A ser continuado...
(Mário Pacheco)


      “Tenho 67 anos de idade. Eu vivi sete décadas de mudanças rápidas. Pratiquei o surfe em cada uma das ondas do século XX com algum sucesso e diversão. Nos anos 40, passei cinco anos no exército. Nos anos 50, fui um jovem professor, quadrado, com filhos, casa no subúrbio, bebendo martinis. Nos anos 60, fiz tudo o que estava na moda: me liguei, pirei e só Deus sabe - me afastei de tudo. Quais eram as alternativas? Desligar, não pirar, adotar um conformismo cego? Os anos 70 foram a década do prisioneiro político. Nixon colocou os dissidentes na cadeia. Fui o primeiro a ir para a prisão, logo em janeiro de 1970. Mais tarde, depois de Watergate, chegou a vez da gangue de Nixon. Durante os seis anos seguintes, assisti a meus perseguidores federais vindo se juntar a mim, atrás das grades”.
     Timothy Leary em entrevista à David Sheef - Rolling Stone, 1987.

     
     
      Timothy Leary, o guru da geração psicodélica surgida nos anos 60, morreu às 4h44, no último dia de maio de 1996, em sua mansão, em Beverly Hills, na Califórnia. Leary tinha 75 anos e desde janeiro de 1995 lutava contra um câncer na próstata em estágio terminal. À medida que a doença avançava, seu corpo parecia mais fraco, mas seu estado de espírito continuava otimista. “Quando soube que era um doente terminal estava apavorado. Queria agora entrar em um desafio de como viver uma vida de incapacidade. Como terminar meus dias com dignidade”.
     O amigo e colega Doug Rushkoff, o agente do seu último livro, informou que Leary morreu em sua casa rodeado por um grupo de aproximadamente 20 pessoas, incluindo o filho, Zach, e sua ex-mulher Rosemary. Ex-professor de psicologia clínica da Universidade Harvard, em Boston (Massachusetts, nordeste dos Estados Unidos). Leary ganhou notoriedade ao incentivar as experiências com drogas, especialmente o LSD.
     Pouco antes de sua morte, ele havia rompido com os adeptos da criogenia, movimento que preconiza o congelamento dos cadáveres com a esperança de que a ciência futura permitirá fazê-los ressuscitar.
     “Não tem nenhum senso de humor” disse Leary ao jornal Los Angeles Time. “Preocupa-me a idéia de que depois de 50 anos eu acorde cercado de gente tomando notas”.
     Os entusiastas da criogenia consideraram que as complicações médicas e legais suscitadas por um suicídio tornam difícil a preparação de um corpo para a “suspensão criogênica” e outro de seus planos que não levado adiante foi o de ter sua cabeça congelada e preservada.
     O rompimento se deveu em parte à vontade anunciada de forma pública do psicólogo de “morrer on line”. A idéia foi comunicada numa mensagem de correio eletrônico, espalhou-se rapidamente pela rede e acabou assunto de reportagem nos grandes jornais norte-americanos inclusive no The New York Times.
     Para divulgar seus trabalhos e dar informes sobre seu estado de saúde, Leary resolveu abrir um espaço próprio na Internet, na sua homepage Leary diariamente vinha correspondendo-se com fãs. Chegou a anunciar que, quando não suportasse mais as dores provocadas pelo câncer, se mataria em frente a uma câmera de vídeo conectada à Internet, transmitindo a cena para o mundo inteiro. Ao ouvir o escritor Ken Kesey, dizer que esta era a melhor idéia que ele havia tido, Leary perguntou: “É bom sim, mas o que eu faço para o bis?”.
     Sua trajetória terminal transformou-se num espetáculo no ciberespaço, que Leary definiu como “o início da parte mais fascinante da minha existência. Espero com alegria esta festa final da viagem pela vida”. Timothy Leary declarou estar fascinado para “passar ao outro mundo”.
     “Não sei como vai acontecer, nem o que vou descobrir”, disse no ano passado numa longa entrevista que manteve com a AFP em sua casa.
     “Espero (a morte) com impaciência... Será a experiência final. A última exploração”, disse Leary.
     Um jornalista, Matt Drudge, realizou uma enquete na Internet, perguntando se Leary devia ou não se suicidar ao vivo. O resultado foi um quase empate, 452 a 415. Drudge informou em sua página que a última droga que Leary tomou foi uma cápsula de melatonina.
Embora não tenha sido transmitida na Internet, a morte de Leary foi filmada por amigos, que não revelaram o que farão com o filme.
     Na sua página eletrônica, no dia 31 de maio, lia-se a mensagem Timothy has passed... (Timothy partiu...). Quando esta frase era “clicada” na tela do computador, uma nota oficial comentava seu falecimento: “Logo após meia-noite, em sua cama favorita entre amigos queridos, Timothy Leary partiu. Suas últimas palavras foram ‘porque não?’ e yeah. Nosso amigo e professor, guia e inspiração continuará a viver dentro de nós. Uma celebração a sua memória estava sendo planejada”. Cada visitante era convidado a deixar seu nome, como um velório.
     Uma procissão de celebridades (semelhantes a que o próprio Leary organizou à casa de Aldous Huxley, em 1963, às vésperas da morte do escritor) seguiu em direção a mansão de Beverly Hills. Lá estavam o cineasta Oliver Stone, a viúva de John Lennon, Yoko Ono, os atores Tim Robins, Susan Saradon, Wynona Rider (afilhada de Leary), Uma Thurman, William Gibson, o músico Perry Farrel, e o jornalista brasileiro, Claudio Julio Tognolli entre outros.      Como legado, o guru deixa 36 livros, tão alucinados e anárquicos como sua biografia.
