Maria Eugênia Matriccardi: Cores em luta pelo social
(Mário Pacheco)


     Uma espécie saudável de jovens primam pela capacidade da interpretação natural da indignação, não só através do seu visual solitário no meio da cidade, do metrô, das passarelas dos shoppings onde a notoriedade da apatia reluz num cotidiano de exclusão silenciando a maioria dos cidadãos.

     Muitos jovens deixam a esfera do social para confrontar a qualidade do cotidiano, apesar de Brasília estar no patamar das capitais em qualidade de vida, estas pesquisas não levam em conta o meio de transporte, cuja fiscalização é algo assim do faz de conta que quando real transforma-se em pesadelo.

     Residindo no Vicente Pires, estes jovens sabem que a circulação pelo espaço urbano não é livre e pode abocanhar mais do que o salário mínimo recebido por um chefe de família.

     O que o transporte tem haver com a arte da Maria Eugênia?
    
     A arte de Maria Eugênia Matriccardi carrega em seu cerne as idéias das barreiras que tem que ser ultrapassadas e vencidas, na sua exposição já houve uma roleta de ônibus e a placa "boicote". Enquanto artista ela é ativista da causa por uma passagem menos inflacionada e de um melhor meio de locomoção, não só para estudantes mas também para os chefes de família que não recebem os vales-transportes que adquiriram o status de um "mensalãozinho".

     Dos quadros

     Os ingredientes principais dos desenhos, agora telas começam pelas canetas nanquins e seguem em colagens valorizando o erro como artefato. Um traço refinado faz a arte final dos desenhos: retratos da cabeça enfumaçada de Sid Vicious sem saudosismo. Onde molduras de mistério e erotismo fálico recorrem ao desespero da poesia existencial: cenas que acontecem na noite das camas das pessoas, sonhos oníricos em preto e roxo cortados por um grito em luto pelo social.

     O significado desta arte da rua? Apontar o dedo em riste para os saqueadores do combalido usuário de transporte urbano.
     Maria Eugênia resgata a resistência de Frida Kahlo!