Oscar Janiger
Pioneiro
em LSD morre aos 83 anos em Bervely Hills
(Mário Pacheco)
Ironicamente,
enquanto a atividade com drogas psicodélicas em São
Francisco e na Costa Leste atraía manchetes sensacionalistas,
o grupo silencioso e metiucloso de Janiger permaneceu na penumbra,
seguindo a tradição das seitas secretas que mantiveram
o espírito transcendental vivo através da História
da Humanidade. Timothy Leary
Oscar
Janiger, um psiquiatra de Bervely Hills que "excitou"
diversas celebridades de Hollywood fazendo-as experimentar a
droga Lsd nos anos 50 e 60, morreu na quinta-feira aos 83 anos.
(17 agosto de 2001).
Janiger
sofreu uma falha de rim e coração, disse a porta-voz
do psiquiatra, Laurie Hanley. Ele continuou praticando seus
deveres até poucas semanas antes de sua morte.
De
1952 até 1962 - quatro anos antes de o LSD ser declarado
ilegal - Janiger foi um dos pesquisadores do potencial da droga,
tida com o capaz de aumentar o intelecto e a criatividade.
Ele
incorporou o LSD em sua terapia e a distribuiu a cerca de mil
voluntários incluindo o escritor Aldous Huxley, a escritora
Anais Nin, os atores Cary Grant e Jack Nicholson e o maestro-compositor
Andre Previn. Janiger disse diversas vezes que estava particularmente
interessado na habilidade dos artistas em acenar um estado de
consciência alterado usando sua "pílula da
criatividade", a qual ele chamava de "maravilhoso
instrumento de conhecer mais a mente".
Muito
embora sua pesquisa pré-datou Timothy Leary, nunca foi
amplamente reconhecido por não publicar sua data.
O
expoente máximo
(Mário Pacheco)
O
objetivo de Hofmann era estudar a utilização da
droga como estimulante do sistema circulatório. A pesquisa
com a substância foi deixada de lado pela indústria
química e farmacêutica Sandoz, onde Hofmann trabalhava,
porque os resultados desejados não puderam ser obtidos
em experiências com animais.
Cinco anos depois da descoberta,
em 16 de abril de 1943, Hofmann repetiu a síntese do
LSD-25, mas foi forçado a suspender seu trabalho e voltar
para casa por causa de “um estado de intoxicação
não desagradável, caracterizado por uma imaginação
extremamente estimulada”. A droga provocou alucinações
por cerca de duas horas, mas o pesquisador só relacionou
a viagem à substância três dias depois, quando
resolveu estudar os inesperados efeitos mentais dessa droga.
De volta ao laboratório, ele ingeriu 200 microgramas
de ácido lisérgico, o que provocou novas e mais
intensas experiências alucinatórias. Sentindo-se
muito desorientado, retornou para casa mais uma vez. Viu-se,
segundo sua própria descrição, imerso “em
outra realidade”. As cores
misturavam-se, seu corpo parecia abandonado. Flutuava no espaço.
“Pensei que estivesse louco”. O cientista Albert
Hofmann relata uma das mais memoráveis corridas de bicicleta
da história: “Sentia algo estranho. As cores haviam
mudado, as paredes haviam mudado, meu humor havia mudado. Ao
fechar os olhos, comecei a ter belíssimas fantasias”.
Hoje, sabe-se que uma dose apenas de 20 microgramas de LSD é
suficiente para provocar um efeito que pode durar até
dez horas. A dose usual é de 50 a 100 microgramas (um
micrograma é igual a um milésimo de miligrama).
O LSD é incolor, não tem gosto nem cheiro. Altamente
potente, é tomado em doses microscópicas. Uma
das características mais intrigantes do LSD é
a pequeníssima quantidade capaz de causar efeitos. Uma
onça, apenas, de LSD fornece cerca de 300 mil doses,
e alguns quilos seriam suficientes para, depositados num reservatório
de água potável, envolver toda uma grande cidade
em seus efeitos. Sua ação psíquica assemelha-se
à de outros alucinógenos, como a mescalina, extraída
de um cacto mexicano, o peiote ou a psilocibina, extraída
de um cogumelo.
Não se injeta em veias
tumefactas e calosas, Não se engole pesadamente, não
se aspira com sofreguidão, o LSD penetra no organismo
por absorção da pele ou através de um minúsculo
cristal e pode ser administrado em injeções ou
pílulas. Devido à sua falta de cor, cheiro e gosto,
pode ser dissimulado em torrões de açúcar
ou misturado à água e ingerido inadvertidamente
por qualquer pessoa. Muitos usaram involuntariamente, já
que a droga pode contaminar ou ser facilmente colocada em alimentos
ou bebidas.
E a sua utilização
ficou restrita aos laboratórios de pesquisa até
o início da década de 60, quando a droga passou
a ser usada pelas agências de espionagem e divulgada por
Timothy Leary que sempre se preocupou quanto as acomodações
para suas experiências.
Hofmann criticou a vulgarização do uso do LSD.
Segundo ele, a droga deveria ser usada com cuidados especiais.
