Fluxus
rompeu conceitos
(Nahima Maciel*)
Fluxus
foi e continua sendo um movimento artístico de difícil
definição. Cronologicamente, aconteceu um pouco
antes da pop-art e foi interpretado como um movimento de ruptura
com os conceitos artísticos vigentes na época.
Precedido e influenciado pela música experimental e poesia
concreta, o Fluxus acabou originando a arte conceitual e o minimalismo.
O Fluxus nasceu em Nova York,
em 1961, quando o lituano George Maciunas organizou concertos
e idealizou a revista que levaria o nome do movimento. Maciunas
foi o responsável pelo planejamento das apresentações
e performances. Dos Estados Unidos, o Fluxus foi para a Alemanha.
Também chegou a atingir alguns grupos artísticos
orientais, no Japão e na Coréia.
Mas o movimento nunca teve uma
definição clara. Os críticos apenas sabiam
que não carregava nada de tradicional e que não
podia ser classificado e caracterizado como um movimento artístico
no sentido completo. O Fluxus nada construía e mais parecia
destruir conceitos para criar outros, como a posterior arte
conceitual. Alguns estudiosos o rotularam de "aestético"
e dele participavam desde músicos e atores até
artistas plásticos. O que mais caracterizava as apresentações
era a diversidade de linguagens e a interação
com o público.
Não havia, por exemplo, a preocupação de
registro ou codificação das obras de ate. Nem,
em alguns casos, a própria obra de arte. Uma performance,
como a realizada pelo músico John Cage que, em uma apresentação,
sentou-se ao piano, ficou alguns minutos em silêncio e
foi embora, era uma manifestação Fluxus. Somente
agora, 30 anos depois, o movimento começa a ser definido.
O crítico Robert Watts ironizava: "A coisa mais
importante sobre Fluxus é que ninguém sabe o que
ele é".
*TEXTO
ORIGINALMENTE PUBLICADO NO 'CORREIO BRAZILIENSE' - 30 ago. /
1998.
Fluxus
abriu novas perspectivas
(Joseana Paganini*)
Movimento
surgido durante a década de 60, que teve Yoko Ono como
uma das fundadoras, influenciou a vanguarda artística
por mais de 30 anos.
O
movimento Fluxus, do qual Yoko Ono foi uma das fundadoras, surgiu
em Nova York, na década de 60, e em seguida conquistou
adeptos também na Europa e no Japão. A série
de performances organizadas por George Maciunas em sua AG Gallery
de Madison Avenue, em Manhattan (1961), é considerada
o marco inicial desse movimento que viria a influenciar o desenvolvimento
da vanguarda artística por mais de 30 anos.
Ainda sob os influxos do modernismo,
seguindo o caminho aberto por Marcel Duchamp e seu 'ready-made',
os integrantes do Fluxus se inserem na linhagem da arte conceitual,
ao propor que a arte supere as meras formulações
estéticas, assumindo também o seu papel ético.
Para isso, é necessário que artista e principalmente
a obra estabeleçam um diálogo com espectador,
deixando de lado a exigência do tradicional distanciamento
entre os participantes da experiência artística.
A arte deveria, então, se aproximar do público
e da vida cotidiana, extraindo conceitos da filosofia, da sociologia,
das ciências ou de qualquer outra matéria extra-artística,
para expressar uma crítica social e política.
No plano da linguagem, essa inspiração
conceitual se manifesta na incorporação de todos
os meios de expressão, artísticos e não-artísticos,
em uma concepção multimídia. Música,
vídeo, película, poesia, objetos, quadros, fotografias,
publicidade, tudo se mistura em um jogo permanente de combinação
e fusão, no qual o mais importante não é
o resultado estético, mas a idéia e o gesto engajado
que resultou dela. Daí, a defesa dos integrantes do Fluxo
do ato performático, que presentifica e dá vida
a um conceito, obrigando o espectador a se envolver com a situação.
Como Duchamp, os integrantes do
Fluxus batem de frente com o princípio de arte como instituição,
imortalizada e petrificada em museus. Para
eles, a arte não é apenas um processo e uma técnica
que desvincula um objeto da realidade cotidiana, alçando-o,
pela criação estética, a um plano quase
sagrado. O que buscam, na verdade, é a "antiarte",
uma "atitude", mesmo que a manifestação
estética dessa atitude seja efêmera. Desmistificando
a sacralidade da arte, os artistas do Fluxus pretendiam desmistificar
a sociedade.
Com isso, mais do que um movimento,
o Fluxus marcou uma sensibilidade, um posicionamento diante
do mundo, um modo de fundir posturas sociais e políticas
radicais com a criação artística.
*TEXTO
ORIGINALMENTE PUBLICADO NO 'JORNAL DE BRASÍLIA' - 21
out. / 1998.