Disco
autêntico? só os bootlegs
(Mário Pacheco)
Grupos
Som de Cada Dia – “Bem
no fim” (Ao Vivo)
Casa das Máquinas –
“Ao Vivo. Santos 1978”
Mutantes/Arnaldo Baptista –
CDr
Antecedentes:
A invenção do disco-pirata
Equivalente
ao estrondo da invenção da pólvora foi o
disco-pirata. De imediato muitos perceberam o raio de ação
e exclamaram: - Pronto, furaram o sistema. Está aqui na
Rolling Stone. Leia! Um tal de Larry Gutenplan, o inventor, foi
preso no Village vendendo um punhado de cópias do bootleg
“The Best of 67”, com sucessos dos Beatles, Stones,
The Doors e até os Monkees com I’m a beliver.
O disquinho custava 1 dólar e 79.
Ano passado surgiram os primeiros
bootlegs em CD de bandas nacionais dos anos 70, sob a chancela
“An Alternative God Production”. Deus é pirateiro?
Vendidos em loja.
Pesa o aspecto histórico e a devoção do fã
na hora da aquisição. Fortes apelos para “explicar”
a necessidade de preencher lacunas.
O que a indústria fonográfica
do Primeiro Mundo fez?
Os Beatles foram resgatar faixas
inéditas suas em bootlegs, para inserí-las no disco
ao vivo da BBC e no projeto “Anthology”. Jimi Hendrix,
The Doors, King Crimson, The Who estão legalizando seus
bootlegs. Em outubro de 2000, o Pearl Jam resolveu nocautear os
piratas lançando 25 bootlegs duplos de uma vez só...
No caso, do artista brasileiro é seguir esse exemplo e
preservar um mínimo de recurso aos nossos depauperados
roqueiros.
Som
Nosso, uma lenda digna do rock brasileiro
De
acordo, com o artigo “Som Nosso, uma história digna
do rock brasileiro”, da revista Pop, o embrião do
Som Nosso, começou em 1973, quando Manito, ex-Clever, ex-Incríveis,
ex-Mutantes, tentou partir para um esquema diferente, fundando
uma banda de 12 músicos, o Bloco Barbala, para tocar exclusivamente
em bailes, “reunia músicos de conjuntos do interior
de São Paulo até acadêmicas figuras vinculadas
à Ordem dos Músicos”.
Como nunca aconteceu um ensaio com
a presença de todos. A banda reduziu-se para um quinteto
agora com o nome de Zapata, dessa fracassada tentativa nasce o
quarteto “Som Nosso de Cada Dia” (Pedrinho, bateria;
Manito, teclados; Pedrão, voz, contrabaixo e Liminha na
guitarra).
A formação desse “Bem
no fim - 1976” é Pedrão, Pedrinho, Dino Vicente
nos teclados e Egidio Conde na guitarra. Esse bootleg recupera
a faixa “Rajada Runaway” com letra do poeta Paulinho
Machado, o Capitão Foguete. Faixa incluída com outras
composições suas no segundo LP de estúdio
do Som Nosso e que nunca foi lançado pela Continental e
trazia ainda Tuca nos teclados... Alô, Charles Gavin vamos
encontrar esta fita antes...
A gravação do show
é ótima e mostra um Som Nosso menos urbano e equilibrado
com timbres de música brasileira, antecipando a jornada
que os grupos progressistas brasileiros adotariam.
A Casa cai
Santos,
1978. Este show da Casa das Máquinas captura a agonia e
a rápida desestruturação da banda. Os membros
do grupo estavam sendo chamados de irresponsáveis, arruaceiros,
deliqüentes. A banda veio de um supershow na Argentina, mas
se desfizeram sete meses depois do crime.
É curioso escutar o vocalista
Simbas ao lado da guitarra energética do Pisca, gritando
agressivamente, - vamos agitar bando de bundas-moles. É
um show de rock. O pessoal daqui da frente não é
bunda-mole! Não!
Dizem que existe outro tape com melhor qualidade, já na
fila de espera...
Em 1977, o vocalista Simbas do grupo
que o baterista Netinho liderava -, foi o pivô de uma briga
na porta da TV Record, que resultou em morte. Falou-se muito do
assunto na época.
