Dylan,
Juddy Collins, Arlo Guthrie, Ritchie Havens e convidados no
Carnegie Hall, 1968
Woody
Guthrie: "Esta máquina mata fascistas"
(Mário Pacheco)
A
Califórnia é um jardim do éden
Um paraíso para você e para mim,
Mas, acredite se quiser,
Você não vai achá-la tão incrível,
Se não tiver o Dó-Ré-Mi.
Refrão de uma música chamama Dó-Ré-Mi
alusão ao "dim-dim" escrita por Woody Guthrie
Woody Guthrie é considerado
um dos nomes mais importantes em toda a história da cultura
popular norte-americana. Ele foi, praticamente, o criador da
country-music moderna, que ajudou a promover através
de uma vida de andarilho, onde as recompensas financeiras eram
quase sempre nulas. Bob Dylan, por exemplo, costuma declarar
a seus biógrafos que, se Woody Guthrie não tivesse
existido, ele nunca teria abraçado a carreira musical.
De cidade em cidade, cantando para o povo com seu violão
(onde se lia, em letras grandes, "Esta máquina mata
fascistas"), Guthrie viveu de maneira exatamente opostas
aos superstars que conhecemos hoje. Apesar disso, sua
importância na música atual é grande demais
para ser medida.
No Carnegie Hall, em janeiro de
1968, aconteceu o histórico concerto em memória
de Woody Guthrie, falecido no ano anterior.
Bob Dylan, Judy Collins,
Arlo Guthrie, Joan Baez, Ritchie Havens, Peter Seeger, Country
Joe McDonald e Tom Paxton foram alguns dos artistas que participaram
do evento, todos tendo em Guthrie a maior influência musical
de suas carreiras, lotaram o teatro novaiorquino por três
noites seguidas. Desses concertos foi extraído o álbum
duplo "A Tribute to Woody Guthrie, contendo os momentos
mais emocionantes, e que foi lançado pela Warner Bros,
no início da década de 70 e relançado posteriormente
em 1976.
JB,
22 jan. / 2000
Os
sons do andarilho Guthrie
(Sérgio
Moriconi*)
A vida de uma lenda da música
folk americana, com o kung fu Carradine
"Esta Terra é Minha
Terra", produzido em 1976, é um filme honesto. Acompanha
parte da vida de Woody Guthrie, lenda da música folk
americana, influenciador de Bob Dylan e de todo os que se aventuraram
numa cruzada política contra o establishment.
O diretor Hal Ashby gosta da cultura pop e é visível
seu envolvimento. Tem um certo talento como diretor e leva a
vantagem de ter sido editor, colocando alguns efeitos de edição
um pouco fora dos padrões convencionais, além
de valorizar a fotografia, muito boa, a cargo de Haskell Wexley,
contemplado com um Oscar pelo trabalho. E não é
só. Deixa David Carradine parecer à vontade o
tempo todo, ao ponto de criar cenas improvisadas, imaginando
o que seria o processo de criação de Guthrie,
o tempo todo visto como um vagabundo andarilho, tirando daí
a inspiração para várias de suas canções,
parte delas, aquelas não diretamente relacionadas com
a instrumentalização da consciência política,
baseadas em trivialidades como a necessidade de manter o passo
(keep on walkin) enquanto a carona não vem. Naturalmente
várias cenas têm rodovias e estradas vicinais como
cenários, evidenciando mais uma vez que, tanto Carradine,
quando Ashby, devem ter contriubído com a própria
imaginação, porqu é improvável que
detalhes corriqueiros e diálogos que supõem uma
grande presença de espírito de Guthrie, tenham
sido retirados de notas de diários e testemunhos de amigos,
parentes ou o próprio filho, Arlo, também músico.
É assim que pequenos incidentes aparecem, deixando para
segundo plano uma reles descrição "objetiva",
fixando-se nos conformes de entretenimento, sem abusar no entanto
da superficialidade absoluta.
"Quanto mais se come, mais
se caga", filosofa Guthrie no banco de trás do carro
de um simpático casal de velhinhos, que, chocados, o
colocam porta afora. Uma atitude vulgar demais para um indivíduo
que morreu pobre, mas como herói, e ainda no seu leito
de morte recebeu das mãos de um Secretário de
Estado americano uma distinção de mérito
pelos serviços prestados a grandes obras de engenharia.
Uma contradição? De maneira nenhuma, Guthrie era
desprendido ao ponto de abandonar o emprego numa estação
de rádio de Los Angeles, porque ouviu falar do projeto
de um filme documentário que tinha como objetivo esclarecer
a população sobre um programa de grandes barragens
que visavam irrigar as terras de pequenos proprietários
rurais, programa que era torpedeado pelas grandes empreiteiras,
interessadas em fazer especulação na região.
Guthrie se ofereceu para fazer a trilha do filme, e mais, mudou-se
com a família, saiu a campo para conhecer o lugar, conversou
com os trabalhadores, promoveu shows no canteiro de obras e
acabou ganhando a simpatia do diretor do programa, que lhe cedeu
um pequeno escritório onde pudesse escrever suas canções.
Durante toda a vida, Guthrie trabalhou para criar uma consciência
sindicalista entre operários alijados dos benefícios
que a constituição garantia. Escreveu em jornais
comunistas e até sua morte em 1967 dedicou-se a esta
única causa. Ashby omite acontecimentos importantes,
entretanto, respeitou a dignidade do personagem com uma boa
dose de bom senso.