O Álbum Branco quem canta o que, quando e onde
(Mal Evans - Yellow Submarine-RJ)

 
     1. (sobre o poster-colagem) Aonde foi tirada a foto que mostra Ringo (de barba dançando com Elizabeth Taylor?
     — Durante uma festa no London's Dorchester Hotel.
     2. Qual foi o Beatle que imprimiu seus lábios na foto do poster?
     — Os lábios não pertencem à nenhum Beatle (você sabe, Beatles não usam batom).
     3. O gato que aparece numa foto colorida, é o gato de Paul, Thisby?
    — Em uma palavra — Não.
     4. No poster aparece uma grande foto de alguém deitado numa banheira. É John ou Paul?
     — O cara com sabão por todo o corpo é Paul.
     5. Tem uma foto muito antiga mostrando dois rapazes em roupas de couro preto. Parece com uma foto de dois Beatles em      Hamburgo, nos velhos tempos mas suas cabeças estão cortadas.
     — Na verdade é uma foto antiga mas não foi tirada em Hamburgo. São John e Paul em Paris.
     6. Quem diz 'Thank you' ao final de Ob-la-di Ob-la-da?
    — O Beatle agradecido é John.
     7. Quem canta "Not when he looked so fierce" com voz de criança em The Continuing Story of Bungalow Bill?
     — Não é nenhum dos rapazes e sim Yoko.
     8. Em que faixa Mal Evans aparece tocando trompete?
    —
Helter Skelter, onde John também toca saxofone.
     9. Quem toca guitarra acústica atrás de Paul em Blackbird?
      — O próprio Paul. Ele gravou o acompanhamento primeiro e depois a parte vocal.
     10. Quem toca órgão Hammond em Don't pass me by?
     — Ninguém toca órgão, mas o som a que você se refere vem de um piano especialmente preparado, tocado por Ringo.
     11. Paul escreveu Mother's Nature Son enquanto ele estava na sua fazenda na Escócia? Parece que ele foi inspirado pela atmosfera local.
     — Eu sei o que você quer dizer sobre a atmosfera, das palavras, mas John e Paul escreveram isto enquanto eles estavam na Índia no ano passado.
     12. Quem grita I've got blisters on my fingers no finalzinho de Helter Skelter?
     — A voz é de Ringo.
     13. Como Paul fez para sua voz sair parecida com um disco de um velho gramophone quando ele diz Now he's hit th big time' em Honey Pie?
    — Truques, técnicas. Altamente confidencial.
     14. De quem é a voz que diz no começo de Revolution 9 Number nine? Parece com John ou Mal. É a mesma voz que aparece mais tarde?
     — Sim, a voz é a mesma o tempo todo, mas não é minha nem de John. Foi tirada de um disco educacional, de uma biblioteca.
     15. O coro que canta na música Goodnight são apenas os Beatles? Parece com mais de quatro vozes no background.
     —
É bem mais de quatro. Oito de fato. Quatro rapazes e quatro garotas que foram trazidos para ajudar nos backing vocals.



The Beatles – 1968/Apple – EMI
(Dado Nunes)

 
    Disco um
     1. Back in the USSR / 2. Dear Prudence / 3. Glass onion / 4. Ob-la-di, Ob-la-da / 5. Wild Honey Pie
     6. The continuing story of Bangalow Bill / 7. While my guitar gently weeps / 8. Hapiness is a warm gun
     9. Martha my dear / 10. I´m so tired / 11. Blackbird / 12. Piggies / 13. Rocky Racoon / 14. Don´t pass me by
     15. Why don´t we do it in the road / 16. I will / 17. Julia

     Disco dois
     1. Birthday / 2. Yer blues / 3. Mother nature`s son / 4. Everybody´s got something to hide except me and      my monkey / 5. Sexie Sadie / 6. Helter Skelter / 7. Long, long, long / 8. Revolution 1 / 9. Honey Pie / 10. Savoy      truffle      11. Cry baby cry / 12. Revolution 9 / 13. Good Night

     • Gravado em oito canais nos estudios: Abbey Road/ Olympic Sound Studios/Trident Studios
     • Produzido por George Martin, John Lennon, George Harrison, Paul Mccartney, Chris Thomas
     • Engenheiros de gravação : Geoff Emerick, Phil Mcdonald, Pete Brown, Richard Lush, Ken Scott, John Smith, Barry Sheffield e Dave Harries.

     Os instrumentos usados por McCartney durante a gravação do álbum

     • ludwig drums /• rickenbacker 4001/s • fender jazz bass • epiphone casino
     • steinway grand piano • matin d-28 • hofner 500/1

    Faixas compostas por Paul

     Back in theUSSR, Ob-la-di, Ob-la-da, Wild Honey Pie, Martha my dear, Blackbird, Rocky Racoon, Why don´t we do it in the road,I will, Birthday, Mother nature`s son, Helter Skelter, e Honey Pie

    
     Oito curiosidades sobre o “Ábum Branco”:

     1.
     Durante as gravações do “Álbum Branco”, após várias discussões entre Paul e Ringo, Ringo decide abandonar a banda no dia 22 agosto. Paul vinha cobrando uma melhor performance de Ringo em Back in the USSR, e não estava conseguindo agradar o “cute beatle”. Com Ringo de férias por alguns dias, Paul se encarrega das canções: Back in the USSR e Dear Prudence.      Quando Ringo já havia voltado, Paul gravou também a bateria em Why don´t we do it in the road, Mother´s nature son.

     2.
     Ringo voltou ao conjunto no dia 5 setembro, no estúdio 2 de Abbey Road (na verdade voltou uma noite antes, na gravação dos promos de Hey Jude e Revolution), a gravação começou as 19h00 e teve fim as 3h45 da manhã.

     3.
    O novo disco dos Beatles começou a ser gravado no dia 30 de maio, e terminou no dia 18 de outubro, e os discos prensados nos dias 20 de outubro, (mono) e 21 outubro (stereo).

     4.
     Além da participação de Eric Clapton no solo de While my guitar..., houve também a participação de Jackie Lomax nos backing vocals de Dear Prudence. Chris Thomas também produziu várias faixas do disco, como: Helter Skelter, Glass onion, Birthday, Piggies, Happiness is a warm gun, etc.

