Frisco
(Mário
Pacheco)
PUBLICADO
NA REVISTA PSICODÉLICA ‘DE QUANDO O ROCK ERA
CONTRACULTURA’ VOLUME I
San
Francisco sempre aquiesceu facilmente ao novo e à potência
carregada, a partir dos anos 50, torna-se a capital do rock’n’roll
e de movimentos jovens liderados pelos beatniks e
hippies. Pelas ladeiras onde correm os bondes, pela arquitetura
vitoriana e restaurantes sofisticados, a cidade branca de
baia testemunhou a expansão sonora do acid-rock, colorindo
uma época inteira, estilhaçada sob o peso da
sua própria busca. Embora San Francisco, seja a cidade
mais famosa da Califórnia, não é a capital
do Estado, privilégio dado a Sacramento, mais conhecida
pela corrida do ouro, aos pés da serra Nevada, no final
do século passado.
Esta cidade colorida conta com
inúmeras atrações, como o Golden Gate
Park, que tem aos fundos o oceano Pacífico e a prisão
de Alcatraz, uma ilha, onde estiveram presos gangsteres
famosos como Al Capone.
Esta cidade de costa ocidental
da América, aberta a todas as influências asiáticas,
abrira-se também para a new people, beatniks,
escritores, poetas, músicos de vanguarda, freaks
e outros grupos que não só exteriorizavam os
seus “protestos” através de manifestações
políticas, como também participavam no campo
da “cultura”.
“San Francisco é
uma cidade livre. Vivemos aqui como pioneiros. Antes de ficarmos
com o Alasca, San Francisco constituía a guarda-avançada
dos Estados Unidos. Nesta cidade existia um movimento sindical
forte e radical, que venceu mais de uma greve. A influência
da tradição não se manifesta aqui, com
a mesma firmeza que é possível detectar noutras
cidades. Em San Francisco vivem numerosos grupos estrangeiros;
chineses, mexicanos e latino-americanos misturam-se com os
naturais”. (Max Scherr).
Não era o paraíso
mas faltava pouco para isso. Com praia perto, aluguéis
baratos e pensão da previdência social, para
que trabalhar? Ninguém pretendia virar milionário.
Todos estavam na onda da paz e do amor. “Não
esquente a cabeça” era o que mais se ouvia. Enfim,
as condições ideais de temperatura e pressão
para o desabrochar do hippismo. E, claro, da trilha
sonora da contracultura, o rock psicodélico retirado
do caldeirão embalado de alucinógenos, tentando
recriar o equivalente sonoro das viagens ácidas. Nasciam
as músicas longas e improvisadas, épicas e cínicas
e em breve a sinfonia do hippismo cheias de passagens
instrumentais e letras carregadas de simbolismo e misticismo.
Turn
on tune in drop-out
Os
Beats continuaram a produzir uma cultura underground,
surgida num período de crise racial, agitação
universitária e início dos movimentos antibelicistas
(em 1961, os EUA estavam intervindo no Vietnã), se
fortalecendo, incorporando na contestação ao
sistema a nova filosofia, arte e música.
Em fevereiro de 1965 o “afamado
alquimista” Owsley
Stanley comprou alguns livros de química,
fez algumas experiências, e passou a fabricar ácido
lisérgico no porão da sua casa. O Owsley’s
invadiu o mercado de San Francisco e logo todos falavam das
festas louquíssimas promovidas pelo romancista Ken
Kesey, onde pessoas tomavam ácido como nova forma de
experiência.
Tudo isso deságua em
San Francisco, em novembro de 1965, num festival organizado
pelos estudantes de Berkeley em benefício do grupo
teatral San
Francisco Mime Troupe. Nesse festival atuam,
entre outros, Jefferson Airplane e os Fugs (importante grupo
nova-iorquino), pelo rock; Lawrence Ferlinghetti declamando
poesias; John Handy, no jazz; e Allen Ginsberg fazendo o pessoal
cantar mantras.
À medida que os Estados
Unidos se envolvem na guerra, os protestos aumentam, os teach-ins
(espécie de palestras nas universidades) são
mais frequentes, e uma nova forma de contestação
começou a acontecer: os drop-outs (cair fora),
indo formar as primeiras comunidades hippies. Começa
a ecoar o som de San Francisco.
Uma tarde, durante o verão
de 1965, um andarilho chamado Charlie Brown apareceu no Drugstore
Cafe, onde a moçada se encontrava para articular as
transações. No segundo andar da loja, funcionava
o estúdio do pintor Michael
Bowen, aos 29 anos, um dos talentos das artes plásticas
americanas. A casa de Bowen, era o epicentro do movimento
e um reflexo do que acontecia em Hashbury naqueles dias: um
ponto de encontro de escritores itinerantes, artistas, gurus
e hippies, como a mídia americana batizou
aquela gente meio exótica em sua quase imundície
que maciçamente começam a perambular pelas ruas
de San Francisco no meio dos anos 60. Não raro encontravámos
também no estúdio de Bowen, o escritor Allen
Ginsberg, o filósofo Alan Watts, um adepto entusiasta
do uso espiritual das drogas psicodélicas; o orientalista
Gary Snyder e ativistas políticos de Berkeley, como
Jerry Rubin e Abbie Hoffman.
Charlie Brown tinha ouvido dizer
que a casa do pintor era uma espécie de assembléia
permanente daquela contracultura emergente. Era a eles que
Brown queria contar sobre sua descoberta: a relação
entre o edifício do Pentágono e o demônio
da guerra que pairava sobre os Estados Unidos. A história
de Charlie baseiava-se num diagrama mágico elaborado
no Egito há mais de dois mil anos. Um diagrama mágico
é um desenho colocado no chão por um mágico,
que pisa sobre ele, se concentra e começa a interpretá-lo.
Um mágico! Um homem sagrado! É assim que Charlie
Brown era conhecido em Hashbury.
Segundo o diagrama, a estrela de cinco pontas contidas num
pentágono é o símbolo alquímico
do poder negativo, do inverso da força. Este símbolo
está associado à guerra, ao assassinato e ao
apocalipse. O pentágono também é o desenho
contido na medalha de honra do exército americano.
Outro detalhe constatado por Brown: o edifício do Pentágono
foi construído fora da mandala de Washington, num pantanal
conhecido no passado como Baixada do diabo, e cada uma de
suas cinco extremidades aponta para áreas de imundice
e poluição: duas usinas nucleares, uma via expressa
e um cemitério de heróis de guerra.
Naquele dia, no apartamento
de Michael Bowen, decidiu-se que, contra aquela situação
beligerante e de violência crescente, só havia
uma saída: uma concentração de pessoas
com energias positivas nos arredores do Pentágono.
O happening aconteceu no dia 4 jul. / 1965, aniversário
da Independência dos Estados Unidos. Neste dia, a camarilha
psicodélica foi presa ao tentar entrar na Casa Branca
levando um LSD
para o presidente Lyndon Johnson.
Esta é uma das histórias
que marcaram San Francisco. Um período de gestação
de quinze meses, quando um enorme segmento da juventude americana
declarou-se abertamente em oposição aos ideais
do american way of life, que desembocavam em becos
sem saída como a guerra do Vietnã. Surge uma
contracultura genuína, nasce o mundo psicodélico,
estimulado pelo acid-rock, pela poesia beat
e pelo ácido lisérgico. Inicialmente conhecidos
como acid-heads mais tarde eles seriam popularizados
como hippies e sua comunhão, costume fora
de moda teriam uma modificadora influência em todo o
mundo. As roupas exóticas, os cabelos longos não
eram máscaras, mas expressões. As regras e as
leis da nova tribo diferenciavam das que dominavam a sociedade
feita de carros, casa própria, seguro de vida e bombas
napalm para destruir aldeias de pescadores no sudeste
asiático.
A nova tribo tem seu foco e
apoteose nos arredores das ruas Haight e Ashbury ou a grande
esquina. É assim que os californianos da cidade de
San Francisco chamam o encontro entre as avenidas: Haight
e Ashbury, localizada na periferia do Golden Gate Park, o
paraíso dos acid-heads onde proliferaram pôsteres,
grupos e drogas, cujos nomes são até hoje sinônimos
do fenômeno e das pessoas que nele estiveram envolvidas.
Hashbury é uma área ensolarada e calma, repleta
de velhas casas vitorianas, negócios marginais e habitada
por beatniks, negros e orientais egressos do superpopulado
bairro de Chinatown. Com aluguéis baratos e espaço
para todos, este é o cenário onde em grandes
revoadas começavam a desembarcar os jovens vindos de
todas as partes da América, atraídos pelo cheiro
de incenso e patchuli, pelas lendas sobre homens mágicos
e pela batida do rock que reverberava nos porões das
velhas casas. Buscavam uma mudança de estilo de vida.
Haight-Ashbury, tornou-se a terra da promissão para
toda uma parcela da juventude americana, sem a menor intenção
de ir defender os interesses geopolíticos dos Estados
Unidos no sudeste da Ásia.
Daí em diante não
houve um dia sequer sem que uma passeata de estranhas aparições
tivesse lugar em Hashbury: garotos de 18 a 25 anos enrolados
em ponchos, cobertores ou na própria bandeira nacional;
meninas com bandas indianas na cabeça, salpicadas de
margaridas e usando roupas e jóias das avós.
Vinham soprando flautas, acompanhadas dos cachorros, também
com flores nas coleiras, as palavras de ordem eram “paz
e amor”. Havia rock e LSD por toda parte. Todos levantavam
os punhos rendados e camafeus e dançavam e curtiam
numa boa.
