Oscar Janiger

Pioneiro em LSD morre aos 83 anos em Bervely Hills
(Mário Pacheco)


Ironicamente, enquanto a atividade com drogas psicodélicas em São Francisco e na Costa Leste atraía manchetes sensacionalistas, o grupo silencioso e metiucloso de Janiger permaneceu na penumbra, seguindo a tradição das seitas secretas que mantiveram o espírito transcendental vivo através da História da Humanidade. Timothy Leary    

     Oscar Janiger, um psiquiatra de Bervely Hills que "excitou" diversas celebridades de Hollywood fazendo-as experimentar a droga Lsd nos anos 50 e 60, morreu na quinta-feira aos 83 anos. (17 agosto de 2001).

     Janiger sofreu uma falha de rim e coração, disse a porta-voz do psiquiatra, Laurie Hanley. Ele continuou praticando seus deveres até poucas semanas antes de sua morte.

     De 1952 até 1962 - quatro anos antes de o LSD ser declarado ilegal - Janiger foi um dos pesquisadores do potencial da droga, tida com o capaz de aumentar o intelecto e a criatividade.

     Ele incorporou o LSD em sua terapia e a distribuiu a cerca de mil voluntários incluindo o escritor Aldous Huxley, a escritora Anais Nin, os atores Cary Grant e Jack Nicholson e o maestro-compositor Andre Previn. Janiger disse diversas vezes que estava particularmente interessado na habilidade dos artistas em acenar um estado de consciência alterado usando sua "pílula da criatividade", a qual ele chamava de "maravilhoso instrumento de conhecer mais a mente".

     Muito embora sua pesquisa pré-datou Timothy Leary, nunca foi amplamente reconhecido por não publicar sua data.

 

O expoente máximo
(Mário Pacheco)

 