     5.
     Jimmy Page foi visitar Os Beatles no estúdio, e acabou dando uma mãozinha na faixa Helter Skelter.

     6.
     Durante as gravações do “Álbum Branco”, os Beatles haviam gravado um single com músicas que estavam sendo trabalhadas durante o disco, são elas: Hey Jude e Revolution (a versão original é a lenta, mas eles acharam que seria bacana uma versão mais “porrada” para o single). Hey Jude é o primeiro single com o selo Apple, e um dos maiores sucessos dos Beatles, tendo vendido mais de 8.000.000 de cópias em todo o mundo.

     7.
     Savoy truffle
, teve seus 6 saxofones saturados, o que deixou os session musicians enfurecidos, um deles chegou a dizer: “se você queria isso, não precisaria de um profissional, bastava chamar um amador qualquer”.

     8.
     No dia, 22 de novembro. É lançado o “Álbum Branco”, o disco mais vendido dos Beatles durante o longo dos anos. Somente nos Estados Unidos na semana de lançamento, vendeu 2.000.000 cópias. É também o primeiro long play com o selo da Apple.


     
     28 jul. 68
    On Sunday, in the midst of recording sessions for the “White Album”, The Beatles decided to spend a
Mad Day Out being photographed at seemingly random locations all over London. Paul's then girlfriend, Francie Schwartz was assigned the task of picking locations that would act as suitable photographic sites. Veteran war photographer Don McCullin was called upon to act as primary cameraman, however additional photographers Ronald Fitzgibbon, Stephen Goldblatt, Tom Murray, and Tony Bramwell came along as well. Beatles' assistant Mal Evans also came along and took pictures. Other spectators included Mal's six-year-old son Gary Evans, Yoko Ono, and Francie Schwartz.




Os 40 anos do álbum branco dos Beatles
jamari.franca@oglobo.com.br

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Enviado por Jamari França - 1 abr. / 2008

 

