Thor a ambição shakespeareana de Stan Lee

Thor realiza a ambição shakespeareana de Stan Lee

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By: Luciano Ramos

Thor

4 mai. / 2011 - Nos anos 1960, a editora Marvel foi considerada por críticos de prestígio “a matriz da mitologia do século 20” e o roteirista e editor Stan Lee chegou a ser apelidado de “o novo Homero”, por ter desenvolvido as sagas de figuras épicas como o Homem Aranha, o Quarteto Fantástico, o Homem de Ferro, o Hulk, o Surfista Prateado e este que agora chega ao cinema, o poderoso Thor.

Uma vez Stan Lee declarou: “Eu admiro Shakespeare acima de qualquer coisa”. Pois o autor conhecido por seus textos grandiloquentes agora tem Kenneth Branagh ? que já adaptou para o cinema quatro tragédias daquele autor ? dirigindo o deus do trovão com a grandiosidade que ele merece. E o diretor de “Henrique V” (1989) e “Hamlet (1996) obteve o resultado que quase ninguém atingira antes, que é o da integração quase perfeita entre os universos do cinema e dos quadrinhos.

Um bom gibi é capaz de nos transportar para outros mundos, porque mergulhamos nele com o senso crítico desligado e aceitando todas aquelas fantasias como coisas plausíveis. Já o cinema pede personagens dotados de conflitos internos, mas, se o filme exagera na densidade da dramaturgia, corre o risco estragar tudo.

Foi o que quase aconteceu, por exemplo, com “Batman – O Cavaleiro as Trevas” (2008), de Christopher Nolan. Apesar do sucesso de público e crítica, ele aprofundou com seriedade os aspectos psicológicos do herói em crise de consciência e do vilão Coringa pintado como um bandido muito próximo de um psicopata real. Por sua vez, nas mãos de Alain Chabat, “Asterix & Obelix: Missão Cleópatra” (2002) perde todo o encanto ao ser transformado de comédia gráfica de época numa chanchada, um besteirol sem um pingo de elegância ou inteligência.

Ou seja, a melhor adaptação é a que produz um efeito de envolvimento na narrativa, equivalente ao que uma revista em quadrinhos pode provocar, por meio de palavras e figuras. Em primeiro lugar, nem tudo precisa ser explicado porque, entre um quadro e outro, a imaginação do leitor complementa as sugestões oferecidas pelo desenho. Do mesmo modo, em “Thor” tudo se encaixa sem necessidade de explicações racionais, porque afinal estamos diante do filho de Odin que baixa em nosso planeta e se envolve com os humanos.

É justamente dessa situação, na qual um ser divino se encontra partilhando o rés-do-chão com os simples mortais, que Branagh retira a comicidade necessária para que o filme não deixe a impressão de levar-se demasiadamente a sério: as pomposas falas de Anthony Hopkins, no papel de Odin, ficam amenizadas em confronto com o linguajar, ora técnico ora prosaico, da cientista vivida por Natalie Portman.

Por outro lado, no cinema os personagens não resistem àquela baixa definição típica dos gibis e, assim por exemplo, o vilão Loki que é desenhado nos quadrinhos como um demônio do mal aparece no cinema cheio de dúvidas interiores, sublinhadas pelos olhos tristes do ator Tom Hiddleston.

Aliás, todo o elenco é de primeira, desde o acerto de Chris Hemsworth como o protagonista até o ator trágico sueco Stellan Skarsgård, sem esquecer a figuração de luxo do simplório Clark Gregg, curiosamente vivendo pela terceira vez o agente Coulson da SHIELD ? uma espécie de FBI do mundo Marvel ? em filmes com diferentes personagens de Stan Lee.

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