Reconhecimento
justo e tardio de uma artista
(Caroline Menezes*)
Bem
nascida, fina, inteligente, culta, autêntica, sedutora
e adúltera. Estas são algumas das características
atribuídas à escultora Maria Martins (1895-1973).
Talvez o último adjetivo seja um dos motivos que levaram
sua trajtória a permanecer por tantas décadas
no limbo historiográfico. A escritora Ana Arruda Callado
tomou para si a missão de completar esta lacuna nos registros
das artes plásticas nacionais. "Maria Martins: uma
biografia" relata a vida desta mulher que injustamente
se tornou mais célebre pelos amantes famosos, como o
artista Marcel Duchamp, que pela virtuosa produção
artística.
Ana mergulhou
em uma ampla pesquisa no esforço de recuperar dados sobre
sua personagem. Escolheu traçar um panorama de fatos
relevantes no Brasil e no mundo, muitos dos quais Maria Martins
participou, como filha de político (o senador João
Luiz Alves) e mulher de embaixador (Carlos Martins). Num relato
competente, Ana narra minuciosoamente as atitudes vigorosas
da envolvente Maria. O livro é bem-sucedido na intenção
de prover informações sobre a figura histórica,
mas os sentimentos que moviam ações tão
intensas não são presentados com tanta clareza.
A riqueza de detalhes sobre a época, ambiente e pessoas
importantes que a cercavam não revela os mistérios
que a envolviam.
Além
de preservar os segredos a faceta libertina de Maria, o livro
não responde a perguntas como: o que se passava na mente
de uma moça da high society que descobre ser artista?
Ou que questões alimentavam seu imaginário para
criar obras tão densas, que até hoje intrigam
os críticos? A compreensão de tais enigmas fica
reservada ao deleite estético da produção
de Maria Martins.