Pirataria Made in Brazil
(Mário Pacheco)
Geralmente as edições nacionais eram do tipo ladrão
que rouba ladrão... Só que ao contrário
do ditado algumas vezes não eram perdoados
Na aurora dos anos 80, o acesso
aos amplificadores Marshall, guitarras, livros e discos importados
era muito restrito. Não existia a globalização
e Internet.
Então, surge no mercado
de discos, cópias nacionais de Lps importados de bandas
como Venon e o jovem Metallica ("Garage Days").
"Tickler" do Kiss (então
em alta entre nós), foi o primeiro pirata nacional a
despertar a pulga, um fã ao conseguir o pirata original
confirmou a fraude.
Depois vieram "Australian
Tapes" do grupo AC/DC, Iron Maiden tocando Jethro Tull...
ETC
Outro fã do grupo Sepultura
vivia ameaçando a Cogumelo Records que lançaria
"Live in Hammersmith Odeon", dito feito, este mesmo
fã teve que responder
a processo.
O caso mais conhecido ficou por
conta do pirata do U2 "Two sides Live", um disco ao
vivo confuso que também rendeu processo, a juíza
determinou uma pesada multa em caso de reincidência. Não
adiantou juntar aos autos, uma carta do fã clube inglês
da banda que dizia que todas as apresentações
do U2 deveriam ser lançadas...
Led Zeppelin teve dois piratas
lançados, geralmente as extensas apresentações
ao vivo era resumidas no máximo a 35 minutos. "Evening:
fall of a Day" o logotipo da gravadora Swan Song vinha
impresso na capa numa serigrafia muito pobre.
Pink Floyd ("Floyds of London")
e King Crimson ("Heretic) tiveram capas mais elaboradas
imitando os originas que registravam apresentações
ao vivo na
Radio BBC. Infelizmente o vinil era reutilizado, e muitas vezes
estes discos apresentavam bolhas e furos...
Os Beatles a banda mais pirateada
do circuito teve vários discos lançados. O preço
era especial para fã clubes, apesar da baixa qualidade
estes discos custavam três vezes mais, e olha que disco
nos anos 80 era caríssimo com os preços sendo
reajustados quinzenalmente. Entre os títulos dos Beatles
deestavam "Decca Tapes", "Shout", (que supostamente
trazia um encontro entre beatles e membros dos stones em duas
faixas) este mereceu resenha até na revista Veja!
E pensar que quem começou
tudo isso foi um jovem chamado Big Boy com seu ..and the Beatles
were Born... um álbum da capa vermelha com letras brancas
e um lado 'B' dedicado a clássicos da contracultura.
AGORA PARA
NOSSO REGOZIJO UM RELATO ÍNTIMO QUE NÃO DEIXA
PEDRA SOBRE PEDRA
AO CONTRÁRIO DAS COMUNIDADES
NO ORKUT QUE TENTAM TAMPAR O SOL COM A PENEIRA
por: Antonio Celso Barbieri
Londres.
Eu posso dizer estive metido bem no meio do rolo todo...
A história daria um pequeno
livro e, sem os nomes fica um pouco chata mas acho que dá
para contar resumidamente...
Eu fui talvez o primeiro a vender
camisetas de rock em grande escala. Isto foi em 1980/81. Eu
supria o mais importante fan club dos Beatles da época
que, por segurança, vou chamar de "Revolver".
Um dia fui lá entregar um pedido e vi este japonês
meio gordo e sem pescoço mostrando ao dono, para aprovação,
a arte da capa de um pirata dos Beatles. O dono do fan club
tentava esconder a coisa mas o japonês não estava
nem ai. Enquanto o dono deu uma
bobeada, passei meu endereço para o japonês. Uma
semana depois, o japonês bateu na minha porta. Tudo indica
que o responsável pelo fan club tinha usado uma música
de um fã club do Rio de Janeiro sem autorização
e a dona do mesmo cancelou o pedido de umas 500 cópias.
O "Revolver" ficou então sem dinheiro para
pagar a produção e o japonês estava com
o porta-malas do carro cheio de discos. Queria ajuda para vendê-los.
Naquele mesmo dia vendemos mais de 200 cópias pois eu
conhecia todo mundo, todos os sebos. O japonês foi apresentado
por mim para todos os principais donos de lojinhas e sebos da
cidade de São Paulo. No mesmo mês o japonês
me perguntou se eu tinha alguma idéia interessante. Eu
supria camisetas para o subsolo das Grandes Galerias que era
o território dos blacks. Sabia que o povo estava pagando
a maior grana por uma fita cassete que continha só duas
músicas consideradas raríssimas nos bailes blacks.
Foi então que lançamos possivelmente o primeiro
pirata racial brasileiro. O pirata tinha uma música de
cada lado, possuia capa preta e o vinil era vermelho com um
selo dizendo "Harlem Records". Na verdade, eu fui
passado para trás rapidamente e o japonês passou
a negociar direto não só com os blacks mas também
com todos os donos dos sebos e lojinhas. O japonês só
tinha trabalhado até aquele momento pirateando para a
colônia japonesa. Ele tinha um acordo com uma prensadora
pequena que nunca fazia perguntas. Depois desta primeira aventura
com os blacks, conforme sugestão dos lojistas dos sebos,
o japonês lançou dezenas de piratas indo de Led
Zeppelin a Frank Zappa, passando por Stones, etc. Alguns lojistas
não resistiram a tentação de lançar
através do japonês seus próprios piratas...
foi o caso do U2. Um outro lojista foi muito mais audacioso
e "clonou" albums oficiais de bandas como Metallica,
Exciter, Venon e outros. Na verdade este lojista chegou até
a visitar Londres várias vezes e negociar oficialmente
os direitos e alguns albuns direto com a gravadora para depois,
lançar quase o cátalogo todo.
Bom, o povo foi ficando cada
vez mais descuidado e mesquinhos até que possivelmente
um acabou dedando o outro. A polícia bateu nas Grandes
Galerias e levou tudo e mais alguma coisa. Até os discos
importados (por debaixo do pano) dançaram, foi o maior
prejuízo. Um dos mais importantes lojistas foi preso
e teve que morrer com uns 2.000 dólares para ser liberado
e só foi salvo porque o japonês corajosamente foi
na polícia e assumiu responsabilidade por tudo.
Não mais que 1 ano depois, o
dono do "Revolver" e o japonês estiveram envolvindos
no maior escândalo nacional com a "clonagem"
do álbum "Triller" de Michael Jackson. Eles
estavam prensando em massa e vendendo direto para as distribuidoras
e atacadistas que por mesquinharia acabaram vendendo para as
lojas mais barato do que o preço de custo oferecido pela
garavadora original...
A polícia por sua vez descobriu
que havia muita grana para ser ganha com a Galeria do Rock e
fizeram várias visitas às lojas fazendo a vida
do povo muito difícil e só terminou quando um
grupo de lojistas teve, na época, uma conversa com o
Secretário Estadual da Cultura.
escreva p/ Antonio
Celso Barbieri