     Timothy Leary alcançou a categoria de guru em uma geração que acreditou em seu chamado para “ingerir drogas” e “viver a vida a sua maneira”, rechaçando as regras e normas da sociedade estabelecida.
    Mas para seus inimigos, Timothy era um charlatão elegante que proclamava uma pseudo-religião de bases absurdas e que desafiou o objetivo governamental de aplacar a cultura da droga na década de 60. Nascido em Springfield, Massachusetts, em 22 de outubro de 1920, filho de um dentista e de uma professora, Timothy Leary casou-se cinco vezes (Marianne, sua primeira mulher e Susan, sua filha se suicidaram), e deixou o filho, John.
     Doutor em psicologia, Leary passou um ano na Academia Militar de West Point, sendo punido por aceitar o convite de beber em companhia de recrutas mais velhos. Formou-se em 1943 na Universidade do Alabama, quando entrou para o exército.
     Após a Segunda Guerra Mundial, Leary concluiu o mestrado na Universidade do Estado de Washington e fez doutorado em psicologia na Universidade da Califórnia em Berkeley, em 1950. Timothy Leary e seu colega Richard Alpert atrairam as atenções dos Estados Unidos, quando, em 1963, ambos foram acusados de incentivar seus alunos a experimentarem substâncias alucinógenas como elementos expansores e foram demitidos da Universidade de Harvard, onde lecionavam e pregavam abertamente o uso do LSD para “expandir o nível de consciência” entre os estudantes e distribuiram cerca de 3.500 doses a mais de quatrocentos deles. Mudaram-se para o México, onde fundaram uma Federação Internacional de Pesquisa Interior, para ampliar suas experiências psicodélicas, mas foram banidos do país pelo governo mexicano. Fizeram de uma mansão em Millbrook, no Estado de Nova York, o seu quartel-general. Possuíam uma fundação, a Castalia Foundation, que funcionava numa fantástica mansão, de 64 quartos sustentada pelo dinheiro de uma adepto milionário de vinte e seis anos, William Hitchcock. Editaram uma revista, a "Psychodelic Review"; descobriram "O Livro Dos Mortos", um velho livro tibetano, que se tornou a sua bíblia; e treinaram, numa escola especial, jovens que serviram de guias para experiências psicodélicas.
     No mês de março de 1965, Timothy Leary foi detido quando, na companhia de sua filha de dezoito anos, trazia uma partida de marijuana do México para o Texas. Foi julgado e condenado. Mas encarou a prisão com um sorriso. “Na certa - disse ele - converterei ao LSD 80% dos presos e 10% dos guardas. A uns, ensinarei como deixar de ser criminosos. Aos outros, como deixar de ser... criminosos”.
     “O problema foi que o mundo não estava preparado para nós, mas eu nunca senti rancor contra Harvard”, declarou posteriormente. Com amigos como os escritores William Burroughs, Abbie Hoffman, Ken Kesey, Aldous Huxley e Allen Ginsberg, na década de 60 Leary aprofundou sua investigação sobre a utilização de componentes químicos. Escreveu vários livros sobre o tema e acusações ligadas a drogas fizeram com que Leary chegasse a ser preso, nos anos 70. Ao recuperar a liberdade, o grisalho professor mantinha intacta sua defesa do papel das drogas alucinógenas no aumento da consciência.
     Em Los Angeles, Zach, o filho de 22 anos, contou: “Percebemos que Tim estava prestes a partir e começamos a avisar os amigos mais próximos”. Zach é filho de Leary com Barbara Leary, uma brasileira, e esteve várias vezes em São Paulo para visitar sua mãe que mora com o empresário Kim Esteve e viajou para Los Angeles logo após o fato. Zach informou que a família vai continuar o trabalho do pai na Internet e cumprir o último pedido de cremar o seu corpo e mandar as cinzas ao espaço.
     Peculiar até depois da morte, Leary teve seu último desejo atendido: em outubro de 1996, suas cinzas foram transportadas pela espaçonave Pegasus e liberadas no espaço com auxílio de um satélite, junto com as de Gene Roddenberry, criador de "Jornada nas Estrelas", e de outros cientistas e pioneiros em estudos aero-espaciais, tais como o físico da High Frontier Space Station, Gerard O’Neill, e Todd Hauley, professor da International Space University. A última viagem foi patrocinada por uma instituição do Texas, a Celestis Foundation, especializada no transporte de material ao espaço, ao custo de US$ 4.800.
     Segundo versão do jornal Daily News, os fundos para tal empreitada teriam origem diversas. Eles viriam de admiradores do escritor, como a atriz Susan Saradon e o editor Bob Guccione Jr., dono da Playmate.
     As últimas palavras de Timothy Leary foram em uma conversa telefônica com seu amigo, o escritor William Burroughs. “Ele disse a William que o amava muito, e foi aos poucos perdendo a consciência depois de uma espécie de derrame acompanhado de febre. Mas ele estava sorrindo e parecia feliz”, contou Zach, que em português garantiu “Está tudo bem, obrigado”.