     O objetivo de Hofmann era estudar a utilização da droga como estimulante do sistema circulatório. A pesquisa com a substância foi deixada de lado pela indústria química e farmacêutica Sandoz, onde Hofmann trabalhava, porque os resultados desejados não puderam ser obtidos em experiências com animais.
     Cinco anos depois da descoberta, em 16 de abril de 1943, Hofmann repetiu a síntese do LSD-25, mas foi forçado a suspender seu trabalho e voltar para casa por causa de “um estado de intoxicação não desagradável, caracterizado por uma imaginação extremamente estimulada”. A droga provocou alucinações por cerca de duas horas, mas o pesquisador só relacionou a viagem à substância três dias depois, quando resolveu estudar os inesperados efeitos mentais dessa droga. De volta ao laboratório, ele ingeriu 200 microgramas de ácido lisérgico, o que provocou novas e mais intensas experiências alucinatórias. Sentindo-se muito desorientado, retornou para casa mais uma vez. Viu-se, segundo sua própria descrição, imerso “em outra realidade”.      As cores misturavam-se, seu corpo parecia abandonado. Flutuava no espaço. “Pensei que estivesse louco”. O cientista Albert Hofmann relata uma das mais memoráveis corridas de bicicleta da história: “Sentia algo estranho. As cores haviam mudado, as paredes haviam mudado, meu humor havia mudado. Ao fechar os olhos, comecei a ter belíssimas fantasias”. Hoje, sabe-se que uma dose apenas de 20 microgramas de LSD é suficiente para provocar um efeito que pode durar até dez horas. A dose usual é de 50 a 100 microgramas (um micrograma é igual a um milésimo de miligrama). O LSD é incolor, não tem gosto nem cheiro. Altamente potente, é tomado em doses microscópicas. Uma das características mais intrigantes do LSD é a pequeníssima quantidade capaz de causar efeitos. Uma onça, apenas, de LSD fornece cerca de 300 mil doses, e alguns quilos seriam suficientes para, depositados num reservatório de água potável, envolver toda uma grande cidade em seus efeitos. Sua ação psíquica assemelha-se à de outros alucinógenos, como a mescalina, extraída de um cacto mexicano, o peiote ou a psilocibina, extraída de um cogumelo.
     Não se injeta em veias tumefactas e calosas, Não se engole pesadamente, não se aspira com sofreguidão, o LSD penetra no organismo por absorção da pele ou através de um minúsculo cristal e pode ser administrado em injeções ou pílulas. Devido à sua falta de cor, cheiro e gosto, pode ser dissimulado em torrões de açúcar ou misturado à água e ingerido inadvertidamente por qualquer pessoa. Muitos usaram involuntariamente, já que a droga pode contaminar ou ser facilmente colocada em alimentos ou bebidas.
     E a sua utilização ficou restrita aos laboratórios de pesquisa até o início da década de 60, quando a droga passou a ser usada pelas agências de espionagem e divulgada por Timothy Leary que sempre se preocupou quanto as acomodações para suas experiências.
Hofmann criticou a vulgarização do uso do LSD. Segundo ele, a droga deveria ser usada com cuidados especiais. Comparando o uso da substância com o das drogas preparadas pelos índios, o pesquisador chegou à conclusão que eles só as tomavam quando fornecidas pelo curandeiro da tribo, que acompanhava todo o ritual. “Mas os hippies e as pessoas em geral tomavam LSD em qualquer lugar - em uma discoteca, por exemplo - sem estar preparados. Começou a acontecer aquilo que os índios mexicanos, que há séculos de dedicam ao culto da carne dos deuses ou carne do diabo e ingerem alucinógenos em seus rituais religiosos, sabiam. Os que utilizavam a droga se tornavam loucos, acabavam em hospitais, em clínicas psiquiátricas”, disse Hofmann.
     Apesar do LSD ser pesquisado há cerca de 40 anos, os cientistas ainda não chegaram a uma conclusão sobre a maneira como essa droga age sobre o sistema nervoso central. Não se sabe com exatidão sua maneira de atuar no cérebro. Parece que interfere em todas as funções cerebrais que recebem e elaboram para a consciência as informações dos sentidos. É certo que inibe a produção das enzimas que regulam o suprimento de glicose às células cerebrais. Outras substâncias, contudo, fazem o mesmo, sem provocar os poderosos efeitos do LSD, o que leva a crer que este possua outras profundas consequências: seu uso caiu muito depois que pesquisas mostraram seus efeitos extremamente nocivos, mesmo após uma única dose, e que poderiam deixar consequências para o resto da vida.
     Segundo Elizaldo Carlini que pertenceu ao Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina, o Lsd atua sobre várias áreas receptoras de estímulos do cérebro, mas seu mecanismo de ação nesse órgão ainda é desconhecido.
A sinestesia (fusão dos sentidos) é um desses mecanismo de ação, seu efeito consiste na mistura dos sentidos, a pessoa “vê” sons, “saboreia” cores.      O estímulo que atua sobre um canal sensorial parece evocar imagens de outro canal tão prontamente como se fossem sensações do mesmo “modo” - visão com os ouvidos e audição com os olhos. O mecanismo da sinestesia ocupou o centro de um dos grandes problemas que marcaram o psicodelismo, a ligação entre o rock e as drogas.
     “Em Music and Communication, Terence McLaughlin define a sinestesia como ‘qualquer erro do cérebro em sua interpretação da massa de dados sensoriais que nossos olhos, ouvidos, órgãos do tato, etc., estão continuamente enviando para os centros cerebrais’. Na vida ‘normal’ - naquilo que Freud adequadamente chamou de psicopatologia do cotidiano - a sinestesia se manifesta sob a forma de pequenas alucinações, como a sensação muito comum de queda física que se tem ao adormecer. Essas pequenas manifestações são, de certa forma, o equivalente, no plano sensorial, dos atos-falhos e lapsos-de-linguagem que Freud observou em seus estudos do comportamento humano. Prossegue McLaughlin: ‘É provável que as drogas psicotrópicas como o Lsd ajam, pelo menos parcialmente, inibindo a ação dos censores mentais que nos impedem de dar atenção a nossas visões.      Em vez de ignorar as semelhanças ocasionais entre as impressões sensoriais, ou de reprimi-las de nossas mentes conscientes, tais drogas induzem as pessoas a um interesse renovado por tais fenômenos. Certamente a sinestesia é um dos efeitos das drogas comumente observados, entre outras alucinações. A associação sinestésica entre a música e os outros modos sensoriais há muito tempo vem sendo reconhecida e discutida”.
     O LSD é o mais eficiente psicodélico que se conhece, nova designação para substâncias, como a mescalina, que possuem a propriedade de liberar o inconsciente, ampliar a área da consciência e modificar a recepção dos estímulos sensoriais pelo cérebro. Também, ao contrário dos tóxicos, o Lsd não cria hábito e não prejudica o organismo, se administrado a pessoa física e mentalmente saudáveis.