O espírito de Haight-Ashbury
capturou a imaginação e a fantasia de milhares
de jovens pelo mundo inteiro. Na metade de 1965 a polícia
de San Francisco fez cinco mil prisões. Vinte mil jovens
de todo o país foram dados como desaparecidos de casa,
com uma única direção provável:
Hashbury, em San Francisco. E milhares de outros estavam em
vias de partir para engrossar a marcha da revolução
das flores. Dos quatro cantos do país vinham jovens
de cabelos compridos e roupas extravagantes, atraídos
pelos shows de rock ao ar livre, o clima geral de desbunde,
a vaga perspectiva de um mundo onde ninguém trabalhava
nem respeitava norma alguma.
Havia um sentido familiar em
Hashbury, uma grande família nascera no lugar. A conduta
ultrajante e os hábitos tribais eram aceitos e até
estimulados. No centro da cidade esse tipo de atitude atraía
atenções negativas. Cabelos longos, barba e
flores na cabeça eram costumes hippies e logo
associados ao uso de drogas. Mas tudo não passava de
um grande desfile, um espetáculo surreal, um circo
psicodélico com banda de música e todo mundo
dançando. Frisco era o lugar para ser curtido no inverno
de 1965. Música mágica planava nos céus
de Hashbury e cada vez mais o número de pessoas respondendo
à sua batida aumentava. O bairro não tinha infra-estrutura
para suportar aquele fluxo incessante de gente; o caos era
inevitável.
Em 1965, aos 17 anos, Rick Levine
era um dos milhões de adolescentes que abandonaram
tudo e se mandaram para San Francisco em busca de uma mudança
de estilo de vida. Levine vinha de uma família de judeus
ricos de Nova York. Os pais deles estavam entre os militantes
do Partido Comunista Americano que abandonaram a política
depois que Krushev denunciou os crimes do “Stalinismo”.
Para Rick, os ventos que sopravam de San Francisco, em 1965,
tinham cheiro de mudança. Traziam a promessa de revolução
no american way of life com que seus pais tinham
sonhado no passado.
San
Francisco sound
O
som de San Francisco é diferente do som de Los Angeles,
pois se orienta mais pelo blues, além de tomar elementos
do gospel, rhythm and blues, do estilo country-western, da
folk, da música mexicana e hindu.
A principal influência
proveio do blues e dos artistas big-beat-blues, como
Jimmy Reed, Chuck Berry, Muddy Waters, Howlin’ Wolf
e naturalmente dos conjuntos ingleses que imitavam os citados
bluesman.
América e Inglaterra,
os ianques toleram mal a idéia bretanha, os Beatles
eram marcantemente estrangeiros para a música americana,
mesmo que seu som fosse essencialmente a própria música
americana revificada por isso detestavam o british boom,
num momento em que os Beach Boys, a surf music, e
os grupinhos que mantinham a imagem clean, pareciam
musicalmente indecisos e no momento em que o cenário
folk se converteu no folk-rock eletrificado, isso tudo, combinado
a uma situação social única, resultou
na música psicodélica, no San Francisco
Sound.
Duas coisas marcam o som de
San Francisco: os bailes e a música psicodélica.
Os bailes eram geralmente organizados pelas comunidades, depois
viraram moda. Os Charlatans de Virginia City (Nevada), the
very first band, considerados como o primeiro grupo a
fazer esse tipo de som; e atrás destes The Marbles,
The Warlocks, e The Hart Valley Difters, não ocuparam
o privilégio do sucesso mas asseguraram o prestígio
aos seus predecessores.
No dia 6 de outubro de 1965,
iniciou-se a era do San Francisco Sound. A The
Family Dog Productions Company, organizou o primeiro
concerto-baile em Long-Shoreman Hall: “Queremos levar
o underground artístico à cidade, utilizar
máquinas, aparelhos para produzir ilusões luminosas
a partir das qualidades tonais da música. Esperamos
poder aprender o suficiente com o nosso primeiro ensaio e
gostaríamos muito de poder realizar de dois em dois
meses, um happening deste tipo aqui em San Francisco”.
No referido baile atuaram os
The Marbles, Charlatans,
Jefferson Airplane e a Great
Society, animando a festa desde as 9 da noite até
às duas da manhã e o sucesso foi tremendo. Esses
grupos eram agenciados pela The Family Dog Productions
- barzinho, clube e atelier, propriedade de dois micro-empresários
dispostos e bem abonados (um deles Chet
Helms), juntamente com o Dead e o Airplane, outros
grupos vieram, nessa primeira fase do San Francisco Sound.
A realização seguinte
foi um serão a favor da San
Francisco Mime Group, o teatro radical da
cidade. Localizado na esquina das ruas Fillmore e Geary num
dos bairros mais problemáticos de San Francisco - Western
Addition, o Fillmore de Frisco, fundado por Bill Graham, um
jovem jornalista estreando no ramo da produção
de shows, abriu suas portas pela primeira vez em 10 de dezembro
de 1965, com espetáculo beneficente pilotado pela Mime
Troupe, atuaram os conjuntos Jefferson Airplane, John Handy
Quintet, Great Society, Mistery Trend e Gentlemen’s
Band. Mais de 3.500 assistentes pagaram 3,50 dólares
por entrada. Quando o Fillmore foi aberto ainda pensava-se
em termos de rock’n’roll: Graham mandou
retirar as poltronas do antigo teatro, deixando o chão
livre para servir como pista de dança. Mas quase não
se dançava mais, e o acid-rock era apropriadamente
etiquetado como head-music - música de cuca,
mental. No ano seguinte, ao abrir o Fillmore East, em Nova
York, Graham não se deu mais ao trabalho de retirar
as poltronas.
A partir daquele espetáculo,
Graham tornou-se independente e converteu-se no mais honesto
dos propulsores da nova música. Nascia uma nova era
na história da música pop - a era dos festivais.
É nessa época que o rock experimental de Frisco
começa a sua aceitação.
O acontecimento seguinte foi
o Tripe Festival que teve lugar no dia 21, 22 e 23
de janeiro de 1966 na sala do Longshore Men’s Hall.
Cerca de 20.000 pessoas presenciaram espetáculos mistos,
nos quais atuaram conjuntos de rock, poetas, cineastas e outros
artistas, tudo numa espécie de “circo eletrônico”.
Graham organizou um programa
de concertos diários em Hashbury, no recém-inaugurado
Fillmore West Auditorium (precursor do Fillmore East, de Nova
York), que durou dois anos e meio. Era um festival contínuo
de rock, apresentando as maiores estrelas da música
pop de todos os tempos. Apresentar-se no Fillmore acabou se
tornando um item crucial na carreira de qualquer músico.
Afinal, as estrelas da casa eram nada menos que Janis Joplin,
Grace Slick, Airplane, Dead, Frank Zappa e muitos outros.
Claro que, durante os concertos no Fillmore, o coeficiente
de loucura era um pouco maior do que o habitual. Na entrada
do teatro servia-se Kool Aid (uma batida de frutas
e LSD) para todo o mundo, de graça.
A 4 de fevereiro de 1966 o Jefferson
Airplane aterrissa no palco do Fillmore provocando uma verdadeira
catarse hippie coletiva, balançando os imponentes
lustres de cristais, o show de luzes, o incenso, as drogas
e os pôsteres (que viraram arte no movimento) ajustavam-se,
recriando o ambiente psicodélico da cidade. A sinestesia
era alcançada pelos light-shows, projeções
de luzes coloridas que acompanharam as apresentações
do acid-rock, principalmente na Costa Oeste dos Estados
Unidos.
San Francisco, toma o lugar
de Los Angeles no cenário do rock. Na verdade, o San
Francisco Sound era feito por vários grupos vindos
de diversos lugares e com formação musical das
mais diferentes. De comum partilham a “mágica”
identificação com a platéia, incorporando
a sensação de formarem todos uma comunidade
notadamente de vultosa confluência étnica, onde
cruzavam-se arquétipos da cultura ocidental com a oriental.
Country Joe and The Fish e Lovin’ Spoonfull transferiram
suas bagagens para a iluminada estação da trip
psicodélica, assim como os mentores do country-rock
(folk-elétrico), os Byrds egressos de Los Angeles do
clube “Ciros”, e que no terceiro disco, 5th.
Dimension, abriu caminho para a comercialização
do acid-rock por parte das gravadoras.
O fato de ao fim e ao cabo se
poder falar de um sound característico, tem
razão primordialmente social. Efetivamente, havia mais
de 500 conjuntos na cidade. Vulgarmente, viam-se conjuntos
a viver em comunas, premissa essencial para a formação
de um sound coletivo.
“Todos eles, eram conjuntos
cooperativistas e, de uma maneira geral, grupos que integravam
uma série de pessoas, nos espetáculos luminosos,
por exemplos, Engenheiros de som, mulheres, crianças
cada um com o seu serviço específico, etc. Habitualmente
viviam todos em conjunto, como acontecia com o conjunto Grateful
Dead na sua casa de Haight-Ashbury. Por vezes, os conjuntos
transferiam-se, como tribos de ciganos, para o rancho. Aconteceu
isso com os Quicksilver Messenger Service”. (Ralph Gleason).
De Marin County surgiu o Quicksilver
Messenger Service, uma transa entre a folk, os blues, a música
eletrônica e arrebatadores solos dissonantes.