Comparando o uso da substância com o das drogas preparadas
pelos índios, o pesquisador chegou à conclusão
que eles só as tomavam quando fornecidas pelo curandeiro
da tribo, que acompanhava todo o ritual. “Mas os hippies
e as pessoas em geral tomavam LSD em qualquer lugar - em uma
discoteca, por exemplo - sem estar preparados. Começou
a acontecer aquilo que os índios mexicanos, que há
séculos de dedicam ao culto da carne dos deuses ou carne
do diabo e ingerem alucinógenos em seus rituais religiosos,
sabiam. Os que utilizavam a droga se tornavam loucos, acabavam
em hospitais, em clínicas psiquiátricas”,
disse Hofmann.
Apesar do LSD ser pesquisado há
cerca de 40 anos, os cientistas ainda não chegaram a
uma conclusão sobre a maneira como essa droga age sobre
o sistema nervoso central. Não se sabe com exatidão
sua maneira de atuar no cérebro. Parece que interfere
em todas as funções cerebrais que recebem e elaboram
para a consciência as informações dos sentidos.
É certo que inibe a produção das enzimas
que regulam o suprimento de glicose às células
cerebrais. Outras substâncias, contudo, fazem o mesmo,
sem provocar os poderosos efeitos do LSD, o que leva a crer
que este possua outras profundas consequências: seu uso
caiu muito depois que pesquisas mostraram seus efeitos extremamente
nocivos, mesmo após uma única dose, e que poderiam
deixar consequências para o resto da vida.
Segundo Elizaldo Carlini que pertenceu
ao Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina,
o Lsd atua sobre várias áreas receptoras de estímulos
do cérebro, mas seu mecanismo de ação nesse
órgão ainda é desconhecido.
A sinestesia (fusão dos sentidos) é um desses
mecanismo de ação, seu efeito consiste na mistura
dos sentidos, a pessoa “vê” sons, “saboreia”
cores. O estímulo que atua
sobre um canal sensorial parece evocar imagens de outro canal
tão prontamente como se fossem sensações
do mesmo “modo” - visão com os ouvidos e
audição com os olhos. O mecanismo da sinestesia
ocupou o centro de um dos grandes problemas que marcaram o psicodelismo,
a ligação entre o rock e as drogas.
“Em Music and Communication,
Terence McLaughlin define a sinestesia como ‘qualquer
erro do cérebro em sua interpretação da
massa de dados sensoriais que nossos olhos, ouvidos, órgãos
do tato, etc., estão continuamente enviando para os centros
cerebrais’. Na vida ‘normal’ - naquilo que
Freud adequadamente chamou de psicopatologia do cotidiano
- a sinestesia se manifesta sob a forma de pequenas alucinações,
como a sensação muito comum de queda física
que se tem ao adormecer. Essas pequenas manifestações
são, de certa forma, o equivalente, no plano sensorial,
dos atos-falhos e lapsos-de-linguagem que Freud observou em
seus estudos do comportamento humano. Prossegue McLaughlin:
‘É provável que as drogas psicotrópicas
como o Lsd ajam, pelo menos parcialmente, inibindo a ação
dos censores mentais que nos impedem de dar atenção
a nossas visões. Em vez
de ignorar as semelhanças ocasionais entre as impressões
sensoriais, ou de reprimi-las de nossas mentes conscientes,
tais drogas induzem as pessoas a um interesse renovado por tais
fenômenos. Certamente a sinestesia é um dos efeitos
das drogas comumente observados, entre outras alucinações.
A associação sinestésica entre a música
e os outros modos sensoriais há muito tempo vem sendo
reconhecida e discutida”.
O LSD é o mais eficiente
psicodélico que se conhece, nova designação
para substâncias, como a mescalina, que possuem a propriedade
de liberar o inconsciente, ampliar a área da consciência
e modificar a recepção dos estímulos sensoriais
pelo cérebro. Também, ao contrário dos
tóxicos, o Lsd não cria hábito e não
prejudica o organismo, se administrado a pessoa física
e mentalmente saudáveis.
A viagem, como a chamam os apreciadores
dos efeitos do LSD, passa por quatro etapas principais. A primeira,
logo depois de ingerida a dose, dura de meia hora a 45 minutos.
Se, ao invés de ingerida, a dose for injetada na corrente
sanguínea, os efeitos se manifestarão mais rapidamente.
Verificam-se ligeiras náuseas, algumas angústia,
dilatação da pupila, taquicardia e outras reações
do organismo - que, porém, cessam completamente na fase
seguinte.
Esta é a experiência
propriamente dita. Dura de quatro a oito horas e consiste em
ilusões sensoriais a que se tem chamado, não muito
propriamente, de alucinações, pois o efeito do
LSD não anula a consciência. O paciente sabe o
que vê, embora as coisas ganhem para ele um significado
diferente do habitual. Espaço e, principalmente, tempo
passam a não ter importância. Desenvolve-se uma
especial sensibilidade para as cores, que parecem mais vivas
e mais belas. Muitos se sentem mergulhados num estado de inocência
e pureza infantis; alguns experimentam uma sensação
de regressão ao estado fetal e outros revivem experiências
infantis ou emocionais de importância particular de suas
vidas. O estado emocional é transformado, geralmente
para uma desinibida euforia, que provoca um riso fácil
e abundante. Verificam-se certo descontrole no sistema muscular
e acelerado processo de ideação, com um fluir
muito rápido de idéias e a sensação
de uma grande lucidez. Ao contrário do que acontece na
embriaguez alcoólica ou no uso de tóxicos, como
a morfina, heroína ou cocaína, essa lucidez não
é apenas aparente, pois pode ser integrada na consciência
do indivíduo, o que permite o emprego do LSD no tratamento
do alcoolismo e psicoses indeterminadas (Lauaria).
