esperando por vocês com papéis de extradição
e algemas. E para sua glamurosa esposa? Apertos de mãos
e prêmios por um trabalho bem feito. Você cai na
real finalmente: sua misteriosa noiva é atualmente uma
isca - empregada pela CIA, isca - e você caiu nessa, anzol,
linha e glamour.
Isto é o que eu realmente
gostaria de perguntar naquela sala de visita em San Diego: você
quer dizer que é um sábio psicodélico -
que espécie de sabedoria você vê nestes mal
fadados envolvimentos com mulheres bonitas e fronteiras? Que
sentimentos? Você queria mesmo espalmar o traseiro de
sua estúpida filha? Você teve gana de enforcar
sua esposa? São estas as perguntas que eu queria fazer.
Nossa hora de visita estava gasta
em quarenta e cinco minutos quando o preso foi trazido finalmente.
Os guardas eram bem educados e o carcereiro bem legal. Ele até
entregou de volta o gravador de Babbs antes de nos deixar a
sós. Os primeiros 15 minutos na fita foram dedicados
ao negócio de Spit in the Ocean. Não faço
minha pergunta até que o alto falante grita que a visita
está no fim.
“A propósito, Tim,
eu estava pensando... o que está acontecendo com sua
nova - você sabe - desde que você a viu da última
vez? Sua resposta gravada foi clássica de um Tim Leary.
“Com minha nova esposa a espiã? Eu a vejo quatro,
cinco vezes por semana. Ela alugou uma casa de praia a trinta
minutos daqui de bicicleta. Ela ainda não tem carteira
de motorista americana. Algumas vezes ela pega carona com um
dos nossos advogados.”
Babbs e eu bestas. Leary riu.
“Eu com certeza não a condeno, se ela é
uma espiã. Ela gosta desta ação de espionagem.
Isso a deprime. Isso a excita.” Ele nos levou até
a porta e acenou para o carcereiro que estava por trás
de sua parede à prova de bala.
“Além do mais”,
ele adiantou, “quem sou eu, dos viventes, para criticar
alguém por qualquer coisa.” E esta é a minha
florzinha para Tim, enviada através de Time. Vamos ter
mais de vocês fãs de Leary.
Dê a eles enquanto podem apreciar
o aroma.
*TEXTO
RETIRADO DA INTERNET E PUBLICADO NA REVISTA PSICODÉLICA
“DE QUANDO O ROCK ERA CONTRACULTURA’ VOLUME I