MEMÓRIA: MORRE TERRY O'NEILL, O FOTÓGRAFO DAS ESTRELAS DO ROCK

TERRY O’NEILL, FOTÓGRAFO DE ELTON JOHN, DAVID BOWIE E MAIS, MORRE AOS 81 ANOS

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O britânico fez alguns dos retratos mais icônicos de grandes nomes da música

Por Felipe Ernani / http://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2019/11/18/terry-oneill-morte/

18 nov. / 2019 – O fotógrafo Terry O’Neill, de 81 anos, nos deixou neste último sábado (16). O britânico, que foi vítima de um câncer de próstata, trabalhou com alguns dos maiores nomes da história da humanidade.

Em seu currículo estão “apenas” The Beatles, Elton John, David Bowie, The Rolling Stones e até a Rainha Elizabeth. Começando sua carreira nos anos 60, Terry não parou por aí e nas últimas décadas fotografou nomes como Naomi Campbell e Amy Winehouse.

A Iconic Images, agência que o representa, divulgou em comunicado:

Qualquer um que tenha tido a sorte de conhecê-lo ou trabalhar com ele pode atestar sua generosidade e modéstia. Como um dos fotógrafos mais icônicos dos últimos 60 anos, suas imagens lendárias irão permanecer sempre gravadas em nossas memórias e em nossos corações.

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Homenagem de Elton John
Quem parecia admirar bastante o trabalho do cara era Elton John. Algumas de suas fotos, inclusive, foram usadas como base para os cenários do filme Rocketman.

O músico postou em seu Instagram um dos retratos mais marcantes de Terry com a legenda:

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Terry O’Neill tirou algumas das minhas fotografias mais icônicas durante os anos, capturando completamente meus humores. Ele era brilhante, engraçado e eu absolutamente amava sua companhia. Um verdadeiro personagem que agora nos deixou. Descanse em paz, seu cara maravilhoso. Com amor, Elton.

MEMÓRIA

DAVID BOWIE: TERRY O'NEILL, FAMOSO PELAS FOTOS COM ELTON JOHN E OUTROS ASTROS, LEMBRA SEU 'MUSO CRIATIVO’
 Por Redação / https://reverb.com.br/artigo/david-bowie-terry-oneil-famoso-pelas-fotos-com-elton-john-e-outros-astros-lembra-seu-muso-criativo

1 ago. / 019 – Terry O’Neill começou a fotografar David Bowie durante a turnê de 1973, Ziggy Stardust. Ele admirava o cantor pela coragem de fazer performances sem se preocupar se as pessoas o achariam "afeminado". David costumava tomar conta de seus ensaios fotográficos e, conforme Terry conta hoje, aos 81 anos, as ideias normalmente surgiam da cabeça dele. Foi assim na famosa sessão da turnê “Diamond Dogs”, em que ele levou um cachorro para o set. O resultado rendeu uma foto incrível quando o cão se assustou com o clarão provocado pelo flash.
"Eu amava que David tinha todos esses personagens dentro dele e tomava conta dos ensaios. Ele me dizia exatamente o que queria. As fotos tinham um propósito, diferente de outras estrelas que eu fotografava sem objetivo. Com David, você não precisava inventar nada. Ele era meu muso criativo. Tudo acontecia naturalmente”, contou o fotógrafo, ex-marido da atriz Faye Dunaway e famoso também por suas fotos de Elton John (reunidas em elogiado livro, Eltonography — A Life in Pictures), em entrevista ao “Guardian”.

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'Diamond Dogs': o contato de Terry O'Neill do ensaio feito com David Bowie / Foto: Terry O'Neill / Getty Images

As coisas aconteciam naturalmente — e também repentinamente. Certo dia, Terry recebeu uma ligação de David pedindo que fosse encontrá-lo no dia seguinte. "Vou levar alguém especial", avisou o cantor. Quando o fotógrafo chegou ao local combinado, encontrou William Burroughs (1914-1997), legendário escritor americano da geraçaõ beat. "Eles estavam com chapéus fedora, como pai e filho."

