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ago. / 1967 - "Brian Epstein falece vítima
ao que parece, de excesso de drogas, ainda que se atribua
igualmente o seu falecimento a um suicídio provocado
por forte depressão".
É difícil
acreditar que o introspectivo e elegante, Brian Epstein
acostumado a passar suas orientações na
forma de bilhetinhos, aconselhando os Beatles a não
fumar ou comer no palco era um "desinibido puxador
de fumo".
Os profissionais de sua
equipe e agentes dos meios de comunicação,
respeitosamente relembram Brian Epstein, como o homem
que mandava, que mantinha contatos com as autoridades
do fisco sempre protegendo as receitas dos Beatles em
caso de calotes.
Nestes documentários, os depoentes
impreterivelmente se referem à memória de
Brian Epstein como o cara gente fina jamais visto...
Ainda no ínicio da
relação profissional, Lennon quase liquidou
Bob Wooler quebrando-lhe nariz, clavícula e três
costelas do Dee-Jay residente do Cavern Club, porque este
havia sugerido que a relação extrapolava
o lado empresarial. Vivos Lennon teria que bater até
no seu biógrafo autorizado, mas certamente Brian
Epstein diplomaticamente resolveria com o ‘deixa
pra lá’... Como usou noutras situações
mais ambíguas.
Inglaterra. Liverpool. Outubro
de 1961. Além de proprietário da loja de
discos NEMS, Brian Epstein também é colunista
do jornal musical Mersey Beat. Será questão
de tempo para que os Beatles cruzem seu caminho, surge
no atalho, o garoto, Raymond Jones que pede o disco My
Bonnie na loja de Brian Epstein que nunca ouvira
tal grupo, mas que por interesse próprio procurará
saber a respeito...
Epstein escuta a banda no
pub "The Cavern" em Liverpool, que era perto
de sua loja de música e decide se oferecer como
representante do grupo que levou ao estrelato.
Janeiro de 1962, na casa
de Pete Best, os Beatles efetivamente assinam com Brian
Epstein, por iniciativa do líder, John: "Agora
estamos prontos para ser empresariados por você.
Onde está o contrato? Traga que eu assino".
As estratégias de Brian
Na audição
da Decca, além da execução híbrida
de velhos standards com números de rock’n’roll,
os Beatles ostentavam os velhos cortes e casacos de couro.
Após a fracassada audição, solitariamente
Brian Epstein pena um bocado nas ruas de Londres, batendo
de porta em porta até conseguir um nova audição
na Parlophone com George Martin, Brian Epstein, leva ao
pé da letra cada recomendação do
produtor (melhorar o equipamento e trocar o baterista),
ele vai até a Jennings Musical Industries (JMI),
fabricante dos amplificadores Vox, para propor um acordo:
a Jennings dar todo o equipamento que o grupo precisa
e eles fariam toda a propaganda que a fábrica desejasse.
"Brian
botava as nossas instruções por escrito,
no papel. Nós vivíamos como sonâmbulos
antes dele aparecer. Ele tentava nos limpar, limpar nossa
imaginação", diz John. "Costumava
repetir que nossa aparência não era a mais
correta, que nunca seríamos admitidos num bom lugar.
A gente costumava se vestir como bem entendia, mas Brian
fez a gente entar para a turma do terno".
Do
auge para o fim...
Com
a turnê de 1967, cancelada, os problemas de Brian
Epstein e a insônia levam-no a aumentar as doses,
a revista "Rolling
Stone" fala de uma tentativa frustada de suicídio
ainda em 1966.
Paul
chega a reclamar de Brian, percentagens maiores de royalties
e maior participação administrativa na NEMS.
"Paul
é temperamental e inquieto, e às vezes difícil
de tratar. Mas nós nos conhecemos muito bem e sabemos
quando cada um de nós tem de ceder". (Brian
Epstein).
Se Brian Epstein concordava
com a luxuosa capa de "Sgt. Pepper's", por sua
vez os Beatles entregavam-lhe um compacto como Strawberry
Fields Forever / Penny Lane, para as vendas
de Natal.
George
Martin diz que era inevitável o rompimento do empresário
com os Beatles. "Eles estavam transformados. Eram
arrogantes e egoístas. Mas se Brian Epstein tivesse
vivido, em pouco tempo teria ouvido dos seus rapazes:
'Quem é você para nos tirar 25% dos nossos
rendimentos?' No início, o grupo não pensava
em dinheiro, mas tudo mudou", revelou.
Em
agosto de 1967, quando o LP "Sgt. Pepper´s"
está concluindo uma estadia de oito semanas em
primeiro lugar entre os mais vendidos, Brian Epstein comete
suicídio. Segundo as cartilhas antidrogas, ele
tinha-os iniciado em muitas coisas: a estar em palco,
na linguagem e, mais tarde, no ácido. "Epstein
já tomava LSD há muito tempo quando os Beatles
se começaram a interessar por isso".
Brian Epstein morre de uma dose excessiva de barbitúricos
- um paliativo para sua insônia crônica e
tensão exasperante em que vivia, "às
vezes, eu choro sem que eles 'vejam'".