Também o conjunto Country
Joe and the Fish, Joe McDonald, vocais e guitarra; Barry Melton,
vocais e guitarras; David Cohen, guitarra e órgão;
Bruce Barthol, baixo e harmônica; Chicken Hirsh, bateria;
formaram, durante largo tempo, uma comunidade com os seus
membros, que se separaram quando os primeiros se resolveram
casar. Isto aconteceu com todos os conjuntos da Costa Oeste
dos Estados Unidos, onde a convivência dos membros do
conjunto constituiu fator essencial para o nascimento de um
som original.
O Mistery Trend, com uma fé
religiosa no material oriental; e os Big Brother and Holding
Co., com um som incrementado e amadurecido com a presença
de Janis que estava cantando mais selvagem e mais alto do
que nunca, e, sua voz, áspera e gutural, gritava, arranhava
e seduzia a todos com suas carícias rudes. Não
demorou e o Big Brother recebeu uma oferta para gravar, de
uma pequena editora de Chicago, a Mainstream. Em um ano de
trabalho as coisas melhoraram tanto para eles que acabaram
garantindo uma vaga no Festival Internacional de Música
Pop em Monterey conseguiram ficar famosos devido às
interpretações dramáticas de Janis Joplin
(Janis Lyn Joplin, 19 jan. / 1943, vinda diretamente de Port
Arthur, Texas e que insuflou à música deles
uma raiva e uma força agreste, tiradas do blues e das
garrafas de Southern Comfort, a maior blues singer
branca de todos os tempos). The Mamas & The Papas eram
menos selvagens e reinventavam arranjos orquestrais, John
Phillips, vocalista e guitarrista, criou a marca registrada
do grupo, as vocalizações em vários planos
acústico. Este efeito correspondia de certa maneira,
à sensação produzida pelo ácido
lisérgico. O Country Joe and the Fish, formado por
Joe na Universidade de Berkeley, miscigenava o folk-rock com
letras extremamente politizadas e cheias de alusões
às drogas. O som era baseado em country, com muita
experimentação eletrônica, tentando criar
um clima acid-trip, como música resultante
da “cultura das drogas”, destinada a um público
pouco crítico, tentava de certa forma provocar no ouvinte
uma “intoxicação sonora”. A tendência
era recapturar nas gravações o som ao vivo dos
concertos pesadamente amplificados. Por isso, os ouvintes
de San Francisco obtinham essa atmosfera de show ouvindo suas
vitrolas nos volumes máximos. Os ouvintes de outras
cidades, pouco familiarizados com o acid-rock, não
faziam tal ajustamento e perdiam assim o essencial da viagem.
Foi esse um dos principais motivos por que o acid-rock
custou a conquistar um público fora da Califórnia.
Marshall McLuhan analisou a
sinestesia em seu estudo sobre a alta fidelidade
nos discos: “A busca do ‘som realístico’
pela hi-fi logo se misturou com a imagem da tevê
como parte da recuperação da experiência
tátil. Pois a sensação de ter os instrumentos
executantes ‘na mesma sala em que a gente’ é
uma tentativa de unir o auditivo e o tátil numa fineza
de acordes que evoca, em grande parte, a experiência
escultural. Estar na presença de músicos que
tocam eqüivale a sentir seu toque e o manuseio dos instrumentos
como experiência tátil e cinética, não
apenas ressonante. Por isso pode-se dizer que a hi-fi
não é uma busca de efeitos sonoros abstratos
separadamente dos outros sentidos. Com a hi-fi, o
fonógrafo enfrentou o desafio tátil da tevê”.
Para McLuhan,
a hi-fi e seu desenvolvimento lógico - o som
estereofônico, ou 3D - ajudam a criar um ambiente envolvente
(All around) que fecha o ouvinte numa espécie
de envelope acústico (wrap around). Essa imagem
e função da música sugere, no plano psicanalítico,
a noção de um verdadeiro útero sonoro,
não de todo desprovido de sua carga regressiva. E repressiva
também.
Segunda
onda
Com
a chamada “segunda onda”, os californianos que
faziam a linha maldita formavam o Moby
Grape, um grupo lotado de contrapontos e harmonias
cortantes. E, assim, novos grupos foram aparecendo, como os
Blue Cheer,
Mother Earth, Lee Michaels, Loarding Zone e Steve Miller Band
(este último um outro texano, mas vindo via Chicago,
na onda dos Mike Bloomfield’s
Electric Flag, o mesmo aconteceu a Youngbloods,
Butterfield e outros) todos dentro do mesmo espírito,
tornando o Fillmore, o Avalon Ballroom e o Winterland as mecas
do acid-rock. O grande sonhador desta história toda
foi Steve Miller, discípulo de Alan
Watts, personificados de uma psicopatia sui-generis.
Esses excêntricos aliciadores
formaram suas bandas de rock, pois a música foi (e
é) a mais sintética forma de veicular as outras
expressões artísticas e expandiram-se por outras
cidades como Berkeley, Oakland e Los Angeles, ainda que catalogados
nos modelos do rock, musicalmente, atordoaram o máximo
possível, impuseram a improvisação, criaram
harmonias exóticas, adularam os pedais de efeitos,
e rotularam-se os mestres da free-form.
Hashbury
cidade Livre
(Mário Pacheco)
No
Verão de 1967, San Francisco era a “fumada”
Frisco, a Liverpool americana. Havia um bando de freaks,
que narcotizados pela filosofia Beat, o espelho para
suas sensações marginalizadas, passaram a vagar
por estradas, pregar o amor livre, protestar contra as guerras,
ler hai-kais, viver em comunidade, afiando a consciência
entre os desejos particulares e intervenções
no espaço coletivo. Além das deliberações
sexuais, buscaram nos alucinógenos notadamente o LSD,
o perceptível passaporte ao inconsciente, almejando
extrair uma visão paradisíaca das coisas.
O Jefferson Airplane possuía
um casarão no número 2.400 da Fulton Street,
onde passou grande parte de seus anos de melhor criação.
No número 1535 da Haight
Street, funcionava um dos pontos de encontro dos hippies
de Hashbury era a Psychedelic Shop, onde vendiam-se
jornais, revistas, discos e livros. Na loja havia também
um café, uma sala de meditação sempre
na penumbra e outra para se fazer amor. Nesta última
foram concebidos muitos dos bebês de Hashbury. Na Psychedelic
Shop (Loja Psicodélica) também funcionava
a redação do Oracle, o precursor da
imprensa underground. O jornal uma espécie
de porta-voz da tribo, chegava às ruas perfumado de
jasmim, contando eventos ligados à vida da comunidade.
As edições esgotavam em horas. Quando fechou
as portas, o Oracle estava com uma tiragem de 100
mil exemplares e distribuição em toda a Califórnia,
algumas das edições alcançaram tiragens
de 120 mil exemplares. Ninguém lucrou com o jornal.
Em caso de emergência, os colaboradores podiam tirar
um vale para o aluguel, nada além disso. O espaço
vazio deixado pelo Oracle foi ocupado por aqueles que seriam
os mais bem-sucedidos e poderosos jornais alternativos - o
Rolling Stone e o Village Voice.
Um pouco adiante até
hoje existe a Haight-Ashbury Free Medical Clinic
(Clínica Gratuita), oferecendo assistência médica
completa e gratuita aos hippies, onde estiveram os
Beatles. Ninguém pagava nada. O pequeno consultório,
fundado em Haight-Street por um grupo de médicos voluntários,
incluía até um departamento especial para atender
aos casos de overdose de LSD. Na entrada da sala,
um aviso dizia: “Aos pilotos psicodélicos que
precisam de ajuda para encontrar o caminho de volta para a
terra”.
O projeto Free City San
Francisco se tinha levado à prática algumas
formas experimentais. A idéia era comunicada ao visitante
com a promessa deste nada dizer. Temia-se toda a publicidade
desnecessária. Secretamente distribuiu-se entretanto
um comunicado que proclamava San Francisco uma “cidade
livre”. Transcrevo uma informação sobre
o Carroussel, quando este era propriedade do
Free City Mouvement e que foi publicada pelo jornal
International Times: “Carroussel Ballroom, 1545
Market Street, San Francisco, pertencente a Grateful Dead
e Jefferson Airplane. Lotação para 2.500 a 3.000
espectadores, com preços o mais baixo possível.
Há três semanas, Diggers tem em funcionamento
um Free Food Store. Ao longo da semana sucedem-se
manifestações como a convenção
Free City Planning. Todas as quartas-feiras há
baile com os Hell’s Angels e Big Brother and the Holding
Company, com entradas a 1 dólar. Brian Rohan, advogado
em questões pop, informa gratuitamente sobre assuntos
jurídicos. Toda esta equipe trabalha para conseguir
dinheiro para a comunidade. Os Panteras
Negras escondem as armas quando entram ali”.
O último exemplo é
característico. A organização radical
negra Black Panthers, constituída para defender o homem
negro perante os desmandos dos brancos, ocultam as armas de
fogo quando entram no Carroussel. Sabem que penetram
noutra comunidade que está a tentar pôr em prática
a “cidade livre”. O Gorilla Theatre organiza
manifestações de nudismo e o San
Francisco Mime Troupe, grupo de teatro guerrilheiro
de Ronnie Davis realiza sátiras políticas na
rua, coordenando de maneira geral o lado artístico
do desbunde, deram nada menos que 124 espetáculos em
1968. Os atores não pedem dinheiro; quem quiser dar
alguma coisa, dá e deposita o dinheiro num cesto.
Duas revoluções
ajudaram o movimento: uma nos jornais, com o Rolling Stone;
outra nas rádios, quando a nova música contou
com as suas próprias estações emissoras.