     De que forma morrer é a cena final de um glorioso épico.

     Harward lamentou

     A morte de Timothy Leary foi anunciada nas principais redes de televisão dos Estados Unidos.
     Chamando Leary de “guru do LSD”, os noticiários da CNN e New York 1 destacaram ainda sua passagem pela Universidade de Harvard, de onde teria sido despedido por causa dos suas experiências com LSD.
     A universidade soltou uma nota oficial lamentando a morte de Leary e informando sua ligação com a instituição, entre 1960 e 1963. Segundo a nota, ele foi afastado da universidade por faltar às aulas.
     David MacCelland, chefe do Departamento de Psicologia na época, afirmou que “Leary era extremamente promissor”.

     Aviso aos brasileiros que vou usar de muito humor e exageros

     Em agosto de 1991, Leary trabalhava numa empresa dedicada à criação de games interativos, que podiam ser reformulados pelo próprio usuário durante as partidas. Seis meses antes da sua chegada, Timothy Leary concedeu entrevista exclusiva, onde falou sobre informática, drogas e rock’n’roll a Claudio Julio Tognolli:
    — O que o Sr. está estudando agora?
     — O objetivo de todo o meu trabalho, por cinco décadas, tem sido encorajar as pessoas a pensarem por si mesmas e questionarem a autoridade. Na última metade de século eu me envolvi, com sucesso, em cinco revoluções que liberaram as pessoas do controle de suas mentes.
     — Quais são essas revoluções?
     — Na década de 50, tivemos a revolução da mente. Usamos a força psicológica, descartando psiquiatras e colocando os problemas nas mãos das próprias pessoas. Na década de 60, defendemos a automedicação, seja você seu próprio doutor. Já em 70, nos devotamos à política. Nada de políticos peronistas e burocratas castristas. Nada de doutores republicanos manipulando notícias contra estúpidos democratas da mídia. Nada de exploradores capitalistas versos socialistas da burocracia.
     — E as outras revoluções?
     — Ainda em 70, tínhamos a política dos indivíduos, foram as pessoas que acabaram com a Guerra do Vietnã. Desacreditamos o militarismo dos Estados Unidos, o presidente Nixon. Seguimos o compasso de nossos poetas-filósofos, os conceitos originais de John Lennon, Jim Morrison, Bob Dylan e Jimi Hendrix. Sabe, Gorbatchóv ouviu as letras deles e as traduziu. Aquilo que nós chamávamos de sexo, drogas e rock’n’roll é aquilo que os russos chamam hoje de Perestroika e Glasnost. Já na década de 80 eu gastei dez anos lutando contra computadores primitivos, para torná-los capazes de incentivar a inteligência e a criatividade.
    — E agora, nos anos 90 qual é a “ordem”?
     — Nós lutamos para converter os inexpressivos chips de CDs em espécies de fones de olhos. Queremos sistemas para ajudar as pessoas a criar, eletronizar suas salas, quartos e salas de aula. Queremos lares eletrônicos em que todos, principalmente os jovens do Terceiro Mundo, possam se visitar. Poder para os pupilos!
     — O Sr. acha que o espírito de liberdade dos anos 60 foi enterrado?
     — Esse espírito viverá enquanto as pessoas pensarem por si mesmas e questionarem a autoridade. Acredito que redes de televisão, nas mãos de políticos, padres e corporações, são a última encarnação do mal. Mas acredito que os anarquistas, hippies, libertários, engenheiros do caos e punks cibernéticos estejam aprendendo a usar as tevês e vídeos para fortalecer as pessoas individualmente.
    — O Sr. ainda acredita nas teorias de Karl Marx?
     — Marxismo? Eu acho que você se refere aos irmãos Groucho, Harpo e Chico. Você está falando no comandante Mao e seu primo Karl? São figuras históricas do século XIX. Foram heróis do passado, ficando entre o monopólio capitalista e monopólio socialista.
     — Como o Sr. vê a música pop de hoje?
     — Vejo uma globalização da arte e da cultura, um mundo eclético com música híbrida. A mistura de reggae, hip hop, salsa, soul, rock industrial de Chicago, house de Tokyo, funk, jazz, rock. Com os sistemas de computador e vídeo, as pessoas vão captar muitos sinais.
     — As drogas, nos anos 60, eram parte do movimento de contracultura. Mas hoje temos os barões da cocaína. O que houve?
     — Nos últimos 20 anos houve nos Estados Unidos muitas culturas diferentes sobre a droga. Por favor, não as confunda. A cultura das drogas leves, de 1955 a 80, era pacífica, humanista amorosa, pagã, tolerante, desorganizada, anárquica. Em 80 os cartéis das drogas pesadas, a facção Reagan-Bush, tudo isso tomou conta dos Estados Unidos.
     — Com isso, a revolução da contracultura ainda é possível?
     — Sim, pela força do cérebro, pela revolução cibernética!
     Pouco antes de partir ao Brasil, para as palestras, Timothy Leary concedeu outra entrevista exclusiva a Claudio Julio Tognolli, em sua breve passagem pelas ilhas Key Largo (70 Km ao sul de Miami).
     “Aviso aos brasileiros que vou usar de muito humor e exageros”, alertou.
     — Como o senhor se auto-define, aos 71 anos de idade?
     — Sou, há 40 anos, o filósofo dissidente mais controvertido da América. Meu trabalho sempre visou a fortalecer as pessoas, em relação a elas mesmas, e para que questionassem as autoridades. Nos últimos 40 anos, venho desenvolvendo técnicas para se aprender a pensar e a conscientizar-se.
      — O senhor divide seu trabalho em etapas, pré e pós LSD?
     — Na década de 50, fiz terapias de grupo, a chamada psicologia do faça você mesmo (DIV, do it yourself). Na década de 60, dirigi o Programa de Drogas Psicodélicas da Universidade de Harvard, junto de Aldous Huxley. Na década de 70, passei cinco anos na prisão e três no exílio, graças à minha oposição à Guerra do Vietnã e ao presidente Richard Nixon. Na década de 80, desenvolvi estudos segundo os quais os softwares ajudariam as pessoas a pensar mais claramente, aumentando sua criatividade e capacidade de comunicação. Já, nos anos 90, trabalho sobre a nova geração de aparelhos eletrônicos multimídia, que podem ativar os cérebros das pessoas, para se comunicarem numa linguagem global e audiovisual.
     — O que o senhor vai falar no Brasil?
     — Vou discutir o período entre 1962 e 1992. Vou usar de muito humor, vou exagerar muito, para chocar as autoridades políticas, culturais e religiosas do Brasil. Vou estimular os que virão às palestras a que pensem perigosamente.

