O Rock não tem mais memória, então um blues para Paul Kossof
(Mário Pacheco*)

     Na metade de 1968, Alexis Corner, o pai do blues inglês, apadrinhou, orientou e os batizou de FREE, terminando por arrumar um contrato com a gravadora Island. Eram quatro músicos jovens e extraordinariamente talentosos, voltados para um mesmo interesse: tocar velhos blues dos mestres e canções próprias, o fruto desse trabalho seria FREE, composto por: Paul Rodgers, 19 anos, vocalista de voz negra e possante; Andy Fraser, 16 anos, baixista e um ex-Bluesbreaker de John Mayall; Simon Kirke, 20 anos, baterista e Paul Kossof, 18 anos, guitarrista.

     Depois do encontro com Alexis, o Free abandonaria o circuito de clubs e boates, para percorrer uma trilha acidentada na estrada do rock e do sucesso. No início seriam acusados de mera cópia do Cream, e chegariam mesmo a abrir uma apresentação do supergrupo, BLIND FAITH, do qual Eric Clapton era o guitarrista.

     A guitarra explosiva e suja de Paul Kossof, tornaria-se a marca registrada da banda ao lado da voz de Paul Rodgers. Paul Kossof estava mais interessado em tirar um som cheio de felling, desprezando a técnica, mas no seu estilo simples e econômico, não muito rápido apresentaria uma técnica de vibrato, que impressionaria, Eric Clapton, que reconhecera em Paul Kossof uma nova promessa para o instrumento.

     Durante a adolescência, Paul Kossof   adquiriu uma doença incurável, resultada pelo uso excessivo de drogas em especial a heroína, com a primeira dissolução do Free, ele participa das gravações do 1º LP solo de Jim Capaldi (ex-baterista do Traffic) e grava um Lp pela Island, com o seu amigo Kirke Simon, era 1971.

     No início de 1972, Andy Fraser, procura ouvir seus amigos e após dois meses de muita indecisão, eles estão de volta com a missão de tirarem Paul Kossof do abismo das drogas que ele se metera com o término da banda. Acabam fracassando, ainda preso às drogas, Paul Kossof se torna um problema que atinge a todos, uma série de concertos são cancelados, quando em um simples teste de som, Koss desequilibra-se, cai do palco e quebra o pé. Com a situação de anti-profissionalismo, Andy Fraser se retira do gurpo e Paul Rodgers assume a liderança e a guitarra gravando com Paul Kossof quando este consegue chegar num palco ou estúdio, assim lançam Heartbreaker, em 1973, que seria o último disco do Free, onde Paul Kossof é tratado como convidado especial. Em setembro de 1975, Paul Kossof, permaneceu "morto", por meia hora quando seus pulmões, rins e coração pararam subitamente de funcionar. Admiravelmente recuperado, relembrou a época que ficava em casa enchendo o corpo de veneno rodeado por amigos, sem perspectiva em relação à sua carreira, deixando de tocar guitarra: não entendia porque as pessoas queriam me ouvir, se existiam milhões de guitarristas melhores do que eu.

     Recém terminadas as gravações do 2º LP do grupo Back Street Crawler em um vôo de Los Angeles para New York, onde iria descansar e acertar uma excursão, acabou falecendo numa poltrona onde dormia calmamente, vítima do segundo e fatal enfarte.

     19 de março de 1976, assim o rock inglês perdia um mestre e a chance de rever novamente o original FREE, mostrando a garra e originalidade de suas apresentações.

 


Randy Rhoads, um verdadeiro mago 
(Mário Pacheco)
            
  

     Escrever ou pagar qualquer tributo a Randy Rhoads, é desnecessário, tudo o que poderia ser dito ou escrito já foi realizado ou abordado, e o tributo já foi pago na pessoa do amigo e ídolo Ozzy Osbourne.

      Por que passados cincos anos molesto essa ferida mal cicatrizada?

     Inesperadamente o seu fenomenal talento, extinguiu-se num desastre aéreo, partindo aos 25 anos. Oriundo de uma família musical, o interesse pela guitarra surgiu aos sete anos, tornando-se a extensão de suas mãos, elo e principal inspiração de sua curta existência.

     O registro marcante de suas fotos é a tristeza captada pelas lentes, e o único lugar onde Randy Rhoads se sentia bem era no palco, onde rodeado pela platéia, vivia o seu momento de glória e felicidade.

     Grande responsável pelo meteórico sucesso do Blizzard of Ozz, adquiriu o respeito dos críticos e o carinho eterno dos fãs.

     A influência clássica de seus líricos dedilhados vinha de Vivaldi; a essência do hard rock foi captada através de Leslie West (guitarrista do Mountain) e a segurança e sucesso conheceu na presença de Osbourne, depois de peregrinar por vários anos pelo circuito de clubes em Los Angeles com o Original Quiet Riot.

     A arte de tocar

     Era uma confissão da sua alma atormentada, executando riffs selvagens, ferinos e irados ou transformando arranques em melodias cristalinas dando uma nova dimensão ao heavy-metal, se tornando o mais fino guitarrista nesse estilo.

     Ouvir "Diary of Madman", é encontrar o guitarrista que você sempre quis ouvir dando uma aula, mostrando o prazer especial que um músico sente ao conceber uma obra de arte, duro mesmo é abrir os olhos e saber que ele não está mais aqui para brindar-nos com o seu talento.

     Randy Rhoads & Paul Kossof, duas mortes prematuras na tenra idade de 25 anos, no mesmo dia e mês (19 mar. / 1982), ocorridas nas alturas, eles nunca estarão sós, pois o talento eterno de ambos tem o brilho das estrelas para ofuscar as suas partidas..

     *Textos originalmente publicados no fanzine Rock'n'Roll News, nº 17, 31 mar. / 1987. 5º aniversário