O
arquétipo é o andrógino. E a Inglaterra
sempre foi um celeiro unissex por excelência. Os grandes
amantes do Romantismo eram efebos de feições
delicadas como Shelley e Byron. Eram todos ladies’
men e o charme hermafrodita lhes dava livre acesso às
mais cobiçadas alcovas. Insinuantes, faziam o lobo
mau sob a pele do cordeiro. Também o Movimento Decadente
de 1880 exaltava a figura do andrógino: Oscar Wilde,
Aubrey Beardsley e toda aquelas virgens pré-rafaelitas
com rostos de rapazes que iriam desembocar no art nouveau
- e nas estrelas do rock dos anos 60.
Brian Jones fora chamado de
a síntese da atitude arrogante e hedonista que fazia
os Stones atraírem o público. Por onde passara,
deixara filhos ilegítimos - seis, todos meninos e gerados
por mulheres diferentes. Foi quem mais deixou crescer os cabelos,
entre os Stones. Foi o primeiro a usar maquiagem e roupas
acintosamente andróginas, como blusas de chifon e chapéus
Ascot. Mas apresentava tal aura de agressividade que ninguém
ousaria duvidar de sua masculinidade.
Enfim, Brian era o líder:
para onde ele ia, os outros Stones iam atrás. Era o
stone musicalmente bem dotado - o que podia pegar um instrumento
qualquer, do saxofone à cítara, aprendendo a
tocá-lo em menos de meia hora.
Em meados de 1966, as coisas
estavam começando a mudar para os Rolling Stones, assim
como ocorrera aos Beatles cuja liderança passara de
Lennon para McCartney, em breve a liderança de Brian
Jones seria questionada por Mick e Keith. Nessa época
os discos dos Stones - principalmente LPs - ainda tinham excelentes
índices de venda.
As mudanças começaram
a efetivar assim que Brian Jones conheceu Anita Pallenberg,
ex-atriz do Living Theater, o músico
não demorou poucas semanas para abandonar sua mulher
Linda Keith e o bebê, para passar cada segundo do dia,
enroscando-se e rindo de suas brincadeiras particulares com
Anita.
Eram, naquele momento, o casal
mais lindo da Europa - ambos começaram a usar os longos
cabelos louros no mesmo estilo e vestiam-se combinando seda
e cetins bufantes. Mantinham uma corte no seu apartamento:
jovens duques, lordes, admiradores, gente do jet-set,
artistas da moda. Às vezes, entretanto, a arrogância
de Brian Jones e Anita Pallenberg assustava. Aqueles que os
ofendessem, pelo menor dos motivos que fosse, eram expulsos
do apartamento e imediatamente “cortados” pelos
amigos, que receavam ferir o casal.
No seu enorme apartamento-estúdio
de Earl’s Court aconteceu os fatos que poriam fim a
sua breve existência marcada pela angústia -
escândalos frequentes feitos por sua ex-mulher, que
ia lá com o bebê, para reclamar o pagamento da
sua pensão, excessos sexuais, de ácido, astrologia,
magia, brigas e overdoses.
Certa noite, um convidado ofereceu-lhes
ácido. Brian e Anita foram para a cama viver sua primeira
viagem - e esse foi o momento que marca o ápice da
vida passageira de Brian e o começo da desintegração
de sua personalidade.
Brian explicava a descoberta: “é como se todo
tipo de canções maravilhosas ficasse girando
dentro da minha cabeça e eu não tivesse como
soltá-las, o ácido libera todas elas. Eu nem
sequer sei que estou compondo, enquanto viajo. No dia seguinte,
descubro que escrevi as coisas mais surpreendentes”.
Através do ácido,
tudo era possível para ele - ou parecia. Entusiasmado,
Brian levou toda a sua corte a tomar drogas e havia algo de
fascinante com relação ao mundo exótico,
remoto e fechado que pareciam habitar.
