Muitos falaram de Glauber Rocha
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Muitos falaram dele há muito tempo...
Eu sou uma sertaneja pau-de-arara, mas Deus me deu a glória de ter parido um mito.
Dona Lúcia Rocha, mãe de Glauber.
Ele topava qualquer parada dentro de uma ética de alto nível.
Lina Bo Bardi
Glauber Rocha era sempre dois anos na minha frente. O primeiro curta-metragem de Glauber, se chamava O pátio com Helena Ignez, que naquele tempo era uma criança. Eu acho que ele ainda nem namorava com a Helena Ignez que tinha um namorado no Jardim dos Barris. Helena Ignez era uma moça linda, aquela moça que fecha a rua e o namorado dela, claro, o mais bonitinho da região e quando o carro da sorveteria passava ela só tomava o sorvete mais caro, ela escolhia não pelo gosto era pelo mais caro.
Tom Zé.
Quando conheci Glauber, ele era muito moço, 21 ou 22 anos. Era um jovem acanhado. Tinha um filme pronto, O pátio, e não queria mostrá-lo a ninguém.
Liduarte Noronha.
Eu nunca vi um filme do Glauber. (Mário Peixoto)
A relação com Glauber se iniciou muito cedo. Ele rodava Barravento (1961) e me mandou fotos e uns recortes de jornal. O entusiasmo dele por cinema e pela Revolução Cubana transbordava daquelas linhas. Respondi a ele, e assim começou uma relação a distância que terminou como amizade fraterna.
Alfredo Guevara
Uma vez eu estava em Paris, era adido cultural da embaixada, Glauber estava comigo, e vieram me anunciar que o Bertolucci estava na portaria então o mandei entrar. Ele viu o Glauber e disse Barravento! E o Glauber respondeu Prima della Rivoluzione! (risos). Eram os dois grandes diretores jovens daquele momento. (Francisco Luiz de Almeida Salles)
— Isso é maravilhoso!
Ferreira Gullar, ao ler as cinco laudas da sinopse de Deus e o diabo na terra do sol.
Tão importante para a América Latina quanto o Dom Quixote é para a Espanha.
Ernesto Che Guevara classifica "Deus e o diabo na terra do sol".
Em 1964, todavia, quando à testa da Agência Nacional, sabendo de um movimento para impedir a remessa de Deus e o diabo na terra do sol para Cannes, em cujo Festival já estava inscrito, organizei, no auditório daquele órgão (hoje Empresa Brasileira de Notícias), sessão especial para tentar demonstrar a várias autoridades o valor do filme e a péssima imagem que daria do Brasil, e da Revolução, sua não presença em Cannes.
A despeito disso, prosseguiram as manobras para aniquilar a obra-prima do Glauber. Apelei para o general Golbery do Couto e Silva, e este, com argumentos que lhe enviei, e outros seus, conseguiu frustrar a ação destruidora dos ignorantes, dos invejosos e dos apavorados.
Octavio A. Velho.
— É um neurótico. Está a um passo da loucura; e essa proximidade me parece vital para a obra de arte. Não me venham falar de Goethe que era um suicida e o mais lúgubre dos suicidas : — o fracassado. E nós sabemos que o brasileiro não tem nenhum motivo para ser neurótico. Cada um de nós há de morrer agarrado à sua angústia.
Nelson Rodrigues sobre Glauber Rocha.
Glauber é um cineasta brasileiro, latino-americano, terceiro-mundista. Um cineasta da fome e da violência. Um cineasta barroco. E como sabemos, o barroco é uma arte de revolta, uma arte que se vinga do purismo europeu e civilizado, com ornamentos, volutas, torções, curvas, semicurvas, espirais e mirabolâncias formais, com metáforas imprevistas, com um movimento constante e inesgotável que derruba o olhar cartesiano e o equilíbrio quieto e estático.
Frederico Morais.
O regime militar matava, torturava, desaparecia com gente, essa coisa toda, não há dúvida nenhuma. Mas no regime militar, havia uma função de libertação, liberação, liberação nacional muito grande. Vocês não se esqueçam que o anti-americanismo de Geisel chegou ao ponto de fechar comissões mistas de cooperação militar. O Geisel não gostava dos Estados Unidos, o Geisel incomodava os Estados Unidos e foi naquela circunstância que o Glauber fez aquele famoso artiguinho na revista Visão.
Arnaldo Carrilho.