      "The Beatles", mais conhecido como o álbum branco, foi lançado na Grã-Bretanha em 22 de novembro de 1968. É considerado o começo do fim dos Beatles porque já não demonstravam a mesma união de antigamente. John, Paul e George trabalharam várias canções sozinhos e os três usavam os demais como se fossem músicos de estúdio. O álbum branco tem 13 músicas de John, 11 de Paul, quatro de George, uma de Lennon e McCartney e uma de Ringo.      Em fevereiro, os quatro Beatles foram a Rishikesh, na Índia, para o centro de meditação do guru Maharishi Mahesh Yogi, que tinham conhecido no ano anterior durante um período de meditação no País de Gales em agosto. Concentrados lá com seus violões, eles compuseram adoidado e John até brincou que Ringo tinha composto sua primeira canção, "Don't pass me by", graças às vibrações inspiradoras da meditação. Ainda na Índia eles gravaram demos acústicas da maioria das canções.      As gravações começaram dia 30 de maio em Abbey Road com “Revolution 1”, de John Lennon, e terminaram dia 13 de outubro com "Julia", do mesmo Lennon. Eles também gravaram nos Trident Studios onde havia uma máquina de oito canais e, antes de acabarem, “Abbey Road” também ganhou oito canais. A idéia era fazer um disco de rock não rebuscado como o anterior ''Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band'', com os instrumentos usados pela própria banda.      A capa toda branca é um contraponto à de Sgt Pepper's, excessivamente rebuscada, com mil elementos visuais. A simplicidade não vingou totalmente porque o álbum duplo trazia encartado um grande poster com colagens na frente e as letras atrás e um retrato de cada um dos quatro. O nome da banda estava impresso em alto relevo na frente, também em branco, e as primeiras edições tinham o número de cada cópia. Na segunda capa havia os nomes das músicas e, na terceira capa, fotos individuais em preto e branco.      1968 foi um ano de grandes acontecimentos. A guerra encarniçada no Vietnam e a revolta se espalhando pelas universidades americanas. O maio de 1968 na França (foto), o endurecimento da ditadura no Brasil e a primavera de Praga sufocada pelos tanques soviéticos em agosto. Um ano de grandes discos: "John Wesley Harding" (Bob Dylan), "We're only in it for the money" (Frank Zappa and the Mothers of Invention), "A saucerful fo secrets" (Pink Floyd), "Beggar's banquet" (The Rolling Stones) e "Electric Ladyland" (Jimi Hendrix Experience), entre outros. E filmes marcantes como "Z" (Costa Gavras), "Teorema" (Pier Paolo Pasolini), "O bebê de Rosemary" (Roman Polanski). Nos livros destaque para "Do androids dream of electric ship" (Philip K. Dick), inspirador de "Blade runner", "The armies of the night" (Norman Mailer), "The electric kool aid acid test" (Tom Wolfe) e "Castaneda: Os ensinamentos de Don Juan: o caminho yaqui do conhecimento" (Hellen Ker e outros).     Os 40 anos do álbum branco será dividido em quatro posts. Este primeiro abrange o lado um do álbum duplo. A edição em CD é dupla com os lados um e dois no primeiro CD e os dois restantes no segundo CD.      Back in the USSR (Paul McCartney) - Os Beatles eram proibidos na União Soviética e esta música saiu três meses depois de as tropas soviéticas sufocarem a Primavera de Praga, o que provocou acusações de que seu autor, Paul McCartney, estivesse defendendo o comunismo. Claro que não era nada disso. Paul disse que fez uma paródia dos Beach Boys e um contraponto com "Back in the USA" de Chuck Berry. Ele achou divertido falar da URSS como se fosse os EUA e das garotas da Ucrânia como se fossem as garotas da Califórnia (''California girls'', música dos Beach Boys).      A canção foi gravada nos dias 22 e 23 de agosto sem a presença de Ringo Starr, que brigou com Paul por causa da levada de bateria e resolveu deixar o grupo (voltou dia 5 de setembro). No dia 22 gravaram a base com Paul na bateria, George na guitarra solo e John no baixo num rock energético. No dia 23 gravaram mais duas baterias, Paul e George nas guitarras solo, dois baixos (Paul e George), Paul colocou a voz, John e George fizeram vocais a la Beach Boys e bateram palmas. O engenheiro Ken Scott levanta a hipótese (mas não afirma) que John e George gravaram as duas baterias e foi feita uma montagem. Naquela época isto era feito com gilette, cortando e colando as fitas.      O som do avião a jato foi gravado no aeroporto de Londres. O chefe da seção de efeitos especiais Stuart Eltham afirmou que se tratava de um avião Viscount, não disse de que companhia, e estava arquivado como "Volume 17: Motor a jato e a pistão".      Dear Prudence (John Lennon) - A Prudence do título é irmã da atriz Mia Farrow. Ambas estavam na Índia e Prudence se mostrava muito arredia, trancada em seu bangalô com seus exercícios de meditação. A letra a chama para sair e brincar que o sol brilha, o céu está azul, está tudo lindo e ela também. John e George gravaram as guitarras em estilo dedilhado - John no canal direito segurando a música inteira, George solando no canal esquerdo. Paul gravou a bateria, tudo isso no dia 28 de agosto. No dia seguinte, Paul gravou o baixo, John o vocal com dobra e os vocais, pandeiro e palmas gravados por Paul e George. O primo de Paul, John MCCartney, o cantor e guitarrista contratado da Apple Records, a gravadora dos Beatles, Jackie Lomax e o roadie Mal Evans ajudaram nos vocais e palmas. No dia 29, Paul gravou piano e flugelhorn. Paul dá uns vacilos na bateria durante a levada, mas no final ele manda ver nas viradas. A canção devia terminar com palmas e gritos, gravados por todos, mas não vingou na forma final. A canção começa em fade in e acaba em fade out.
     Glass Onion (John Lennon) - John sempre se divertiu com as interpretações que davam às letras dos Beatles e gostava de colocar coisas sem sentido. A letra de "Glass Onion" é toda construída para provocar um curto circuito nesse povo. Ela se refere a outras músicas dos Beatles num texto totalmente non sense que fala em olhar através de uma cebola de vidro/monóculo. As canções citadas são Strawberry fields forever ("I told you about Strawberry Fields/ you know the place where nothing is real"), "I am the walrus" ("Well here's another clue for you all/The walrus was Paul''), "Lady Madonna" ("Lady Madonna trying to make ends meet"), "Fool on the hill" ("I told you about the fool on the hill") e "Fixing a hole" ("Fixing a hole in the ocean").      A canção foi gravada nos dias 11, 12 e 13 de setembro. No primeiro dia foram 34 takes da base com John (violão), Paul (baixo, piano), George (guitarra solo) e Ringo (bateria). No dia seguinte, gravou-se o vocal de John e um pandeiro de Ringo e, no dia 13, piano e bateria. No dia 10 de outubro, foram gravadas as cordas por um octeto com quatro violinos, duas violas e dois cellos. Na mixagem, a bateria ficou no canal direito, o baixo seco de Paul no esquerdo. Quando John cita "Fool on the hill'' há, no canal direito, uma breve flauta tirada da música e gravada no dia 16 de setembro com auxílio de um gravador por Paul e John.      Ob-la-di Ob-la-da (Paul McCartney) - Uma canção infantil de Paul em ritmo de ska que ele sugeriu como single, mas os outros discordaram. O grupo Marmalade gravou e foi ao primeiro lugar. A história de Desmond, dono de uma carrocinha no mercado, e Molly, cantora numa banda. Eles se casam, têm dois filhos, de dia trabalham no mercado, de noite ela canta num bar. Paul levou a banda à loucura fazendo e refazendo a canção num total de 42 horas de trabalho nos dias 3,4,5,8,9,11 e 15 de julho. Paul cantou, fez vocais dobrados e tocou baixo; John fez vocal e tocou piano; George fez vocal e tocou violão e Ringo bateria, bongôs e percussão. Todos bateram palmas e fizeram "percussão de boca", além dos inúmeros barulhinhos e falas ouvidos ao longo da canção. Exemplos: John canta "arm" e George canta "legs" depois de Paul cantar "Desmond let the children lend a hand". E George ainda canta "foot".      Paul gravou uma guitarra em tom grave para soar como um baixo, John o piano da introdução com o detalhe de ter tocado em desespero porque Paul não se dava satisfeito, gravando mais e mais takes. No dia 11 gravaram três saxofones e um piano elétrico por Nicky Hopkins, o grande músico que tocou muito tempo com os Rolling Stones. Paul levou uma cópia da canção para casa e, no dia 15, gastou boa parte da sessão, que foi de 15h30 às 3h30 da madrugada, refazendo a voz.      Wild honey pie (Paul McCartney) - Gravada por Paul sozinho no dia 20 de agosto, enquanto John e Ringo trabalhavam em “Yer blues” e em “Revolution 9” em outro estúdio. George tinha viajado para a Grécia, na primeira vez em que um Beatle se ausentava durante a gravação de um álbum. É uma brincadeira em cima de outra música de Paul no disco, "Honey pie".     The continuing story of Bungalow Bill (John Lennon) - Canção bem humorada que John fez na Índia inspirado em um americano que também estava em Rishikesh: Ele se ausentou por uns dias para caçar tigres e depois voltou para continuar seus estudos de aperfeiçoamento espiritual. Diante de uma figura dessas, John partiu para a gozação: "Ele saiu para caçar tigres com sua arma e um elefante/ Em caso de acidentes, ele sempre levava sua mãe/ Ele é aquele americano saxão filho da mãe com cabeça em forma de bala", daí ele chamava para o refrão com "Cantem todas as crianças". Todo mundo que estava em Abbey Road foi convocado para cantar o refrão e fazer uma zona para o final da canção, incluindo Yoko Ono e Maureen Starr, mulher de Ringo. Yoko Ono canta em dois versos na terceira estrofe. Ela faz "But when he looked so fierce", aí John "his mummy butted in". Em seguir ela e John cantam "If looks could kill it would have been us instead of him".
     A canção foi gravada num único dia, 8 de outubro, numa sessão de gravação que durou 16 horas, de quatro da tarde às oito da manhã do dia nove (aniversário de John, 28 anos) com gravações de “Long long long”, “I'm so tired” e “Bungalow Bill”. John e George tocaram violões, Paul tocou baixo, Ringo bateria e pandeiro. Chris Thomas tocou mellotron fazendo sons de bandolim e trombone.      While my guitar gently weeps (George Harrison) – George teve dificuldades em gravar suas quatro canções incluídas no álbum branco. "Tive que fazer umas 10 de John e Paul antes que me dessem uma chance", contou ele em 1987. Foram cinco sessões nos dias 25 de julho, 16 de agosto, três, cinco e seis de setembro. George tocou violão e órgão e a voz principal com dobra, Paul piano, órgão e baixo distorcido (canal direito), John guitarra e Ringo bateria e pandeiro. O grande trunfo é o solo de Eric Clapton, gravado no dia seis de setembro com uma Gibson Les Paul depois de muita insistência de George. "Ninguém toca num disco dos Beatles," relutou Eric e George respondeu que a música era dele e queria que Eric tocasse. Os dois eram muito amigos, moravam perto e se freqüentavam, a ponto de Eric se apaixonar pela mulher de George, Pattie Boyd.      George disse que a presença serviu para que os demais Beatles trabalhassem com entusiasmo, em vez de relutância. Eric não foi creditado na época por problemas contratuais. A letra era uma aplicação dos ensinamentos aprendidos na Índia com uma abordagem condescendente que mereceu críticas: "Eu não sei como alguém te controlou. Eles te compraram e te venderam. Eu olho para todos vocês e vejo o amor dormindo, enquanto minha guitarra gentilmente chora." A música partiu de duas palavras "gently weeps" numa página do I Ching que George abriu ao acaso.      Happiness is a warm gun (John Lennon) – O título violento foi achado por John numa revista de armas, uma sugestão de que a felicidade é uma arma quente, ou seja, que acabou de ser usada contra alguém. A letra é mais um exercício de non sense para perturbar os que buscam significados nas letras dos Beatles. "Ela não é uma garota que perde muito. Ela conhece bem o toque da mão de veludo como um lagarto numa janela" e por aí vai, com alusão também a drogas "Preciso de um pico porque estou indo para baixo". O nome da música também foi associado a drogas, como se "arma" quisesse dizer "seringa". O recém falecido Neil Aspinall, assessor dos Beatles desde Liverpool, disse que ele e John fizeram muitos versos juntando palavras aleatóriamente. Uma referência pelo menos é verdadeira, o "homem na multidão com espelhos multicoloridos nas botas" é referência a um cara que botava espelhos nas botas para olhar por baixo das saias das mulheres em jogos de futebol.      A interpretação é uma das melhores de John em disco. Começa suave e vai num crescendo à medida que ele enuncia a letra, até a parte final inspirada em doowop, com sua voz gritada (canal direito) e o coro de resposta feito por ele, Paul e George (canal esquerdo). John tocou guitarra, George guitarra distorcida, Paul baixo, órgão e piano. Foram 70 takes nos dias 20, 23 e 24 de setembro. John decidiu que a primeira parte do take 53 e a segunda parte do take 65 eram as melhores. Daí fizeram a edição no dia 25.     Fim do lado um.  
  
