Uma
nova estrutura política para a Universidade
Jorge
Antunes - Professor Titular da UnB
O
Correio Braziliense de ontem, dia 27 abr. / 2008, domingo, publicou
artigo meu na seção Opinião.
O artigo se intitula "Uma nova estrutura política
para a Universidade".
Convido à leitura:
Prevaleceram sempre, na Universidade
de Brasília, as relações de vassalagem e
suserania. Nada mudou após o fim da ditadura militar. Nada
mudou após as eleições diretas para reitor.
Este sempre distribuiu migalhas aqui e acolá, para solícitos
vassalos que deveriam lhe prestar fidelidade. Durante décadas
as redes de vassalagem se estenderam por vários Institutos,
Faculdades e Departamentos, sendo o reitor o suserano mais poderoso.
Todos os poderes - jurídico, econômico e político
- sempre estiveram concentrados no suserano principal.
A
nobreza da comunidade universitária, integrada de cavaleiros,
decanos, condes, doutores, duques e viscondes, se encastelavam
e mamavam nas tetas de fundações de apoio. Mas,
eis que a terceira camada da sociedade se rebela, toma a reitoria
e derruba a nobreza.
Paridade!
Essa é a palavra de ordem que percorre todos os cantos
da Universidade de Brasília. É quase unânime
a opinião de que os três segmentos, professores,
alunos e funcionários, devam escolher o reitor em eleições
diretas, com pesos proporcionais. Proposta velha, requentada,
que, se atendida, em nada mudará a realidade triste da
academia e do ensino superior público e gratuito. Nas eleições
para reitor da UnB, em 2005, foram aplicados os pesos de 70% de
poder para professores e 15% para cada um dos outros dois setores:
funcionários e estudantes. Após divulgação
dos resultados, foram feitos cálculos para se avaliar o
que teria acontecido caso a votação tivesse sido
paritária. Para surpresa geral, constatou-se que o resultado
teria sido o mesmo: o vencedor fora bem votado nos três
segmentos.
Paridade
é a palavra que aponta para a solução da
crise universitária brasileira, mas não em seu aspecto
eleitoral. A hora é de paridade no governo da Universidade.
Ao analisar a revolução brasiliense de abril de
2008, alguns analistas rememoram o maio de 1968. Precisamos lembrar,
entretanto, que os postulados programáticos do célebre
maio de 1968 se espelhavam na luta iniciada em Cordoba, Argentina,
em 1918, quando a Reforma Universitária pretendia acabar
com a estrutura feudal da universidade.
Os
estudantes universitários demonstram, hoje, serem a nata
em que está depositada a essência da nação,
tal como preconizou Gabriel del Mazo. A rebeldia transformadora
dos estudantes, aliada à justa lista de reivindicações
por eles apresentada, é o modelo perfeito para a revolução
social almejada. Para tanto, a autogestão universitária
há de ser a solução e o modelo para o país.
Os ideais de Juan Lazarte são colocados na ordem do dia
para o século XXI: a universidade poderá ser uma
grande oficina da ciência, onde estudantes, professores
e técnicos administrativos se consagrarão à
investigação e à criação de
novos conhecimentos.
Só
a autonomia plena, independente do Estado e da burocracia, permitirá
o congraçamento efetivo da comunidade universitária,
esta regendo-se a si mesma. Para tanto, faz-se necessário
definir o que é comunidade universitária: os chamados
"terceirizados" e "substitutos" não
podem ficar fora da participação democrática.
Em
maio de 1996, FHC assinou o Decreto nº 1.916 regulamentando
o processo de escolha dos dirigentes das universidades. Naquele
momento o então ministro Paulo Renato festejou o fato,
declarando que os professores, e não os alunos e funcionários,
eram os mais capacitados para escolher o reitor.
O
recente renascimento do movimento estudantil dá lições
de cidadania ao apático movimento docente. A luta aguerrida,
organizada e responsável dos estudantes, com a ação
direta legítima, mostra que eles têm maturidade para
escolher nossos dirigentes. Nos últimos anos tem sido bem
mais fácil ingressar na Universidade como professor do
que como aluno. A seleção de alunos é criteriosa
e rigorosa. O mesmo não acontece com a seleção
de professores. Sobram vagas de professor, faltam vagas de aluno.
O desespero provocado pela falta de professores tem determinado
a promoção de provas simplificadas para seleção
de professores. Enquanto isso, ainda não foi inventado
um vestibular simplificado.
À
comunidade universitária, sem discriminações,
sem privilégios, sem médias ponderadas, deverá
caber a escolha de seus dirigentes. O voto universal será,
portanto, o meio correto e justo para as consultas à comunidade:
um voto igual, com mesmo valor, para cada estudante, cada professor,
cada funcionário. Uma nova estrutura política, realmente
democrática e transparente, deverá ser montada.
A idéia de paridade ficaria destinada a uma Reitoria Colegiada,
em governo tripartite.