As mudanças de personalidade
são frequentes e as condições psíquicas
de cada indivíduo, sob a ação do LSD, podem
originar uma série de manifestações imprevisíveis.
Muitos vêem as pessoas, ou a si próprios, como
outras pessoas. Uma dose exagerada ou, mesmo, uma moderada,
em psicóticos, pode conduzir a estados aterradores, de
medo absoluto e sensação de morte iminente. A
bad trip é vulgar em psiconautas com psicoses tendenciais
e é um autêntico furacão a devastar o ego.
A terceira fase é de recuperação
do transe. Pode durar diversas horas e durante elas o paciente
atravessa sucessivamente períodos em que se sente, de
novo, perfeitamente normal, e períodos em que se manifesta
o transe do Lsd. A quarta e última fase, que dura até
vinte e quatro horas depois ou mais, é de fadiga, fome
e, frequentemente, tensão nervosa.
Muitas vezes, principalmente quando
usado por psicóticos, o LSD tem efeitos de grande duração
e provoca reações alucinogênicas que podem
voltar até três meses depois de tomada a dose.
Novas doses não são necessárias: o simples
fato de assistir outro em transe pode provocar essas reações.
“Um novaiorquino narrou,
para a revista americana The New Republic, suas duas primeiras
viagens com o LSD. A primeira forneceu-lhe um verdadeiro carnaval
de sensações maravilhosas. As cores e as visões
que tinham eram tão indescritivelmente belas que ele
soluçava de alegria: ‘Oh, meu Deus, como é
adorável, como é maravilhoso, como é belo
o que vejo’. Palácios de cristal estendiam-se por
quilômetros de veludo. Seu corpo parecia dissolver-se
em mel e prata. Viu um Buda de bronze começar a viver
e ouviu uma gravação de Ella Fitzgerald, My
Ship, de uma forma tão maravilhosa, que entregaria
a alma para ouvi-la de novo da mesma maneira. Finda a viagem,
foi pra casa e dormiu tranquilamente. Estava certo de ter descoberto
um novo mundo.
(...) Um mês mais tarde,
fez sua segunda viagem. Esta, porém, foi diferente. Eis
como ele narrou: ‘... A face de meu guia mudou. Ficou
abstrata, reduzida a uma série de planos. Seus olhos
fecharam. No seu rosto, havia uma indiferença perfeita,
uma paz total. Uma auréola de luz prateada envolvia-lhe
a cabeça. Entre seus olhos, um pouco acima do nível
de seus olhos, vi o terceiro olho, o olho da alma. O quarto
escureceu e a música silenciou. Eu estava deitado de
costas no chão. O próprio quarto desapareceu,
e senti que estava afundando, afundando, afundando cada vez
mais. De longe ouvi muito fracamente uma palavra: morte. Afundei
mais, sentia que caía da Terra a uma distância
de milhões de anos-luz. E ouvi a palavra cada vez mais
forte e mais insistente. Tomou forma, envolveu-me, fechou-me,
Morte... Morte... Morte. Pensei nos olhos de meu pai em seus
últimos momentos. Finalmente, diante de minha própria
morte, gritei Não! Terror absoluto. Horror total. Com
imenso esforço, tentei erguer-me novamente de volta à
vida. Pareceu que levei uma eternidade’.
(...) No quarto, ele tremia em
convulsões violentas. Mais tarde, contou a terrível
viagem a Richard Alpert,
dizendo-lhe: ‘Eu só queria sair dali, terminar
a experiência’. O sacerdote do LSD encarou-o fixamente
e perguntou: ‘Você tem certeza?’.
(...) Em 1962, o escritor Paulo
Mendes Campos relatou uma experiência com o LSD, que estava
sendo conhecido, em todo o mundo, como uma droga mais poderosa
do que a própria mescalina.
(...) Depois a descoberta transformou-se
em moda. Enquanto, por um lado, médicos investigavam
as suas qualidades terapêuticas, por outro, artistas e
intelectuais passaram a usá-lo para estimular sua capacidade
criadora. Em Nova York, o poeta Allen Ginsberg liderou um movimento
de opinião que reivindicava a liberação
legal do LSD e da marijuana, que, como o primeiro, é
um psicodélico, embora bem mais fraco. Os resultados
foram surpreendentes e, para as autoridades norte-americanas,
assustadores.
(...) O LSD foi produzido e traficado
clandestinamente, como se fosse um tóxico, segundo uma
pesquisa do Instituto Gallup, nos Estados Unidos, o número
de usuários, entre estudantes de universidades, quadruplicou
entre 1967 e 1969. 20 a 30% da juventude universitária
norte-americana tomava Lsd como quem fuma um cigarro. Nos Estados
Unidos, como em vários outros países do mundo,
o LSD era a onda. Em Greenwich Village, era a maneira in de
take off. Estudantes de vinte e uma escolas de Nova York, possuíam
seus próprios laboratórios para o fabrico de LSD
misturado a tóxicos. A administração de
Alimentos e Drogas e o Instituto Nacional de Saúde Mental
dos Estados Unidos abriram campanha contra a droga e provocaram
uma retração da única empresa que o fabricava
legalmente, a Sandoz Pharmaceuticals, Inc. A verdade é
que, nos Estados Unidos, o LSD começou a substituir a
marijuana, a heroína e a cocaína, todas elas postas
na ilegalidade”.