      Enviado por Jamari França - 10/4/2008- 9:00
     Os 40 anos do álbum branco dos Beatles (Segunda Parte)

     “The Beatles”, o álbum branco dos Beatles, entrou em várias listas de melhores de todos os tempos. Numa eleição promovida em 1997 pela loja inglesa de discos HMV em parceria com o Canal 4, o jornal “The Guardian” e a “Classic FM”, o álbum ficou em 10º lugar na lista de “Músicas do milênio”. A mesma posição ele ocupou na lista dos 500 discos mais importantes de todos os tempos da revista americana “Rolling Stone”. A revista ''Time'' colocou o álbum entre os 100 mais importantes de todos os tempos numa lista por década, sem ordem de classificação. Nos Estados Unidos, é o décimo disco mais vendido da história com 19 discos de platina ou 19 milhões de cópias vendidas. O álbum foi lançado em 22 de novembro de 1968 na Grã-Bretanha, e no dia 25 nos Estados Unidos.     Nas entrevistas que deu para a série de DVDs “The Beatles anthology”, Ringo Starr disse que, para ele, o pior da fase de gravação mais elaborada da banda era ficar um tempo sem fazer nada nos estúdios até chegar sua vez. E, muitas vezes, quando chegava, o baterista tinha que reproduzir o que o autor da canção queria, em vez de o deixarem livre para elaborar sua participação. Nas gravações do álbum branco, Ringo perdeu finalmente a paciência. Irritado com as instruções de Paul McCartney na gravação de “Back in the USSR”, saiu batendo a porta (metaforicamente) e disse que estava fora da banda. Isso aconteceu em 22 de agosto de 1968. O trabalho não parou. Enquanto cortejavam o baterista para que voltasse, o trio gravou “Back in the USSR” e “Dear Prudence” com Paul na bateria. No dia cinco de setembro, Ringo voltou e encontrou seu kit decorado com flores azuis, brancas e vermelhas (idéia de George Harrison). No futuro, ele se referiu ao incidente como o início de “meses e anos de angústia”.  

   “Martha my dear” – Paul McCartney – Gravada sem os demais Beatles nos estúdios Trident, Paul se revezou entre piano, baixo, guitarra, bateria, palmas e vocal com dobra. Foram dois dias de trabalho, quatro e cinco de outubro, com 14 músicos fazendo sopros e cordas: quatro violinos, duas violas, dois cellos, três trumpetes, flugelhorn, trombone e tuba. A maior parte foi gravada na sessão do dia quatro, que durou de quatro da tarde às quatro e meia da manhã. No dia seguinte, Paul gravou baixo e guitarra. Na sessão do dia quatro, foram gravados também os sopros de outra música de Paul, “Honey pie”. Martha era a cadela pastor de Paul, que morava no mesmo bairro da gravadora EMI, St. John’s Wood, e ele de vez em quando a levava para passear. Um grupo de fãs que fazia plantão diante de sua casa às vezes recebia o privilégio de levar Martha para passear. Paul também sentava na janela de noite com o violão e cantava para elas, assim reza a lenda. Apesar do nome, a letra não é sobre a cadela, mas sobre um caso de amor complicado, a menos que alguém ache que versos como “eu e você fomos feitos um para o outro, garota boba” se referem à cadela. O arranjo de cordas e sopros é de George Martin. Paul costumava passar para ele de boca o que queria e Martin orquestrava. Na mixagem, o piano fica no canal esquerdo junto com cordas e palmas. No canal direito, estão os sopros e baixo. A bateria está no meio e a voz, no direito para o esquerdo. 

    “I’m so tired” (John Lennon) – John compôs esta música na Índia, numa referência ao seu cansaço com tanto estudo e meditação no ashram do Maharishi Mahesh Yogi. Ela se conecta diretamente com “I’m only sleeping”, do LP “Revolver”, pela semelhança do tema. Naquela, John pede que não o acordem porque está ferrado no sono. Em “I’m so tired”, ele tenta combater a insônia com um drinque e um cigarro e, de quebra, xinga Sir Walter Raleigh, o cara que introduziu o tabaco na Inglaterra, de “babaca”. No final da canção John murmura “Monsieur, monsieur, what about another one?”      A gravação foi feita num único dia, 8 de outubro, com John na voz, violão guitarra e órgão. Paul tocou baixo, piano elétrico e fez vocal, George guitarra e Ringo bateria. A sessão durou de quatro da tarde às oito da manhã com os quatro trabalhando também em “The continuing story of Bungalow Bill”, de John, e na balada “Long long long”, de George. Na mixagem, voz, vocal e órgão no meio, guitarras à direita e bateria da esquerda para a direita (não é pan). 