O Pasquim foi escolhido como instrumento para avacalhar a imagem do Glauber. O Pasquim pegou fotografias antigas do Glauber filmando na rua e publicou dizendo que era o Glauber filmando estudantes e o operário em greve para entregar ao SNI. Quer dizer, é a suprema abjeção, é uma coisa escrota que alguém pode fazer contra outra pessoa.
Oliveira Bastos.
O Pasquim não brigou com Glauber, muito pelo contrário vetei um artigo em que ele dizia que Geisel era o maior estadista dos tempos modernos. Telefonou dizendo que ia me dar um tiro. Jaguar.
Em um texto de 1965 incluído no livro Revolução do Cinema Novo, Glauber já fala que o cinema de Jean Rouch está ligado ao cientificismo do que a questão social. Eu precisei ir para Paris - aqui em Brasília só passa seus filmes na Cultura Inglesa -para ver todos os filmes do Glauber e de estudar com Rouch pra saber que ele realmente é colonizador. Glauber tinha visto os filmes de Rouch, as pessoas não os tinham visto e o chamavam de louco porque ele tinha esculhambado.
Marcos Mendes.
Já anos antes, Glauber em Deus e o diabo na terra do sol, deflagrava para além de si mesmo, para além das fronteiras auto-proclamadas por seu autor, que eram ‘sociais-conscientes-realistas-épicas-políticas’, a força de sua criatividade, como numa Terra em transe Glauber penetrava para o religioso denso, e como numa sessão de terreiro, elevava-se em direção das nuvens da fantasia.
Nelson Pereira em Amuleto e Glauber, neste preciso instante entram e deixam-se absorver pelo religioso, mítico, pela ordem da religiosidade profunda (e sadia) que descobriram na mente nacional, irrompendo aos borbotões, desafiando a antiga lógica demarcatória deles mesmos, simples francesismo importado cartesianamente, sacudido pelo terremoto de um carnaval perpétuo e dionisíaco, de entidades que baixam, de fluídos que se elevam e fazem a História do Brasil.
Jorge Mautner.
Glauber Rocha era um orixá!
André Luiz Oliveira.
Glauber era uma pessoa iluminada, alguém que superou outros da sua geração justamente por ser mais espiritual.
Rogério Duarte.
Glauber Rocha era um chato, era autoritário, agressivo, parecia ter medo de que as pessoas se aproximassem dele e gritava a sua genialidade para todos os cantos de Brasília.
Alexandre Ribondi.
Agora que estamos fazendo o Pólo de Cinema de Brasília, sente-se ainda mais sua falta. Ele ia gostar. Ele amava esta cidade.
Nelson Pereira dos Santos
Glauber era realmente um batalhador. Ele também foi perseguido e eu tive umas penas piores que ele, fui preso. Na França, Glauber Rocha me deu força muito grande nos anos 70. José Mojica Marins.
Um dia ele me ligou profundamente arrasado, falando em morrer, desesperado. Fui pegá-lo e ficamos dando muitas voltas pelo Plano Piloto. Conversamos, ele se acalmou um pouco e deixei-o no hotel. TT Catalão.
O Glauber Rocha vivia lá: sua mulher estava grávida e ele é que ficava enjoado.
Aluísio Carvão
Glauber era um épico na vida pessoal.
Arnaldo Jabor
Foi Golbery do Couto e Silva quem impôs à Embrafilme, dirigida por pessoas que o patrulhavam ideologicamente, o custeio dos US$500mil necessários à produção do filme.
Fernando Lemos.
Quando Glauber conseguiu os ridículos 16 milhões para fazer A idade da Terra, todo mundo achou uma fortuna. Foi um escândalo. O Glauber ganhou uma fortuna - diziam.
Norma Benguell
Se o Glauber não tomar cuidado, vai virar um velho chato.
José Celso Martinez Corrêa
E um cineasta como Glauber Rocha, brigador, inconformista, libertário, é obrigado a tentar soluções candidatando-se a candidato à Presidência da República pelo partido da situação.
Nilce Tranjan
Nosso maior e genial cineasta de todos os tempos.
Regina Echeverria
A idade da Terra, espetacular gesto marginal e perdulário em todos os sentidos, que desconcertou o coro dos contentes e o dos descontentes.
Caetano Veloso
A idade da Terra é uma série de idéias que ele vinha embrionarimente desenvolvendo em A Cruz na Praça e no próprio Câncer. A diferença entre A Cruz na Praça e A idade da Terra é a mesma de um embrião e um corpo 9 meses depois.
Rogério Duarte.