Menos pelo aspecto quantitativo
embora largamente consumido o LSD foi, acima de qualquer outra,
a droga da década: em torno de seus efeitos articulou-se
uma rede de discursos psiquiátricos ou “anti-psiquiátricos”,
derivou de seu universo perceptivo e imagético uma série
de espectros luminosos apresentando uma literatura e uma poesia
revitalizadas pelas novas cores da consciência filtradas
por um canal espansor enigmático e indecifrável,
no rock o volume nunca foi tão alto, nas telas, roupas
e películas a cultura do surreal. Após anos de
bolor e poeira, as cores alegraram e edificaram o psicodelismo.
A respeito da reserva do inconsciente, tratados, livros e enciclopédias
justificaram explorações e explicações
“filosóficas”,
acreditavam que a grande busca do jovem na década de
60 - livre de faixa etária, enquadração
e consciente da inutilidade do serviço militar - estava
“acorrentada” à política do êxtase,
(nascida da angústia da Beat generation) e que consistia
na exploração sistemática de efeitos sinestésicos,
afirmando o Princípio do Prazer sobre o Princípio
da Realidade.
A descoberta das virtudes e vicissitudes
lisérgicas originaram verdadeiros cultos frequentemente
de inclinações místicas e orientalistas.
Se o ópio, o haxixe, a cocaína e até a
mescalina já possuíam uma galeria de notáveis
experimentadores e explicadores - Charles Baudelaire, Thomas
de Quincey, Jean Cocteau, Walter Benjamim, Sigmund Freud, Conan
Doyle, e o próprio Huxley - a droga do doutor Hoffmann
produziria os seus intelectuais, que se notabilizariam pela
divulgação de um certo irracionalismo arrazoado,
de tendência libertária, contracultural e pacifista.
Para fazer frente ao aumento do
uso de Lsd, as autoridades norte-americanas começaram
a empregar contra ele a mesma solução que, há
anos, vinha empregando, sem nenhum resultado positivo, contra
os tóxicos, isto é, a repressão policial.
O promotor público Aaron Koota foi o líder da
cruzada contra o LSD, mas, em Greenwich Village, as exposições
passaram a ser de “pintura psicodélica” e
o conjunto, The Turtles, afirmava tocar “música
psicodélica”.
Toda manifestação
expressiva derivada do rock está voltada para essa superposição
dos canais sensoriais. Os mais velhos têm dificuldade
ou total impossibilidade de ler os pôsteres de rock, os
programas de concertos, as ilustrações, e principalmente
a nova linguagem usada nos textos dos jornais underground, os
head-comix (quadrinhos-de-cuca), etc. Em termos de comunicação,
é a cultura-em-mosaico tomando o lugar da tradicional
cultura linear.
Na revista Partisan Review, o
ensaísta, Leslie Fiedller, escreve que a juventude americana
começa a esposar um novo programa de vida, anti-puritano,
hedonista e tendenciosos à indiferença. “Da
maneira que o liberalismo de hoje é o LSD dos velhos,
o LSD é o radicalismo dos mais jovens”. Onde não
existiam outras formas de ser radical, a aventura interior do
transe do LSD era a possibilidade de protesto.
Uma dose de LSD custava, nos Estados
Unidos, comprada das mãos de traficantes, cerca de US$
5 dólares. Suas características - incolor, inodoro,
insípido - dificultavam o trabalho dos detetives encarregados
da repressão aos narcóticos. O LSD não
exige seringas e, traficado sempre em pequeníssimas quantidades,
era facilmente escondido. A repressão policial, na verdade,
estimulou o tráfico clandestino e o uso cada vez maior
da droga sem assistência médica, a qualidade do
LSD declinou em compostos criminosamente casados com a estricnina
(um veneno speed). Em 1968, em Amsterdam sabia-se a outra dimensão
e os experimentadores tiveram uma dilatação da
consciência quase inflacionaria.
Na revista Science de 8 de maio
de 1970, o Dr. S. Krippner denunciou que vinte por cento das
amostras do LSD que se encontravam no mercado não eram
LSD, e os potheads (viciados em marijuana) e os speedfreaks
(adictos às anfetaminas) caíam no mesmo logro,
que se paga caríssimo, já que habitualmente consumiam
produtos impróprios; e nesse sentido podemos afirmar
que toda a droga é perigosa.
Apesar do apostolado de Timothy
Leary, da justiça da revolta ética dos beats e,
mesmo, da utilidade médica do LSD, a droga também
pode ter consequências negativas. Sua ação
constante pode fazer o cérebro descarregar uma substância
orgânica ainda não identificada. Essa descarga
pode provocar profundas mudanças na personalidade do
indivíduo - que não serão, necessariamente,
para melhor. Muitas pessoas, após o uso do LSD, sofrem
violentas convulsões epiléticas. Em personalidades
psicóticas, ele pode estimular o impulso ao suicídio.
