Salve
o homem iluminado (Mário Pacheco*)
John
Winston Lennon, nascido em Liverpool; John Ono Lennon, o marido
e Romeu de Yoko; John Winston O’Boogie Green Card Lennon,
apelido criado pelo próprio Lennon depois de ter assegurado
sua permanência em solo americano ou popularmente conhecido
pelas pessoas e pela mídia como John Lennon Etc & tall,
recolheu-se à um exílio voluntário ou involuntário?
Quem teria sido a responsável, a CIA com suas drogas ou
a nossa conhecida Yoko Ono, através da hipnose e dos jogos
mentais?
Perguntas que remoem o cérebro,
sim! Existem perguntas, mas no momento não temos afirmações
são apenas indagações perdidas, —
Leitor, John teria sido vítima de conspiração
política, que teria utilizado Chapman para eliminar qualquer
oposição????!!!!
Pensei nisso naquele longínquo
8 de dezembro, e até o presente instante não encontra-se
respostas... Durante os últimos
cinco anos de sua vida, o ex-libertário Lennon torna-se
um personagem excêntrico e esquisito, sendo o dinheiro a
primeira vista o responsável por essas mudanças
nesses dias, o que um quarentão pode fazer com tanto dinheiro
a não ser gastá-lo em obras de arte, sarcófagos
egípcios, férias nas Bermudas com seu filho, ter
uma vida contemplativa no gigantesco apartamento do Dakota, ou
pastoral em sua propriedade de Long Island e segundo as más
línguas; procurar aventuras sexuais e cocaína nos
canos? Algo está errado por se tratar de Mr. Lennon? Já
que ele deu sua contribuição à nossa sociedade
por que voltar a gravar e excursionar ao invés de admirar
suas vacas no valor de 280 mil dólares cada uma?
Durante esse obscuro período
de sua vida, em que trocou a música pela felicidade domiciliar
e pela alegria de ver seu filho crescer, não temos muitos
dados, nem precisamos para garantir que ninguém passaria
o tempo todo fazendo pão e dando banho em “lindo
garoto”, como ele próprio declarou”.
Lennon enclausurado, dominado, reduzido,
enjoado, acuado pelo sistema (que ele tanto combateu) e por Yoko,
gastou o seu tempo vendo televisão desfocada, ouviu e reouviu
suas canções, escreveu seus diários, estudou
japonês, leu receitas culinárias, estudou a história
dos Beatles e se julgou uma fábrica em greve, com a falta
de seu estímulo musical, enquanto que suas guitarras empoeiravam
debaixo de sua cama. Tornou-se “a Greta Garbo do Rock”.
Ele estudou a história dos
Beatles! Em suas últimas reportagens Lennon se mostrou
eloqënte e coerente, preciso e à par de todas as fases
dos Beatles, respondendo fatos que dificilmente qualquer um dos
ex-colegas se lembrariam. John até se recordou de quando
ia ao cinema com Cynthia e George os seguia às escondidas.
A única solução
para não morrer antes de envelhecer, seria um retorno à
vida pública e musical.
Assim sendo, ele adentra depois
de seis longos anos longe dos estúdios para gravar as suas
próprias composições para um disco seu, anteriormente
em 1976, ele tocara piano para Ringo na faixa Cockin',
de sua autoria, que foi incluída no LP “Rotogravure”
e trabalhara na faixa-título do álbum de David Bowie,
Fame...
Yoko continua marcando, censura
seus telefonemas, domina os contatos femininos, marca as entrevistas,
investe o dinheiro e dirige o Império “LENONO”,
tomando conta da vida de John, Lennon se parece uma marionete
nas mãos hábeis de Yoko. Perde a individualidade,
mas jamais a criatividade.
No estúdio são registrados
os ensaios, as discussões, os papos e várias músicas
que farão parte do LP “Double Fantasy”, a mixagem,
a produção e o corte final serão feitos em
parceria com Jack Douglas, músicas e músicas são
registradas para serem comercializadas depois de sua morte por
Yoko: o maior lance tem a honra de publicar as últimas
e inéditas composições de Lennon.
No mundo do rock nada se perde tudo
se transforma em dinheiro, inclusive diálogos que se materializam
em vinil e rendem mais uma grana. Até
que ponto há sinceridade nesses lançamentos e outros
projetos? E até que ponto se pode confiar na orfandade
desolada do fã????!
Os Lennons decididos a emplacar
contratam músicos profissionais, ilustres e caros que ajudam
John e ainda um meio do Cheap Trick, canta e toca com Lennon,
nessa nova fase o beatle está calmo, realizado, confiante
e acima de tudo feliz: all you need is love...
Outubro de 1980, é lançado
o compacto (Just like) Starting over / Kiss Kiss
Kiss, o LP “Double Fantasy” o precede contendo
sete tolas canções de amor onde a preocupação
caseira, declaração de amor a Yoko e Sean, sendo
Beautiful Boy a melhor faixa do disco. Não consigo
comentar mais nada sobre esse antológico LP. Vou parar
por aqui...
No final de 1980, dezessete dias
antes do Natal, David Mark Chapman, decidiu por conta própria
e de maneira revoltante entrar no hall dos ilustres assassinos,
priva Lennon da decadência permitindo que o mito de John
e dos Beatles, fique mais vivo na mente e no coração
dos inúmeros e incontáveis fãs da música
no planeta.
Aos 40 anos, quando John esperava
ter mais outros 40 anos pela frente e anunciando que “a
vida recomeça”, foi vítima e mártir
de uma sociedade estagnada emocionalmente e vazia de ídolos,
a rebeldia sempre atraiu os jovens e os meios de comunicação.
Desde os anos 70 não aparecia um novo rebelde sem causa,
talvez por isso James Dean, Jim Morrison e John Lennon sejam cultivados
e idolatrados pelos jovens dos anos 80. Pois eles mantêm
a idéia do jovem que nós todos queríamos
ser.
John Lennon teve um fim material triste
e violento para quem um dia declarou 'star' mais popular que Jesus
Cristo; num contesto mal interpretado por nós, mas o seu
karma antes de morrer não lhe permitiu abandonar a Terra
sem um último exemplo de grandeza: seu assassinato libertou
as forças positivas do bem que esmagaram as forças
negativas e que com certeza ajudarão essa década
florescer em paz, um fato que se torna real a partir dos recentes
protestos a favor da paz contra a Guerra Nuclear. A paz que Lennon
outrora pregou sempre esteve ameaçada e agora num mundo
dividido pela corrida armamentista e pelos interesses entre russos
e americano, nos vemos no dever de hastearmos nossas bandeiras
e irmos à luta para impedir o holocausto e defender o amor
e a liberdade. Bye Bye Johnny!
*Texto
originalmente publicado no fanzine Give Peace a Chance, nº
14. 8 dez./1985.