     Em São Paulo

     Timothy Leary o guru da Nação Woodstock e de um bom contigente de sobreviventes brasileiros do sonho, aos 71 anos, visitou o Brasil no carnaval de 1992. Quando esteve em São Paulo, no Maksoud Plaza para o “1º Encontro com os Magos da Nova Era” de 9 a 15 de março, a abertura aconteceu no dia 11 com uma palestra da antropóloga Laura Jennings Yorke, sobre Cerimonial Mágico/Golden Dawn, e Kabalah Prática, no dia seguinte. Os temas de Leary foram: Exo Psicologia (dia 13) e Realidade Virtual (dia 14), segundo ele, “com o domínio do oitavo circuito do cérebro, é possível que qualquer pessoa consiga contactar o RNA e o DNA”, o que chamou de “novas formas de revolução”. Estes trabalhos de Leary abarcavam o que ele definia como “realidades virtuais”, estudos sobre o estreitamento das relações dos jovens, a partir de softwares de última geração. Leary, ainda mantém um pied-à-terre na contracultura, seus esforços visam - com toda a ubiqüidade que os caracteriza - a aumentar, com a comunicação multimídia, “a consciência crítica das pessoas, para libertá-las, no mundo inteiro”. Tido como pai espiritual do movimento que previa, na década de 60, a “expansão da consciência”, com base em experiências com o ácido lisérgico, droga proibida no Brasil, Leary batalhou pelo “poder aos pupilos e alunos”. Atacou o marxismo, implodiu a psicanálise, criticou as cadeias de televisão e a política institucional. Ele acreditava que a “felicidade” viria quando as crianças do Terceiro Mundo tivessem em suas casas computadores e televisões.
     Sua viagem ao país foi organizada pela associação mística Kaithar, a coordenadora do grupo, Cleide Guedes, disse que Leary foi convidado porque defendia o conhecimento global, holístico. Leary fez parte do grupo Esalen, formado por intelectuais ligados à Universidade de Berkeley. Os membros do Esalen formulam e discutem questões de filosofia.      A Kaithar tem vínculos com o Esalen.
Como peça de marketing, Leary dizia que, em suas palestras, chocaria “as autoridades políticas, culturais e religiosas do Brasil”- num ostensivo convite a que a audiência alterasse seu projeto valorativo.
     Cada palestra durou cerca de três horas com tradução simultânea. O ingresso adquirido no dia custou US$ 70 e comprado com antecedência, custava US$ 50. Sobre uma hipotética volta, Leary disse: “Quero falar também em universidades nas próximas visitas ao Brasil”.