Em outras, provoca sensações de terror tão
fortes que os tranquilizantes e barbitúricos são
impotentes para curar. Só um controle cuidadoso seleciona
as pessoas que podem experimentar, sem perigo de prejuízos
sérios, uma viagem de LSD. De maneira geral, devem ser
excluídos, em princípio, todos os que sofrem de
enfermidades cardíacas ou hepáticas, os epiléticos,
os que sofrem de personalidade instável e os portadores
de tendências esquizóides.
O LSD não é totalmente
inócuo, como se ouve dizer: o Dr. L. Hirschhorn afirma
que ataca ruinosamente os agrupamentos cromossomáticos
e os reagrupa em direção a uma entropia leucémica.
Os danos cromossômicos possivelmente diminuem a fertilidade
e o aumento da incidência de abortos. Tal como a maconha,
o Lsd não tem possibilidade cientifica de ser detectado
no sangue dos viciados, mas os efeitos de uma trip de ácido,
reversíveis, duram a vida inteira.
Sabiamente administrado o LSD
é um antídoto de qualidades comprovadas para a
dor e outras drogas narcóticas, melhor até que
a Ciclazocina. As outras qualidades positivas do LSD ainda não
estão suficientemente estudadas. A mais propalada delas
é sua possível faculdade de aumentar o poder do
intelecto e de criação do homem. Dois recentes
relatórios norte-americanos apresentaram a esse respeito
resultados contraditórios. Um deles, fruto de experiências
com estudantes universitários, afirma que o Lsd não
tem influência sobre a capacidade intelectual. Outro,
de observações entre escritores e artistas de
talento, verificou um aumento de fertilidade criadora entre
essas pessoas. Ao que parece, o LSD realmente não cria
nada nem pode dar talento a quem não o tenha, mas possui
um efeito liberatório.
O importante fato de que o transe
do LSD não suspende a consciência, mas fornece
experiências que ela é capaz de aprender e assimilar,
permite o seu emprego no tratamento dos alcoólatras e
viciados em entorpecentes. As experiências do LSD são
mais gratificantes do que as dos tóxicos, permitem a
reflexão e a decisão para curar-se, indispensável
no tratamento dos viciados. Embora não crie hábito,
o LSD é mais potente do que qualquer tóxico. Essa
vantagem, porém, acarreta num terrível perigo:
seus efeitos são muito mais espantosos, para explorar
os espaços psíquicos, descoberta por acaso pela
ciência, o LSD pode ser o sintoma mais grave da crise
da juventude moderna.
*PUBLICADO NA REVISTA
PSICODÉLICA “DE QUANDO O ROCK ERA CONTRACULTURA’
VOLUME I
LSD Contracultura tem sua hóstia proibida
(O Globo 2000)
Em
1966 milhares de jovens de todos os Estados Unidos começaram
a ir para São Francisco, na Califórnia, concentrando-se
no bairro de Haight-Ashbury. Pés descalços, flores
nos cabelos, eles celebravam a paz, faziam amor, ouviam rock.
Tudo isso embalado a LSD, droga que proporcionava "viagens"
alucinantes e que, a partir dali, ganharia o mundo. No entanto,
o Governo americano estava atento ao uso e abuso daquele poderoso
alucinógeno e nesse mesmo ano declarou-o ilegal. Tarde
demais. O LSD já se tornara um símbolo da contracultura
psicodélica.
Apesar
de ter-se tornado a hóstia do movimento hippie, o LSD,
sigla em inglês para dietilamida do ácido lisérgico,
tinha sido sintetizado muito antes, em 1938, pelo químico
suíço Albert Hoffmann, a partir do Claviceps
purpurea, um fungo que cresce no centeio. Em 1943, ao ingerir
por acaso uma quantidade mínima, Hoffmann teve visões
de cores brilhantes. Estava descoberto o poder alucinógeno
do LSD: apenas meio miligrama embebido num torrão de
aaçúcar proporcionava de oito a 10 horas de alterações
na percepção de tempo e espaço. Ou uma
"viagem", no linguajar hippie.
A
droga despertou a atenção de psiquiatras em busca
de novas terapias e de intelectuais, como o escritor Aldous
Huxley, interessados em explorar a mente humana para abrir-lhes
as "portas da percepção". Em 1961, Ken
Kesey, um desconhecido escritor, ofereceu-se como coabaia para
os testes com o ácido realizados por psiquiatras da Universidade
de Stanford, Califórnia, viajando a bordo de um ônibus
escolar pintado com as cores berrantes que via sob efeito do
LSD.
Timothy
Leary, professor de Psicologia Clínica da Universidade
de Harvard, leitor de Huxley, também radicalizou em seus
experimentos. Em 1963, distribuiu 3.500 doses a 400 alunos e
acabou expulso da universidade, não pela distribuição
da droga, mas por seu envolvimento com o misticismo que tomava
conta dos adeptos do LSD. Quase todos que o experimentavam diziam-se
mais próximos de Deus. Leary tornou-se guru e teórico
da contracultura, mas acabou preso em 1966, por porte da droga
tornada ilegal. Em 1967, ele anunciaria um recuo em suas experiências
ao perceber que, à sua volta, as fantasias coloridas
eram por vezes bad trips, "viagens" ruins,
que levavam à demência e ao suicídio.
