OAEOZ:
rock na espiral da elipse curta
(Mário Pacheco)
Ivan
Santos - voz/guitarra/teclados/letras Hamilton
de Lócco - bateria Rodrigo
Montanari - contrabaixo
André
Ramiro - guitarras Carlos Zubek (Sabadá)
- guitarras
contatos:
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ou 41 3526956
É
assustador, angustiante e arriscado gravar um manifesto de rock
com personalidade e que exale o feromônio produzido pelo
medo, imaturidade e o desafio de acompanhar a perspectiva ou a
cruel probabilidade de constatar que longe demais das capitais,
velho demais... Ou 15 minutos coincidem num incômodo dejà
vu: nem indie, nem mainstream. "Às vezes céu"
concilia odor e som numa marca-dágua. Sua crueza de violões
remete ao folk urbano do Violent Femmes, ecos do Zero e do Varsóvia
na década de 80, quando éramos adolescentes.
A
banda curitibana OAEOZ emprega o título clássico
do canto do cisne dos Mutantes como homenagem; sua sonoridade
não se prende à moldura rococó - sua sonoridade
habita febrilmente o precipício das noites num envolvente
desespero juvenil nefelibata que marcou Renato Manfredini, Ian
Curtis e muitos outros que sucumbiram ao brilho dos anos 80.
Um
delicado prazer (co) romper o invólucro deste CD. "Às
vezes céu", espalha aquele cuidado tátil em
retirar o plástico sem amassar o canto do disco, o cuidado
com as digitais para não umedecer a capa de papel reciclável.
Antes um envelope azul e dentro duas folhas azuis para press-release
com uma carta ao vocalista Ivan assinada por Rafael Martinelli,
vocalista da banda Deus e o Diabo - RS (rolem stone?) Informações
precárias para a trilha sonora de Birdy ("Asas da
liberdade") no campo minado daquela capa rodeada de camas
frente ao mar no disco do Floyd. O ranço progressivo morre
aqui, pra mim é um réquiem das mudanças hormonais.
A
faixa Dizem me deixa na dúvida se estou melancólico
ou sóbrio demais ou é muita cena de ciúmes,
aquele bardo folk tipo Nick Drake que somente você tinha
os discos e sabia as letras reencarna nestas 12 faixas. O lirismo
da voz do Ivan Santos excede em proporção atentiva
no campo literário/sonoro/visual que muitos (e menos ainda
divulgados) rompem para impor a vontade através de atos
solitários presos naquele lapso na espiral da elipse curta.
"Às
vezes céu" é a estrada aberta ou o sinal do
trem mudou.
Na
abertura, frases de guitarra com timbre "patrulheiro"
e violões inspirados na MKDT - andamentos que me fazem
cair na altura inaudível no volume redondo do potenciômetro.
Vamos começar de novo e o piano que não é
honk tonk faz seu timbre cafona - o piano é uma guitarra
de citação Durutti Colunn um agudo sem estourar
a nota, um acalanto num exercício de Luz e sombra.
Meia
volta é aquele lirismo agridoce da fase "Let
it bleed" dos Rolling Stones, o rock por trás da porta
entreaberta com uma guitarra em dueto próprio e coro final.
"Às
vezes céu" é resultado de experiência
e construções próprias lembrando os Architectural
Abdabs e reflexos de cicatrizes exibidas na pele: o melhor resultado
é a cumplicidade. Acredito que todas as líricas
de Ivan Santos pertençam a ele mesmo, torna a audição
menos dolorosa é impossível compartilhar o seu desespero.
Na 11.ª faixa a ópera fica claramente antagônica
à ópera original dos Mutantes.
Este
discocedê é recomendado a quem gosta de desafios.
Sua curiosa sonoridade contida que realça a voz me lembra
que o jazz irrita ao ouvinte menos afeito justamente por costurar
linhas tortas e não de canduras psicodélicas. Se
eu sobreviver amanhã, arrumo coragem para ouvir o disco
no escuro. Um fino solo de guitarra me devolve a alegria neste
instante...
Faixas:
Lembranças (não valem nada) / Vôo baixo
/ Dias tortos / 3h30 / Ausência / Dizem / Às vezes
céu (o pêndulo está pra cima) / Luz
e sombra / Meia volta / Mar dividido / Horizontes (Igor Ribeiro
- compôs esta faixa de destaque) / Ajuda - depois do
azul (cujo anjo poderia ser Syd Barrett).