    “Blackbird” – Paul McCartney – Paul compôs esta música na Índia e a inspiração foi um acordar com o canto de pássaros antes do dia raiar. O músico usou a imagem do pássaro negro para se referir às experiências que estava tendo com o guru indiano. “Pássaro negro...pegue estas asas quebradas e aprenda a voar/ Você esperou por este momento toda a sua vida”. E “Pássaro negro...pegue estes olhos encovados e aprenda a ver/ Em toda sua vida você estava apenas esperando este momento para ser livre”. Paul gravou em 11 de junho, sozinho, em Abbey Road, com violão Martin D-28 e voz , com uma afinação em ré das duas cordas mi com execução dedilhada. Apesar de simples, Paul gravou 32 takes, 11 deles completos. O canto do pássaro na faixa veio do volume sete da biblioteca de efeitos de Abbey Road: “Pássaros de pena”. A mixagem pôs um clique (metrônomo) marcando no canal esquerdo como se fosse percussão e o restante no meio. Paul trabalhou no estúdio dois de 18h30 a 0h15, enquanto John trabalhava nos efeitos de “Revolution 9” no estúdio três de 19h às 22h15.  

   “Piggies” – George Harrison – Canção de George que ecoa “Animal Farm” ("A revolução dos bichos"), de George Orwell, em que os porcos dominam os demais animais com o mote de que todos são iguais, mas uns são mais iguais do que outros, o que se encaixa perfeitamente no conceito ocidental de democracia. A letra fala de porcos pequenos que apenas têm a lama para chafurdar e dos grandes porcos acima deles, sempre com roupas limpas, que saem com as esposas para jantar e comem bacon, dos porcos pequenos, supõe-se.     A canção tem um arranjo barroco com quatro violinos, duas violas e dois cellos. O co-produtor Chris Tomas, que dirigia as sessões na ausência de George Martin, tocou cravo. Paul tocou baixo, Ringo bateria e John fez os loops de fita com os roncos dos porcos usando o volume 35 da biblioteca de áudios: “Animais e abelhas”. George gravou a voz com dobra em alguns pedaços e distorção. O engenheiro Ken Townshend explica como conseguiu o efeito: “Passamos o sinal do microfone por filtro de câmara de eco muito agudo que cortou tudo acima e abaixo do nível de três kilohertz, criando uma faixa de som bem estreita”. Na mixagem, o trecho em que Paul imita o ronco de um porco fica no canal esquerdo com baixo e pandeiro. A voz de George está no meio com dobras que vão para o canal direito. Violinos e cravo estão no meio, com cellos à direita. O loop dos porcos à direita.     George contou com ajuda de Lennon, autor do verso “clutching forks and knives to eat their bacon” (“Empunhando facas e garfos para comer seu bacon”) e sua mãe, Louise, fez o verso “What they need is a damn good whacking” (o que eles precisam é de uma boa surra”). A canção foi interpretada como sendo contra a polícia porque pigs é uma gíria para policiais. Charles Manson, o líder de uma seita que trucidou quatro pessoas numa mansão da Califórnia se disse inspirado pela canção “Helter Skelter”, deste álbum, e escreveu “morte aos porcos” na porta, uma referência, ao que parece, à música de George. Uma de suas vítimas foi a atriz Sharon Tate, oito meses e meio grávida do marido, o cineasta Roman Polanski, e três amigos, dois homens e uma mulher.  

   “Rocky Raccoon” – Paul McCartney – Canção com relato cômico de Paul sobre um caubói chamado Rocky Raccoon que vivia nos morros do estado de Dakota. A mulher dele, Magill, foge com um tal de Dan, ele vai atrás para lavar a honra, encontra os dois mas Dan é mais rápido e atira nele. Paul fez parte da letra no estúdio. Gravada numa única sessão no dia 15 de agosto, das 19h às três da manhã, com Paul na voz e violão, John no vocal, gaita, harmonium e baixo, George no vocal e Ringo na bateria. O produtor George Martin gravou o solo com um piano de armário. Na mixagem, a voz está no meio, no canal direito estão violão, gaita, vocal e o solo de piano. A bateria e o baixo à esquerda. Alguns versos deixados de lado: “roll up his sleeves on the sideboard”; “roll over Rock...he said oh, it’s OK doc, it’s just a scratch and I’ll be OK when I get home” “This hear is the story of a boy living in Minnesota”.
     “Don’t pass me by” – Ringo Starr – O baterista da banda sempre tentou fazer músicas, mas quando mostrava aos outros, eles caíam na gargalhada porque ele apresentava músicas que já existiam. Este country levou cinco anos para ficar pronto, uma canção de amor com versos pueris. Levou quatro sessões, em cinco e seis de junho e 12 e 22 de julho, com Ringo na voz, bateria, sineta, piano, Paul ao piano e baixo e Jack Fallon ao violino. Fallion era empresário de shows e músico e contratou os Beatles para alguns shows no começo da carreira deles. John e George não participaram da gravação. Na mixagem, os teclados e a voz estão no meio, o baixo à direita com o violino e a bateria à esquerda. 

    “Why don't we do it in the road?” – Paul McCartney - Um blues de verso único com apenas um minuto e 40 segundos gravado por Paul e Ringo em duas sessões nos dias nove e 10 de outubro, na reta final do álbum branco, no estúdio um. Paul tocou violão, guitarra, baixo e bateu palmas, Ringo tocou bateria e bateu palmas. Paul usa todos os seus recursos vocais nesta faixa, indo do gutural ao falsete num sonoridade bem crua. John adorou e ficou chateado por não ter sido convidado a participar quando Paul gravou as bases no dia nove. John e George estavam acompanhando mixagens em outro estúdio. Na mixagem, piano e guitarra à direita, baixo à esquerda e o restante no meio.  