A idade da Terra, ainda não foi compreendido. Acho que isso ajudou a matá-lo. Glauber propunha a negação de um cinema de historinha, acreditava profundamente no trabalho da linguagem cinematográfica para transformar o mundo. O cinema brasileiro atual gasta milhões de dólares, mas conta apenas historinhas, é cinema de diversão, não acrescenta nada.
Rogério Duarte.
Seu ato final foi o filme A idade da Terra em que só a seqüência dos miseráveis pés dos peões entrando na pirâmide intemporal de Brasília (o Teatro Nacional) vale, como denúncia política, com filmes sociais-realistas juntos.
Pedro Del Picchia.
Em seu último ato que foi A idade da Terra -filme para sempre inacabado, como salientou Ismail Xavier - a alternância de Cristos e imperialistas, cinemascope e câmara na mão, elites devassas e fé popular, podem ser lidas como uma dramatização do embate entre degeneração e regeneração. Seu corpo atravessa a diegese do filme tal como Artaud fazia com suas produções. Seria A idade da terra, o corpo sem órgãos de Glauber?
João Lanari
Vassalos do alfabeto.
Expressão de Gilberto Vasconcellos acerca dos detratores de A idade da Terra.
Cada cena de A idade da terra é uma lição de como se deve construir o cinema moderno.
Michelangelo Antonioni
Na realidade, muito detalhado, demasiado incendiário, canibal demais, possuía temperos demasiado fortes ante o fluxo emergente das insulsas nouvelles cuisines que se anunciavam.
Jean Narboni sobre A idade da Terra.
A experiência cinematográfica de Glauber Rocha, tanto a prática (seus filmes) quanto a teórica (seus escritos), ultrapassa os próprios limites do cinema mundial para ser um patrimônio da cultura universal. Não é por acaso que seu último filme se chamou A idade da Terra, um filme gritando de amor pelo povo brasileiro e enquadrando-o numa perspectiva artística e mesmo socialmente internacionalista, ainda que pesem controvérsias secundárias. Não é por acaso que ele tinha pronto um roteiro para um filme que tinha o nome de Humanidade. E não é por acaso que ele - grande amigo dos humildes e ofendidos e com um prestígio que, se ele quisesse, o faria um milionário - morreu pobre.
Manuel Carvalheiro.
Tomado ao pé da letra do nosso bom senso ocidental, A idade da Terra pode parecer delirante ou paranóico. E ele o é, decerto. Mas este poema didático tem umas ressonâncias estranhas, uma atualidade incendiante quando se pensa no acontecimento histórico que foi, segundo muitos brasileiros a visita do papa João Paulo II à terra do sol.
Louis Marcorelles.
O Glauber já tava ruim a vários anos. Ele não estava legal, de 1975 em diante eu tava preocupado com a morte dele cinco anos antes dele morrer eu me lembro de comentar várias vezes com alguns amigos meus, como Cacá Diegues, — O Glauber vai morrer. Ele não comia mais. Não dormia, ficava escrevendo a noite toda, só comia um pouco de macarrão, e comia pão. Ele não fazia as ações normais do cotidiano. Glauber não dizia alô no telefone, ele já começava a falar de política, sobre alguma coisa, nem dizia quem era. Ele passava a noite escrevendo catálogos de telefone inteiros, tem milhares de escritos inéditos. A gente começou a temer pela saúde do Glauber. O mundo foi ficando pequeno demais ou complexo para ele, isso não me cabe dizer. A partir de 70 e poucos o Glauber começou a sacar que não tinha lugar para a Utopia da gente, que não ia dar pé fazer um cinema livre do internacional.
Arnaldo Jabor
Quando estávamos no México, o Glauber andava todo excitado com uma idéia para um filme. De repente, ele some por uns 10 dias. Um belo dia, toca o telefone e me diz: 'Tô doente, tô no hotel tal'. Fui até o hotel. O Glauber tinha ido até uma cidade para conhecer um alucinógeno, o peyote. Só que ele não me contou aquilo.
Flávio Tavares
A última grande obra de Glauber é sua morte ele está unindo toda a intelectualidade agora, como sempre desejou na vida.
Hugo Carvana.
As brigas entre Glauber e os cineastas, eram como briga de irmãos. O fato de ele ter vindo de Portugal para o Brasil, para morrer aqui, tem este sentido político, sem dúvida.
Celso Amorim.
Era impossível resistir à dor daquela mãe, perdida da filha há quatro anos em acidente brutal: do marido há um e agora do filho-talento, do filho-furacão, do filho-paixão. A cruz daquela mãe ecoou no domingo como um desses sofrimentos supremos aos quais só a força e fé dão suporte. Foi o mais pungente momento-verdade da televisão.