Versão popular: Vestido de
maneira extravagante, Simbas não se conteve diante dos
gracejos que lhe dirigiam algumas pessoas naquela oportunidade.
Irritado, partiu para a briga. Um cabo-man (“muito doente
e que não poderia de forma alguma se envolver em brigas”)
da Record levou a pior no incidente e morreu dias depois.
Netinho, que nem sequer estava presente
no momento da briga, quase não podia sair às ruas.
Por um ano e meio Netinho ficou afastado da vida artística,
num sítio em Itapetininga, a 200km de São Paulo.
Plantando e cuidando da família...
Versão dos autos. O rebu
todo começou na tarde de 18 de setembro de 1977, um sábado
quando o Casa se preparava para uma apresentação
na TV Record (SP). Momento antes do programa, na garagem da própria
emissora, o carro de Simbas (Nivaldo Alves Hora) e um ônibus
da Record bateram. O motorista João Luís da Silva
Filho retirava da garagem um ônibus para gravações
externas, auxiliado pelo Câmara Lucínio, que fazia
sinais para orientar a movimentação do veículo.
Na manobra, o ônibus esbarrou levemente num Opala, de onde
saltaram os três músicos, reforçados pelo
irmão de Simbas. Então, achando que o acidente fora
proposital, Simbas passou a discutir e, depois a brigar com Lucínio
de Faria, 35 anos, pai de cinco filhos. O grupo começou
a agredir João Luís e Lucínio. Depois de
ser espancado no pátio, o franzino Lucínio foi arrastado
para um banheiro da emissora, onde continuou o massacre. Ao encerrar-se
a surra, ainda recebeu a última ameaça do chefe
da segurança da Record, Wadi Gragnani Dini: seria demitido
se contasse à polícia sobre a briga na emissora.
Espancado, Lucínio foi embora. Em casa, à noite,
Lucínio exibiu os ferimentos ao filho Wilson, então
com 12 anos, revelou o que ocorrera e explicou que não
podia procurar nem a polícia e nem o hospital. Mas no dia
seguinte a saúde piorou e ele precisou procurar o Hospital
Bartira, em Santo André, onde 24 horas depois acabou falecendo,
vítima de rompimento do fígado e duas costelas fraturadas.
Simbas alegou que foi agredido pelos
funcionários da TV e apenas tratou de se defender. Pra
isso, contou com a ajuda do guitarrista “Pisca” (Carlos
Roberto Piazzoli), Sidney Giraldi e seu irmão menor, de
17 anos, (Nélson Leandro Horas).
Em março de 1983, as testemunhas
não se apresentaram e o próprio Wilson (filho de
Lucínio) negou que o pai tivesse contado que a agressão
fora praticada pelos músicos. Além de explorar essa
falha, a defesa dos réus jogou toda a responsabilidade
pelos golpes mortais no irmão de Simbas, Nélson,
que era menor na época.
Graças a falta de provas, a defesa conseguiu absolver Pisca
e Sidney. Simbas, por homícido culposo, foi condenado a
um ano de prisão, mas beneficiado com sursis por ser primário.
Os três continuaram em liberdade.
—
Olha o que o Arnaldo fazia nos shows dos Mutantes!
Ibirapuera.
Último dia de maio de 1978. No tempo do confronto das calças
boca-de-sino e das miniblusas, das sandálias melissas e
camisetas hangten. Não foi por falta de material inédito
e próprio que os Mutantes entraram na onda do Revival.
As apresentações dos Mutantes na década de
70, sempre foram mágicas. Nessa
apresentação no Ibirapuera, os Mutantes resgataram
o repertório da primeira fase, trouxeram Betina para os
vocais e Arnaldo Baptista para a overture dos shows.
Uma oportuna resistência à
moda disco ao punk e infelizmente, os Mutantes sucumbiram no meio
do caminho sem levar a frente pelo menos em discos o caminho natural
de unir seu virtuosismo aos acordes conhecidos da música
brasileira. Em estágio posterior os roqueiros foram acompanhar
as estrelas da MPB.
Este CDr, traz uma raríssima
gravação ao vivo de Arnaldo Baptista ao piano acústico.