   “I will” – Paul McCartney – Outra das belas baladas de Paul como “And I love her”, “Here, there and everywhere”, “For noone”, “Yesterday”, entre outras. Letra boba do tipo ''eu te amo e você sabe que vou te esperar", com um arranjo e interpretação tocantes, foi gravada em duas sessões, em 16 e 17 de setembro, com Paul na voz e violões, John na percussão e Ringo nas maracas, címbalos e bongôs. A canção exigiu nada menos que 67 takes até que Paul ficasse satisfeito com o take 65 na sessão que durou de sete da noite às três da manhã. No dia 17, Paul gravou um “baixo de boca” que pode ser ouvido melhor com fone de ouvido no canal direito e gravou vocais. O solo de violão está à direita , a percussão à esquerda, voz e vocal no meio.  

    “Julia” - John Lennon – Homenagem de John à sua mãe, Julia Stanley, que cuidou dele apenas nos primeiros quatro anos, passando a responsabilidade à irmã Mary, ou melhor, a Tia Mimi, que criou John. Julia prezava sua liberdade, via John apenas ocasionalmente, mas ele sempre a adorou. Os dois foram mais próximos na juventude de John, quando ele formou os Quarrymen, a banda à qual se agregariam Paul e George. Julia morreu atropelada em 15 de julho de 1958, quando John tinha 17 anos, e ele sempre demonstrou um trauma em relação ao abandono. Na canção “Mother”, de sua carreira solo, ele canta “mãe, você me teve, mas eu nunca tive você”. “Julia” é uma canção de amor para a mãe e também cita Yoko Ono no verso “ocean child calls me”: Yoko significa “criança do oceano” em japonês. Os psicólogos de plantão interpretam que Yoko finalmente preenchera o vazio que ele sentiu com a morte da mãe, a quem amava muito. Julia fazia o papel de amiga e o encorajava criativamente e sua morte, segundo os supracitados, o levou a adotar uma postura rebelde e a tratar mal as mulheres até conhecer Yoko. John gravou sozinho cantando e tocando violão duas vezes e estas duas versões foram superpostas no estéreo, o que dá um efeito quando ele canta “Julia”. Esta canção foi a última a ser gravada para o álbum branco, em 13 de outubro, e encerra o lado dois.


     Enviado por Jamari França - 15/4/2008- 9:00
     Álbum branco: Helter Skelter inspira chacina e Yoko Ono é macaca

     O lado três contém a música mais polêmica do álbum branco, o rockão de Paul McCartney “Helter Skelter”, usado pelos fanáticos da seita californiana de Charles Manson como desculpa para assassinar a atriz Sharon Tate e três amigos dela, além de várias outras pessoas. A canção, junto com outras do álbum branco, conteria mensagens de uma rebelião que jogaria negros contra brancos numa guerra racial e Manson se ergueria como o guia dos vencedores. O crime chocou a nação pela violência e, ao estilo show business do país, pela morte da bela Sharon grávida de oito meses. É óbvio que a música nada tinha a ver com isso, mas ficou associada ao crime. “Helter Skelter”, que ao pé da letra significa confusão, desordem, na época se referia a um escorrega em espiral nos parques de diversão ingleses e a letra se refere a isso: “quando eu chego ao fundo eu volto ao alto do escorregador, onde dou voltas num passeio, chego ao fundo e te vejo de novo”. A canção “Everybody’s got something to hide except me and my monkey”, de John Lennon, se refere à verdadeira guerra da imprensa e dos fãs dos Beatles contra Yoko Ono, retratada numa charge como uma macaca nas costas de Lennon. O lado três tem três músicas de John Lennon, duas de Paul McCartney, uma de George Harrison e uma de Lennon e McCartney. Birthday – Lennon e McCartney – Única canção no disco da dupla com os dois se revezando na voz principal. A parte principal é de Paul completada por John. Gravada no dia 18 de setembro, quando a BBC exibiu pela primeira vez o filme “The girl can’t help it”, estrelado pela louraça belzebu Jayne Mansfield como uma cantora em busca da fama. Mas o atrativo principal eram os números musicais de Little Richard, autor da canção-título, Fats Domino, The Platters e Gene Vincent & The Blue Caps. Os Beatles combinaram de começar a sessão de gravação às 17h em Abbey Road, depois seguir para a casa de Paul, na vizinha Cavendish Avenue, para ver o filme às 21h05. Paul foi o primeiro a chegar ao estúdio e os outros o encontraram levando “Birthday” ao piano com sua voz no alcance máximo ao estilo de Little Richard, usada por ele no passado em “Long tall Sally”. Os quatro começaram a trabalhar na base com Paul na voz e piano, John na guitarra e voz e vocal, George no baixo e Ringo castigando os tambores. Um rock rápido ao melhor estilo de Little Richard. Depois do filme voltaram para concluir, acertando algumas partes, John gravou a sua parte, duas esposas que estavam no estúdio, Pattie Harrison e Yoko Ono ajudaram nos vocais. A canção substitui o tradicional “Parabéns pra você” nos aniversários da turma do rock. “Yer blues” – John Lennon – Uma rara incursão dos Beatles pelo blues, foi escrita por John como uma brincadeira com a onda de blues que assolava a Inglaterra na época. Para captar o espírito do blues, foi gravado num pequeno anexo da sala de controle do estúdio dois. As guitarras de John e George passaram por caixas Leslie, Paul tocou baixo e Ringo bateria nas sessões de 13 e 14 de agosto de 1968. John faz uma grande interpretação nesta canção, que ele considerava uma de suas melhores e faz o solo de apenas duas notas. No final John canta diante de um microfone com captação mínima dando a impressão de que está cantando bem longe. No dia 20, Ringo gravou a contagem “two, three...” que abre a canção.Na sessão do dia 14 John também gravou “What’s the new Mary Jane”, que ficaria inédita em lançamento oficial até 1996, quando foi incluída no volume três da Beatles’ anthology”.

      “Mother’s nature son” – Paul McCartney – Outra balada lírica de Paul sobre um rapaz pobre do campo que se proclama filho da mãe natureza. Paul gravou sozinho com voz dobrada, violões, bateria e tímpanos em 25 takes, aproveitando o 24º. A primeira sessão foi no dia nove com gravação só de voz e violão. No dia 20 de agosto, Paul gravou um segundo violão, o tímpano e a bateria. Para esta última pediu ao engenheiro Ken Scott que ela tivesse um som parecido com bongôs e sugeriu que fosse gravada no corredor, o que deu um interessante efeito de staccato. Também foram gravados os sopros: dois trumpetes e dois trombones.