     A viagem, como a chamam os apreciadores dos efeitos do LSD, passa por quatro etapas principais. A primeira, logo depois de ingerida a dose, dura de meia hora a 45 minutos. Se, ao invés de ingerida, a dose for injetada na corrente sanguínea, os efeitos se manifestarão mais rapidamente. Verificam-se ligeiras náuseas, algumas angústia, dilatação da pupila, taquicardia e outras reações do organismo - que, porém, cessam completamente na fase seguinte.
     Esta é a experiência propriamente dita. Dura de quatro a oito horas e consiste em ilusões sensoriais a que se tem chamado, não muito propriamente, de alucinações, pois o efeito do LSD não anula a consciência. O paciente sabe o que vê, embora as coisas ganhem para ele um significado diferente do habitual. Espaço e, principalmente, tempo passam a não ter importância. Desenvolve-se uma especial sensibilidade para as cores, que parecem mais vivas e mais belas. Muitos se sentem mergulhados num estado de inocência e pureza infantis; alguns experimentam uma sensação de regressão ao estado fetal e outros revivem experiências infantis ou emocionais de importância particular de suas vidas. O estado emocional é transformado, geralmente para uma desinibida euforia, que provoca um riso fácil e abundante. Verificam-se certo descontrole no sistema muscular e acelerado processo de ideação, com um fluir muito rápido de idéias e a sensação de uma grande lucidez. Ao contrário do que acontece na embriaguez alcoólica ou no uso de tóxicos, como a morfina, heroína ou cocaína, essa lucidez não é apenas aparente, pois pode ser integrada na consciência do indivíduo, o que permite o emprego do LSD no tratamento do alcoolismo e psicoses indeterminadas (Lauaria).
     As mudanças de personalidade são frequentes e as condições psíquicas de cada indivíduo, sob a ação do LSD, podem originar uma série de manifestações imprevisíveis. Muitos vêem as pessoas, ou a si próprios, como outras pessoas. Uma dose exagerada ou, mesmo, uma moderada, em psicóticos, pode conduzir a estados aterradores, de medo absoluto e sensação de morte iminente. A bad trip é vulgar em psiconautas com psicoses tendenciais e é um autêntico furacão a devastar o ego.
     A terceira fase é de recuperação do transe. Pode durar diversas horas e durante elas o paciente atravessa sucessivamente períodos em que se sente, de novo, perfeitamente normal, e períodos em que se manifesta o transe do Lsd. A quarta e última fase, que dura até vinte e quatro horas depois ou mais, é de fadiga, fome e, frequentemente, tensão nervosa.
     Muitas vezes, principalmente quando usado por psicóticos, o LSD tem efeitos de grande duração e provoca reações alucinogênicas que podem voltar até três meses depois de tomada a dose. Novas doses não são necessárias: o simples fato de assistir outro em transe pode provocar essas reações.
     “Um novaiorquino narrou, para a revista americana The New Republic, suas duas primeiras viagens com o LSD. A primeira forneceu-lhe um verdadeiro carnaval de sensações maravilhosas. As cores e as visões que tinham eram tão indescritivelmente belas que ele soluçava de alegria: ‘Oh, meu Deus, como é adorável, como é maravilhoso, como é belo o que vejo’. Palácios de cristal estendiam-se por quilômetros de veludo. Seu corpo parecia dissolver-se em mel e prata. Viu um Buda de bronze começar a viver e ouviu uma gravação de Ella Fitzgerald, My Ship, de uma forma tão maravilhosa, que entregaria a alma para ouvi-la de novo da mesma maneira. Finda a viagem, foi pra casa e dormiu tranquilamente. Estava certo de ter descoberto um novo mundo.
     (...) Um mês mais tarde, fez sua segunda viagem. Esta, porém, foi diferente. Eis como ele narrou: ‘... A face de meu guia mudou. Ficou abstrata, reduzida a uma série de planos. Seus olhos fecharam. No seu rosto, havia uma indiferença perfeita, uma paz total. Uma auréola de luz prateada envolvia-lhe a cabeça. Entre seus olhos, um pouco acima do nível de seus olhos, vi o terceiro olho, o olho da alma. O quarto escureceu e a música silenciou. Eu estava deitado de costas no chão. O próprio quarto desapareceu, e senti que estava afundando, afundando, afundando cada vez mais. De longe ouvi muito fracamente uma palavra: morte. Afundei mais, sentia que caía da Terra a uma distância de milhões de anos-luz. E ouvi a palavra cada vez mais forte e mais insistente. Tomou forma, envolveu-me, fechou-me, Morte... Morte... Morte. Pensei nos olhos de meu pai em seus últimos momentos. Finalmente, diante de minha própria morte, gritei Não! Terror absoluto. Horror total. Com imenso esforço, tentei erguer-me novamente de volta à vida. Pareceu que levei uma eternidade’.
     (...) No quarto, ele tremia em convulsões violentas. Mais tarde, contou a terrível viagem a Richard Alpert, dizendo-lhe: ‘Eu só queria sair dali, terminar a experiência’. O sacerdote do LSD encarou-o fixamente e perguntou: ‘Você tem certeza?’.
     (...) Em 1962, o escritor Paulo Mendes Campos relatou uma experiência com o LSD, que estava sendo conhecido, em todo o mundo, como uma droga mais poderosa do que a própria mescalina.
     (...) Depois a descoberta transformou-se em moda. Enquanto, por um lado, médicos investigavam as suas qualidades terapêuticas, por outro, artistas e intelectuais passaram a usá-lo para estimular sua capacidade criadora. Em Nova York, o poeta Allen Ginsberg liderou um movimento de opinião que reivindicava a liberação legal do LSD e da marijuana, que, como o primeiro, é um psicodélico, embora bem mais fraco. Os resultados foram surpreendentes e, para as autoridades norte-americanas, assustadores.
     (...) O LSD foi produzido e traficado clandestinamente, como se fosse um tóxico, segundo uma pesquisa do Instituto Gallup, nos Estados Unidos, o número de usuários, entre estudantes de universidades, quadruplicou entre 1967 e 1969. 20 a 30% da juventude universitária norte-americana tomava Lsd como quem fuma um cigarro. Nos Estados Unidos, como em vários outros países do mundo, o LSD era a onda. Em Greenwich Village, era a maneira in de take off. Estudantes de vinte e uma escolas de Nova York, possuíam seus próprios laboratórios para o fabrico de LSD misturado a tóxicos. A administração de Alimentos e Drogas e o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos abriram campanha contra a droga e provocaram uma retração da única empresa que o fabricava legalmente, a Sandoz Pharmaceuticals, Inc. A verdade é que, nos Estados Unidos, o LSD começou a substituir a marijuana, a heroína e a cocaína, todas elas postas na ilegalidade”.