*Textão
caretão: "demência e suicídio"!
Mas revelador: Claviceps purpurea!
Da
Viagem de ácido ao pó
(Marcos Augusto Gonçalves*)
O
LSD inscrevia-se em um território bastante diferente
daquele em que se dá o consumo das drogas na década
de 80. Corria nas veias de uma contracultura de contestação.
Associava-se a utopia hippie de rejeição
ao real articulado pelo establishment. Tratava-se ali
de explorar novos espaços para a consciência e
a vida, de criar uma alternativa existencial dissociada dos
padrões morais e produtivos da sociedade industrial,
responsável pelo consumismo, pela adulteração
dos alimentos, pela hipocrisia sexual, pela miséria,
pela injustiça e, principalmente, pela violência
e pela guerra.
A demarcação deste
território se fazia, como é comum, através
de uma coleção de atitudes-signos, traços
distintivos que simbolizavam inequivocamente esta disposição
de estar à margem, de não entrar em sintonia,
de delimitar distâncias e de torpedear o sistema de crenças
dominante. “Não submeter-se”, diria o psiquiatra
David Cooper. A droga surgia - o que não acontece hoje,
ao menos com a mesma intensidade - como uma peça-chave
desta função demarcadora. Viajar de ácido
era um requisito quase obrigatório para que se abrissem
as portas da percepção do admirável mundo
novo da juventude do poder da flor. Ingerir uma dose de Lsd
significava oficiar o rito de passagem da esfera tradicional
e integrada à outra - a da negação alternativa.
O mundo passou a ser dividido entre caretas e não caretas.
É exemplar que no mitológico
musical Hair, o rapaz bem-comportado, que vai para
o Vietnã, tenha que usar o ácido para penetrar
inteiramente no imaginário caleidoscópio do hippie
way of life. Da mesma forma, a famosa virada musical
dos Beatles, foi acompanhada pelos estímulos lisérgicos.
Não são pouco os que distinguem na canção
Lucy in the Sky with Diamonds as iniciais do ácido
- paralelo feito no Brasil com o verso “sem lenço
e sem documento”, de Caetano Veloso. Em uma auto-entrevista,
feita na época, com o título de Entrevista,
Caetano respondia à pergunta sobre o que achava do LSD
com um trocadilho de efeito: uma boa droga.
O caso dos rapazes ingleses é
também em ilustrativo de uma outra especificidade do
uso do alucinógeno na década de 60: sua vinculação
à experiência mística. As associações
entre ácido, gurus e doutrinas orientais são conhecidas.
Esta circunstância recupera uma função ancestral
do transe drogado, função sintomaticamente “pré-capitalista”,
já que na sociedade moderna a droga tem autonomia face
à religião - seu consumo é genericamente
secularizado, mesmo que se tenham preservado resíduos
de determinações religiosas.
Apesar do modo como os saudosistas
se referem ao fenômeno - com uma overdose de
nostalgia e ressentimento - é uma constatação
que os anos 80 representam uma espécie de retorno aos
valores do desempenho, da produção, do consumo.
Este reingresso na Ordem - que tem sutilezas que não
comportam a redução a um simples processo de aderência
desavisada - redefine as relações que cercam a
droga. Basicamente as oposições droga versos desempenho,
droga versos caretice, desfazem-se e reorganizam-se. Com a revalorização
do desempenho e do trabalho profissionalizado - processo emblematizado
pela caricatura yuppie - mudou a droga: o LSD ficou
para os sixties como a cocaína está para
os eighties.
Se ao ácido se associavam
a contemplação, o onirismo, a atitude estática
e religiosa do retiro, a deformação perceptiva,
a natureza e a idéia de viagem, associam-se
à cocaína a atividade, o brilho, a megalópole
em movimento, a verbalização, a ilusão
da nitidez e a velocidade. A separação caretas
e não caretas, tal como surgiu originalmente, já
não diz muita coisa - como não dizem muito as
designações esquerda e direita no campo da política.
No bruhaha babélico informatizado dos oitenta
a topografia dos rebeldes e integrados é multifacetada,
menos definida, mais incorporativa do que excludente.
Esta integração
droga-trabalho, aparentemente careta, pode ser até
mais perigosa para o sistema do que a visibilidade propiciada
pelas tribos alternativas, circunscritas a regiões relativamente
autônomas, mas sob controle. O pó rola nas engrenagens
da máquina. É consumido na euforia ou no crack
- por sinal nome de um supra-sumo químico da cocaína
- da City e de Wall Street, entre negócios e automóveis
de luxo. O fenômeno motivou uma reportagem de capa na
revista Time, que trata com um certo alarmismo o aumento do
consumo de droga no trabalho. Ameaçando internamente,
e não menos alarmado, Mr. Reagan tenta sanear as repúblicas
que trocaram as bananas pela coca. Margareth Thatcher ajuda.
Mas a cocaína populariza-se. O preço torna-se
mais acessível. Antes conhecido por poucos, o pó
de pirlimpimpim está ao alcance das reinações
de narizinho das multidões. É difícil reverter
a situação. Mesmo para Rambo, não é
uma tarefa das mais simples subir o morro Dona Marta da América
do Sul - onde os países produtores enchem os bolsos com
o lucro do tráfico e contam com o apoio de boa parte
da população pobre, que planta, e da rica, que
colhe.