     Eletrônica vai ser droga

     Timothy Leary, declarou em São Paulo que as alucinações do futuro vão ser conseguidas combinando aparelhos eletrônicos e produtos químicos. “Os hippies adorariam isso nos anos 60”, declarou. Em sua única visita ao Brasil, Leary afirmou que desenvolvia métodos de alucinações usando disco laser com imagem e som.
     Um “coquetel” misturando computadores, vídeos e produtos químicos para o cérebro foi a receita para alucinações preconizada por Timothy Leary que declarou que pesquisava incursões à “realidade virtual” através de luvas e óculos que permitem “entrar” no computador. E previu que a ciência “encontrará novas chaves químicas para desenvolver o cérebro”.
     Segundo Timothy, a droga Ectasy, consumida na Europa e Estados Unidos, é mais fraca que o LSD, mas ele aconselhou aos jovens a não usá-la. “Não sabemos todos os seus ingredientes - alguns podem ser perigosos”.
     Leary, disse que era contra o programa de combate às drogas como tudo o que o governo dos Estados Unidos faz.
     “Não me considero americano e sim californiano, como os ucranianos, não mais soviéticos”.
     Ele achava que as crianças dessa década desenvolviam o cérebro com videogames e que seus programas de discos laser óticos, já disponíveis, chegariam às crianças do Terceiro Mundo em grandes grupos por equipamento.

     Do ácido à realidade virtual

     Os navegantes cibernéticos sabem que não há nada de paradoxal na passagem da contracultura, “o legado cultural de John Lennon”: um amontoado de idéias tão heterogêneas como o radicalismo gauche de 68, a filosofia hippie de paz & amor, a consciência ecológica, a revolução sexual, a experiência das drogas, o misticismo oriental e o ocultismo ao mundo virtual.
     A contracultura investiu de todos os modos contra a racionalidade tecnicista; contra o que na época chamou-se “Complexo Industrial-Militar”. Em meio ao mundo psicodélico, alguns contraculturalistas passaram a ver, no computador, a maravilha revolucionária, um deles, Benjamin Woolley reconta a história em seu Virtual Worlds, como começaram as ações para fragmentar o monopólio da IBM no campo da computação. E com a subsequente vitória do underground - não interprete como algo fácil ou utópico, pois lá eles dispõem dos meios - da vitória da contestação arraigada e ferrenha da disposição contracultural, o jovem Ted Nelson abstraiu-se do contexto e escreveu seu livro Computer Lib e os também jovens Jobs e Wozniak construíram o “Apple”, o modelo por excelência do computador pessoal.
     Daí que o filósofo Pierre Lévy possa atestar que o personal computer é um filho da “nebulosa underground” do final da década de 60: uma espécie de desvio contracultural de alta tecnologia.
     Benjamin Woolley cita que o vínculo com o LSD foi estabelecido bem cedo na gênese da realidade virtual. Para dar um detalhe, Stewart Brand, um dos organizadores do Festival Internacional de Música Pop em Monterey, em San Francisco, foi parar no MIT, trabalhando com Nicholas Negroponte.
     Psicodelismo e computador. Não é de estranhar que alguns viajantes contraculturais dos “estados alterados de consciência” tenham chegado depois ao movimento da realidade virtual.
     Entre as estrelas do movimento, Jaron Lanier e Timothy Leary, movendo-se sempre sob o signo da inquietude, estabelecia uma continuidade entre as viagens de ácido e a realidade virtual.
     Agora que Tim com seu ticket sem volta da última virtual reality - para o além, por dentro das estrelas, desejamos que a sua inquietude apesar da lacuna física nunca abandone, nossa realidade.

     Vovô psicodélico

     Timothy Leary a Revista d’ nº101, Folha de São Paulo, 15 de março de 1992.