Keith Richards estava impressionado
e sempre se dispusera a acompanhar Brian no que este fazia.
Keith entrou na de ácido e a dupla passou a improvisar
melhor e a compor canções incríveis.
Chegaram a acreditar que ingerindo um alucinógeno,
de certa maneira, expandiria suas consciências tornando
qualquer fantasia uma possibilidade real.
Brian Jones, Keith Richards
e Anita Pallenberg se apegaram de tal forma ao ácido
que Keith acabou se mudando para o apartamento do casal. Mick
Jagger foi quase totalmente excluído. Brian e Keith
escreveram Ruby Tuesday juntos e, simplesmente, apresentaram
a canção acabada a Mick - em vez de lhe pedirem
alguma sugestão, como sempre acontecia. Brian chegou
a tratá-lo com certo desprezo sutil: Mick nunca tomara
qualquer droga, era um monótono careta, em resumo.
Keith e Brian passaram a chamá-lo cerimoniosamente
de “Jagger”.
Enquanto Mick era esnobado,
Tara Browne, o herdeiro da fortuna Guiness, uma das maiores
da Inglaterra, tornou-se o amigo inseparável de Keith
e Brian, tomando ácido e partilhando das longas conversas
sobre misticismo e música. No jogo de emoções
em que se desenvolvia no apartamento, Brian não tardaria
a confirmar as suspeitas de que Keith estava apaixonado pela
sua Anita. Keith acabou saindo do apartamento, pois Brian
deixara transparecer que o considerava um perigo em potencial.
Keith tomou ácido com “Jagger” e a viagem
inicial marcou o começo de uma aliança entre
eles. Agora, era Brian o marginalizado.
Brian sentiu, então,
que estava escravizado a uma mulher: ele, o homem que se descartava
das mulheres sem o menor problema, pai de seis filhos ilegítimos,
perdia o controle sobre sua vida, sua música, sua liderança
na banda.
A cada dois dias, Brian ligava
para Tony Sanches que trabalhava para os Rolling Stones, pedindo
que o visitasse. Mas Tony sabia que o que Brian desejava realmente
era droga, mais e mais droga.
Tara Browne morreu quando seu
Lotus Elan chocou contra um poste de luz. A morte de seu melhor
amigo chocou Brian profundamente. Durante horas, ele conversou
sobre como a vida era precária e sem sentido, aos poucos,
essa coisa foi evoluindo: ele parecia desequilibrado, paranóico,
devorado pela infelicidade e pela solidão, tomando
punhados de barbitúricos para combater a angústia.
A escalada continuava: certo
dia, no apartamento em Earl’s Court, pela extensão
dos ferimentos pelo corpo de Anita era óbvio que apanhara
de Brian, e pra valer.
Em outra oportunidade, Brian
estava praticamente histérico: “Anita morreu!
Não consigo levantá-la!”.
Ela estava imóvel numa
cama antiquada. Sacudiram-na e bateram em seu rosto imóvel
sem esboçar qualquer reação. Desconhecia-se
o que ela tinha tomado, mas era muito. Brian e Tony Sanchez
a levaram para baixo, puseram no carro e seguiram direto para
o hospital. Depois de limparem seu estômago e, quando
ela recobrou os sentidos, Brian começou a chorar. Ela
soluçava em silêncio, com um terrível
olhar ferido nos belos olhos perigosamente lindos. Tudo que
ela disse foi: “Tony, você deveria ter deixado
acontecer”.
Enquanto Brian desintegrava-se,
Mick e Keith escreviam canções juntos, com um
brilhantismo e uma confiança que nunca haviam experimentado.
Parecia que Keith e Mick evitavam conversar com Brian.
Brian havia se queimado e o
único problema agora era saber o que fazer com ele...
Apesar da preocupação com Brian havia uma maldade
impiedosa na voz de Keith.