Arnaldo brilha em luz própria. A luta secular do artista
e do público e a superação. Seus temas elétricos
agora acústicos. Além
da execução das peças do clássico
Lóki?, Sérgio Dias e Betina se juntam a Arnaldo
na recriação caipira da Balada do louco.
Bem que essa apresentação poderia vir como CD bônus
no relançamento do Lóki? Que o sonho se realize....
Live
Days Baptista (Parte II)
(Mário Pacheco)
Ainda
em 1978, no Teatro Igreja em São Paulo, Arnaldo desenvolve
um novo show solo "Rock-Blues", além do título
Arnaldo interpreta material próprio e originais de Bob
Dylan, Elton John e Beatles. No final desse ano, Arnaldo voa
para New York, e após um show de Lou Reed na Big Apple,
e nos camarins, anos depois Arnaldo afirmaria que Lou Reed fora
“indecoroso”...
Em 1979, Arnaldo Baptista, Sérgio
Dias, Walter Franco e Guilherme Arantes foram alguns dos músicos
paulistas que migraram para o Rio de Janeiro. Arnaldo comprou
uma Kombi apelidando-a de Dirce e subiu a serra também
para o Rio de Janeiro, onde é convidado a participar
do grupo "Unziôtru".
Em dezembro de 1979, a mal alimentada
e corajosa mídia musical do período anunciou em
poucas linhas o “Unziôtru” como um grupo promessa,
ainda sem nome e contrato - expoentes da “brazilian new
wave” - formado por dois ex-mutantes, como participante
especial mais tarde chegou outro ex-mutantes, Ruy Motta, bateria
juntando-se a Arnaldo, teclados, Antonio Pedro, contrabaixo
e Lulu Santos, guitarra. Anteriormente o grupo acabara marcando
4 shows na Funarte, no Rio de Janeiro. Os shows valeram mais
por seu conteúdo histórico do que por outra coisa.
Há uma versão que durante o show Arnaldo apresentou
apenas pequenos fragmentos no piano tocando boogie-woogie
enquanto Lulu cantou algumas coisas do seu repertório
inicial. Após esses quatro espetáculos o grupo
se dissolveria sem novas apresentações.
"Fizemos uma canções,
Bernardo pôs umaz letras, até que apareceu no Rio
o Arnaldo Dias Baptista ex mutantes. Os Mutantes tinham sido
minha escola e eu tinha uma admiração reverencial
pelo grupo e pelos indivíduos. De fato, em relação
a nosotros, estavam mil anos luz além. Os conhecia de
meus anos de tietagem, sempre corri atras deles, eram o referêncial
mais forte do que eu queria pra mim, de toda a MPB. Sergio Dias
o guitarrista foi meu amigo e meio que mestre. Até no
momento que saquei que o que eu desejava era o oposto de seu
objetivo, foi necessária esta referência. Só
um norte pressupôe um sul, ou um leste, for that matter.
Anyway, ninguém soava, nem zoava que nem os Mutantes,
ninguém tocava como o Sérgio, ninguém tinha
o know-how nem who e nem o equipamento (sobre tudo). O que eles
não tinham, faziam. (...)
"Os primeiros wah-wahs (você
não é ninguém, em guitarra pop, sem um
wah-wah) eram da marca regulus, fabricado e vendido pelo Té,
Cláudio César Dias Baptista, o terceiro, inexpugnável
e algo genial irmão mais velho (hoje eu sei que regulus
é a estrela mais brilhante da constelação
de leão) tive todos os discos e a rigor, num primeiro
momento seriam os Mutantes minha maior influência. Arnaldo
era o líder inconteste e namorado da cantora, ponto.
Era pra mim um up-grade estar num grupo com ele, porque
foi isto que aconteceu, Arnaldo se juntou a nós e nos
chamamos uns e outros, terrivelmente grafado Unziôtru
(mea culpa). Ensaiamos na casa do Pedro um tempo com Márcio
Bahia (hoje baterista do Hermeto Paschoal e da Vittor Santos
Orchestra). E fizemos uma temporada de shows na Sala Funarte
na rua Araújo Porto Alegre no Rio. Era meio esquizofrênico
o lance, eu e Pedro naquela viagem funk-soul-brasil e o Arnaldo
com sua indelével carga de história, personalidade,
sofrimento e rock'n’roll. Lei de Murphy, o que pode dar
errado, vai dar. Deu. Era mais fácil se abríssemos
o show com nossas coisas e depois acompanhássemos Arnaldo
em seu ‘sanguinho novo’, em retrospecto teria sido
muito mais justo. Com ele. No mínimo, tentamos e ficou
na história...d EU! (hehe)". (Lulu Santos).