"Preciso
continuar a tomar conta dos meninos. Não posso
deixar que eles tomem contato com o jogo sujo dos negócios,
com o lado desonesto do show-business. Caso contrário,
eles podem até dissolver o grupo..." (Brian
Epstein).
"Brian
Epstein sentiu que estava perdendo o controle de seu império
por volta de 1966. Tinha ilusões de grandeza e
se via com um Diaghilev moderno, acreditando que era o
homem que inventara o maior grupo de todos os tempos e
possuía o toque mágicos dos gênios",
(...) "Sua vida privada estava se complicando e sofria
com o fato de ser um homossexual enrustido em tempos que
as leis de moralidade inglesa inda funcionavam. Ele sonha
em ter uma relação estável comum
homem como eu tinha com minha mulher". (...) "Mas
não acredito que tenha se matado em 1967, como
dizem alguns". (George Martin in "Playback".
Editora Genesis 2002).
"Quer
dizer, nós fomos muito negativos depois que Epstein
faleceu. Nós não fomos positivos. Por isso
é que todos nós começamos a enjoar
do grupo em diferentes ocasiões, você sabe.
Não tinha nada de positivo. Era uma droga. Foi
como quando a gente está crescendo e o papai vai
embora e deixa a gente por conta própria. O papai
agora foi embora, sabe, e estamos no nosso próprio
acampamento de férias. Sabe, acho que ou a gente
faz a coisa ou volta pra casa. Nós precisamos é
de disciplina. É como tudo que você faz,
você nunca teve disciplina. Mr Epstein disse: 'vistam
ternos', e nós vestimos. E nós estávamos
sempre brigando um pouco contra essa disciplina. Mas agora
é bobagem lutar contra uma disciplina que é
nossa mesma. É uma disciplina auto-imposta agora,
e por isso fazemos tão pouco. Mas acho que vamos
precisar fazer mais do que isso se quisermos continuar".
(Paul McCartney).
"Nós
nunca teríamos conseguido chegar lá sem
Epstein e vice-versa. Ele trabalhou tanto quanto nós
no projeto Beatles no começo, embora nós
fossemos o talento e ele a máquina. Ele não
era suficientemente poderoso para nos ter obrigado a fgazer
o que nós não queríamos". (John
Lennon, ago. / 1971).
"Brian
adorava lugares sujos, barra pesada". Nat Weiss
Cabelos
grandes, liberdade além de mascar chicletes...
tudo fruto das estratégias de armário de
Brian Epstein, um cavaleiro da revolução
sem condecoração - fazedor de sonhos - ator
frustrado por não estar no palco de um drama vitoriano
de Shakespeare mas com vocação empresarial.
"Brian
Epstein construiu um império, mas viveu tempo demais,
tempo suficiente para sentir o vazio do tédio e
do ócio. Quem trabalha o dia inteiro, das oito
às cinco, não sabe a sorte que tem. Isso
controla sua mente, protege a pessoa dela mesma. Acalma
o ego. (...) Será que Brian Epstein jamais soube
como ele mudou o mundo? Será que ele estava preso
ao cometa dos Beatles? Ou seria o contrário? Será
que foi um golpe de sorte que poderia ter acontecido com
qualquer um ou teria sido uma estratégia planejada
de modo magistral (dez discos nos 10 primeiros lugares
das paradas ao mesmo tempo!)? Nunca saberemos, e se John
e Paul sabem, eles por certo não dirão jamais.
(...) Se Brian Epstein não tinha realmente nada
a ver com o sucesso dos Beatles, então sua morte
pode ser compreendida com mais facilidade. Podemos imaginá-lo
inútil, sentindo-se, talvez, como um joguete das
circunstâncias, sem ter contribuído em nada
para isso. Sentindo que ele não tinha coisa alguma
a oferecer. Afinal ele mesmo se descreveu, em sua autobiografia,
como uma pessoa apagada, que só despertou para
a vida através dos Beatles. Será que ele
fracassou em seu desejo de ser um ator? Eu me lembro dele
no programa Hullabaloo, na tevê, tão pálido
e desanimado e deslocado. Tão quieto! Seria ele
o chefão mor, o sucessor do Coronel Parker? (...)
Mas talvez ele fosse um gênio, como muitos dizem,
preenchendo seus dias com maquinações fantásticas,
planejando e fazendo estratégias para a carreira
de seus ídolos, de modo que eles se tornassem,
como se tornaram, nossos líderes supremos. (...)
Se ele era um grande homem de negócios, exprimindo
sua vontade através de quatro músicos, trazendo
honestidade e integridade a um meio corrupto, ele deve
ter sofrido muito quando os Beatles decidiram não
mais se apresentar em público. O que havia para
se fazer depois de dois filmes e nenhuma excursão?
Acabaram-se as reuniões, as intrigas, os planos
e os truques. Teria ele ficado sozinho, debruçado
sobre manuscritos colossais, tentando achar as palavras
mágicas, tentando trazer de novo à vida
ao turbilhão do poder e da glória?".
(Lou Reed).