Uma
espécie saudável de jovens primam pela capacidade
da interpretação natural da indignação,
não só através do seu visual solitário
no meio da cidade, do metrô, das passarelas dos shoppings
onde a notoriedade da apatia reluz num cotidiano de exclusão
silenciando a maioria dos cidadãos.
Muitos
jovens deixam a esfera do social para confrontar a qualidade
do cotidiano, apesar de Brasília estar no patamar das
capitais em qualidade de vida, estas pesquisas não levam
em conta o meio de transporte, cuja fiscalização
é algo assim do faz de conta que quando real transforma-se
em pesadelo.
Residindo
no Vicente Pires, estes jovens sabem que a circulação
pelo espaço urbano não é livre e pode abocanhar
mais do que o salário mínimo recebido por um chefe
de família.
O
que o transporte tem haver com a arte da Maria Eugênia?
A arte de Maria Eugênia Matriccardi
carrega em seu cerne as idéias das barreiras que tem
que ser ultrapassadas e vencidas, na sua exposição
já houve uma roleta de ônibus e a placa "boicote".
Enquanto artista ela é ativista da causa por uma passagem
menos inflacionada e de um melhor meio de locomoção,
não só para estudantes mas também para
os chefes de família que não recebem os vales-transportes
que adquiriram o status de um "mensalãozinho".
Dos
quadros
Os
ingredientes principais dos desenhos, agora telas começam
pelas canetas nanquins e seguem em colagens valorizando o erro
como artefato. Um traço refinado faz a arte final dos
desenhos: retratos da cabeça enfumaçada de Sid
Vicious sem saudosismo. Onde molduras de mistério e erotismo
fálico recorrem ao desespero da poesia existencial: cenas
que acontecem na noite das camas das pessoas, sonhos oníricos
em preto e roxo cortados por um grito em luto pelo social.
O
significado desta arte da rua? Apontar o dedo em riste para
os saqueadores do combalido usuário de transporte urbano.
Maria Eugênia resgata a resistência
de Frida Kahlo!