     Menos pelo aspecto quantitativo embora largamente consumido o LSD foi, acima de qualquer outra, a droga da década: em torno de seus efeitos articulou-se uma rede de discursos psiquiátricos ou “anti-psiquiátricos”, derivou de seu universo perceptivo e imagético uma série de espectros luminosos apresentando uma literatura e uma poesia revitalizadas pelas novas cores da consciência filtradas por um canal espansor enigmático e indecifrável, no rock o volume nunca foi tão alto, nas telas, roupas e películas a cultura do surreal. Após anos de bolor e poeira, as cores alegraram e edificaram o psicodelismo. A respeito da reserva do inconsciente, tratados, livros e enciclopédias justificaram explorações e explicações “filosóficas”,
acreditavam que a grande busca do jovem na década de 60 - livre de faixa etária, enquadração e consciente da inutilidade do serviço militar - estava “acorrentada” à política do êxtase, (nascida da angústia da Beat generation) e que consistia na exploração sistemática de efeitos sinestésicos, afirmando o Princípio do Prazer sobre o Princípio da Realidade.
     A descoberta das virtudes e vicissitudes lisérgicas originaram verdadeiros cultos frequentemente de inclinações místicas e orientalistas. Se o ópio, o haxixe, a cocaína e até a mescalina já possuíam uma galeria de notáveis experimentadores e explicadores - Charles Baudelaire, Thomas de Quincey, Jean Cocteau, Walter Benjamim, Sigmund Freud, Conan Doyle, e o próprio Huxley - a droga do doutor Hoffmann produziria os seus intelectuais, que se notabilizariam pela divulgação de um certo irracionalismo arrazoado, de tendência libertária, contracultural e pacifista.
     Para fazer frente ao aumento do uso de Lsd, as autoridades norte-americanas começaram a empregar contra ele a mesma solução que, há anos, vinha empregando, sem nenhum resultado positivo, contra os tóxicos, isto é, a repressão policial. O promotor público Aaron Koota foi o líder da cruzada contra o LSD, mas, em Greenwich Village, as exposições passaram a ser de “pintura psicodélica” e o conjunto, The Turtles, afirmava tocar “música psicodélica”.
     Toda manifestação expressiva derivada do rock está voltada para essa superposição dos canais sensoriais. Os mais velhos têm dificuldade ou total impossibilidade de ler os pôsteres de rock, os programas de concertos, as ilustrações, e principalmente a nova linguagem usada nos textos dos jornais underground, os head-comix (quadrinhos-de-cuca), etc. Em termos de comunicação, é a cultura-em-mosaico tomando o lugar da tradicional cultura linear.
     Na revista Partisan Review, o ensaísta, Leslie Fiedller, escreve que a juventude americana começa a esposar um novo programa de vida, anti-puritano, hedonista e tendenciosos à indiferença. “Da maneira que o liberalismo de hoje é o LSD dos velhos, o LSD é o radicalismo dos mais jovens”. Onde não existiam outras formas de ser radical, a aventura interior do transe do LSD era a possibilidade de protesto.
     Uma dose de LSD custava, nos Estados Unidos, comprada das mãos de traficantes, cerca de US$ 5 dólares. Suas características - incolor, inodoro, insípido - dificultavam o trabalho dos detetives encarregados da repressão aos narcóticos. O LSD não exige seringas e, traficado sempre em pequeníssimas quantidades, era facilmente escondido. A repressão policial, na verdade, estimulou o tráfico clandestino e o uso cada vez maior da droga sem assistência médica, a qualidade do LSD declinou em compostos criminosamente casados com a estricnina (um veneno speed). Em 1968, em Amsterdam sabia-se a outra dimensão e os experimentadores tiveram uma dilatação da consciência quase inflacionaria.
     Na revista Science de 8 de maio de 1970, o Dr. S. Krippner denunciou que vinte por cento das amostras do LSD que se encontravam no mercado não eram LSD, e os potheads (viciados em marijuana) e os speedfreaks (adictos às anfetaminas) caíam no mesmo logro, que se paga caríssimo, já que habitualmente consumiam produtos impróprios; e nesse sentido podemos afirmar que toda a droga é perigosa.
     Apesar do apostolado de Timothy Leary, da justiça da revolta ética dos beats e, mesmo, da utilidade médica do LSD, a droga também pode ter consequências negativas. Sua ação constante pode fazer o cérebro descarregar uma substância orgânica ainda não identificada. Essa descarga pode provocar profundas mudanças na personalidade do indivíduo - que não serão, necessariamente, para melhor. Muitas pessoas, após o uso do LSD, sofrem violentas convulsões epiléticas. Em personalidades psicóticas, ele pode estimular o impulso ao suicídio. Em outras, provoca sensações de terror tão fortes que os tranquilizantes e barbitúricos são impotentes para curar. Só um controle cuidadoso seleciona as pessoas que podem experimentar, sem perigo de prejuízos sérios, uma viagem de LSD. De maneira geral, devem ser excluídos, em princípio, todos os que sofrem de enfermidades cardíacas ou hepáticas, os epiléticos, os que sofrem de personalidade instável e os portadores de tendências esquizóides.
     O LSD não é totalmente inócuo, como se ouve dizer: o Dr. L. Hirschhorn afirma que ataca ruinosamente os agrupamentos cromossomáticos e os reagrupa em direção a uma entropia leucémica. Os danos cromossômicos possivelmente diminuem a fertilidade e o aumento da incidência de abortos. Tal como a maconha, o Lsd não tem possibilidade cientifica de ser detectado no sangue dos viciados, mas os efeitos de uma trip de ácido, reversíveis, duram a vida inteira.
     Sabiamente administrado o LSD é um antídoto de qualidades comprovadas para a dor e outras drogas narcóticas, melhor até que a Ciclazocina. As outras qualidades positivas do LSD ainda não estão suficientemente estudadas. A mais propalada delas é sua possível faculdade de aumentar o poder do intelecto e de criação do homem. Dois recentes relatórios norte-americanos apresentaram a esse respeito resultados contraditórios. Um deles, fruto de experiências com estudantes universitários, afirma que o Lsd não tem influência sobre a capacidade intelectual. Outro, de observações entre escritores e artistas de talento, verificou um aumento de fertilidade criadora entre essas pessoas. Ao que parece, o LSD realmente não cria nada nem pode dar talento a quem não o tenha, mas possui um efeito liberatório.
     O importante fato de que o transe do LSD não suspende a consciência, mas fornece experiências que ela é capaz de aprender e assimilar, permite o seu emprego no tratamento dos alcoólatras e viciados em entorpecentes. As experiências do LSD são mais gratificantes do que as dos tóxicos, permitem a reflexão e a decisão para curar-se, indispensável no tratamento dos viciados. Embora não crie hábito, o LSD é mais potente do que qualquer tóxico. Essa vantagem, porém, acarreta num terrível perigo: seus efeitos são muito mais espantosos, para explorar os espaços psíquicos, descoberta por acaso pela ciência, o LSD pode ser o sintoma mais grave da crise da juventude moderna.