Brian Jones e Mick Jagger tinham
personalidades opostas e, em conseqüência disso,
Brian foi, gradativamente, tornando-se inútil nos planos
musicais traçado pelo economista da banda e Keith pronto
para roubar-lhe a mulher e herdar a imagem selvagem de Brian,
Keith não teria seus problemas com drogas, por que
os Stones foram mais generosos para com ele? Estes
são os apontamentos que determinariam sua vitória
ao fazer os Stones retornarem as raízes mas era demasiado
tarde para Jones.
Profissionalmente, também
os Stones tinham problemas. Primeiro Andrew Oldham: após
uma discussão violenta com Keith e Mick, anuncia que
deixava a empresariagem do grupo. Andrew Oldham previu como
seria difícil ocultar a guerra suja que vinha a seguir.
Segundo, havia boicote por parte de emissoras de rádio
e tevê, má vontade das grandes cadeias de lojas
em distribuir seus discos, restrições de sua
própria gravadora, a Decca que retardou o lançamento
do LP "Between the buttons", exigindo mudança
em algumas letras das músicas. As verbas para divulgação
diminuem, a companhia prefere os Animals e os Hollies. Keith
Richards tem atritos furiosos nos escritórios da Decca.
O jornal britânico "News
Of The World" havia iniciado uma série de reportagens
intitulada Investigações sobre Pop Stars
e Drogas, os Stones são o alvo e não compreendem
ainda o que está se passando.
Em maio vem a resposta: O "News
Of The World" havia colocado alguém trabalhando
para os Stones, Keith Richard achou que era o seu motorista
na época. Keith simplesmente fez um convite: “Aparece
lá em casa para uma festa no fim de semana”.
O cara realmente era um informante,
e às 11 horas da manhã de sábado o editor
do "News Of The World" telefona para a polícia
dizendo que haveria uma festa totalmente imoral na casa de
Keith Richards, em Redlands. Dezenove policiais, inclusive
mulheres da polícia feminina, foram destacados.
— Eram oito horas da manhã
quando eles bateram na porta. Estava todo mundo de bode. O
pessoal já havia ido embora. O som estava ligado e
a luz estroboscópica também. Marianne ia tomar
um banho e já estava praticamente nua. eles continuaram
insistindo e eu fui abrir. Eu não tinha nada em cima.
Mick estava com quatro comprimidos de anfetamina que ele havia
comprado na Itália. Havia mais gente conosco, mas eles
só estavam interessados em nós. Estávamos
voltando de uma trip de doze horas e foi aquele corte.
Mandaram desligar o som e eu disse que não, apenas
diminuí o volume. É que justo na hora em que
eles chegaram alguém havia posto Rainy day woman
altíssimo. Recorda Keith.
Mick e Keith foram primeiro
presos, e depois libertados sob caução, aguardando
julgamento. A acusação se baseava no fato de
Jagger possuir dois tipos de anfetaminas - compradas legalmente
na Itália O processo dos dois músicos, no qual
se encontravam também implicado Robert Fraser, diretor
de uma galeria de arte, teve lugar em Chichester, a 27 de
junho. O tribunal de West Sussex pronunciou o seu veredicto
com uma rapidez espetacular num processo repleto de provas
vagas, condenando Jagger a três meses de prisão
por posse ilegal de dois tipos de droga, e Richard a um ano
por ter autorizado sob o seu teto o consumo de cânhamo
indiano, metade da população da Inglaterra protestou,
achando que as penas eram suaves demais. Brian tem a casa
revistada e é preso também sendo condenado a
nove meses de prisão domiciliar, a pagar mil libras
de multa, além de se submeter a um tratamento psiquiátrico
por um médico designado pela corte.
A 29 de junho, foram encarcerados
nas prisões de Brixton e de Wormwood Scrubs, Mick foi
livreiro e Keith... “cheguei lá e o pessoal me
perguntou o que eu queria, ácido, haxixe... e eu pensei,
tomar um ácido aqui?”) Dias depois, mediante
gorda fiança foram restituídos à liberdade
contra uma caução de sete mil libras cada um.