Sob a direção de Tom Donahue que modificou a
programação Fm da K.M.P.X., passando a transmitir
à maneira de rádio pirata, faixas de discos
e tapes dos grupos de rock, que nunca aparecia nas listas
de êxitos da rádio comercial, rompendo a barreira
da música meramente comercial.
Os programas de música,
eram frequentemente interrompidos para a transmissão
de notícias e fatos da nova cultura de San Francisco.
K.M.P.X., foi a primeira emissora de rádio underground.
O espírito pouco convencional
da citada emissora chegava ao ponto de transmitir, por exemplo
um raga de vinte minutos interpretada por Ali Akbar Khan,
assim como o longo monólogo Mixed Water de
Bukha White.
Existia também a escola
secreta e misteriosa onde só se podia passar seis dias.
Tudo de graça: cama, comida e transporte para chegar
até lá. O que precisa era estar disponível
por seis dias. E quem não estava disponível
em Hashbury nesses dias? Seis dias de iniciação
com Timothy Leary, Alan Watts e outros advogados da nova consciência.
No currículo do curso, cura espiritual através
de cartas para os arcanjos, astrologia, medicina natural,
dança. Aprendia-se também a conversar com os
arcanjos do céu, os avatares, os bodisatvas, os bruxos.
Tudo, claro, com a ajudinha de LSD.
Chegou o dia de celebrar a nova
consciência que surgira na América e que, àquela
altura, influenciava o mundo inteiro. O Festival das Viagens,
a festa que marcou o evento, durou três dias e foi realizado
ao ar livre, no Golden Gate Park. Gente de todos os continentes
na grama do parque, garotas dançando seminuas, sarapes,
mandalas, flores, túnicas indianas, incenso Era a grande
explosão, o apogeu do poder da flor. No último
dia do Festival, uma caravana de dez mil pessoas subiram ao
topo da colina de Twin Peaks, localizada no meio de Frisco,
para saudar o Sol com cânticos e orações.
Quando o Sol surgiu no horizonte, Charlie Brown, o homem sagrado,
levantou-se e proclamou o nascimento do Verão do Amor.
A nova cultura de San Francisco
(visível no seu teatro de rua San Francisco Mime Troupe,
nos seus jornais underground Oracle, San Francisco Good
Times, Berkeley Tribe e Berkeley Barbo, as suas
comunas, free shops, diggers e conjuntos), foi silenciada
durante um ano pela imprensa mundial, que lhe deu a chancela
hippie para convertê-la num simples slogan
turístico. Os chamados hippies tiveram que desfilar
pelas ruas com um funeral aos ombros para que a imprensa proclamasse
que o hippismo morrera de vez.
O que acontecia em Haight-Ashbury
nesses dias eram turistas de todo o mundo, da Europa
ao Japão, sabendo mais a respeito de Hashbury do que
de San Francisco. Quando chegavam à Califórnia,
o paraíso hippie era a primeira atração
a ser visitada. De hora em hora, durante o verão, chegavam
ônibus trazendo batalhões de turistas vindo dos
hotéis do centro, a seis dólares por cabeça.
Esses tours eram anunciados como “um safári
pelo único país estrangeiro dentro da fronteira
dos Estados Unidos” ou “safáris pelo reino
de Psicodelia, o único país estrangeiro em território
americano”.
“A expressão hippie
e os lemas similares flower-power e make love,
not war se tinham convertido meses atrás em insultos
e zombarias burguesas, definição que englobava
todo os turistas vestidos com largas túnicas e portadores
de colares de miçanga e insígnias de protesto.
Quem passeie hoje em dia em San Francisco com uma flor; no
cabelo, pode estar certo que será desmascarado como
palhaço ridículo”.
De fato, aves raras é
o que não falta em Hashbury. Pintaram subdivisões,
como os heads (mentores do Zen Budismo), Merry Pranksters
do célebre Ken Kesey, os Hell’s Angels (a polícia
pantera-pop) e os desvairados hippies de North Beach.
Havia, por exemplo, os Diggers, uma facção de
hippies radicais que ostentam o símbolo 1%
na camisa, referindo-se a si próprios como a percentagem
de seres humanos totalmente livres. Os restantes 99% são
condicionados. Os Diggers são conhecidos como um grupo
filantrópico a serviço da liberação
dos demais. Andam sempre imundos, descalços e mendigam
comida de porta em porta. Na verdade, os Diggers foram um
grupo anarquista que viveu na Inglaterra no século
XVII, usando depósitos de lixo como moradia. A luta
dos antigos Diggers era no sentido de que a terra fosse dada
a quem faz uso dela. Essas raízes ideológicas
se estabeleceram entre os Diggers de Hashbury. Sua meta era
a anarquia não violenta. Foram eles que construíram
uma grande moldura no Golden Gate Park, através da
qual podia ver-se um bando de hippies ocupados com
a laboriosa tarefa de fazer amor, fumar maconha ou simplesmente
dormir. A obra de arte era para ser vista pelos “normais”,
isto é, as pessoas de terno e gravata, “que só
consideravam arte o que esta contido pelos quatro lados de
uma moldura”.
Às quatro da tarde havia
comida de graça no Golden Gate. Era o ritual diário
dos famintos de Hashbury. Mais um gesto filantrópico
dos Diggers, em solidariedade aos hippies menos afortunados.
A comida era descolada nos bares, restaurantes, supermercados.
Às vezes tinha de ser roubada. O passo seguinte era
conseguir o local para cozinhar. Uma vez um biólogo
doou aos hippies uma baleia pescada ilegalmente perto
de Frisco. Foi a maior ceia de que se teve notícia
em Hashbury.
Uma boa parte da festa acontecia
diariamente num recanto do Golden Gate conhecido como a Colina
dos Hippies. Lá,
na grama, sob o sol, que Chocolate George (libertado sob fiança),
um Hell Angel dissidente que virou hippie, montou
seu escritório para empresariar novos talentos musicais.
Nas horas vagas, Chocolate, sempre elegante, saía com
um enorme estojo de guitarra (não havia nada dentro
do estojo) pelas ruas de Frisco, fazendo-se passar por um
músico de sucesso. Chocolate George fez da Colina sua
base eleitoral. Ele concorria por conta própria à
prefeitura de Frisco, prometendo, caso fosse eleito estimular
o uso de LSD nas escolas primárias do país.
Quando foi convocado para servir no Vietnã, protestou
nu, durante várias horas em frente à Câmara
dos Deputados da Califórnia.
E o hippismo cresceu. Em janeiro
de 1967, no Golden Gate Park, foi organizado o World’s
First Human-Be-in (o mais famoso congresso-festival do poder
da flor). Timothy Leary, Allen Ginsberg, Jerry Rubin (líder
dos Yippies, o partido internacional da juventude)
e mais ou menos 30 mil pessoas marcaram presença para
discutir e ouvir o som do Dead, do Airplane e outros.
Nesse momento, o ácido
lisérgico é visto, como uma abertura para a
unidade dos seres humanos e para a expansão da consciência,
da compaixão e da inteligência. A maioria dos
hippies de Hashbury vendia LSD e maconha. Ninguém
precisava de muito dinheiro, pois a maioria vivia comunitariamente.
Os aluguéis não passavam de 25 dólares
por pessoa, a comida era barata. Assim, não era difícil
comprar um pouco de maconha, vender um pouco, fumar um pouco
e ainda ter a grana do aluguel no fim do mês. A maconha
era barata, não existiam as grandes organizações
no tráfico internacional, o quilo da maconha valia
80 dólares, mas...
No dia 6 de outubro de 1966
o LSDé proibido por lei nos Estados Unidos. Para a
maioria das pessoas, a data tem pouca importância, mas,
para os hippies, ela tem um sentido místico.
Ela contém o símbolo 666, frequentemente mencionado
pela Bíblia, pela Cabala e pelos livros da Maçonaria.
Segundo esses textos sagrados, 666 é o símbolo
da besta. Todos os nomes do anticristo têm 66 como seu
equivalente numérico do símbolo usado pelos
gregos para designar o demônio, a mente inferior.
A repressão à
“droga sagrada” desencadeia uma nova onda de protestos
pacíficos coast to coast, de Frisco a Nova
York. Cartas são enviadas a Casa Branca e às
principais prefeituras do país: “Uma democracia
é o povo dizendo ao governo o que o faz feliz e não
o contrário. A proibição do LSDé
uma interferência do Estado na privacidade da psique
dos cidadãos”.
Nesta altura, a repressão
corre solta em Frisco. The Beard, a peça do
poeta Michael McClure, adaptada para o cinema por Andy Warhol,
acabara de ser retirada do cartaz de um teatro de Hashbury,
pela polícia, sob a acusação de “conspiração
e atentado à moral”. The Beard é
um diálogo entre Billy the Kid e Jean Harlow, no céu,
ambos surpresos por terem merecido tamanha complacência
de Deus.
Poucas semanas depois, os donos
da Psychedelic Shop são presos por venderem
o Livro do Amor, da escritora Lenore Kandel, um livro
sobre expressões de êxtase que não fazia
nenhuma distinção entre o êxtase sexual
e o êxtase religioso. “Blasfêmia!”,
sentenciou a corte americana. O mesmo acontece com a peça
Circo Psicodélico, do romancista Ken Kesey,
ovacionado pela crítica por seu best seller Um
Estranho no Ninho, que foge para o México temendo
represália à encenação, na véspera,
da sua Sinfonia Psicodélica, pelo Grateful
Dead.
No começo de 1967, a
estridência dos hippies e todos os acontecimentos
em Hashbury repercutem em todo o mundo como uma crise moral
que ameaça as mais sagradas instituições
americanas. A ação da censura e a repressão
policial crescem.