     — Já fez algo de ilegal ou condenável?
     — Milhares de vezes quebrei a lei sobre como usei meu corpo. Gostaria de ter feito isso mais vezes. Vivi minha vida sem nunca fazer nada em segredo que não pudesse ser feito publicamente. Toda a sujeira dos militares, do clero e dos políticos corruptos acontece porque eles fazem coisas escusas secretamente. O FBI costumava fazer escuta no meu telefone e eu dizia: Ótimo, talvez assim eles aprendam alguma coisas.
     — Como é ser subversivo psicodélico com mais de setenta anos?
     — Faço o que posso. Ainda não me deixam entrar na Inglaterra, Irã e China. Nesses países sou considerado um atentado à ordem pública.
     — Qual seu maior medo?
    — Sem brincadeira, sou uma das pessoas mais incríveis que já existiram. Não tenho medo de nada, com exceção de ficar tão doente que não possa fazer as coisas sozinho. Na minha idade isso preocupa. Fiz um contrato com minha mulher: se eu me encontrar nessa situação, ela fará com que eu vá embora com a mesma dignidade com a qual tentei conduzir minha vida. Farei o mesmo por ela. Também pertenço a uma organização que me dá a opção de congelar meu corpo após a passagem para outro terreno. Sou um dos mais profundos estudiosos da consciência e estudo a questão da preservação da alma. Estou até escrevendo um manual a esse respeito.
    — Qual a maior maldade que você fez?
    — Esta é uma questão séria e eu não serei leviano. Porque estive tão envolvido com meu trabalho, o que incluiu ser jogado na prisão, não consegui ser um pai tão bom quanto teria sido desejável.
     — Qual seu candidato preferido entre os que disputam a próxima eleição presidencial nos Estados Unidos?
     — Assim como a URSS, os Estados Unidos vão entrar em colapso, portanto as eleições americanas não me interessam. Ser presidente dos Estados Unidos é um trabalho sem sentido. Se pudesse fazer meus sonhos se tornarem realidade, para presidente dos Estados Unidos votaria em um homem que já provou saber lidar com a situação: Mikhail Gorbatchóv.
     — Turn on tune in and drop out (Se ligue, sintonize e caia fora) ainda é o melhor grito de guerra?
    — Este é um conselho clássico para quem segue os ensinamentos socráticos. Porém, os métodos sobre como se ligar e como sintonizar estão mudando.
     — Já tomou “smart drugs”, as drogas espertas?
     — Talvez devesse experimentá-las, mas ainda não tive oportunidade. Não conheço nada sobre essas novas drogas.
    — Qual o lugar mais esquisito em que já fez amor?
     — Levaria horas respondendo essa pergunta. Uma vez, estava fazendo amor com minha mulher Barbara e a cama virou uma nuvem, depois um pântano e, finalmente, transformou-se em oceano. No final nós dois estávamos cobertos de líquido e eu fiquei com medo de me afogar.
     — Quem é seu inimigo?
    — Todo machão, general, Schwarzkopf, Shwarzenegger, todos aqueles que vestem batinas e uniformes.
    — Em qual dos três você se encaixa: paranóico, hipocondríaco ou tarado?
    — Sou o presidente da paranóia e gostaria de ser um tarado, mas não se pode ter tudo.
     — Se você fosse uma mulher, qual a primeira coisa que faria?
    — Tomaria o poder.
    — Por que chorou a última vez?
    — Quando vi na tevê uma mulher jogando flores sobre um tanque, durante o golpe contra Gorbatchóv.
    — Já sentiu vontade morrer?
     — Sim. Acho que foi Camus que disse: na vida inteligente o homem considera o suicídio com assiduidade.
     — O que odeia fazer e continua fazendo?
     — Minha regra básica na vida é não fazer nada de que não goste. Me mando sempre que estou numa situação que me incomoda.
     — De quem você não compraria um carro usado?
     — De qualquer político vindo de qualquer partido.
     — Qual seu pior vício?
     — Cigarro*. Adoro fumar.
     — O que você escreveria em seu epitáfio?
     — A ser continuado.
     *Em maio de 1994, Leary foi multado por autoridades do aeroporto Robert Mueller, em Austin, no Texas, por fumar em área não permitida. Ele estava na cidade para dar a palestra How to Operate Your Brain, não ficou calado. “Esta lei é uma das muitas tentativas do governo de controlar o comportamento das pessoas. Estou orgulhoso por quebrar esta lei anticonstitucional”, disse.

     Uma droga sobre a qual nunca tenham ouvido falar

     No início de 1981, a imprensa americana comentou muito o discurso feito por Timothy Leary no palco de Keystone Club de Berkeley, Califórnia. As notas foram unânimes em afirmar que, apesar de sua aparência sóbria, Leary devia estar doidão, com visto de entrada para o Planeta Claire ainda válido. Entre outras coisas, os jornalistas ficaram chocados quando Timothy declarou que a economia americana estava combalida não pelo preço do petróleo mas, pelos altos preços da cannabis importada. Além disso, Leary defendeu a teoria de que os meios de comunicação propalam uma alta da criminalidade para terem uma desculpa para mais polícia nas ruas. Outra afirmação polêmica: foi a de que “o LSD é, para o ser humano, o mesmo que o cálcio é para as amebas”. Leary ilustrou sua conferência com um show de slides supercoloridos dos últimos lançamentos químico-recreacionais. Entre eles, um tablete cor de laranja, em forma de coração e ainda sem nome, que segundo o professor apura o sentido da audição, sendo muito recomendado para amantes da música em geral. Finalizando sua conferência e espantando mais a imprensa, Leary aconselhou os desbundados presentes a descobrirem uma droga sobre a qual nunca tenham ouvido falar.


     *PUBLICADO NA REVISTA PSICODÉLICA “DE QUANDO O ROCK ERA CONTRACULTURA’ VOLUME I

 


Timothy Leary Dedo-duro?
(Mário Pacheco)

*

     De acordo com a revista "Veja - 7 de jul./1999": Timothy Leary, quem diria, foi colaborador do FBI, a polícia federal americana. Em 1974, Leary estava de novo atrás das grades por posse de drogas, três anos depois de escapar de uma prisão da Califórnia. Da primeira vez fugiu do xadrez e do país com a ajuda de um grupo radical negro. Na seguinte, esqueceu a pregação anti-establishment e foi liberado ao entregar nome por nome do pessoal que o havia ajudado. O dedurismo de Leary, morto há doze anos, está registrado nos arquivos do FBI.