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David Bowie e William Burroughs com chapéus fedora / Foto: Terry O'Neill


Mais ou menos no mesmo período, Terry soube que Elizabeth Taylor queria Bowie em O Pássaro Azul, filme estrelado por ela e Jane Fonda. O astro britânico acabou não participando do longa, mas o fotógrafo conseguiu marcar um ensaio com os dois. David, que estava em uma fase complicada relacionada ao uso de cocaína, apareceu quatro horas atrasado. "O ensaio só aconteceu por causa do profissionalismo de Liz."

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David Bowie divide um cigarro com Elizabeth Taylor, em Los Angeles, em 1975. Era a primeira vez que os dois se encontravam / Foto: Terry O'Neill / Getty Images
No começo dos anos 1960, Terry teve a oportunidade de fotografar jovens bandas em ascensão. Naquela época, profissionais mais experientes que trabalhavam no “Daily Sketch”, tabloide britânico, não tinham muito interesse em participar desse tipo de cobertura. A falta de "concorrência" abriu espaço para que ele trabalhasse com os Beatles e os Rolling Stones.

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"Eu me lembro de ser escalado por um editor para fotografar uma 'pequena banda' chamada Beatles nos estúdios da Abbey Road (1 de julho de 1963). Todos os fotógrafos mais antigos não queriam ir. Aquilo significava que nós, os iniciantes, tinham uma oportunidade para abraçar. Não houve outra época como aquela, era muito divertido", conta o fotógrafo.

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Ideia para ensaio sem camisa foi de David Bowie / Foto: Terry O'Neill / Getty Images

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Bowie autografa a mão de fãs durante turnê, em 1974 / Foto: Terry O'Neill /Getty Images

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EM CONTÍNUA METAMORFOSE, DAVID BOWIE LANÇA ‘LODGER’
(JOÃO JOSÉ MIGUEL)

A afirmação pode parecer leviana, mas a verdade é que quem não conhece a obra de David Bowie dificilmente pode ter uma visão correta do que foi a música pop nos 70s. Afinal, das dezenas de ídolos enlatados pela indústria fonográfica anglo-americana nestes últimos 10 anos, raríssimos sobreviveram a mais de três ou quatro discos, e não exatamente por seu trabalho possuir reduzida consistência, mas sim em função da massificação rapidamente exterminar quaisquer possibilidades de uma evolução criativa.

Tanto Bowie quanto o reduzido número de astros tipos 70 ainda hoje importante – Joe Cocker, Led Zeppelin, Johnny Winter, Elton John, Rod Stewart passaram (ou passam) inclusive por seríssimas crises em termos artísticos, devido a uma superexposição de sua imagem pela máquina do showbiz. Com o herói inglês do épico Ziggy Stardust and the Spiders From Mars este período de mergulhos em territórios pantanosos ocorreu entre 1973 e 1975. Mas quando os deixou para trás, era já um artista capaz de cuidar dos rumos de sua carreira, sem impressionar-se seja com os big bosses das gravadoras, seja com o público.

De lá para cá, o trabalho de Bowie cresceu a tal nível que hoje é sem dúvida o único dos astros desta década a merecer um lugar ao lado dos grandes mestres vivos dos 60, como Bob Dylan, os Beatles, Rolling Stones, Grateful Dead ou Neil Young. E quem teve oportunidade de conhecer seu novo LP, Lodger, recentemente colocado no mercado pela RCA Victor, sabe que o cantor/compositor continua a fazer jus ao título de "camaleão do rock": Bowie recusa-se a estacionar sobre determinado som que tenha dado certo em termos comerciais. Fórmula não é papo para ele e cada disco contém muitas surpresas, no sentido real da palavra.