Era claro que se tinha querido “dar um exemplo”
e, no fundo, a condenação visava mais a identidade
pública dos sentenciados, ou seja, o que eles “representavam”,
do que a transgressão da lei, aproveitada às
pressas como um providencial pretexto. Mick, Keith e Brian,
foram usados pelas autoridades britânicas como bodes
expiatórios, durante o combate aos tóxicos -
suas prisões foram denunciadas como arbitrárias
até mesmo pelo ponderado Times no editorial
do dia 1 de julho, Who breaks a butterfly on a wheel?
que chamava a atenção para as irregularidades
do processo e a manipulação da imprensa: “Não
há dúvida de que, em qualquer pesquisa de opinião
para escolher o homem mais odiado da Grã-Bretanha,
consultadas as pessoas de mais de 40 anos, o Sr. Jagger se
colocaria num dos primeiros lugares”. E acrescentava:
“Outra pesquisa, porém, entre os jovens, revelaria
maciçamente o respeito e a admiração
especial que lhe devotam”. Ainda se pode ler, entre
outras reflexões, que as pastilhas encontradas na posse
de Jagger “não são drogas muito perigosas
e, corretamente dosadas, não o são de modo nenhum”,
que “os fabricantes italianos as recomendam como estimulante
e como remédio contra o enjôo”, que o rigor
dos juizes não tinha chegado para estabelecer com clareza
a distinção a fazer entre os diversos casos
examinados (quatro ou cinco no total), e que, por fim, “teria
Jagger sido considerado da mesma forma se não fosse
conhecido, com toda a hostilidade que a celebridade lhe terá
podido provocar?”.
Não é a única
voz: John Lennon lidera um abaixo-assinado em sua defesa,
Pete Townshend e o Who incluem The last time e Under
my thumb da dupla em seu repertório e publicam
um manifesto: “Nós acreditamos que Mick Jagger
e Keith Richards estão sendo usados como bodes expiatórios.
Gravamos suas músicas para dar continuidade a seu trabalho
e prover seu sustento enquanto estão presos”.
O avulso We love you
dos Stones em retribuição às manifestações
de solidariedade é lançado bem na época
do julgamento agradecia o apoio de fãs e amigos, tendo
servido para irritar profundamente aos juizes. Enquanto os
advogados de Mick e Keith apelavam da sentença, o som
das correntes arrastando servia apenas para enfurecer os juizes.
A sentença de junho foi anulada no fim de julho por
um tribunal de segunda instância.
Keith, anos depois, compreendeu
as origens do furacão: “Quando o juiz me leu
a sentença de um ano, ele me disse, depois: ‘Você
é imundo, pessoas como você deveriam morrer’.
Então eu vi que a barra estava pesada. Até agora
tinha sido show, espetáculo, badalação.
Mas agora não era possível, estávamos
fora da lei”.
Considerados como os rivais
diretos dos Beatles em termos de imagem e música e
com uma desvantagem na vendagem de discos agravada. As carreiras
e relações dos dois conjuntos pareciam se desenvolver
de forma paralela, e Lennon não perdoara quando os
Stones usaram o cítar.
Mas em julho de 1967, após
meses de boatos no mundo do disco, os Beatles lançaram
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, imediatamente
Mick Jagger percebeu que todos os disco anteriores, dos Beatles
e dos Stones, tinham virado uma velharia, algo completamente
obsoleto. Brian Jones, por seu lado, detestava o novo som
e lutou com todas as forças para que os Stones permanecessem
fiéis às suas raízes, para que continuassem
arrancando a tremenda energia tradicional do rock’n’roll
marca patente no mundo todo. Por outro lado Brian Jones teria
sua cota de razão pois seriam necessário dois
anos até que "Beggar’s Banquet", um
LP que continha clássicos do nível de Sympathy
for the devil e Street fightning man merecesse
uma acolhida bem mais calorosa e chegasse às paradas.