DoPróprioBol$o
— Márcio Bahia, voltando
lá em 1979 - o que você lembra dos shows do Unziôtru
com o Arnaldo Baptista. O Rui Motta chegou a entrar no seu lugar?
Márcio Bahia — Rapaz, faz tanto tempo...mas
acho que ele tocou sim depois de mim. Foi muito divertido,o
repertório era ótimo de tocar. Nossa estréia
foi no finado "Apaloosa", em Copacabana que tinha
uma programação só de rock. A banda era:
Arnaldo, Lulu, Antonio Pedro e eu. Abração, valeu
a lembrança que guardo com muito carinho. (Márcio
Bahia).
Um ano depois de saído
do grupo Arnaldo declarou que, – O Unziôtru foi
muito bonito. Nós tocamos na Funarte, era uma coisa sim
mais rock´n´roll mesmo, heavy rock, um negócio
bem pesado. E tava bom, tava casa cheia. Hoje! Arnaldo afirma
que o som do “Unziôtru” era mais pra Elton
John!
Fotos conhecidas dos Unziôtru
são clics da fotógrafa Vânia Toledo, além
da foto do 'folder' outra apareceu na revista Interview,
num anúncio de uma nova marca de jeans: Lulu, Antonio
Pedro e Arnaldo com as pernas retesadas em pose de trenzinho
divulgando o jeans.
A única gravação
conhecida dessa formação está registrada
na faixa Lindo Blue, do LP “Respire Fundo”
de Walter Franco, nela Sérgio Dias participa tocando
guitarra e Lulu Santos violão e os demais em seus conhecidos
instrumentos.
Depoimento
de Air Now Do!
— Lulu Santos possuía
um lado mental que caminhava para a perfeição.
Casado com Scarlet Moon formava um casal lindo. No seu
caminho direcionado à perfeição ele utilizava
uma guitarra, Fender Stratocaster.
— Eu perguntei porque?
— Então Lulu Santos respondeu-me:
— Existe na minha vida vários
fatores dos quais desejo não compartilhar... Até
no improvisar musicalmente.
— E eu consigo com a minha guitarra
Fender. Isolar-me totalmente quase do contrabaixista que toca
comigo.
— Pois seu tangesse no solo
a área que conecta com o pensar em sofrimentos meus.
— Essa área localizava-se
na parte mais forte das Fenders (médios)?
— Pois ai, eu, poderia esconder-me
na “área grave”.
Arnaldo: — Nas Fenders comparativamente
à parte dos médios. É o atacar a área
sonora que pertence aos contrabaixos.
— Então indaguei:
— E se o contrabaixista utilizando
um Rickenbaker, fosse para os “médios-agudos”?
— Aí, ele respondeu-me:
— Não há graves
neste som! E paro de tocar junto com ele.
Lulu Santos possui um alto interesse
pelos microfones que fazem com que o som gravado seja bom ou
não (também além da marca da guitarra).
Ele declarou que o melhor microfone é o Neuman, não
o utilizado nos estúdios pórem um ligável
igual aos shures.
— O Sunheizer é bom também!
Quanto a microfones, o Lulu é
excelente. Efeitos de guitarra com ela ligada no amplificador
através de um sintetizador minimoog, ele conhece bem
(também).
Como guitarrista ele é
o melhor que eu conheço pessoalmente no produto sonoro
final. (Arnaldo Baptista).
"Existe
um folder das apresentações na sala Funarte. Se
você olhar na minha comunidade tem um link para meu segundo
album de fotos. Lá tem a foto. Não existem gravações
da banda, mas como falei na entrevista, o material foi usado
no começo da carreira do Lulu. Lembro-me do Arnaldo tocando
Sanguinho Novo e Corta Jaca. Também
lembro da gravação do Walter, mas não participei.