Isto, porém, não é um dado que marque a carreira de Bowie apenas nos últimos anos. Nascido em Londres, em 1947. David Robert Jones por diversas vezes interrompeu sua carreira musical para dedicar-se a atividades tão diversas quanto a mímica (trabalhou com o consagrado Lindsay Kemp), escola de artes zen-budismo (teve prestes a tornar-se monge num mosteiro situado na Escócia) e o cinema. Dotado de talento e inteligência (dados geralmente não levados em conta pelos enlatadores de rock), Bowie certamente teria que entrar em choque com o sistema castrante do showbiz.

Hoje em dia, ao analisar-se a obra do inglês, é fácil notar o quanto ele tem se concentrado numa viagem extremamente pessoal, carregando a seu lado, para paragens quase sempre instigantes, o público conquistado por Ziggy Stardust, seu disco mais bem-sucedido, comercialmente falando. Não por acaso, o LP apoiava-se no mais puro rock, reunindo clássicos como “Five years”, “Suffragette city”, “Rock’n’roll suicide” e “Lady Stardust”. Porém, a insistência na linguagem roqueira acabou transformando-se na fase menos produtiva da carreira do cantor/compositor. Alladin Sane e Diamond Dogs de certa forma parecem hoje exercícios niilistas, visando basicamente a destruição da linguagem do rock através da concentração total em clichês tipo hard. Mas quando tudo levava a crer que David Bowie havia se tornado mais um dos kamikazes pop, o lançamento de Young Americans mudaria radicalmente o rumo das coisas.

Carregado de influências do soul e do rhythm and blues. Young Americans dava margem a total manifestação da negritude do inglês, através de riffs altamente dançáveis, vocais ricos em feeling e o estímulo da maior relação corpo/mente. No disco, uma parceria com John Lennon, “Fame”, subiria às paradas demonstrando que Bowie tinha condições de abrir a cabeça do seu público, injetando-lhe novos conceitos musicais. Este processo teria sequência com Station to station, seu melhor trabalho desde Ziggy Stardust e onde as aventuras com ritmos negros norte-americanos seriam levados até às últimas consequências, através de extensas faixas, que não raro excediam a 10 minutos, de duração.

No início de 1977, contudo,nova guinada teria lugar na obra do artista. O LP Low marcaria o início de sua associação com o vanguardista Brian Eno, figura responsável pela área eletrônica do gurpo Roxy Music e por uma das obras-primas da safra pop 70. Talking Tiger Mountain By Strategy. Gravado na Alemanha. Low contrapunha rocks curtos e pesados a incursões em terrenos da música experimental. As letras, por sua vez, mostravam um poeta preocupado com os destinos do planeta, traçando versões apocalípticas das mais carregadas em obsessões do nível de “Always crashing in the same car” e “Breaking glass”. No ano seguinte, Heroes também realizado com a colaboração de Eno levaria adiante o burilar destes climas surrealistas, acertando em cheio uma vez mais.

Lodger, que agora chegas às lojas, completa a trilogia Bowie/Eno. Entretanto, a temática diverge dos anteriores, assim como a música. Desta vez são acentos orientais (mais particularmente do Oriente Médio) que colorem faixas como “Yussassin”, “Red sails” e “African night flight”, onde imagens esquizofrenizadas surgem ao lado de trabalhos mais lineares (tipo da linguagem há muito não utilizada pelo compositor). O que mais surpreende, contudo, é a energia insana de cada uma das canções. “D.J”, “Look in anger” ou “Boys Keep swinging” reforçam a imagem de Bowie como um artista visceral, capaz de estruturar sua música a partir de passeios por qualquer área – rock, soul, jazz, erudito – desde que dela flua uma inquestionável urgência emocional.

Cantor com um domínio absoluto de seu instrumento, Bowie por outro lado possui sensibilidade suficiente para valorizar a participação dos ótimos músicos presentes em Lodger. Eno nos sintetizadores e Carlos Alomar na guitarra, assim acabam tornando-se os outros destaques do LP, desde já joia rara do pop moderno. (CORREIO BRAZILIENSE, 13 DE DEZEMBRO DE 1979)

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