Artur da Távola, sobre a cobertura do Fantástico.
O homicídio qualificado - sem defesa plausível para os réus - deverá ser punido com muitos anos de auto-reflexão por parte daqueles que viram o maior cientista brasileiro da imagem sonora sucumbir de decepção: somemos a isso a omissão de socorro, igualmente prevista na Lei (não na física), da qual ele foi uma vítima consciente, o que nos agrava nas outras penas.
Oliveira Braga.
Kerydo amygho, mais emocionante que a sua morte, só a sua vida.
Nelson Motta
Sua morte, aparentemente planejada, representou alívio para todos, inclusive para Glauber que não tinha mais como avançar, sem recuar. Retirado de sua mesquinha condição humana, o mito resgatou a obra, devolvendo-lhe sua verdadeira dimensão reveladora dos mistérios da nacionalidade.
Carlos Augusto Machado Calil.
Um enterro de pouca ação, onde venceu a linha patriótica e protestante, com as Bachianas de Villa-Lobos, filmado por Silvio Tendler, que filmou JK friamente. Não foi Luiz Carlos Saldanha quem filmou, não foi a turma do Cinema Novo. Eu queria cantar e dançar no enterro do Glauber. Quis fazer isso na beira do túmulo. Mas não fiz, pois fiquei com medo de me enterrarem junto com ele, pensando que eu fosse louco. O enterro revolucionário, que é o que Glauber merece, tem que ser com escola de samba e macumba. Afinal, Glauber é um revolucionário. Morreu até sem sapato, porque não tinha dinheiro para comprar. Esse enterro, porém, só poderá acontecer quando houver uma transformação no processo cultural brasileiro.
José Celso Martinez Corrêa.
Embora nos associemos a todos aqueles que lamentam a prematura morte de Glauber Rocha, entendemos, porém, que não se pode omitir tais fatos se se pretende compor e construir a verdadeira imagem do intelectual e do cidadão. A nosso ver, Glauber Rocha representa de forma exemplar e paradigmática, após o golpe de 1964, a figura de muitos de nossos intelectuais - em seus acertos e em seus descaminhos. As vezes, através da justa indignação - como emocionadamente lembrou Darcy Ribeiro: outras vezes, contudo, através da cooptação política e da adulação aos ‘poderosos do dia’.
Caio Navarro de Toledo, in Movimento.
Há quem o considere um oportunista, pois não deixava de adular gente que desprezava, para conseguir publicidade. Mas a maldição criadora, a integridade, está na obra, em que não há compromissos de qualquer espécie, obra que às vezes desaba, mas que sempre tenta ser mais do que aparece na tela e na página escrita - ele poderia também ter sido um grande escritor, se quisesse.
Paulo Francis.
Caiu como um jequitibá, produzindo até o último instante.
Pastor Nehemias Marien.
Glauber Rocha é o artista mais radical do Brasil. O político que fizer um projeto para o Brasil tem de ver os filmes de Glauber Rocha e não só os filmes de Glauber Rocha, mas os trabalhos de todos os artistas progressistas, inventivos, íntegros. Sem respeitar estes artistas expressivos não se fará nenhum Brasil. Glauber pensou um Brasil livre, criativo, independente. Torquato Neto resistiu o quanto pôde. Escreveu o quanto pôde. Era a cabeça poética e de resistência estética/ética do tropicalismo. Estuporou logo, não só pela questão pessoal dele, mas pela questão mais geral do País. A tragédia brasileira leva as pessoas a se introjetarem de tal forma que acabam alimentando as suas próprias doenças. Então um dia tudo explode. Isto é um dado histórico. Glauber não se matou, Torquato não se matou porque quis. Esta situação nacional trágica leva alguns brasileiros ao desespero.
Jards Macalé.
Glauber também sabia misturar o luxo da exuberante cultura nativa com a contrastante miséria parte do seu povo.
Joãozinho Trinta
Glauber foi o visionário mais parecido a um redemoinho que já conheci. Trabalhamos, rimos e pensamos juntos por mais de dez anos. É um artefato mental extraordinário, porque quando imito sua voz e seus trejeitos assimilo profundamente seu modo de ser, que em diferentes oportunidades me deu ânimo e coragem para as minhas aventuras.