*PUBLICADO
NA FOLHA DE SÃO PAULO, 22 DE MARÇO DE 1988 - ESPECIAL-5.
LSD,
renasce moda dos anos 60
(Hoyt Coffee) DA UPI*
Atlanta,
setembro de 1987, Vinte anos depois, o LSD, o ácido alucinógeno
usado pelos hippies dos anos 60 para viajar por
um mundo de cores e sensações indescritíveis,
voltou à cena, desta vez pelas mãos de adolescentes
jovens demais para se lembrar de que havia um espinho na flor
cultivada pela geração hippy que entreabriu
as portas da percepção.
“É tão perigoso
que chega a assustar e fiquei realmente preocupado quando vi
garotos envolvidos com a droga”, confessa o policial Larry
Coleman, do município de Glynn, na Geórgia, que
em julho de 1987 prendeu seis adolescentes com cerca de 300
doses de ácido - pequenos retângulos de mata-borrão
saturados com LSD.
Coleman diz que ficou um pouco
surpreso ao descobrir a droga - e não é o único.
A aparente ressurreição do LSD como droga popular
entre os adolescentes norte-americanos estava começando
a preocupar as autoridades, os pais e até mesmo os jovens,
ignorantes do seu potencial destrutivo.
“Há indícios
de que laboratórios ilegais estão novamente produzindo
a droga”, diz Don Dougherty, porta-voz da agência
de combate às drogas, em Washington, “Não
chegou ainda à proporção dos anos 60, mas
tudo indica que sua popularidade estava crescendo”..
Estrela azul
A
preocupação aumentou no inverno passado com a
descoberta do “ácido estrela azul”, doses
supostamente muito forte, de LSD em pedaços de mata-borrão
com uma estrela azul impressa. Os rumores são de que
a droga estava aparecendo em toda a parte, criando um “perigo
iminente” para a juventude dos Estados Unidos.
A maioria das autoridades não
leva muito a sério os rumores e não se encontrou
ainda evidência de estoques da droga sob essa forma. Contudo,
tanto a polícia do município de Johnson, Kansas,
como a de Gainesville, na Flórida, encontraram mais ou
menos a essa época grandes quantidade de mata-borrão
saturado de LSD com notas musicais impressas em vermelho. Em
julho, a droga foi descoberta na Geórgia e aparecera
mata-borrões com desenhos mais elegantes, um deles com
um elaborado dragão vermelho chinês.
Os pedaços de mata-borrão
são do tamanho de um selo postal e há dezenas
de desenhos diferentes impressos em cada folha picotada. Para
tomar uma dose, basta destacar um retângulo e colocá-lo
sob a língua, deixando o ácido ser absorvido pelo
corpo. Os desenhos na folha de mata-borrão são
uma indicação da potência da droga para
o usuário com conhecimento das variedades em circulação.
Margaret Cone, consultora do programa
de saúde do Departamento de Recursos Humanos da Geórgia,
diz que a crescente popularidade do LSD estava se evidenciando
nos hospitais. “De repente, a gente se dá conta
de que o LSD não é mais uma coisa do passado”,
explica. “Nos últimos 18 meses eu percebi que aumentava
o número de pessoas que buscavam tratamento em hospitais”.
Nova
mania?
O
Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas (INAD), que fiscaliza
o uso de 50 drogas, entre elas o LSD, fornece estatísticas
para corroborar as declarações de Margaret Cone.
Segundo o INAD, com base numa rede 673 pronto-socorros e 76
médicos especializados, os incidentes relacionados com
emergências ou mortes provocadas pela droga vinham declinando
há vários anos e atingiram seu nível mais
baixo no segundo semestre de 1984.
Porém, os casos ligados
ao LSD aumentaram continuamente, chegando a 517 nos últimos
seis meses de 1985, último período sobre o qual
foram divulgados números. As autoridades do INAD acham
que essas cifras representam uma fração mínima
do consumo atual de LSD no país. Não se dispõe
de números para comparar a popularidade da droga nos
anos 60 com a de agora, porque o LSD foi reunido com várias
outras drogas para uma análise estatística desse
período.
Wesley Nunn, agente da divisão
de Narcóticos do Escritório de Investigações
da Geórgia em Atlanta, disse que há muitos anos
não ouvia falar de operações de LSD em
grande escala, mas nos últimos meses teve conhecimento
de inúmeros incidentes.
“Tudo aconteceu muito de
repente”, diz Nunn. “Não sei se é
uma nova mania, mas onde há fumaça, há
fogo”.
As preocupações
de Nunn são partilhadas por outras autoridades sanitárias,
não somente por causa dos bem conhecidos perigos do LSD,
como pela dificuldade em localizar a droga sem cheiro, cor e
paladar. Nunn diz que os métodos usuais para detectar
drogas ilícitas, como cães farejadores, não
são eficazes com o LSD, o que deixa a polícia
dependente de informantes e da sorte.