      “Everybody's got something to hide except me and my monkey” – John Lennon – Esta canção de aparente letra non sense se refere a uma charge de um jornal inglês que mostrava Yoko Ono como um macaco nas costas de Lennon. Muitos versos se referem a citações do Maharishi durante a estada da banda na Índia.“Come on it’s such a joy” (“Venha, é tanta alegria”) era uma frase freqüente do guru indiano. “The deeper you go the higher you fly” (“Quanto mais fundo você for, mais alto voará”) e “Your inside is out and your outside is in” (“Seu interior está para fora e seu exterior para dentro”) são outras citações. Gravada em quatro sessões nos dias 26 e 27 de junho e 1º e 23 de julho, John cantou, tocou guitarra e percussão. George fez vocal, tocou guitarra e percussão. Paul fez vocais, tocou baixo e percussão. Ringo tocou bateria e percussão. Todos bateram palmas. A canção tem uma insistente sineta no canal esquerdo e duas guitarras à direita, uma em contínuo, a segunda mais aguda tocando o riff básico de influência espanhola. No dia primeiro de julho, Paul gravou um baixo e vocais. Todos os quatro contribuíram para os repetidos “come on come on come come on” no final. Sexy Sadie – John Lennon - Inspirada no (suposto) comportamento do Maharishi Mahesh durante a estada dos Beatles no seu ashram na Índia em 1968. Eles souberam que o guru assediava discípulas para lhes mostrar um atalho sexual para o Nirvana. Lennon, sempre cínico, escreveu a canção e lhe deu o nome de Maharishi: “Sexy Sadie what have you done/ You made a fool of everyone” (“Sexy Sadie, o que você fez/ Você fez todo mundo de bobo”). O nome não se manteve como “Maharishi” por pressão de George Harrison e para evitar processos. Há uma segunda versão de que a fofoca foi engendrada por um certo Alex Mardas, ciumento com a influência do guru sobre os Beatles. Mardas era um charlatão conhecido como Magic Alex que convenceu os Beatles de que poderia construir um estúdio de 72 canais e não fez coisa alguma, só mamou nas tetas do Fab Four até ser posto porta a fora.A canção consumiu 35 horas de estúdio nos dias 19 e 24 de julho e 13 e 21 de agosto. John fez a voz com dobra, vocal, tocou violão, órgão Hammond e guitarra base. Paul tocou baixo, piano e fez vocal. George tocou guitarra solo e fez vocal e Ringo tocou pandeiro e bateria. A sessão do dia 19, de 19h30 até 3h30, foi dispersiva, com muitos improvisos, incluindo seis minutos instrumentais de “Summertime”, de George Gershwin. Vinte e um takes foram gravados da canção, mas John não gostou de nenhuma. No dia 24, eles recomeçaram com 23 takes, John marcou um deles como melhor, mas começou tudo de novo no dia 13 de agosto, desta vez mais rápido, com apenas sete takes. A canção foi finalizada no dia 21 de agosto. Helter Skelter – Paul McCartney – Uma das primeiras canções, se não a primeira, do que viria a ser chamado de heavy metal. Paul ficou mordido com uma declaração de Pete “The Who” Townshend, que chamou seu single “I can see for miles” de a “canção mais alta, barulhenta e crua” da carreira do Who. Paul resolveu fazer uma que fosse muito mais tudo isso que a do Who e há versões de que foi uma resposta a quem o acusava de só fazer baladas.Os Beatles gravaram a música em três sessões nos dias 18 de julho, nove e 10 de setembro com Paul no vocal, guitarra e baixo. John tocou baixo, sax tenor, baixo, guitarra e vocal. George tocou guitarra e fez vocal e Ringo bateria, numa performance excepcional. A sessão do dia 18 foi toda de jam sessions, uma delas de 27 minutos e uma das outras foi editada e incluída no volume três da Antologia.A sessão do dia nove de setembro foi descrita como uma loucura total pelo engenheiro Brian Gibson, que insinua que eles estavam drogados. O auxiliar de George Martin Chris Tomas conta que George Harrison botou fogo num cinzeiro e andou com ele na cabeça enquanto Paul gravava a voz. A canção tem um fade out e, a seguir, um fade in até um final caótico em que Ringo grita que está com bolhas nos dedos, uma referência à sua performance incendiária nos tambores e pratos. Long, Long, Long – George Harrison – depois da demência de ''Helter Skelter'' esta balada tranqüila de George cai muito bem. Gravada em três sessões nos dias sete, oito e nove de outubro com John Lennon ausente. George cantou com dobra e tocou violões, Paul tocou baixo e órgão Hammond. O co-produtor Chris Thomas piano. Um ruído no final climático é de uma garrafa de vinho que estava em cima da caixa leslie e começou a tremer quando Paul tocava. Eles gostaram do som e o repetiram com um microfone para a devida captação. A letra de George pode ser interpretada como de amor romântico, mas o engajamento religioso dele pode lhe dar uma outra interpretação: “Faz muito muito muito tempo/ Como eu posso ter te perdido/ Se eu te amava/ Levou muito muito muito tempo/ Agora estou feliz por ter te encontrado”.


     Enviado por Jamari França - 24/4/2008- 9:00
     Álbum branco, o final -numberninenumberninenumbernine

     Durante as gravações do álbum branco, os Beatles ensaiaram músicas que só iriam aparecer mais adiante, nos álbuns "Abbey Road" e "Let it Be", e outras que só emergeriam na carreira solo deles, como "Jealous guy", que John Lennon ensaiou com outra letra e outro nome ("Child of nature") e vocês podem conferir ao lado, na coluna "Veja e escute aqui" em gravação, digamos, alternativa. O mesmo aconteceu com "Teddy boy", de Paul McCartney (também ao lado), numa versão diferente da que está no terceiro volume da "Beatles anthology". E tem ainda "All things must pass", de George Harrison... Idem, idem.O lado quatro do disco foi o que mais fundiu a massa encefálica da rapaziada, na época, pela presença dos oito minutos e 13 segundos de "Revolution 9", algo que nunca tinha sido ouvido fora do restrito círculo da música experimental: meia dúzia de gatos pingados que conheciam John Cage e Karlheinz Stockhausen. Neguim pirou legal ouvindo aquele troço, ainda mais com os neurônios aditivados pelas três letrinhas místicas THC. Neste encerramento, temos quatro canções de John, uma de Paul e uma de George. Interessante o contraste entre ''Revolution nine'' e ''Good night'', que fecha o disco, ambas de John, uma muito louca, outra uma canção de ninar com orquestra. A mesma diversidade se repete para os demais Beatles e a grande conclusão, infelizmente saudosista, é que eram bons tempos em que quatro caras de uma banda faziam um disco de 30 músicas diferentes umas das outras.