Nesse momento a maioria dos
agrupamentos políticos de esquerda dos Estados Unidos
emprestavam sua solidariedade aos hippies da Califórnia.
Uma grande celebração foi promovida no Golden
Gate Park, variando entre 20 a 60 mil pessoas vindas de toda
a América “para uma união de total amor
e ativismo político de duas tendências antes
separadas por dogmas categóricos”. A convocatória
para o ato público dizia: “Os militantes políticos
de Berkeley, a comunidade hippie de San Francisco,
a geração espiritualista da Califórnia
e contingentes da geração revolucionária
de toda a América se encontrarão no Golden Gate
Park para a comunhão de um ideal comum: a união
das tribos pela harmonia dos seres humanos”. A data
escolhida é sábado 14 de janeiro de 1967, dia
em que, segundo cálculos esotéricos, a população
da terra seria equivalente ao total de mortos da História
da Humanidade.
“Às primeiras horas
da tarde, umas vinte mil pessoas reuniam-se no anfiteatro
de emergência construído junto do campo de pólo
de Golden Gate Park. Ainda que pareça estranho, não
se via um único policial nas redondezas. Talvez fosse
esse o maior mistério daquele dia.
Da plataforma, uma voz tranqüila
saudou a multidão:
— Benvindos a esta primeira
manifestação do Bravo Mundo Novo...
O público soltou uma
espécie de suspiro coletivo. seria verdade tudo Squilo,
realmente? Vinte mil pessoas tinham-se concentrado ali, com
o único objetivo de expressar o seu amor e a sua alegria,
para celebrar a unidade naquele parque banhado de sol; na
companhia de pessoas que tinham o mesmo aspecto que os outros,
o mesmo pensamento, o mesmo compartilhar de esperanças
e ídolos; cujo único desejo era permaneceram
sozinhos e viver como melhor lhes aprouver”.
“As notícias sobre
os planos para o primeiro Love-In chegaram através
de uma ligação telefônica transcontinental,
feita por Michael Bowen, o maluco
e carismático artista-ativista. Ele e outras figuras
de peso no cenário de San Francisco estavam bolando
a celebração de uma missa no Golden Gate em
honra do LSD e da consciência das drogas. Havia alguma
rivalidade entre os barões psicodélicos sobre
quem deveria encabeçar o evento: realmente, um problema
dos mais difíceis, diante da presença de talentos
como os Diggers, os remanescentes dos Pranksters de Kesey,
a Mime Troup, o High Wizard Chet
Helms, a Communication Company, o Grateful Dead, Bill
Graham e os Hell’s Angels todos competindo pelo centro
do palco. Michael prometeu que eu seria convidado para o encerramento.
Alguns dos grupo de planejamento queriam organizar encontros
similares no mesmo dia, em Londres, Amsterdã, Copenhague,
Roma, Nova York e em outros pontos do Ocidente. Michael perguntou-me
sobre imprimir e distribuir crachás da Liga da Descoberta
Espiritual. Milhões no mundo inteiro os preencheriam
e os colocariam em enormes caixas pintadas para parecer cubos
de açúcar.
— Ei, espere um pouco, Mike
- protestei. - Eu não quero pertencer a uma religião
de milhões de pessoas que nem conheço.
— Apenas curta - continuou o
impassível Bowen. - Em apenas um dia nossa religião
seria procurada por mais adeptos do que o cristianismo e o
islamismo em seus três séculos. Em um dia, você
se tornaria papa de uma religião de alcance mundial.
— Papa, hein? É uma oferta
interessante, mas não é exatamente a carreira
que tenho em mente. Não gosto de cultos de massa.
— Pensamento fora de moda, cara -
disse ele. - Seremos conectados eletronicamente. Shows mundiais
de tevê. Dizendo para as pessoas como evitar bad trips.
E, quatro vezes por ano, nos equinócios e nos solstícios,
repetiremos as celebrações de missa. O planeta
está louco para ser ligado. Você é aquele
que tem a resposta.
— Rosemary e eu iremos
para o encontro - disse-lhe - como parte da multidão.
No meio da manhã, podia-se
sentir a eletricidade aumentando ali na área da baía.
Todas as estações de rádio comentavam
o Love-In. As pontes para a cidade estavam lotadas de peruas
Volkswagen e as ruas em direção ao Golden Gate
tornaram-se rios de gente. Mais de 60 mil pessoas se espalharam
pelo gramado, comendo, bebendo, fumando, tocando instrumentos
musicais.
As maiores bandas de lá
tocavam em um palco erguido sobre uma plataforma. Celebridades
da contracultura davam seu recado entre os shows. Havia muita
politicagem no comitê organizador quanto ao tempo fornecido
a cada orador. O pessoal do lado cultural queria que eu enviasse
uma nota com os princípios básicos. Os esquerdistas
linha-dura queriam transformar o Love-In em uma demonstração
política.
Nas suas extremidades, a multidão
era gentil, harmoniosa e alegre, no espírito de uma
Kumamela hindu, onde o povo se alinha nas margens do Ganges
para se encontrar. Enquanto íamos indo em direção
do palco, pude observar um interessante fenômeno neuro-social.
Quanto mais perto dos microfones e amplificadores, piores
eram as vibrações. Havia espectadores empurrando
outros para chegar perto do palco, o centro da agitação.
Agradeci aos convites para subir
ao palco. Discursos são irrelevantes. aquele monte
de almas com mentes parecidas era a mensagem. Olhe lá
em cima. Alguém num pára-quedas coloridíssimo
ia descendo, descendo, descendo até que aterrissou
no centro do gramado. A maioria
da multidão foi sensível o suficiente para ignorar
a gritaria no palco. Jerry Rubin havia apanhado o microfone
e estava passando uma reprimenda em todos os presentes, porque,
enquanto eles estavam ali curtindo, se divertindo, três
ativistas políticos de Berkeley estavam trancados na
cadeia por atirarem pedras.
— Ligue-se, sintonize-se,
assuma o comando - gritou ele.
Fui empurrado para o palco pelos
promotores e fiquei espremido entre dois belicosos motoqueiros
que defendiam seus respectivos espaços. As pessoas
brigavam pelo microfone. Fui empurrado para o pódio.
Berrei minhas seis palavras.
— Ligue-se, sintonize-se,
libere-se.
E pulei para fora do palco”.
Jerry Rubin, dirigente dos hippies,
orou sobre o Vietnã e Allen Ginsberg e Gary Snyder
entoaram o hino Krishna:
Hare, Krishna, Hare Krishna,
Krishna, Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama, Hare,
Hare
The Grateful Dead, Jefferson
Airplane e Dizzy Gillespie, atuaram e muitos outros.
Eram esperadas 50 mil pessoas
vindas de todas as partes da América e da Europa. O
sol é da cor de Orange Sunshine, o ácido lisérgico
preferido por todos. E todos estavam lá. Ria-se, dançava-se..
“Éramos todos amantes”, lembraria Ric Levine,
sentado no mesmo local do Golden Gate Park onde tudo aconteceu.
Seria o último evento
em Hashbury. Naquele mesmo dia, a placa da Loja Psicodélica
foi queimada e enterrada, simbolizando “a morte dos
hippies”. O resto, o que o mundo conheceu e
ouviu falar, foi lenda, eco, migalhas de um fenômeno
épico. Nada tinha havido antes que se parecesse com
aquilo. E nada houve depois. Naquele dia também uma
grande borboleta psicodélica que tinha nascido em Hashbury.
Pela terra, pelos oceanos, voaria para outros continentes.
E onde a borboleta psicodélica pousou, seu espírito
se impregnou na consciência de milhões de jovens.
E era tão forte o seu poder, que trazia a força
viva de uma revolução. Uma revolução
sem armas, pacífica. Foi ela quem dividiu a consciência
do país, quando os cadáveres começaram
a chegar em massa do Vietnã e os horrores da guerra
entraram pelos lares da América.
Profetizou-se que cem mil crianças
da geração flórida reuniriam-se na grama
para celebrar o primeiro grande festival de rock ao ar livre
em junho para o Festival de Monterey
Pop. Como sempre, a música acompanhava o movimento:
em maio, o cantor Scott McKenzie lançava uma canção
composta por John Phillips, dos The Mamas & The Papas,
San Francisco (Wear Some Flowers in Your Hair).
Além de fazer propaganda do Verão do Amor, a
letra recomendava a quem viesse a San Francisco que não
se esquecesse de colocar flores nos cabelos. E fazia, a certa
altura, um verdadeiro manifesto hippie:
All
across the nation / Such a strange vibration
People in motion / There’s a whole generation
With
a new explanation...
Ouvida ainda hoje - com freqüência
e nostalgia - a canção se tornou o hino do Ano
da Flor. Encerrou a carreira de Scott McKenzie, cuja imagem
ficou para sempre associada a San Francisco. Ou,
na observação mordaz da enciclopedista do rock,
Lilian Roxon:
— Muitas pessoas foram
a San Francisco com flores os cabelos e isso não lhes
fez nenhum bem. Elas ainda não perdoaram Scott McKenzie.