O Márcio fez alguns shows no Apaloosa e o Rui entrou
na temporada da Funarte. O baixo Rickenbaker é meio fake.
Só se tira som dele com uma aparelhagem poderosa. Abs"
(Antonio Pedro depoimento via Orkut).
No ambiente cultural do Rio de
Janeiro, Léo Guanabara, conhece um novo parceiro, a primeira
canção da dupla: Cozinho de noite será
proibida pela censura por ser “bem engraçadinha”.
Léo Jaime tinha uns 17,
18 anos e conheceu Arnaldo, na praia em Ipanema e Léo
falou para ele de uma idéia que tinha tido para uma música,
sobre o "cozinho de noite", Arnaldo achou ótimo
e acabaram indo à sua casa para fazer a música.
Fizeram a música e essa foi a minha primeira parceria
deles. Arnaldo que integrava o Unziôtru com o Lulu Santos
disse: ‘vamos lá mostrar a música pros caras
da minha banda’. O Lulu começou a ouvir a música,
que era um rock`n`roll, e, no meio da música, ele deu
as costas e foi embora. Lulu detestou. E foi assim que Léo
Jaime conheceu o Lulu. Lulu achou um absurdo Arnaldo e Léo
Jaime estarem fazendo rock`n`roll àquela altura do campeonato.
Acabaramo fazendo outra depois, mas essa ninguém gravou,
era uma homenagem à kombi do Arnaldo, que tinha o nome
de Dirce.
Naqueles idos, sistematicamente
irado com o purismo do rock´n´roll, cheio de pluridos
Lulu invocava “ainda estão tocando isso?”.
Após o fim do Unziôtru,
Arnaldo passa o resto do ano escrevendo o livro “Rebeldes
entre rebeldes” (os cujos originais foram revisados por
Lidoka da Frenéticas), e faz a direção
musical da peça de dança e teatro “Heliogabálus,
o anarquista coroado”.
Durante as aulas de ballet na
Academia Stagium, na Praça General Osório Arnaldo
Baptista conhece a artesã meio portuguesa, Susana Vieira,
sua nova companheira que vendia artesanatos de cerâmica
fabricados por seu pai.
No Rio, com a proximidade dos
estúdios, Arnaldo participa ao lado de Lúcia Turnbull
no coro na faixa-título do LP “Coração
Paulista” de Guilherme Arantes.
Nos últimos dias cariocas,
Arnaldo tocava num trio com seu xará Arnaldo Brandão
no baixo e Lobão na bateria.
Arnaldo e Susana Vieira voltaram
a São Paulo para morar numa casa alugada na serra da
Cantareira.
Já em São Paulo.
No início de 1981, quando procurado pela “Brajet
Promoções” para fazer os shows, Arnaldo
responde que iria pedir emprestada a garagem da sua tia e se
poderia tocar músicas do Lóki?
Num passe de mágica a garagem
se transformou no Teatro Tuca e o espetáculo foi batizado
de “Shining Alone”, uma das poucas ocasiões
em que Arnaldo, foi o frontleader No repertório
dos shows "Shining Alone" versões instrumentais
para Honk Tonk e O A E O Z (um dos temas ao
vivo preferidos por Arnaldo, aqui capturado com o órgão),
as inéditas Ah! Garupa deixa eu gostar de você
e Tacapé (que farão parte de seu novo
CD "Let it bed!" a ser lançado em outubro próximo),
a clássica Te amo podes crer e a não
menos clássica Ovelha Negra (numa versão
vinheta), Raio de sol um rock vigoroso da Patrulha
do Espaço é tocada de maneira frenética
ao órgão. No violão-de-fogueira, ele dedilha
Don't twice, it's all right e Onda da morte
(este é o nome correto da música Bomba H sobre
São Paulo). Ainda nos teclados, Arnaldo apresenta
vigorosa versão para Love is just around the corner
(retirada do baú da trilha sonora do filme "Aqui
está o meu coração", de 1934, cujo
tema era cantado por Bing Crosby) e ele encerra o apoteótico
show cantando Cry me a river, dez anos antes dela ser
inserida no disco bossa'n'roll da ex-parceira!
