Stevie
Winwood, que se separou de Spencer Davis Group para fundar
o seu próprio conjunto, o Traffic, em 1967, na Inglaterra,
Stevie Winwood (guitarra, teclados, vocais), Chris Wood (sax,
flauta), Dave Manson (guitarra). Isolaram-se dos contratos
e dos empresários. Com o propósito de aproveitar com inteira
liberdade as vantagens da concentração acordada pelas diversas
partes, comprou para o conjunto, uma casa de campo nas distantes
colinas de Berkshire, onde viveram durante um ano inteiro.
Quando algum visitante curioso o despertava dos seus sonhos
em que imaginava o país das aventuras, Stevie expunha as razões
que o tinha feito fugir de Londres
“Vim para aqui para poder trabalhar
em tranqüilidade. Em Londres quem pode experimentar o que
que seja? Não me restava outra alternativa senão afastar-me
de Londres. Ali, nunca tive residência fixa, coisa que, com
o tempo, acabou por me dar cabo dos nervos. Aqui podemos ensaiar
sempre que quisermos, podendo, inclusive, levantar-mos às
três da manhã e começar a tocar. Gozamos de inteira liberdade,
ninguém nos prejudica e não estorvamos ninguém”.
Já no primeiro LP, "Mr.
Fantasy", mostraram o alto nível de seu trabalho e a
intenção de Stevie de não ser a estrela do grupo. As canções
Paper Sun, Hole in my shoe e Feelin’
alright, que se tornariam verdadeiros clássicos do rock,
são desse disco. No ano seguinte, participaram da trilha sonora
do filme Here We Go Round the Mulberry Bush. Neste
mesmo ano, Dave Manson saiu por discordar da orientação, que
considerava muito jazzística.
Fronteiras cruzadas
Jim Capaldi faz versão da canção Anna Julia, de
Los Hermanos,
com solo de George Harrison
Luiz
Chagas - Istoé On Line
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Aos 57 anos, casado com uma brasileira e pai de duas
filhas, o baterista do lendário grupo inglês Traffic
está lançando o álbum Living on the outside |
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8
fev. / 2002 - Com um ar sério e o indisfarçável perfil de
ex-boxeador, o inglês Jim Capaldi encarna à perfeição o personagem
sobre o qual canta na faixa título de seu 13º disco, Living
on the outside. A canção fala de um marginal classudo,
que dispensa as grifes Valentino e Versace ou a frieza de
Madonna para viver “lá fora, onde o ar é livre”. Tal vontade
de ver o céu talvez tenha vindo da sua vivência no Brasil,
país que visitou pela primeira vez em 1974 e com o qual tem
mais do que simples laços de identificação. Capaldi é casado
desde 1975 com a brasileira Ana, mãe da sua filha Tabitaha,
uma londrina de 25 anos, e de Tallulah, uma carioca de 24.
Em visita ao Rio de Janeiro, onde mantém um apartamento no
bairro de Ipanema, na zona sul, o ex-baterista do Traffic
– grupo lendário que fundou nos anos 60 com Dave Mason, Chris
Wood e Steve Winwood – falou a ISTOÉ sobre sua carreira e
o solo de guitarra de George Harrison em seu CD na versão
para o inglês de Anna Julia, sucesso do grupo nacional
Los Hermanos.
Com
a firmeza de quem conhece o assunto, Capaldi diz que a música
brasileira mudou muito nas últimas décadas. Há tempos havia
Tim Maia e Gilson. Era um jeito de mostrar sua ligação com
a soul music, que aprendeu a ouvir em Birmingham, cidade inglesa
que considera irmã da americana Detroit, sede da Motown. “Hoje
não há tanta vibração. A maioria das fitas que ouvi era medíocre”,
conta ele fazendo exceção, é claro, à banda Los Hermanos e
surpreendentemente ao paulista Maurício Manieri. Capaldi realizou
o novo trabalho em Londres com a participação de seus vizinhos
no subúrbio londrino de Henley-on-Thames, entre eles Ian Paice,
ex-baterista do Deep Purple, e o falecido senhor do castelo
Friar Park, George Harrison. Até agora, ele se emociona ao
lembrar que Anna Julia foi a última gravação finalizada
do amigo, com quem vinha tocando desde 1995.
Um
papo com o músico é assim. Obrigatoriamente agita a memória.
Seu Traffic era adorado por gente do nível de Jimi Hendrix,
que lhe dedicou a música Crosstown traffic. A vida
musical-comunitária levada pela banda foi copiada no mundo
e no Brasil pelos Novos Baianos. Hoje, só mesmo quem viveu
no topo pode se dar ao luxo de se dizer um marginal. Um marginal
light, diga-se. Seu novo álbum é recheado de baladas e algum
rock mais agitado. Apesar de ter se juntado a uma banda de
gente jovem, Jim Capaldi não fez um disco moderno. Preferiu
manter-se atado às suas raízes, mas com muita classe.