Na verdade, os cem mil jovens não
chegaram a San Francisco no mesmo dia, mas estiveram lá,
no decorrer daquele verão, o que criou um grave problema
para a municipalidade. Bem dentro do espírito da época
(determinado pela superabundância econômica),
os hippies exigiram das autoridades casa, comida
e assistência médica. Mas San Francisco, a mais
esnobe das cidades americanas, só estava interessada
em turistas ricos. Tudo acabou-se acertando, quando a comissão
de parques declarou várias áreas da região
de Haight-Ashbury liberadas para os sacos-de-dormir. E, bem
ou mal, San Francisco acabaria ganhando os seus turistas,
com a súbita fama nacional - e internacional - como
capital mundial dos hippies. Diante desta invasão,
os hippies autênticos fugiram para as comunas
rurais e Haight-Ashbury ficou entregue aos hippies-de-butique
(que faziam um belo comércio) e a bolsões de
jovens extraviados e drogados que acabariam expulsos pela
alta de aluguéis decorrente da supervalorização
da área. San Francisco refletiu, de maneira mais dramática,
o que estava acontecendo - com a juventude em quase todas
as cidades do mundo industrializado. Em janeiro de 1968, um
ano depois da grande “reunião das tribos”
convocada para o parque Golden Gate, os próprios moradores
do Haight realizaram o enterro simbólico do hippie,
“filho dedicado da mídia”. O hippismo
se comercializara; o bairro estava infestado de traficantes,
motoqueiros violentos, tomadores de anfetamina. Embora só
agora estivesse começando a ser exportado para o resto
do mundo, em San Francisco o sonho havia acabado.
Atenta em registrar os fenômenos
de mudança no comportamento humano, a revista Time
dedicou sua reportagem de capa de 7 de julho de 1967
sobre Os hippies/A Filosofia de uma Subcultura. É
curioso recordar a chamada da matéria, trinta anos
depois:
Um sociólogo os chama
de ‘proletariado freudiano’. Outro observador
os vê como ‘expatriados vivendo em nossas praias,
mas além de nossa sociedade’. O historiador Arnold
Toynbee os descreve como ‘um sinal vermelho para o American
way of life’. Para o bispo James Pike, da Califórnia,
eles evocam os primeiros cristãos: ‘Há
algo no temperamento e na qualidade destas pessoas, uma suavidade,
uma calma, um interesse - algo bom’. Para seus pais
profundamente preocupados por todo o país, eles mais
parecem párias sociais perigosamente iludidos, candidatos
a uma boa surra e a um curso intensivo de moral e civismo
- se apenas voltassem para casa para receber as duas coisas.
Qualquer que seja o seu significado ou o seu objetivo, os
hippies emergiram no cenário norte-americano nos últimos
18 meses como uma subcultura totalmente nova, uma bizarra
permutação do ethos da classe média americana
a partir do qual evoluíram.
Mais adiante, a reportagem do
Time toca no cerne da questão, a “filosofia”
hippie:
Um senso crescente de utopismo
domina a filosofia hippie. Ela tem pouco em comum com a autoritária
cidade-estado descrita na República de Platão,
ou com a Utopia de Sir Thomas More, que era uma ativa comunidade
agrícola onde todo mundo trabalhava seis horas por
dia. A inspiração hippie vem da Arcádia:
é pastoral e primordial, enfatizando a unidade com
a natureza física e psíquica. Northrop Frye,
da Universidade de Toronto, professor de inglês e discípulo
do filósofo das comunicações Marshall
McLuhan, vê os hippies como herdeiros do ‘proscrito
e furtivo ideal social conhecido como o País da Cocanha,
uma terra de conto de fadas em que todos os desejos podem
ser instantaneamente gratificados.
Quem
matou o poder da flor?
(Mário
Pacheco)
O
pioneiro da fórmula festival-de-música-e-curtição foi o Festival
Internacional de Música Pop em Monterey California, realizado
em 16 a 18 de julho de 1967, que teve um caráter antibélico
e beneficente. Todos os músicos tocaram de graça.
Programa:
The Association, Paupers, Johnny Rivers, Animals, Simon and
Garfunkel, Janis Joplin, Eletric Flag, Paul Butterfield Blues
Band, Blues Project, Canned Heat, Country Joe and The Fish,
Hugh Masekela, Steve Miller Band, Al Kooper, Quicksilver Messenger
Service, Bufallo Springfield, Jimi Hendrix Experience, The
Who, Grateful Dead, The Mamas & The Papas, Otis Redding,
Moby Grape, Laura Nyro, Jefferson Airplane, Byrds, Booker
T. and the MGs e Ravi Shankar.
Posteriormente
comparados com os do fim da década, Monterey Pop foi quase
ridículo: um público de 50 mil pessoas, num local não tão
vasto assim, assistindo aos shows sentados em cadeirinhas
desmontáveis e bancos. Mas, considerando as presenças em palco
e o espírito reinante no ar - as “boas vibrações” como se
dizia - Monterey foi um marco, a cristalização do grande “desbunde”
das flores, som, paz & amor. Inspirou canções Monterey
por Eric Burdon e seu sucesso fez com que os festivais se
alastrassem pelo mundo.
San
Francisco não estava só. Uma música similar ressoava ao largo
de toda a costa ocidental. Disso se dá conta a opinião pública
ao realizar-se em Monterey o mais importante festival de 1967.
Sam Silver resume-o deste modo no East Village Other:
A música não era tudo no festival. Os acontecimentos musicais
eram como o órgão de expressão da cultura hippie na costa
ocidental. O essencial do festival era o fato dos seus participantes
serem membros de cultura turned on, enquanto que parte do
público não tinha estado até aí, exposto a qualquer influência.
De qualquer modo, cabe assinalar que o festival tinha sido
profusamente anunciado pelas mais populares emissoras de rock.
Todavia,
deve considerar-se muito mais importe o fato de a música da
costa ocidental se ter apresentado de forma totalmente politizada.
Trata-se, efetivamente de uma espécie de festival antibélico.
O conjunto Country Joe and the Fish cantou:
Don’t
drop your H-Bomb on me,You can drop it right on yourself
Por
seu lado, o Grateful Dead que geralmente dava mais importância
às experiências musicais do que aos textos, cantou o seguinte
coro na Viola Lee Blues:
Some got six months, some got one solid / Some got one solid year, and beat it
Acudiram
ao festival 50.000 visitantes que tinham trazido na sua maioria,
sacos de dormir e pernoitaram no campo de futebol que fica
próximo. Nas tabacarias e quiosques podia-se obter tudo quando
produziam os editores underground norte-americanos.
Nesse
tímido mas revolucionário festival atuaram na sexta-feira
à noite, entre outros, The Mamas & The Papas, Simon and
Garfunkel e Eric Burdon com The New Animals. O sábado foi
dedicado ao San Francisco Sound, tendo atuado da parte
da tarde Country Joe and the Fish, Canned Heat, Quicksilver
Messenger Service, Big Brother and the Holding Company, bem
assim como Eletric Flag, Moby Grape e Otis Readding. No dia
seguinte atuaram Ravi Shankar e os Who, Blues Project, Grateful
Dead, Jimi Hendrix Experience e os Byrds.
O
festival tinha sido organizado com fins beneficentes, contando
com a colaboração desinteressada dos artistas, de modo que
se pode obter uma razoável quantia que foi posta, à disposição
das organizações negras com a finalidade de procurar ajudar
a desenvolver os seus projetos educativos.
A
música era o órgão de expressão da nova cultura. Esta cultura
declara-se definitivamente partidária do amor e oposto à guerra.
Embora
os Beatles tivessem recusados a participar do festival, Paul
McCartney foi listado como um dos conselheiros e ele achou
que não haveria festival sem Jimi Hendrix e John Phillips
(dos The Mamas & The Papas), outro organizador do Festival
de Monterey, exclamou: Jimi Hendrix! Ao que Paul completou:
“um maluco que toca guitarra com os dentes” ele representará
a Inglaterra convenientemente, com o The Who. Hesitante, com
medo de ser rejeitado e excluído - porque era negro ou porque
era “maluco”- Jimi embarcou de volta a sua terra natal.
Hendrix
explora novos mundos: sua mente, por exemplo. Através de Cathy
Etchingham, sua namorada que tinha-lhe apresentado ao ácido
lisérgico, ao haxixe e à mescalina - as chamadas “drogas de
expansão sensorial”, ou “psicodélicas”. Jimi Hendrix trazia
dentro de si uma inquietação, uma turbulência, que a estrada
não conseguiria aplacar. Com as drogas, ele se lançava a novos
caminhos, à procura de uma resposta, de uma liberdade que
sempre parecia estar lhe fugindo.
Sobre
sua língua, pedaços de sabão... sua saliva com gosto de papel-alumínio..
uma bolha de apreensão se formando no estômago. Agora, ele
estava acorrentado. A contagem regressiva das entranhas pra
circulação, e desta pro cérebro, rumo à decolagem. O que é
pra acontecer?
Suas
pernas parecem gelatina e tudo estava retumbando, não dava
para correr. Bateu. Em câmera lenta, Brian Jones, todo de
branco que veio especialmente de Londres para apresentar Jimi
Hendrix aos seus próprios conterrâneos americanos, quando
o viu nos bastidores, subiu correndo ao palco e apresentou-o.
Abençoado e crismado, estava dada a senha da imortalidade.
Foi
em Monterey que Hendrix colocou fogo em sua guitarra depois
de Pete Townshend reduzir a sua em lascas. O filme que foi
feito disto, assegurou um lugar na mitologia contemporânea
para ele e Janis, mas outras tomadas permaneceram inéditas
por 19 anos, assim como outras músicas que o Experience executou.
No
disco Jimi Plays Monterey, apresenta nove faixas, todas
elas obrigatórias em qualquer antologia do guitarrista, mas
o que conta é que Jimi Hendrix, em 1967, estava no auge de
sua forma e tinha Mitch e Noel na cozinha, o primeiro e único
Experience. Jimi no início detestou o nome. Achou careta e
Chas Chandler, seu empresário teve de convencê-lo de que no
futuro ia mudar de significado e que viria a ser o melhor
grupo que ele formaria em sua carreira.