Após o tempo gasto com
as questões judiciais e a liberdade Mick Jagger no
confronto musical junto à Brian, o vence e concebe
com Keith Richards a idéia de uma sátira psicodélica
da monarquia inglesa, o conhecido "Their Satanic Majesties
Request", com cerca de seis meses de preparação
intermitente. A capa do disco em três dimensões,
com um efeito de movimento graças à junção
de um acrílico que dava a ilusão de relevo,
desdobrável como a de Sgt. Pepper’s,
abria sobre uma montagem de cenas históricas e tinha
na parte da frente uma imagem com efeitos estereoscópicos
(que não foram mantidos em edições posteriores)
sinal de um período em que a música pop se refugiava
em novos adornos com uma certa complacência. Um álbum
altamente experimental e psicodélico lançado
em novembro de 1967, mal compreendido por crítica e
público. Um disco indefinido, com distorções,
instrumentos exóticos e toques lisérgicos. Provavelmente
para contrastar com a magia “branca’ e oriental
dos Beatles, os Rolling Stones auto-intitularam-se de satânicas
majestades. Os Rolling Stones são colididos pela invasão
psicodélica de 1967 num momento em que não estão
propensos a manifestar a sua adesão ao flower-power.
O auge do ápice da divagação stoniana
acontece em "Their Satanic Majesties Request".
Nada, ou quase nada, do que antes caracterizou a música
do grupo subiste ali. Experiências de base eletrônica
e formas deixadas em suspenso a meio do que parecia ser a
sua execução subsistem assim de repente todo
um passado de lenta elaboração. O disco não
é apenas um apóstrofe no psicodelismo e sim
o atestado da desintegração da banda sob a viagem
de ácido. Tardiamente publicado seis meses depois de
Sgt. Pepper’s e Are you experienced?,
pertence como estes aos números dos álbuns “trabalhados”
em estúdio e cujo conteúdo não atinge
a mesma sonoridade quando reproduzido em palco. Os temas nele
abordados referem-se a um futurismo barroco, aquilo a que
se poderia chamar um exotismo do futuro (2.000 light
years from home - “A Dois Mil anos-luz de Casa”)
e uma idealização mediocremente mística
das relações humanas (Sing this all together).
Por vezes, surge uma frase-slogan que se perde na falta de
acabamento (continuidade?) do resto (“As bandeiras são
dólares voadores” em Citadel)
A figura trovadoresca de Brian
Jones/Jimi Hendrix anunciava imagens curtas-cortantes. A abundância
metafórica e algo rebuscada de Citadel, de
inspiração “hendrixiana” apresentava
a rispidez e concisão de ideogramas eletrificados a
todo volume nesse corajoso libelo contra a Guerra do Vietnã
com toques orientais e visionários. A crônica
que o Melody Maker fez na altura sobre este álbum
ainda hoje conserva um tom de precisão: “Produção
pesadamente experimental, controlada e em que nada foi posto
de lado”. Uma gênese caótica é a
causa mais verossímil deste resultado os processos
e as opções musicais muito imprecisas presentes
neste álbum correspondem às tendências
de todo um período pop. E os Rolling Stones sempre
se distinguiram em opor-se as tendências dominantes
do momento, talvez resida ainda o desencontro musical.
Tal obra de arte custou por
si só quase tanto como a própria gravação
do disco. Quando este foi vendido a um preço igual
ao dos restantes - certamente atingiu o vermelho.
O disco marcou bem tudo quanto
estava errado entre Mick, Keith e Brian, em especial o fato
de Anita ter finalmente escolhido Keith.
Em 30 de outubro Brian Jones
dança novamente, dessa feita com cocaína e metedrina.