     Revolution – John Lennon – As agitações de 1968 tiveram influências conflitantes sobre John Lennon, que gravou três versões de "Revolution". A primeira, mais rápida e cantada de maneira agressiva, com guitarras distorcidas, foi lançada em um compacto com “Hey Jude”. A segunda, mais lenta, com sopros e guitarra distorcida com menos ataque, abre o lado quatro do álbum branco. A terceira é uma colagem de sons que entrou como a quinta faixa deste lado e falo mais adiante. A letra trata de temas cotidianos daquele ano, como a pregação de uma revolução por setores agressivos da esquerda americana como o Youth International Party e os Panteras Negras. Lennon diz que todos querem uma revolução, mas, se for pela violência, ele está fora. Aos que culpam a Constituição, ele manda que mudem suas cabeças. Aos que levam posters do líder chinês Mao Tse-tung, ele rebate que nada vão conseguir. Em resumo, prega a revolução pela mudança individual de cada um, uma posição utópica que foi criticada pelos setores politizados da época, com a América pegando fogo contra a guerra do Vietnam e as manifestações francesas ainda no rescaldo do maio de 68 (o disco saiu em novembro).A gravação aconteceu em quatro sessões a 30 e 31 de maio, quatro e 21 de junho: John cantou, tocou violão e guitarra; Paul tocou piano, órgão, baixo e fez vocais; George tocou guitarra e fez vocais; e Ringo tocou bateria. Esta versão tem dois trumpetes e quatro trombones. A guitarra solo fica no canal esquerdo, os sopros no direito, em alguns momentos dialogando com a guitarra no esquerdo, dois trombones ficam marcado, um em cada canal. Os “all right” finais de Lennon passeiam em pan pelos dois canais.

     Honey Pie – Paul McCartney – Canção de Paul ao estilo das bandas de jazz dos anos 20, com sopros manipulados para soarem como as antigas gravações em 78 rotações. A história de uma garota do norte da Inglaterra que faz sucesso na América e seu apaixonado a chama de volta. Gravado nos estúdios Trident, nos dias 1, 2 e 4 de outubro, com Paul na voz, piano e guitarra; John na guitarra; George no baixo e Ringo na bateria. Os sopros são cinco saxofones e dois clarinetes. Um verso “now she’s hit the big time”, no princípio, recebeu forte compressão e chiados para soar como num disco antigo.

     Savoy Truffle - George Harrison – Esta música é uma homenagem à então fama de chocólatra de Eric Clapton, grande amigo de Harrison, que assaltava caixas de bombons “Good news” que tinham sabores como Savoy truffle, Montelimart, Gingersling, Cream tangerine e coffee dessert, todos citados na letra. Gravada no Trident e em Abbey Road nos dias 3, 5, 11 e 14 de outubro, teve George no vocal com dobra e guitarra, Paul no baixo e Ringo na bateria e pandeiro. Os sopros são seis saxofones – dois barítonos e quatro tenores – que tocaram lindamente o arranjo do assistente de George Martin Chris Thomas. Quando estava pronto, George pediu ao engenheiro Ken Scott que distorcesse o som, o que foi feito injetando os sopros em dois amplificadores que foram saturados e sujaram tudo. Antes de os músicos ouvirem, George pediu desculpas pelo que tinha feito mas explicou que era assim que queria. Eles não gostaram nem um pouquinho, mas estavam ali para fazer o que o autor desejava.

     Cry Baby Cry – John Lennon – Canção inspirada num comercial que mandava as crianças chorarem para as mães comprarem uma marca de flocos de milho. A letra foi inspirada em histórias de fantasia a la ‘’Alice no país das maravilhas’’, que John conhecia da infância. Gravada nos dias 15, 16 e 18 de julho, com John na voz, violão, piano e órgão, Paul no baixo, George na guitarra solo, Ringo na bateria e no pandeiro e George Martin no harmônio. No dia 18, os Beatles compareceram à première de “Yellow submarine”, mas também acabaram a gravação com um nova voz de John, vocais e efeitos. Na mixagem, John canta a introdução, o refrão no canal esquerdo, as estrofes no meio, baixo na esquerda, piano e bateria no meio, harmônio na esquerda.Revolution 9 - John Lennon – começa com um fragmento de Paul cantando algo sobre ser levado de volta por um barco, a seguir um diálogo entre o produtor George Martin e o gerente da Apple Alistair Taylor que se esquecera de trazer uma prometida garrafa de vinho e pede desculpas para Martin. Daí entra uma voz dizendo “number nine” encontrada numa fita que John usou para criar um loop que se repetia ao longo da peça, inspirada nos experimentalismos de gente como Cage e Stockhausen. A colagem foi feita por John e Yoko, com uma força de George, e inclui coisas como um trecho orquestral de “A day in the life”, ao contrário, um mellotron ao contrário, trechos de óperas e sinfonias, John e George falando coisas aleatórias como “the watusi”, “the twist”, “the eldorado”, “economically viable”, “financial imbalance”, “there ain’t no rule for company freaks”. Yoko canta “you become naked” e solta aqueles gritos irritantes. Um engenheiro falou que o “number nine number nine” virou mania na gravadora e as pessoas ficaram semanas repetindo como um mantra.

     John levou os funcionários de arquivo e os engenheiros à loucura com sua pesquisa de sonoridades, colagens feitas na base de gilete e cola, loops grandes que tinham que ser segurados com lápis longe dos gravadores e a loucura de jogar tudo isso nos oito canais e fazer a mixagem com efeitos de pan. Nunca uma peça experimental teve o alcance de tanta gente, levada para a casa pelos milhões de compradores do álbum branco.

     Depois disso, só restava finalizar o disco com algo bem careta.

     Good Night – John Lennon – Ringo canta esta cantiga de ninar feita por John para seu filho Julian, de cinco anos. Nos dias 28 de junho e dois de julho, John e Ringo gravaram uma base, que George Martin levou para criar o arranjo de orquestra, gravado no dia 22 de julho por 26 músicos, com o coral dos Mike Sammers Singers, quatro rapazes e quatro moças. Ringo colocou o vocal definitivo nesta noite numa sessão que foi de sete e meia da noite a uma e 40 da madrugada.

That's all folks. Bye bye...