     *PUBLICADO NA REVISTA PSICODÉLICA “DE QUANDO O ROCK ERA CONTRACULTURA’ VOLUME I

 


LSD Contracultura tem sua hóstia proibida
(O Globo 2000)

     Em 1966 milhares de jovens de todos os Estados Unidos começaram a ir para São Francisco, na Califórnia, concentrando-se no bairro de Haight-Ashbury. Pés descalços, flores nos cabelos, eles celebravam a paz, faziam amor, ouviam rock. Tudo isso embalado a LSD, droga que proporcionava "viagens" alucinantes e que, a partir dali, ganharia o mundo. No entanto, o Governo americano estava atento ao uso e abuso daquele poderoso alucinógeno e nesse mesmo ano declarou-o ilegal. Tarde demais. O LSD já se tornara um símbolo da contracultura psicodélica.

     Apesar de ter-se tornado a hóstia do movimento hippie, o LSD, sigla em inglês para dietilamida do ácido lisérgico, tinha sido sintetizado muito antes, em 1938, pelo químico suíço Albert Hoffmann, a partir do Claviceps purpurea, um fungo que cresce no centeio. Em 1943, ao ingerir por acaso uma quantidade mínima, Hoffmann teve visões de cores brilhantes. Estava descoberto o poder alucinógeno do LSD: apenas meio miligrama embebido num torrão de aaçúcar proporcionava de oito a 10 horas de alterações na percepção de tempo e espaço. Ou uma "viagem", no linguajar hippie.

     A droga despertou a atenção de psiquiatras em busca de novas terapias e de intelectuais, como o escritor Aldous Huxley, interessados em explorar a mente humana para abrir-lhes as "portas da percepção". Em 1961, Ken Kesey, um desconhecido escritor, ofereceu-se como coabaia para os testes com o ácido realizados por psiquiatras da Universidade de Stanford, Califórnia, viajando a bordo de um ônibus escolar pintado com as cores berrantes que via sob efeito do LSD.

     Timothy Leary, professor de Psicologia Clínica da Universidade de Harvard, leitor de Huxley, também radicalizou em seus experimentos. Em 1963, distribuiu 3.500 doses a 400 alunos e acabou expulso da universidade, não pela distribuição da droga, mas por seu envolvimento com o misticismo que tomava conta dos adeptos do LSD. Quase todos que o experimentavam diziam-se mais próximos de Deus. Leary tornou-se guru e teórico da contracultura, mas acabou preso em 1966, por porte da droga tornada ilegal. Em 1967, ele anunciaria um recuo em suas experiências ao perceber que, à sua volta, as fantasias coloridas eram por vezes bad trips, "viagens" ruins, que levavam à demência e ao suicídio.