Um
cuidado especial foi dedicado ao visual do trio, com Jimi,
Noel e Mitch rivalizando-se no uso de vestimentas cada vez
mais ousadas, uniformes antigos de hussardos e granadeiros,
com franjas, passamanes, borlas e galões dourados, coletes
marroquinos, calças de veludo ou de cetim, tudo em cores vivas,
cravejado de pedrarias, as cabeleiras enormes, com o afro
eriçado coroando a cabeça do guitarrista.
Hendrix
atingia o topo e, por isso, experimentava; o Experience ofuscava
os outros participantes do Festival com sua atuação e guarda-roupas
arrasadores.
Ouvindo
os lançamentos da época é fácil entender o sobressalto do
público com a atuação do Jimi Hendrix Experience. O trio ia
contra tudo o que se produzia, construindo novas idéias a
partir da demolição total dos valores da época, aproveitando
os alicerces dos blues. A guitarra de Hendrix gemia e gritava
como nunca se tinha ouvido antes.
Trinta
anos depois, sua versão para Wild Thing é atual, com
uma leitura vibrante para uma música aparentemente boboca
que tinha sido gravada pelo “pior conjunto de rock que tocou
na Terra: The Troggs”. Ao tocá-la, Jimi criou um efeito cênico
que faz parte dos Grandes Fhashes da Galeria Roqueira: literalmente
incendiou a guitarra. A explosão da guitarra e do baixo, seguida
por uma furiosa bateria foi uma das linhas mestras para a
inspiração do heavy-metal que, no entanto por mais
de décadas, não buscou uma evolução musical, trocando-a por
um aumento de decibéis pura e distorcidamente.
Killing
Floor, com a guitarra de Hendrix disputando
o primeiro plano com ela própria. Não há erro: provavelmente
nunca Jimi Hendrix extraiu de sua guitarra simplesmente um
acorde ou uma nota; ele era capaz de fazer a base e o solo
ao mesmo tempo, como precursores de outro mágico, Stanley
Jordan, e antecessor de outro rei do blues, Robert Johnson.
A canção é forte e o ritmo, puxado ao blues com andamento
pouco modificado, cai como luva para a interpretação potente.
Foxy Lady vem em seguida e merece uma interpretação
mais sensual do cantor e também da guitarra.
No
clássico “dylanesco” Like a Rolling Stone ele tem a
platéia - e o ouvinte do disco - completamente sob seu domínio,
como um hipnotizador. E sua versão para a belíssima canção
de Bob Dylan parece simples, mas ele consegue demonstrar toda
a sua técnica endiabrada em inversões nas mudanças de acordes.
Mas é em Rock me Baby que ele realmente assalta ao
público, terminando o lado com seu primeiro grande sucesso,
Hey Joe.
Na
sequência, mais energia com Can You See me, The
Wind Cries Mary, Purple Haze e Wild Thing.
Das
nove gravações incluídas neste disco três são absolutamente
inéditas como lembra Paul Diamond na contracapa: Foxy Lady,
Wind Cries Mary e Purple Haze. Duas outras são
encontradas em duas coletâneas e as outras são velhas conhecidas
- mas nada se compara ao prazer de ouvir o show completo.
Paul Diamond relata as fases de purificação e masterização
que a fita original, registrada num gravador de oito canais,
passou até chegar ao disco. A qualidade de som - ainda que
os velhos problemas de prensagem dos discos brasileiros, que
ressaltam os graves e anulam os agudos - é impressionante.
Mas é o mínimo que mereciam Jimi Hendrix e sua guitarra Fender
Stratocaster.
O
Experience, formado em setembro de 1966, parecia milênios
à frente de todo mundo em Monterey. E Jimi Hendrix agradeceu
à meia hora de aplausos brandindo uma guitarra em chamas sobre
a cabeça. Imediatamente, Bill Graham contratou o Experience
para tocar com o Jefferson Airplane, no Fillmore West. US$
2 mil para cada componente do grupo e mais um relógio antigo
de presente.
Ao
lado do sucesso de astros como Otis Redding e os The Mamas
& The Papas, o Big Brother and the Holding Company - devido,
obviamente, ao desempenho de Janis - daria seu recado com
brilho surpreendente, se impondo como a mais nova força criativa
do cenário do rock, juntamente com o outro novato, Jimi Hendrix.
Era
a tarde do último dia do festival e 50.000 jovens coloridos,
enfeitados de flores, curtiam o sol, o amor e a música. Emocionada,
Janis, vestida de lamê, sapatos de salto fino, dourados, subiu
ao palco, os cabelos soltos ondulados ao vento. Janis enrijeceu-se,
levantando-se nos pés para com um salto agarrar o microfone
e sua voz saiu poderosa, cortante, selvagem, gemeu, gritou,
girou os quadris, sacudiu a cabeça e incendiou o ar.
Janis
cantou com tanto entusiasmo sua música favorita, Eu Quero
Que Tudo Expluda, que tirou a roupa e acabou presa, nascia
um novo mito, rebelde e solitário. Janis, a primeira mulher
a ameaçar a supremacia masculina do rock e o reinado de Grace
Slick.
Poucos
tinham uma expectativa especial em relação ao Big Brother,
relativamente desconhecido fora de San Francisco. Eles se
apresentaram depois do The Who e de Jimi Hendrix. E conseguiram.
A
partir daí os caminhos estavam abertos para Janis. O Big Brother
deixou Monterey com um excelente contrato de gravação com
a Columbia Records “descobertos” pelo produtor Clive Davis,
- e o grupo tentou impedir o lançamento do álbum Big Brother
and the Holding Company, lançado senão na ocasião do festival
com a certeza de que era um ótimo negócio e o disco vendeu
uma quantidade fantástica de cópias apesar da evolução do
grupo apresentada no palco de Monterey. Na Columbia, o Big
Brother registrou o vital Cheap Thrills cujo título
foi encurtado da frase Sex, Dope and Cheap Thrills,
que lançado em setembro do ano seguinte, vendeu de imediato
mais de um milhão de unidades. Na frente da capa teríamos
uma caricatura de Janis, atrás aquela história em quadrinhos
conhecida por nós e que transformou-se na capa frontal que
nós conhecemos hoje. Mas a Columbia vetou a caricatura de
Janis, o que mereceu uma gozação do próprio cartunista: “Eles
disseram que a caricatura era muito barata (cheap).
Mas o disco se chama Cheap Thrills, é ou não é?”. Os
desenhos do papa dos comix, Robert Crumb, amigo de
Janis, refletiam bem o tom underground. Na hora de
receber o cachê de 600 dólares, Crumb recusou. “Fiz isso só
para chutar o traseiro da indústria fonográfica”. “Esses capitalistas
não entendem que você está pouco ligando pro dinheiro deles”.
Ao lado de clássicos como Ball and Chain, tradicional
“bluezaço” de Mama Thornton com Janis deixando todos os queixos
caídos (no documentário Janis produzido por F. R. exibe
Ball and Chain, filmada em Monterey e inclui a cena
em quem Mamma Cass, aprecia boquiaberta a performance de Janis)
e que consagrara a banda no festival, no disco - a versão
de Ball and Chain é a única gravada e ao vivo, e outras
faixas que lembrem o sabor live são truques de estúdio
- trazia também o revolucionário arranjo eletrificado para
o Summertime, uma das gemas da ópera Porgy and Bess,
de George Gershwin, cantada por Janis desde os 17 anos e que
nunca foi tão difundida como na voz de Janis Joplin. Em contrapartida,
ela aproveita a canção como pista de decolagem para seus rasgantes
vocais. Summertime, uma renovada angústia, uma interpretação
que se igualara às criações dos maiores cantores negros de
blues.
Claro que, a cena hippie foi explorada prontamente pelas
mídias e comercializada através de infiltradores capitalistas.
A revista Melody Maker que mais cedo em 1967 tinha
publicado um jogo de avaliação “Teste Seu Poder da Flor” cuja
pontuações de topo eram agraciadas com a frase “Paul McCartney
está orgulhoso de você”), estava agora evocando manchetes
como “Quem matou o Poder da Flor?” .
68: Música da rua
(Mário
Pacheco)
No
decurso do Verão de 68, o empresário Bill Graham transferiu
os seus concertos para o antigo Carroussel. Ao mesmo
tempo que aumentou os êxitos, destruiu um dos sonhos da nova
comunidade pop, pois só os conjuntos Jefferson Airplane e
Grateful Dead tinham alugado por algum tempo o salão de baile
Carroussel e, com a ajuda de alguns espetáculos beneficentes,
reuniram o capital necessário e inicial para a empresa Headstone
Productions. A finalidade dos músicos pop era a de oferecer
concertos a preços reduzidos e transformar o ambiente dos
mesmos numa espécie de “centro comunitário”.
A
tentativa porém, fracassou em virtude do desconhecimento de
certas realidades comerciais, mas ficou amplamente demonstrado
que os músicos sentiam a inquietação de converter a música
num acontecimento social. Assim, por exemplo, os dois citados
conjuntos atuaram regularmente nas ruas da cidade, tocando
para todos aqueles que quisessem ouvi-los.
“Quando
Graham o agente do Jefferson Airplane já tinha obtido um contrato
para um concerto numa grande cidade, o conjunto negou-se a
atuar dado que dois integrantes do conjunto não gostavam do
produtor do espetáculo. Graham teve de aceitar a decisão.