As duas apresentações
foram registradas em fitas cassetes, uma mostra um vibrante
Arnaldo Baptista reagindo à participação
da platéia. Num momento clássico ao cantar o verso
dylanesco: “and the angels call my name...”, alguém
no fundo da platéia grita: - Arnaldo. Uma das apresentações
foi filmada por Luiz Carlos Calanca, que contratou esse serviço
dispendioso e caro para o Brasil no início da década
de 80. Com a câmara única e apoiada nos ombros,
algumas vezes o cameraman desequilibra-se e treme,
mas tudo está lá. Poucos viram, nenhuma imagem
aparece em documentário, o áudio é perfeito
e com o advento do DVD, estas imagens históricas preservadas
e “trancadas à sete chaves” preencheriam
inestimável lacuna, um dos poucos documentos na íntegra
com as performances de Arnaldo Baptista que Luiz Carlos Calanca
não se nega a mostrar, desde que em sua casa.
No início de março,
no Auditório Augusta, durante a Primeira Mostra Musical
dos Beatles, Arnaldo Baptista como atração extra
fez seu tributo aos Beatles, tudo ao seu estilo, improvisado,
maluco e genial. No final deste mês repete o espetáculo
“Shining Alone” na sobreloja de shows “Paulicéia
Desvairada”.
Com dinheiro emprestado ele finalmente
finaliza seu novo álbum “Shining Alone” (posteriormente
o título fora mudado para “Singin’ Alone”
- que é uma canção dos tempos da Patrulha
do Espaço que não está presente neste disco).
O último convite para apresentar-se
ao vivo, parte de Oswaldo Vecchione, líder do Made in
Brazil, quando atuariam juntos a 26 de dezembro de 1981, no
Ginásio do Palmeiras, Arnaldo declinou do convite.
Norte de São Paulo. Serra
da Cantariera. Poucos antes do Natal, depois de quatro anos
sem se verem. Arnaldo e Rita Lee casualmente encontraram-se
na Serra da Cantareira.
São Paulo: 27 de dezembro, Arnaldo
Baptista faz nova visita a Rita Lee e neste mesmo dia ao visitar
a casa da sua mãe; é internado no Hospital do
Servidor Público, inicia-se o doloroso pesadelo de Arnaldo
Dias Baptista.
Arnaldo Solizta
(O título homenageia Lizt! Idéia do Júnior)
Enquanto
o corpo permanecia inerte na cama em estado de coma, Arnaldo
revelou posteriormente que se lembrava apenas de um sonho...
Na
ampla sala de concertos, suaves movimentos e as mãos
deslizando em gestos assimétricos, delicadamente produziam
vibrações, gerando trechos instrumentais que invadiam
o recinto em contraste com a luz artificial que iluminava o
piano.
Um
pensamento repentino: —
à
quanto tempo estaria tocando? Haveria uma pausa para o cigarro?
Mas,
as mãos continuavam agindo, independentes da sua vontade,
continuavam escorregando, experimentando, variando, entre a
melodia de ninar e o frenético rock and roll.
Preparando
uma evolução estilística, dando expressividade
à sua música, quando foi interrompido por uma
risada seguida de uma pergunta —
Como vai Arnaldo?
Arnaldo
Baptista e John Lennon num encontro marcado por muitas risadas
e gargalhadas no final das contas, John o ajudou dando-lhe conselhos.
A gostosa sensação de sonolência continuou;
e quem o embalava era seu pai, com cantos gregorianos.
Repentinamente
a melodia cessou e não se ouviu as risadas, o canto,
nem os aplausos. Estivera dormindo?
—
Estivera
sonhando? E que lugar era esse?
(Mário Pacheco)
*Originalmente
publicado no fanzine, ROCK'N'ROLL MUSIC, nº 18 - ANO: VII
- 1989. Revisora: Marly. Este foi o penúltimo fanzine.
Trazia o meu terceiro texto público a respeito de Arnaldo
Baptista. Um fanzine de boa tiragem e basicamente remetido a
todo o Brasil, divulgando que eu estava escrevendo sua biografia.
— Arnaldo é de todos os
tempos!
Ringo Starr & Arnaldo querem fãs
gritando "paz e amor" em seus aniversários
Arnaldo & Patrulha do Espaço
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