Comparece perante os tribunais por consumo de droga, tal como
Keith Richards, foi preso em Wormwood Scrubs e libertado sob
caução (dezembro) sua nova pena é fixada
em três anos de prisão domiciliar. Mas, ao contrário
dos seus dois companheiros, as suas questões com a
justiça Não acabaram. Após as duas vezes,
novamente foi apanhado com posse de resina de cannabis, só
se livrando destes apuros em setembro de 1968.
Brian Jones saltou do carro
de seu advogado para enfrentar no tribunal a acusação
de que conduzia 144g de cannabis sativa. Brian ora detido
com os cigarros no momento em que alugava um apartamento em
Chelsea, um dia antes. No julgamento, o músico declarou:
“Que isto sirva de lição aos jovens que
querem tomar drogas. Elas nunca me causaram nada de bom; ao
contrário, só interromperam minha carreira”.
Suas palavras foram proféticas. Hospitalizado três
vezes em 1967, duas no ano seguinte; preso duas vezes em 1967,
duas em 1968, Brian “desaparecia a olhos vistos”,
como disse Keith. Quando se
apresentam, erra pelo palco. Nas gravações vaga
pelo estúdio batucando a esmo num e noutro instrumento.
Seu rosto é uma máscara irreconhecível
de rugas e manchas. Keith recorda: “A cada dia ele ficava
mais frágil, física e mentalmente. Acho que
todas as viagens e excursões malucas que fizemos entre
1963 e 1966 acabaram com ele. Ou talvez não. Talvez
estivesse escrito nas estrelas”.
Em termos psicodélicos, Brian foi se tornando cada
vez menos influente, principalmente durante este período.
David Dalton analisa esse aspecto na sua obra Rolling Stones.
Talvez a sua maior influência tenha sido na época
das músicas Paint it black e 19th nervous
breakdown quando, utilizando-se de seu sitar estridente
e demoníaco, ele transformava suas canções
em sons estranhos.
Dalton chama a atenção
“para o desempenho de Brian tocando o dulcimer, em Lady
Jane e a flauta em Ruby Tuesday. Havia em seu
jeito de tocar uma agradável simplicidade”, que
trouxe para os Stones um som inconfundível. De fato,
Brian chegara ao auge como músico: introduzira a flauta,
o violino e o sitar nas canções dos Stones.
Seus arranjos revelavam um talento fecundo, inquieto. Mas,
sua palidez mortal e o ar perdido no palco revelavam que,
sob a superfície brilhante do show biz, águas
turvas se moviam. As águas que o engoliriam um dia,
e que a se abateram por sob o grupo.
Após esse período,
Brian Jones mergulhou de novo no marasmo das drogas. Tomava
qualquer coisa que atingisse sua mente - até ficar
incapaz de reconhecer pessoas do seu círculo ou até
de falar coerentemente. Às vezes, chegava a cair no
chão do estúdio de tão baratinado. Num
de seus raros momentos de lucidez, confessou: “Não
sei o que está acontecendo comigo. Minha cabeça
nem me deixa tocar mais”.
Tudo indicava não existir
uma maldade intencional nas atitudes de Keith Richards e Mick
Jagger. Keith Richards, sobretudo, descobriu que não
conseguiria acender o fogo, articular a guitarra sensacional
que Brian Jones transformara num elemento básico de
qualquer disco dos Rolling Stones.
— Ele está muito cansado
- ponderou Tony Sanches, numa conversa com Keith Richards
que respondeu: - Todos nós estamos cansados. Mas se
Brian insistir em sair de órbita, a gente vai ter que
procurar um novo guitarrista. Não que achar uma mulher
que tome conta dele?
O diagnóstico médico
afasta definitivamente Brian do grupo, o médico de
Brian Jones pede aos Rolling Stones que tirem o guitarrista
do grupo: “Ele não agüenta subir no palco
nem mais uma vez”. De fato, em junho, o próprio
Brian pede para sair. Segundo Keith, “tudo ficou muito
claro. Nós perguntamos: - O que você quer que
a gente diga?”. E ele: - Diga que eu saí porque
quis, e posso voltar quando quiser”.