**

     Em dezembro de 1976, os esquerdistas acusaram Timothy Leary de delator... A revista americana "Head" tentou descobrir se Timothy Leary realmente dedou seus amigos em troca da liberdade:

     HEAD Disseram que você dedou algumas pessoas pra tentar sair. E que citou nomes.

     TIMOTHY LEARY Você ouviu quais os nomes?

     HEAD Um nome era...

     TIMOTHY LEARY Caro amigo, fui acusado de tudo. Não existe nenhum pecado contra Deus ou a humanidade do qual não tenho sido acusado. Se você me apresentar a pessoa citada que virá à frente e dirá, "Eu, Zé da Silva, acuso você, Timothy Leary, de fazer isso", então responderei à sua pergunta. Mas acusações anônimas e fofocas de imprensa? Minha resposta é: ninguém foi acusado ou condenado por qualquer coisa que contei para o governo.

     HEAD Um desses nomes é Michael Kennedy. Ele não foi acusado ou condenado pelo seu depoimento?

     TIMOTHY LEARY Pelo que sei, isso é falso. Michael Kennedy, um advogado de San Francisco, nunca foi acusado ou condenado por qualquer crime. Dizer que foi acusado é difamação, cara. Você pode se dar mal. Nego terminantemente que cometi qualquer crime e que deveria ter sido preso. Nego terminantemente que saí da prisão por uma deduragem. Realmente tentei criar uma rede de mocinhos inteligentes na polícia com a qual eu pudesse trabalhar. Minhas tentativas pra fazer isso não feriram ninguém e não colocaram ninguém na cadeia. Pode ter assustado algumas pessoas mas...

     ***"O rebu de hojé é com Tim Leary". Entrevista originalmente publicada no "Jornal de Música", 21 jan./ 1977 - Coluna, "Zeca Jagger News".

 


Flowers for Tim
(Ken Kesey*)


Albert Hoffman & Timothy Leary

Entregue-as enquanto eles podem apreciar o aroma
— Diz o anúncio da janela da loja de flores.


