Eu,
Mutantes e os Peticovs
68 – 2008
Onde está
Clara Peticov Dorneles?
A minha história com os Mutantes
começou em 68, quando ouvi Panis et Circences e pirei!
Levei o disco pra uma aula de música e a professora quase
me expulsou. Dali pra frente virou febre, paixão mesmo.
Chegamos a ir a pé do Rio pra São Paulo, eu, Arthur
e Lucylle (minha primeira mulher), acho que em 72, pra vermos
os Mutantes tocando em cima do seu caminhão.
Joelho de Porco e Tim Maia abriram
o show. E acho que foi o primeiro show sem a Rita Lee;
“estamos numa boa pessoa
pescando no mar
numa pessoa
numa pessoa
só....”
Aí vieram
aquelas várias formações dos Mutantes, nem
sempre tão criativas quanto os primeiros, mas acompanhei,
vi de perto, lá no MAM (RJ) quando o Serginho convidou
o Paul de Castro pro violino e queria fazer algo como um “chorinho".
Veio o fim do sonho anunciado por
Lennon e por Gil: quem não dormiu no sleeping bag nem sequer
sacou o que estava acontecendo.
Lembro bem do café da manhã
lisérgico, com chá de cogumelos, que fizemos em
Iacanga, em 75, o Manito (Som Nosso de Cada Dia) não conseguia
tocar, passou dias naquela onda, e só recentemente, pelo
site DoProprioBol$o, soube que o nosso Tim Leary brasuca, Antonio
Peticov, era o responsável por aquele banquete.
O ativismo quântico pra mudar
a si mesmo. Alan Psicodelic breakfast. Syd Barret ia adorar.
Muito do que se falou ali no fim
dos anos 60, a internet realizou, democratizou a informação.
Vi e co-produzi com Carlos Sion,
Arnaldo e a Patrulha do Espaço, no final dos 70, no Teatro
Tereza Raquel. Também, O Terço, Belchior e outros.
Então depois de anos só
falando e ouvindo Mutantes, o re-lançamento do inédito
"O A & o Z", o "Tecnicolor"... "Singin'
Alone" com a regravação bombástica de
Balada Do Louco com as guitarras oitentistas de Wander
Taffo, me deparo, em 2004, com um email de Lucinha (mulher do
Arnaldo Baptista), oferecendo o lendário CD "Let it
Bed" do Arnaldo pro Lobão lançar na Revista
Outra Coisa.
O Lobão havia me prometido
que ouviríamos juntos. Passei dias numa ansiedade louca,
eu já havia lido um release que a Soninha havia feito do
CD, música por música, e cheguei até a sonhar
com a instrumental Carrossel. Assim que chegou o sedex,
o Lobão me ligou e fomos ouvir, eu, ele e Liége.
Na primeira audição, quando escutei Louvado
Seja Deus me deu um nó na garganta. Depois veio Bailarina
e Tacape, e as coisas foram se acertando na minha cabeça,
como quando eu tive um insight, com alguns tarja-pretas, receitados,
e toda a minha vida se passava na frente dos meus olhos, as gavetas
iam se abrindo e cada uma delas uma definição, uma
re-definição de tudo, enfim... "Let it Bed"
havia me proporcionado uma viagem lisérgica e chorei. Chorei.
Não queria ouvir mais nada!
Lobão me disse que não
queria mais fazer música! Ficamos dias chapados com as
letras desconstrutivas, anárquicas e canábicas de
Arnaldo. Louvado seja deus que nos
deu o Rock’n’roll.
Meses depois, fomos pra Juiz de
Fora numa van, com o pessoal da Revista Outra Coisa, pra assinarmos
o contrato com Arnaldo. Aluiser e John (Pato Fu), estavam lá
e logo o assunto veio a baila: a volta dos Mutantes.
Todos entusiasmados, seria possível
fazer os irmãos Baptista se falarem? E Rita toparia? Foi
um dia mágico em que Lucinha fez uma feijoada vegetariana.
Os papos: Sean e John Lennon, amplificadores valvulados, física
quântica, discos voadores...Saímos todos de lá
com a forte impressão que o sonho se tornaria realidade:
a volta dos Mutantes.
Tempos depois, pelos jornais vi
anunciada a apresentação dos Mutantes em Londres.
Mandei na hora a matéria por e-mail pra Lucinha, que, também
surpresa não sabia disso. Bom, o resto é historia.
Shows em Londres, Brasil, Estados Unidos. Eu tive o prazer de
ver duas apresentações, uma no Rio, fechado, pra
Globo, e a outra, apoteótica, aqui no Museu do Ipiranga,
aniversário de São Paulo, dessa vez ao lado do meu
amigo André Peticov.
Mas esqueci, antes disso tudo, teve
um baile da Orquestra Imperial em Belo Horizonte e convidamos
Arnaldo e Lucinha e passamos, eu e Duca Moobwa, na casa da Vera,
irmã de Lucinha e fomos todos pro baile. Acho que foi em
2006, antes da volta dos Mutantes. Lá a conversa girou
em torno do recente CD do Pato Fu (que tocava direto no som deles),
o primeiro disco da Rita, “Atrás do Porto tem uma
Cidade”, em que citei que a capa era do André Peticov,
irmão de Antonio. Rita e mais Rita. Eu não queria
puxar esse assunto mas foi inevitável. Aí Arnaldo
nos contou que o Antônio Peticov fora empresário
dos Mutantes (eu não sabia) e que aquela calça de
couro que ele usa na capa do Loki?, o André que tinha feito.
Arnaldo falava e as últimas
sílabas iam caindo como uma bomba. Peticov. Mutantes. Aí
aproveitei e contei o que eu estava guardando: dentro de meses
nasceria minha neta, Clara, sobrinha-neta dos Peticovs. Arnaldo
e Lucinha riram da feliz coincidência.
Isso tudo pra finalizar, aproveitando
que está fazendo 40 anos do maio de 68, quando os estudantes
franceses tomaram as ruas e colocaram a imaginação
no poder. Muitas coisas foram conquistadas, batalhadas por toda
essa geração que está com 50, 60 anos e a
mídia geralmente minimiza e tenta ridicularizar os hippies,
confundindo com essas pessoas que vendem pulseirinhas nas praças
e assim desinformando e esvaziando todo o movimento e ação.
“ da cabeça do homem sai a luz
que a faca não pode dividir
e a morte não leva embora
não leva...”
Onde está Wally ? Poeta e produtor executivo
de shows
Byra Dorneles, 52, segura o livro do Joel.
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