     *Textão caretão: "demência e suicídio"! Mas revelador: Claviceps purpurea!

Da Viagem de ácido ao pó
(Marcos Augusto Gonçalves*)

     O LSD inscrevia-se em um território bastante diferente daquele em que se dá o consumo das drogas na década de 80. Corria nas veias de uma contracultura de contestação. Associava-se a utopia hippie de rejeição ao real articulado pelo establishment. Tratava-se ali de explorar novos espaços para a consciência e a vida, de criar uma alternativa existencial dissociada dos padrões morais e produtivos da sociedade industrial, responsável pelo consumismo, pela adulteração dos alimentos, pela hipocrisia sexual, pela miséria, pela injustiça e, principalmente, pela violência e pela guerra.
     A demarcação deste território se fazia, como é comum, através de uma coleção de atitudes-signos, traços distintivos que simbolizavam inequivocamente esta disposição de estar à margem, de não entrar em sintonia, de delimitar distâncias e de torpedear o sistema de crenças dominante. “Não submeter-se”, diria o psiquiatra David Cooper. A droga surgia - o que não acontece hoje, ao menos com a mesma intensidade - como uma peça-chave desta função demarcadora. Viajar de ácido era um requisito quase obrigatório para que se abrissem as portas da percepção do admirável mundo novo da juventude do poder da flor. Ingerir uma dose de Lsd significava oficiar o rito de passagem da esfera tradicional e integrada à outra - a da negação alternativa. O mundo passou a ser dividido entre caretas e não caretas.
     É exemplar que no mitológico musical Hair, o rapaz bem-comportado, que vai para o Vietnã, tenha que usar o ácido para penetrar inteiramente no imaginário caleidoscópio do hippie way of life. Da mesma forma, a famosa virada musical dos Beatles, foi acompanhada pelos estímulos lisérgicos. Não são pouco os que distinguem na canção Lucy in the Sky with Diamonds as iniciais do ácido - paralelo feito no Brasil com o verso “sem lenço e sem documento”, de Caetano Veloso. Em uma auto-entrevista, feita na época, com o título de Entrevista, Caetano respondia à pergunta sobre o que achava do LSD com um trocadilho de efeito: uma boa droga.
     O caso dos rapazes ingleses é também em ilustrativo de uma outra especificidade do uso do alucinógeno na década de 60: sua vinculação à experiência mística. As associações entre ácido, gurus e doutrinas orientais são conhecidas. Esta circunstância recupera uma função ancestral do transe drogado, função sintomaticamente “pré-capitalista”, já que na sociedade moderna a droga tem autonomia face à religião - seu consumo é genericamente secularizado, mesmo que se tenham preservado resíduos de determinações religiosas.
     Apesar do modo como os saudosistas se referem ao fenômeno - com uma overdose de nostalgia e ressentimento - é uma constatação que os anos 80 representam uma espécie de retorno aos valores do desempenho, da produção, do consumo. Este reingresso na Ordem - que tem sutilezas que não comportam a redução a um simples processo de aderência desavisada - redefine as relações que cercam a droga. Basicamente as oposições droga versos desempenho, droga versos caretice, desfazem-se e reorganizam-se. Com a revalorização do desempenho e do trabalho profissionalizado - processo emblematizado pela caricatura yuppie - mudou a droga: o LSD ficou para os sixties como a cocaína está para os eighties.
     Se ao ácido se associavam a contemplação, o onirismo, a atitude estática e religiosa do retiro, a deformação perceptiva, a natureza e a idéia de viagem, associam-se à cocaína a atividade, o brilho, a megalópole em movimento, a verbalização, a ilusão da nitidez e a velocidade. A separação caretas e não caretas, tal como surgiu originalmente, já não diz muita coisa - como não dizem muito as designações esquerda e direita no campo da política. No bruhaha babélico informatizado dos oitenta a topografia dos rebeldes e integrados é multifacetada, menos definida, mais incorporativa do que excludente.
     Esta integração droga-trabalho, aparentemente careta, pode ser até mais perigosa para o sistema do que a visibilidade propiciada pelas tribos alternativas, circunscritas a regiões relativamente autônomas, mas sob controle. O pó rola nas engrenagens da máquina. É consumido na euforia ou no crack - por sinal nome de um supra-sumo químico da cocaína - da City e de Wall Street, entre negócios e automóveis de luxo. O fenômeno motivou uma reportagem de capa na revista Time, que trata com um certo alarmismo o aumento do consumo de droga no trabalho. Ameaçando internamente, e não menos alarmado, Mr. Reagan tenta sanear as repúblicas que trocaram as bananas pela coca. Margareth Thatcher ajuda. Mas a cocaína populariza-se. O preço torna-se mais acessível. Antes conhecido por poucos, o pó de pirlimpimpim está ao alcance das reinações de narizinho das multidões. É difícil reverter a situação. Mesmo para Rambo, não é uma tarefa das mais simples subir o morro Dona Marta da América do Sul - onde os países produtores enchem os bolsos com o lucro do tráfico e contam com o apoio de boa parte da população pobre, que planta, e da rica, que colhe.