O substituto de Brian, por sugestão
do guitarrista e bluesman inglês John Mayall, é
Mick Taylor (Welwyn, GB, 17/01/48), um garoto talentoso de
21 anos.
Na noite de 3 de julho os Stones
estão no estúdio gravando a primeira música
com Mick Taylor. À meia-noite, o telefone toca: uma
voz de mulher avisa que Brian Jones morreu. Mick e Keith se
precipitam para sua mansão em Sussex. Conta Keith:
“Lá estava ele, vestido, no fundo da piscina.
A gente não conseguia parar de olhar. Não, bicho,
eu não diria que ele foi assassinado . Mas havia muita
coisa estranha acontecendo naquela casa, naquela noite”.
A autópsia aponta uma
crise de asma como causa mortis. Num concerto em sua homenagem,
no Hyde Park de Londres, Jagger lê o poema Adonais (escrito
na morte de Keats) de Shelley: “Ele não dorme/
ele não morreu/ apenas acordou do sonho da vida”.
Outras homenagens viriam, como
a bela ode de Jim Morrison, e uma canção de
Pete Townshend: “Eu costumava tocar minha guitarra quando
menino/ querendo ser como ele/ Mas hoje eu mudei de idéia/
decidi que eu não quero morrer/ mas para Brian era
um dia normal/ Rock’n’Roll é isso/ para
Brian era um dia normal/ Um cara que morria todo dia”.
Brian Jones era uma pessoa frágil,
um músico de extrema sensibilidade (Keith Richards
conta como, certa vez, deixaram Brian sozinho no estúdio
por algum tempo e, quando voltaram, descobriram-no tocando
uma cítara, instrumento que nunca tinha colocado nas
mãos), norteado por um desejo intenso de agradar as
pessoas. Morto aos 26 anos, viveu atormentado por esse sentimento,
que impossibilitou sua permanência na liderança
dos Rolling Stones e seu gradual e paulatino afastamento dos
palcos.
O jornalista Al Aronowitz, amigo
pessoal de Brian, escreveu para o New York Post um perfil
do guitarrista, onde transparece toda a sua insegurança.
Conta, por exemplo, como Brian ficava nervoso quando tocava
com Bob Dylan Numa festa dada pelos Stones no Hilton de Nova
York, Bob Dylan apareceu com Robbie Robertson, o guitarrista
do grupo The Band, que mais tempo ficou com Dylan. “Bob
sentou-se ao piano, Robbie pegou a guitarra, Brian a harmônica.
Ele tocou aquela gaita com tanta força que, quando
parou, descobriu que estava sangrando. Bob Dylan deu um sorriso
e falou para Brian Jones —
Não seja paranóico, Brian”.
Brian Jones, em sua fragilidade,
foi também um homem que, como Jimi Hendrix, viveu marcado
por um forte sentimento de justiça. Escreveu Al Aronowitz:
“Uma das primeiras coisas que Brian me contou dizia
respeito a uma visão que tivera em Londres numa madrugada
- o rosto de uma deusa que se desenhou no céu, conclamando-o
a trabalhar para o Bem da humanidade”. A crença
na importância dessa missão, e a impotência
real que sentia para empreendê-la foi, possivelmente,
uma das piores fontes de tormento para o guitarrista.
Em 1969 a maldição
chegou ao auge. Menos de um mês após ter abandonado
o grupo, Brian Jones é encontrado morto no fundo da
piscina de sua casa. E cinco meses depois, ocorre a tragédia
de Altamont. Com a cena passada a ralenti, há provas
de que a vítima brandia um revólver para Mick
Jagger. Mas por que motivo iria matá-lo? Ninguém
sabe. Talvez fosse o sacrifício final de um ritual
maldito...
“As
bandeiras são dólares voadores”. Os Stones
em Citadel