Porém, este comportamento constituía uma novidade no campo
do espetáculo, pois este sempre tinha personificado o sistema
tradicional norte-americano em que o dinheiro compra tudo”.
(Ralph Gleason).
Joe McDonald, do conjunto Country Joe
and the Fish, renunciava por vezes a fabulosas ofertas, porque
o conjunto naquele momento tinha vontade de fazer outras coisas.
“Exigimos
que nos tratem como pessoas. Queremos fazer as nossas próprias
coisas e negamo-nos a ser explorados e vendidos. Esta é a
razão de não termos aceitado determinados contratos”.
Um
dos lugares prediletos para as reuniões ao ar livre era The
Panhandle. Durante os fins de semana atuaram ali, The
Big Brother & The Holding Company com o seu espetáculo
cômico satirizando as listas de êxitos.
Newport,
Rhode Island, 28 de junho de 1968. Nos arredores da cidade,
tem lugar o chamado Folk Festival, durante um largo
tempo centro de reunião da juventude politizada e da canção
de compromisso. Nesse dia, a polícia detém à força no recinto
do festival, Jerry Rubin, chefe do Youth International
Party (Partido Internacional da Juventude) conhecido pela
abreviatura Yippies e que substituiu os hippies.
Mais tarde, Jerry Rubin descreveu a sua expulsão em revistas
semi-clandestinas, como por exemplo em Berkeley Barb:
Naquele
domingo fomos expulsos de Newport, depois, três agentes da
polícia levaram-nos rapidamente até os limites da cidade,
expulsando-nos e ameaçando-nos que nos prenderiam se tentássemos
voltar. Tudo isto se fez sob o pretexto de termos entregue
literatura pornográfica a uma freira.
A
freira tinha recebido efetivamente a revista, que Rubin distribuira,
na companhia de dois companheiros, com fins publicitários.
Mas nela, nada havia que se pudesse considerar pornográfico.
De fato, nem a freira se sentiu ofendida. Simplesmente, uma
empregada do empresário do festival avisou o seu patrão, George
Wein e este ordenou a detenção de Jerry que, um ano antes,
tinha sido proibido por aquele de participar no festival.
Vários
jornalista, entre eles Rolf-Ulrich Kaiser, o autor de O
Mundo da Música Pop, ofereceram os seus bilhetes a Jerry
Rubin e aos seus amigos, dado que estes não podiam pagar os
25 dólares do preço da entrada. Mas Rubin foi expulso e o
mesmo ia acontecendo aos jornalistas, a presença de Rubin
politizara demasiado depressa o festival e em 1968 tinha sido
proibida toda a espécie de política face à existência de um
recém-formado establishment do folk. Deste modo, o
festival de Newport, que em anos anteriores fora a guarda
avançada da canção política com a colaboração de Joan Baez,
Pete Seeger, Phils Ochs, Tom Paxton e Eric Anderson, acabou
assim:
Mãos
no alto e subam para o carro! - gritou-nos um policial de
Newport. Peter, Nancy e eu fomos identificados imediatamente,
mas pelo menos a polícia não encontrou dois embrulhos de haxixe,
que Nancy lograra esconder entre os seios. Fomos metidos na
rádio-patrulha e obrigaram-nos a sentar em cima das nossas
mãos. ‘Vamos levá-los ao comissariado e lá investigaremos
o assunto’.
Foi
assim que terminou o festival de Newport; um fim sem glória,
mas previsível, pois em 1965 se previu que a onda de folk
se iria transformar noutra coisa.
No
dia 18 de maio de 1968, em Berkeley, 866 universitários prestam
juramento solene de não servir o Exército dos Estados Unidos
enquanto durar a Guerra do Vietnã.
A
24 de agosto de 1968. Por ocasião da eleição do candidato
democrata à presidência dos Estados Unidos, reúnem-se em Chicago
militantes da nova esquerda, hippies e conjuntos pop.
A polícia intervém. O conjunto Country Joe and the Fish, dá
um recital e é atacado num hotel.
Quatro
dias mais tarde, Hubert H. Humphrey é indicado pelo Partido
Democrata com candidato à presidência dos Estados Unidos.
Country
Joe and the Fish celebriza-se apesar de não gostar da indústria
discográfica. Os seus blues eletrônicos não são canções insípidas
com formosas melodias. Nas suas atuações incluem números marcadamente
políticos. Por exemplo, na canção Superbird refere-se
ao presidente Lyndon B. Johnson. Joe McDonald faz baixar o
presidente do céu dos super-homens e das super-aeronaves,
para devolvê-lo ao rancho do Texas.
A
revista musical Billboard, órgão dos grandes empresários
norte-americanos, exclamou depois do concerto dado por Country
Joe and the Fish em 7 de fevereiro de 1968:
“A
guerra é de mau gosto, o napalm é de mau gosto; mas que a
oposição lute contra os opressores com o mesmo mau gosto,
resulta num argumento muito frouxo. Por desgraça, esses músicos
ocultam os seus verdadeiros talentos atrás da salva de finalidade
de atrair as atenções do público. O único efeito de todos
os esforços é o de instigar os atos dementes”.
A
alteração produzida na música desde a canção melódica adormecedora
e inebriante até às canções politizadas, fora demasiado rápida
para a indústria discográfica. Muitos dos economicamente interessados
neste mercado, parecem temer que num futuro próximo possam
ser desalojados, em virtude da rapidez dos acontecimentos
que se abatem sobre eles.
Nos
fins de setembro de 1968, teve lugar um festival parecido
em Essen (Alemanha Ocidental) integrando uma parte de folk
e rock e outra de cultura underground. Mais de 40.000
visitantes acorreram para verem 200 artistas participantes.
O ponto culminante do festival foi o espetáculo noturno Let’s
take a trip to Asnidi, aquele festival foi a primeira
grande documentação apresentada na Europa sobre os diferentes
gêneros musicais da atualidade e da cultura underground.
Entre
os participantes no Festival de Essen de 1968 encontravam-se
The Mothers of Invention, The Fugs, David Peel, Julie Driscoll,
Brian Auger & The Trinity, Family, conjuntos europeus
como Brotzmann, Big Group Guru Guru Grove, Tangerine Dream,
Amon Dull, Na Grugalhe, onde o festival se realizou, parte
do público estava sentado ou deitado na platéia e dois mil
assistentes foram alojados em tendas de campanha.
O
cantor Johnny Cash lançou At Folson Prison, álbum gravado
ao vivo protestando contra as más condições das prisões nos
Estados Unidos. O disco vendeu um milhão de cópias. No mesmo
ano, o grupo Chicago Transit Authority (que mais tarde se
tornaria apenas Chicago) gravou a canção The Whole World
is Watching. Ela era cantada por manifestantes que tentavam
boicotar a Convenção Nacional Democrata em Chicago.
Em
dezembro de 1968 em Miami. Aconteceu o Miami Pop, o
primeiro grande festival da Costa Leste. 100
mil pessoas curtiram Procol Harum, José Feliciano, Iron Butterfly,
Country Joe and the Fish, Three Dog Night.
A
onda psicodélica na América demonstrava sinais de ressaca.
Os vasos flóridos estavam rachando. Muitos tornaram-se uma
paródia do que foram no auge. As amadas drogas dos drop-outs
passaram a ser manipuladas pela máfia do sistema, que era
o lance mais odiado por eles. Alguns cérebros estavam espancados
pelo ácido lisérgico e não seguraram a barra.
As
relações liberais estrangularam a paixão; tornou-se impraticável
manter a dourada corrente imaginária, pois o mundo ia de mal
a pior.
Berkeley
explodiu em agitações: a convenção do Partido Democrata em
Chicago, onde todas as facções da nova esquerda estiveram
presentes, acabou em pancadarias.
Em
Berkeley, contestava-se a guerra no Vietnã, a política e a
economia americana, a corrida espacial e nuclear, e o sistema
de produção que transformara o homem em máquina. Ocorre o
assassinato da atriz Sharon Tate e mais cinco pessoas que
causa grande impacto na imprensa ocidental.
No
dia 12 de outubro de 1969, a polícia da Califórnia invade
um rancho à procura de ladrões de automóveis. Depara com 26
pessoas, das quais dezessete eram mulheres, todas armadas
de facas e seminuas. À primeira vista, parecia ser um grupo
de simples marginais disfarçados de hippies. Contudo,
o caso complicou-se. Embora o chefe, Charles Manson, fosse
velho conhecido da polícia, como marginal de segunda classe,
havia conseguido exercer sobre aquele grupo, através do sexo,
das drogas e até do hipnotismo, um estranho domínio. O bando
era conhecido como A Família, e Charles Manson era
chamado “Jesus, e as mulheres, “as escravas de Satã”.
A
ligação de Manson com o caso Tate foi logo estabelecida. Uma
“escrava” sob o transe da droga, confessou que o grupo cometia
crimes rituais. O administrador do rancho declarou que Sharon
Tate tinha visitado o local várias vezes. Finalmente o próprio
Manson e algumas de suas mulheres confessaram sua participação
no bárbaro crime coletivo, e a polícia aproveitou para tirar
uma bela casquinha. O chefe da A Família foi condenado
à morte, e mais tarde, como a pena de morte tivesse sido abolida
na Califórnia, à prisão perpétua.
Os
contestadores amoleceram. Ficou um tremendo lengalenga que
culminou com o enterro do poder da flor de vez e os hippies
começaram a abandonar as cidades, cada vez mais violentas,
em direção ao campo. O pacifismo, porém, ganharia corpo e
culminaria no maior festival de todos os tempos...
1968