     *PUBLICADO NA FOLHA DE SÃO PAULO, 22 DE MARÇO DE 1988 - ESPECIAL-5.

LSD, renasce moda dos anos 60
(Hoyt Coffee) DA UPI*

     Atlanta, setembro de 1987, Vinte anos depois, o LSD, o ácido alucinógeno usado pelos hippies dos anos 60 para viajar por um mundo de cores e sensações indescritíveis, voltou à cena, desta vez pelas mãos de adolescentes jovens demais para se lembrar de que havia um espinho na flor cultivada pela geração hippy que entreabriu as portas da percepção.
     “É tão perigoso que chega a assustar e fiquei realmente preocupado quando vi garotos envolvidos com a droga”, confessa o policial Larry Coleman, do município de Glynn, na Geórgia, que em julho de 1987 prendeu seis adolescentes com cerca de 300 doses de ácido - pequenos retângulos de mata-borrão saturados com LSD.
     Coleman diz que ficou um pouco surpreso ao descobrir a droga - e não é o único. A aparente ressurreição do LSD como droga popular entre os adolescentes norte-americanos estava começando a preocupar as autoridades, os pais e até mesmo os jovens, ignorantes do seu potencial destrutivo.
     “Há indícios de que laboratórios ilegais estão novamente produzindo a droga”, diz Don Dougherty, porta-voz da agência de combate às drogas, em Washington, “Não chegou ainda à proporção dos anos 60, mas tudo indica que sua popularidade estava crescendo”..


     Estrela azul

     A preocupação aumentou no inverno passado com a descoberta do “ácido estrela azul”, doses supostamente muito forte, de LSD em pedaços de mata-borrão com uma estrela azul impressa. Os rumores são de que a droga estava aparecendo em toda a parte, criando um “perigo iminente” para a juventude dos Estados Unidos.
     A maioria das autoridades não leva muito a sério os rumores e não se encontrou ainda evidência de estoques da droga sob essa forma. Contudo, tanto a polícia do município de Johnson, Kansas, como a de Gainesville, na Flórida, encontraram mais ou menos a essa época grandes quantidade de mata-borrão saturado de LSD com notas musicais impressas em vermelho. Em julho, a droga foi descoberta na Geórgia e aparecera mata-borrões com desenhos mais elegantes, um deles com um elaborado dragão vermelho chinês.
     Os pedaços de mata-borrão são do tamanho de um selo postal e há dezenas de desenhos diferentes impressos em cada folha picotada. Para tomar uma dose, basta destacar um retângulo e colocá-lo sob a língua, deixando o ácido ser absorvido pelo corpo. Os desenhos na folha de mata-borrão são uma indicação da potência da droga para o usuário com conhecimento das variedades em circulação.
     Margaret Cone, consultora do programa de saúde do Departamento de Recursos Humanos da Geórgia, diz que a crescente popularidade do LSD estava se evidenciando nos hospitais. “De repente, a gente se dá conta de que o LSD não é mais uma coisa do passado”, explica. “Nos últimos 18 meses eu percebi que aumentava o número de pessoas que buscavam tratamento em hospitais”.

     Nova mania?

     O Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas (INAD), que fiscaliza o uso de 50 drogas, entre elas o LSD, fornece estatísticas para corroborar as declarações de Margaret Cone. Segundo o INAD, com base numa rede 673 pronto-socorros e 76 médicos especializados, os incidentes relacionados com emergências ou mortes provocadas pela droga vinham declinando há vários anos e atingiram seu nível mais baixo no segundo semestre de 1984.
     Porém, os casos ligados ao LSD aumentaram continuamente, chegando a 517 nos últimos seis meses de 1985, último período sobre o qual foram divulgados números. As autoridades do INAD acham que essas cifras representam uma fração mínima do consumo atual de LSD no país. Não se dispõe de números para comparar a popularidade da droga nos anos 60 com a de agora, porque o LSD foi reunido com várias outras drogas para uma análise estatística desse período.
     Wesley Nunn, agente da divisão de Narcóticos do Escritório de Investigações da Geórgia em Atlanta, disse que há muitos anos não ouvia falar de operações de LSD em grande escala, mas nos últimos meses teve conhecimento de inúmeros incidentes.
     “Tudo aconteceu muito de repente”, diz Nunn. “Não sei se é uma nova mania, mas onde há fumaça, há fogo”.
     As preocupações de Nunn são partilhadas por outras autoridades sanitárias, não somente por causa dos bem conhecidos perigos do LSD, como pela dificuldade em localizar a droga sem cheiro, cor e paladar. Nunn diz que os métodos usuais para detectar drogas ilícitas, como cães farejadores, não são eficazes com o LSD, o que deixa a polícia dependente de informantes e da sorte.
     Ocasionalmente, a polícia acerta onde deve ir. Foi o caso de um concerto em julho do Grateful Dead em Roanoke, Virgínia, quando 60 pessoas foram detidas por posse de LSD. O chefe de polícia de Roanoke, David Cooper, não fizera qualquer detenção relacionada com LSD há pelo menos dois anos mas milhares de “selos” da droga foram confiscados durante os dois dias do concerto.
     As autoridades sanitárias estão preocupadas com a crescente popularidade do LSD entre secundaristas e universitários de hoje. Nos últimos meses, laboratórios ilícitos para a fabricação de LSD foram descobertos perto de universidades na Virgínia e na Flórida, e a polícia de outras comunidades informou sobre alguns locais suspeitos de serem laboratórios de LSD.
     “O inquietante é que o consumo envolve adolescentes” diz Bob Halford, diretor do Conselho sobre Álcool e Drogas da área metropolitana de Atlanta. “Acho que os garotos de hoje não tem idade suficiente para lembrar do espinho nas flores dos hippies. Há tantas histórias de viagens que acabaram mal”.