Ocasionalmente, a polícia
acerta onde deve ir. Foi o caso de um concerto em julho do Grateful
Dead em Roanoke, Virgínia, quando 60 pessoas foram detidas
por posse de LSD. O chefe de polícia de Roanoke, David
Cooper, não fizera qualquer detenção relacionada
com LSD há pelo menos dois anos mas milhares de “selos”
da droga foram confiscados durante os dois dias do concerto.
As autoridades sanitárias
estão preocupadas com a crescente popularidade do LSD
entre secundaristas e universitários de hoje. Nos últimos
meses, laboratórios ilícitos para a fabricação
de LSD foram descobertos perto de universidades na Virgínia
e na Flórida, e a polícia de outras comunidades
informou sobre alguns locais suspeitos de serem laboratórios
de LSD.
“O inquietante é
que o consumo envolve adolescentes” diz Bob Halford, diretor
do Conselho sobre Álcool e Drogas da área metropolitana
de Atlanta. “Acho que os garotos de hoje não tem
idade suficiente para lembrar do espinho nas flores dos hippies.
Há tantas histórias de viagens que acabaram mal”.
As
drogas ilegais*
(LSD, mescalina, chás de cogumelo)
São
os sentidos interiores particularmente os químicos com
seus acessos diretos ao cérebro através da corrente
sanguínea, que são exigidos a produzir experiências
associadas com haxixe, heroína, álcool e as drogas
psicodélicas tais como: sementes de Morning-Glory
e LSD-25. Estes sentidos, incluindo o que monitora a temperatura
interna do corpo, são responsáveis pelos delírios
produzidos por algumas doenças.
Efeitos: provoca
alucinações, altera o nível de consciência,
aumenta a percepção sensorial (cores ficam mais
intensas) e crença de aumento da atividade mental (acha
que está mais esperto). Podem surgir psicoses (acredita
e vê baratas andando pelo seu corpo). O efeito do Lsd
pode durar de seis a 12 horas.
O
que fazer: tente tranqüilizar a pessoa se entrar
numa bad trip, isso passa em poucas horas. O LSD em
si não mata. Mas quando a pessoa perde todo contato com
a realidade, os sinais vitais ficam anormais (palpitações,
aumento da pressão sanguínea e da temperatura)
e têm convulsões é sinal de overdose. Se
a pessoa tiver esses sintomas é bom procurar ajuda médica,
porque há risco de vida.
Mescalina
- substância ativa isolada em 1828 e sintetizada quimicamente
em 1926. Em 1900 era comum no uso psiquiátrico, sendo
os seus efeitos colaterais parecidos aos do peiote.
O componente básico é a adrenalina, que, como
se sabe, o homem produz excedentariamente em situações
de medo. A ingestão da mesca sintética, quando
pura, pode levar a situações de pavor indescritível
ou a espantosa visões psicodélicas.
Terapia
de emergência: no hospital a pessoa que embarcou
numa má viagem ou “bode”, recebe neurolépticos
(sedativos) que atenuam o efeito do LSD e fica em observação
para não tentar machucar a sim mesma ou a outras pessoas.
Para
o usuário crônico:
Psicoterapia
- tentar, com a ajuda do terapeuta, identificar e eliminar as
causas psicológicas que levaram ao uso da droga, como
por exemplo aprender a lidar com as pressões dos grupos
de amigos, se afastando ou adquirindo maturidade para dizer
não à eles.
Exercícios
físicos - ajudam a aliviar os estresses que
levam ao uso da droga como uma fuga ou alívio para os
apuros da vida real.
Meditação
- algumas pessoas chegam a dizer que conseguem estados de consciência
muito mais prazeirosos quando praticando meditação
(yoga por exemplo) do que quando sob o efeito do LSD.
“O melhor antídoto
do LSD é a Thorazine, mas já vi ingerir Valium
para cortar uma ameaçadora bad trip. Se alguém
desprevenido recebesse como antídoto a Thorazine para
corte numa Stp trip, morreria de colapso cardíaco
- isto das drogas é muito delicado”.
Visões
literárias
O
culpado - mais uma vez - foi Marco Polo. Entre outras coisas,
ele trouxe, do Oriente, o conhecimento dos poderes da cannabis
índica. Mas foi no século 19 que o uso da maconha
e das drogas como “experiência literária”
tomou conta dos artistas e intelectuais. Em 1822, Thomas de
Quincey publica Confissões de um Comedor de Ópio;
em 1846, Théophile Gauthier lança o Clube
dos Haxixins; e até Baudelaire embarca na trip com
Do Vinho e do Haxixe como Meios de Multiplicação
da Individualidade (1851) e Os Paraísos Artificiais
(1860). Eram os precussores de outros laboratoristas
literários como Freud e Sherlock Holmes (cocaína),
Aldous Huxley e Henri Michaux (mescalina). Há uma conexão
muito forte entre os franceses do século passado e Edgar
Allan Poe.
Timothy Leary e a geração
psicodélica (LSD), (sem mencionar a subcultura do jazz
e os beats) pertencem à geração
dos pós-guerra, que, nos turbilhões de uma revolta
cultural e social, esvaziada de sentimentos espirituais encontraram
nas drogas a porta da “percepção”
fazendo de Blake e de Rimbaud os seus poetas preferidos.
*PUBLICADO NA REVISTA PSICODÉLICA “DE QUANDO
O ROCK ERA CONTRACULTURA’ VOLUME I