Sua desistência, pois é assim que eu qualifico sua ausência entre os mortais, me impressionou profundamente, mais, muito mais do que a perda de seu convívio. Foi, para mim, um manifesto proveitoso, revelador, de que a intransigência, o egoísmo, a intolerância e as pequenezes em geral são responsáveis pelo atravancamento do sujeito humano. Glauber, tenho certeza, cansou-se de brigar, de alimentar a contenda idiota que nada constrói: agora é um paladino dentro da própria paz.
Manduka, Alexandre Manuel Thiago de Mello.
Penso que Glauber é também pintor. Cada cena sua é como a composição de um quadro. Quase desnecessário o diálogo. O quadro já fala por si. O ator é mera pincelada nas cores diversas que compõem o quadro.
Odette Lara
Glauber Rocha era esse toque dissonante, essa pincelada que faz o quadro vibrar. O Cinema Novo sem ele talvez não tivesse a penetração no mundo inteiro. Tinha experiência de convívio com o poder e umas intuições impressionantes. Mário Carneiro.
Glauber é uma das figuras mais importantes que conheci. A única coisa é que ele nunca conseguiu trabalhar para ganhar dinheiro. Ele só entendia trabalhar de forma criadora. Não adiantava perguntar: ‘Mas, Glauber, você vai comer o quê, amanhã?’ Essa era uma pergunta que, para ele, não tinha o menor sentido. Arranjava aquelas mulheres bonitas lá em Paris e não tinha rumo, não tinha rumo nenhum. Guardei uma última entrevista do Glauber, em que ele se propõe ser candidato a presidente da República. Para ter dinheiro! Ele não tinha onde cair morto. Não tinha a menor idéia de sobrevivência. Glauber morreu de fome. Nessa entrevista ele está querendo se eleger presidente da República para poder fazer cinema.
Antônio Callado
Glauber se transformara em um personagem maior que seus filmes. Radical, não transigiu para sobreviver e pagou um alto preço por isso.
Eduardo Escorel
Cada vez que a corja fala de cultura
Glauber quer quebrar a tampa do caixão.
Nei Lisboa in Carecas da Jamaica
Mas quem há de ficar para contar a história do Brasil: o governo Collor ou Deus e o diabo na terra do Sol?
Hector Babenco.
Estou também escrevendo um livro sobre a juventude de Glauber Rocha, por isso tenho assistido muitos de seus filmes o último que eu vi foi Deus e o diabo na terra do sol.
Nelson Motta, nov. / 1989.
Os filmes de Glauber Rocha são uma irrupção no mundo do mal, uma explosão provocada por uma reação química em que se misturam o sangue e o celulóide. Ele criou uma tapeçaria frenética da dor, da raiva e do sofrimento que ele tinha observado à sua volta. Os seus filmes são provocantes, no melhor sentido da palavra: provocam no espectador um enriquecimento da consciência.
Martin Scorsese.
Glauber era uma pessoa muito tensa, e para criar precisava desse clima. Na medida que esses conflitos iam se desdobrando, a sua carga emocional ia se multiplicando.
João Carlos Teixeira Gomes.
De um lado, os colaboracionistas do Cinema Novo assumindo o comando da Embrafilme. De outro, assistimos constrangidos aos contorcionismos dialéticos de Glauber Rocha para adular os militares.
Diogo Mainardi in Veja, 8 set. / 2.000.
O finado Glauber Rocha jamais imaginou que o amigo José Roberto Arruda protagonizaria, no Senado, o monólogo Brasília em transe.
Cláudio Humberto.
Senador, a vida de Glauber foi um exemplo de fidelidade democrática e convivência plural.
Dedicatória de João Carlos Teixeira Gomes a Antônio Carlos Magalhães.
Mais que um grande diretor, Glauber foi um intelectual extraordinário.
Paula Gaetan.
Precisamos voltar glauberianamente a discutir o cinema como arte, que é fundamental para nós.
Silvio Tendler
Glauber nunca me chamou de 'Hemingway do sertão'.
João Ubaldo Ribeiro
Meu martelo é veloz que nem cometa
e tem a força de Glauber no cinema
Sou um bicho jogado nesta arena / e por isso
comigo não se meta
Um leão com fome me rejeita
Sou um brilho no meio da escuridão
Vivo assim nesse templo iluminado
essa vida é que tem me inspirado
Eu cantando martelo agalopado
Beirão
Acima. Um painel democrático com autonomia da fala para equacionar ou confundir e mostrar uma visão do mito glauberiano.
Mário Pacheco, 47 anos é pai de Glauber Renato, um carioca.