As drogas ilegais*
(LSD, mescalina, chás de cogumelo)

     São os sentidos interiores particularmente os químicos com seus acessos diretos ao cérebro através da corrente sanguínea, que são exigidos a produzir experiências associadas com haxixe, heroína, álcool e as drogas psicodélicas tais como: sementes de Morning-Glory e LSD-25. Estes sentidos, incluindo o que monitora a temperatura interna do corpo, são responsáveis pelos delírios produzidos por algumas doenças.
     Efeitos: provoca alucinações, altera o nível de consciência, aumenta a percepção sensorial (cores ficam mais intensas) e crença de aumento da atividade mental (acha que está mais esperto). Podem surgir psicoses (acredita e vê baratas andando pelo seu corpo). O efeito do Lsd pode durar de seis a 12 horas.

     O que fazer: tente tranqüilizar a pessoa se entrar numa bad trip, isso passa em poucas horas. O LSD em si não mata. Mas quando a pessoa perde todo contato com a realidade, os sinais vitais ficam anormais (palpitações, aumento da pressão sanguínea e da temperatura) e têm convulsões é sinal de overdose. Se a pessoa tiver esses sintomas é bom procurar ajuda médica, porque há risco de vida.

     Mescalina - substância ativa isolada em 1828 e sintetizada quimicamente em 1926. Em 1900 era comum no uso psiquiátrico, sendo os seus efeitos colaterais parecidos aos do peiote.
O componente básico é a adrenalina, que, como se sabe, o homem produz excedentariamente em situações de medo. A ingestão da mesca sintética, quando pura, pode levar a situações de pavor indescritível ou a espantosa visões psicodélicas.

     Terapia de emergência: no hospital a pessoa que embarcou numa má viagem ou “bode”, recebe neurolépticos (sedativos) que atenuam o efeito do LSD e fica em observação para não tentar machucar a sim mesma ou a outras pessoas.

     Para o usuário crônico:

     Psicoterapia - tentar, com a ajuda do terapeuta, identificar e eliminar as causas psicológicas que levaram ao uso da droga, como por exemplo aprender a lidar com as pressões dos grupos de amigos, se afastando ou adquirindo maturidade para dizer não à eles.

     Exercícios físicos - ajudam a aliviar os estresses que levam ao uso da droga como uma fuga ou alívio para os apuros da vida real.

     Meditação - algumas pessoas chegam a dizer que conseguem estados de consciência muito mais prazeirosos quando praticando meditação (yoga por exemplo) do que quando sob o efeito do LSD.
     “O melhor antídoto do LSD é a Thorazine, mas já vi ingerir Valium para cortar uma ameaçadora bad trip. Se alguém desprevenido recebesse como antídoto a Thorazine para corte numa Stp trip, morreria de colapso cardíaco - isto das drogas é muito delicado”.

     Visões literárias

     O culpado - mais uma vez - foi Marco Polo. Entre outras coisas, ele trouxe, do Oriente, o conhecimento dos poderes da cannabis índica. Mas foi no século 19 que o uso da maconha e das drogas como “experiência literária” tomou conta dos artistas e intelectuais. Em 1822, Thomas de Quincey publica Confissões de um Comedor de Ópio; em 1846, Théophile Gauthier lança o Clube dos Haxixins; e até Baudelaire embarca na trip com Do Vinho e do Haxixe como Meios de Multiplicação da Individualidade (1851) e Os Paraísos Artificiais (1860). Eram os precussores de outros laboratoristas literários como Freud e Sherlock Holmes (cocaína), Aldous Huxley e Henri Michaux (mescalina). Há uma conexão muito forte entre os franceses do século passado e Edgar Allan Poe.
     Timothy Leary e a geração psicodélica (LSD), (sem mencionar a subcultura do jazz e os beats) pertencem à geração dos pós-guerra, que, nos turbilhões de uma revolta cultural e social, esvaziada de sentimentos espirituais encontraram nas drogas a porta da “percepção” fazendo de Blake e de Rimbaud os seus poetas preferidos.


*PUBLICADO NA REVISTA PSICODÉLICA “DE QUANDO O ROCK ERA CONTRACULTURA’ VOLUME I