     Durante os anos setenta Ken Babbs e eu abrimos uma pequena revista doméstica chamada Spit on the Ocean. A idéia era de ter um editor diferente para cada número que saísse e deixar que cada um decidisse o assunto, como é feito num jogo de poker, cada um canta a jogada.
     Dr. Timothy Leary concordou em trabalhar o nosso terceiro número de Spit de sua cela na prisão de San Diego onde ele estava sendo re-aprisionado depois de ter sido recapiturado de uma fuga um ano atrás.
     Nós esperávamos um frio blues de cadeia, do tipo — Ex Professor, Harvard educado se degrada todo atrás das grades!. Mas não: Dr. Leary nos escreve informando que o tema para o seu número de Spit será Comunicação Com Alta Inteligência - uma mirada ambiciosa mesmo de cima da mais alta torre de marfim. Mas de trás das grades?
     Babbs e eu voamos para o sul a fim de fazer algumas perguntas ao nosso editor encarcerado.
     Confesso que tive algumas precauções. O famoso Dr. Leary tem sempre sido um fenômeno mais distante, do que um amigo do peito. Tentativas anteriores para encontros amistosos não deram certo. O verão de 61, por exemplo. Minha família e meus colegas foram catalogados um seminário de alto nível com Leary e Alpert e a Federação para Liberdade Interna na sede do paraíso de inverno IFIF em Ziuwataneo. Fomos correndo para o aeroporto de San Francisco para o nosso vôo na Companhia Mexicana, quando vimos no jornal SF Chonicle, em letras grandes: DOPE DOCTORS PRESOS NUMA MANSÃO MEXICANA.
     Leary, Alpert e a turma do LSD foram obrigados a escolher: voltar pra casa ou ser jogados na cadeia. Chega de Paraíso.
Algum tempo mais tarde fomos de ônibus para uma maloca do IFIF no entorno de Nova York. Este ponto de encontro não teve melhor sucesso que aquele acontecido no sul. A nossa chegada espirituosa à mansão Millbrook foi recebida com frio entusiasmo. Quem diria? Poderia ter sido a maneira como chegamos invadindo numa manhã sonolenta de domingo num carro todo enfeitado soltando fumaça verde e laranja pelo capô e com o alto-falante em cima da cabine esgueiando Neal Cassidy. Nos informaram que o Dr. Leary estava no andar de cima, curtindo uma lombra. Saímos antes que ele acordasse.
     Aqui estávamos nós para mais uma tentativa, na sala de visita da Penitenciaria Federal de San Diego, esperando pela decisão do carcereiro de cara fechada, se é de interesse da sociedade ou não, deixar que visitemos o prisioneiro Leary. Este carcereiro está mesmo embromando. Ele quer que todo mundo seja cozido em fogo brando por algum tempo. Eu abaixo meus óculos de sol e espero.
     Eu não era nenhum estranho, em se tratando de servir tempo de cadeia. Passei seis meses num campo de trabalho em Redwoods. Imaginem servir uma sentença nesse calabouço, trancado com um carcereiro de cara dura, Deus sabe por quanto tempo e pior ainda, por quantas acusações! Seria horrível. Não é de se admirar porque Dr. Leary deixou aquela gang misteriosa de revolucionários chamados de Os Meteorologistas convecê-lo daquela desastrosa fuga da prisão de San Luis Obispo ano passado.
     O plano dos Meteorologistas? Às quinze pras dez Leary se desculpa do filme domingueiro a noite no refeitório - diz pro guarda : - Uma mijada patrão, entra na cozinha, ao invés do banheiro... dez pras dez, sobe pelo gorduroso túnel de ventilação acima na cozinha direto pra o telhado. Cinco pras dez trepa no principal poste de luz da prisão. Se tudo saísse de acordo com o planejado os Weathermen estourariam o transformador na rua às dez em ponto. Leary teria que palmar arame acima do muro e descer pelo poste da esquina antes que o suprimento auxiliar de energia entrasse em ação. Três minutos. Seus cúmplices o estariam esperando. Imaginem: Você um psicólogo de meia idade, ex-aluno da Academia de West Point e um professor desacreditado da Harvard, servindo de cinco a dez anos por ter caído numa fria com sua filha na fronteira do Texas, quando você tentou livrá-la de dois baseados escondidos em sua calcinha. Agora você está trepado no topo de um poste de luz na prisão, um olho no seu relógio enquanto o outro contempla um fio que o levará à liberdade, de uma maneira ou de outra.
     “Foram os três minutos mais longos da minha vida.” Agora imagina ser evaporado para fora do país e zipped para a Algéria onde você será recebido por colegas fugitivos como Eldridge e Kathleen Cleaver e Black Panthers os quais entendem amaciar seu couro! Quer mais? Fustigado pelos Black Panthers por um lado e ameaçado do outro, enquanto a inescrupulosa polícia algeriana campeia pelas ruas com olhos de lobos famintos. Prefiro ter ficado em San Luis Obispo.
     Agora veja isto: Nesta situação apertada uma súbita sirene aparece no sentido de te salvar, te apanha e te livra dos Black Panthers e da polícia com olhos de lobos famintos, casando com você! Pareceu que as coisas estavam melhorando finalmente.
     Para a lua-de-mel, sua noiva quer levar você para o grande encontro na mansão da família logo do outro lado da fronteira. Mas não estavam lá seus sogros e cunhados pra encontrar vocês quando o avião pousar. - São quatro agentes da CIA, esperando por vocês com papéis de extradição e algemas. E para sua glamurosa esposa? Apertos de mãos e prêmios por um trabalho bem feito. Você cai na real finalmente: sua misteriosa noiva é atualmente uma isca - empregada pela CIA, isca - e você caiu nessa, anzol, linha e glamour.
     Isto é o que eu realmente gostaria de perguntar naquela sala de visita em San Diego: você quer dizer que é um sábio psicodélico - que espécie de sabedoria você vê nestes mal fadados envolvimentos com mulheres bonitas e fronteiras? Que sentimentos? Você queria mesmo espalmar o traseiro de sua estúpida filha? Você teve gana de enforcar sua esposa? São estas as perguntas que eu queria fazer.
     Nossa hora de visita estava gasta em quarenta e cinco minutos quando o preso foi trazido finalmente. Os guardas eram bem educados e o carcereiro bem legal. Ele até entregou de volta o gravador de Babbs antes de nos deixar a sós. Os primeiros 15 minutos na fita foram dedicados ao negócio de Spit in the Ocean. Não faço minha pergunta até que o alto falante grita que a visita está no fim.
     “A propósito, Tim, eu estava pensando... o que está acontecendo com sua nova - você sabe - desde que você a viu da última vez? Sua resposta gravada foi clássica de um Tim Leary. “Com minha nova esposa a espiã? Eu a vejo quatro, cinco vezes por semana. Ela alugou uma casa de praia a trinta minutos daqui de bicicleta. Ela ainda não tem carteira de motorista americana. Algumas vezes ela pega carona com um dos nossos advogados.”
     Babbs e eu bestas. Leary riu. “Eu com certeza não a condeno, se ela é uma espiã. Ela gosta desta ação de espionagem. Isso a deprime. Isso a excita.” Ele nos levou até a porta e acenou para o carcereiro que estava por trás de sua parede à prova de bala.
     “Além do mais”, ele adiantou, “quem sou eu, dos viventes, para criticar alguém por qualquer coisa.” E esta é a minha florzinha para Tim, enviada através de Time. Vamos ter mais de vocês fãs de Leary.
    Dê a eles enquanto podem apreciar o aroma.

*TEXTO RETIRADO DA INTERNET E PUBLICADO NA REVISTA PSICODÉLICA “DE QUANDO O ROCK ERA CONTRACULTURA’ VOLUME I