JOSÉ AGRIPPINO DE PAULA: HITLER TERCEIRO MUNDO
- Details
- Hits: 10753
Hitler Terceiro Mundo Da série: Filmes inacabados de 1968
por Mário Pazcheco
A suprema porra-louquice do cinema marginal tropical se chama Hitler Terceiro Mundo para covardemente defini-lo escrevo as palavras "VIOLENTO SÁDICO" um registro apavorante do que o povo brasileiro suporta na pele há 512 anos...
A arte fílmica mais impactante e grotesca que tive o prazer de assistir, um exercício de delírio demência arquitetônica e imortal - Zé Agrippino conseguiu a imortalidade e foi banido para além do 4º Mundo!
Sem palavras
— Estou estudando o caso alguém conhece algum dado? alguma resenha da época? Este filme já foi exibido fora do Brasil?
(...)
"A forma de trazer os alimentos à boca, quando se aproxima do animalesco, nos remete a um outro traço da imagem do abjeto constituído pela representação de seres humanos com características animais. O animalesco aparece, então, como imagem da degradação ou da violência. Em 'Hitler Terceiro Mundo', filme de José Agrippino de Paula, a animalidade humana é representada nos dois sentidos. O filme se inicia com uma série de sons guturais de animais selvagens. Jô Soares, no papel de um singular samurai, joga folhas velhas de legumes aos favelados que reagem como animais sendo alimentados; algumas cenas depois, seres animalescos, lembrando macacos, dançam em volta de um corpo torturado; no final do filme ainda o samurai, de frente para uma televisão, leva um pedaço de carne à boca e o balança convulsivamente, soltando grunhidos. Também neste sentido, são marcantes as cenas de 'Bang Bang', em que um homem se barbeia com uma máscara de macaco, indo a seguir fazer amor, de forma animalesca, com uma moça estendia numa cama".
Cinema Marginal (1968/1973) A Representação em seu limite
Fernão Ramos editora brasiliense / Embrafilme
Jô Soares, Torquato Neto, Duprat, José Agrppino, Ester Stockler, Sganzerla e Efísio Putzollo: rebeldes brincam de lutar
Foto Livro: Marginália Arte & Cultura - "Na Idade da Pedrada" de Marisa Alvarez Lima
(...)
"Mas o que parece ter sido uma poderosa fonte de 'A mulher de todos' é o 'Rito do amor selvagem', espetáculo teatral montado na segunda metade dos anos por José Agrippino de Paula, autor de um dos melhores filmes do cinema marginal, 'Hitler Terceiro Mundo', com Jô Soares no elenco. Uma imensa bola ocupava o centro do palco. É com uma imnsa bola semelhante que se abre A mulher de todos. Plirtz, interpretado por Jô Soares, de uniforme nazista, esfrega-se nessa bola, o que voltará a fazer no final; sua esposa diz que balões e dinheiro são a vida de Plirtz. José Agrippino interpreta o 'zulu anárquico' no filme e, numa da inserções digamos extradiegéticas, vemos dançando, ao lado de Sganzerla, Helena Ignez, José Agrippino e Maria Esther Stokler, esposa de Agrippino, co-diretora e figurinista do 'Rito do amor selvagem'. Stênio Garcia, que interpreta o primeiro amante de Ângela, também tinha vários papéis no O rito, que incluía entre seus personagens diversos nazistas, inclusive Borman. O texto de José Agrippino sobre o espetáculo lembra vários elementos expressivos da Mulher de todos, quando fala, por exemplo, das 'redundâncias infinitas' do diálogo, ou explica que 'o espetáculo foi dividido em duas unidades que formam a estrutura livre que formam a estrutura livre: a cena e a interrupção. Chamo de cena as unidades de cenário, personagem e situação; e de interrupção a uma ação vinda do exterior que perturba, confunde, destrói e desintegra a cena'. Nessa relação cena/interrupção talvez ecoe a relação enredo/cenas extradiegéticas de que falei acima".
O voo dos anos – Bressane, Sganzerla - Estudo sobre a criação cinematográfica
Jean-Claude Bernardet, editora brasiliense
(...)
"O humorista Jô Soares, que encarnou um estranhíssimo samurai em Hitler Terceiro Mundo, lembra da inteligência aguçada de Agrippino. 'Ele era um ouvinte fantástico. Esperava o momento certo para fazer um comentário contundente', diz Jô. É uma descrição que coincide com a de Caetano Veloso em seu livro de memórias, Verdade Tropical: 'Agrippino jamais explicava suas opiniões: ele impunha sua presença pétrea e deixava suas conclusões caírem como tijolos no meio de uma roda de conversa'".
Sem lenço e sem documento
Reverenciado pela vanguarda dos anos 60, Agrippino de Paula parece um artista maldito.
Mas sua realidade é mais triste
(Carlos Graieb - Veja Online)
— Maria Esther foi quem me apresentou Rogério Sganzerla. Eu trabalhei em A Mulher de Todos...
— Como foi dirigir a polícia militar para participar de seu filme Hitler 3º Mundo, em plena ditadura?
— Ah foi muito fácil. Eu pedi com muita educação, e eles foram. Mas não eram policiais militares, eram civis...
Agrippino diz que viu somente seus filmes duas vezes. "É um pouco desagradável." Agora os ruídos ao redor da casa se assemelham a porcos brigando num chiqueiro. Ele diz que foi convidado a filmar na Casa dos Artistas, asilo do Rio de Janeiro, mas que não gostou, achou aquilo muito deprimente. Assim como os filmes, não gosta de reler suas obras, pois ali há significados desagradáveis.
— São desagradáveis pois lembram momentos felizes do passado ou são desagradáveis pois lembram de coisas tristes?
— Dá melancolia. E às vezes você está falando de sua própria solidão, e é triste sentir isso outra vez. Escrever sobre antiheróis é muito deprimente... - A sua voz começa pouco a pouco a se tornar ainda mais hipnótica. - Sabe, às 4 e meia da tarde eu vou ficando meio down. Então vou para a faculdade de Filosofia. Passei dois anos escrevendo todos os dias: os dois livros e a peça Nações Unidas. Eu dependia da Maria Esther Stockler, que era empresária. Conheci-a na faculdade de arquitetura. Ela tem muito boas relações, por causa do banco [Maria Esther era herdeira da Haspa, falida casa financeira]. Ela tem insônia, precisa sair. Já eu prefiro ir dormir...
Perguntamos sobre o período carioca, quando eles encenaram o Rito de Amor Selvagem durante dois meses, várias vezes ao dia, e todos os dias lotando o teatro - um teenager Gerald Thomas estava na audiência, e contou depois que a peça marcou profundamente seu teatro. Mas Agrippino silencia.
— Em 1971, voltamos para SP. E fomos para a África em 1972. Fiquei com medo da polícia, nossa casa no Pacaembu ficou sujeira. Estavam procurando drogas, mas não acharam nada. Fomos para Dakar...
A batida da polícia na casa de Agrippino, em 1971, teria detonado sua esquizofrenia - dizem que ele nunca mais foi o mesmo depois, e começou a ficar paranoico. Mas hoje, o ouvindo, ele trata essa história com frieza.
O Desfavorecido de Madame Estereofônica
Texto Ronaldo Bressane e Joca Reiners Terron - Revista Trip
Palco de festas psicodélicas - 'é como se o irracionalismo do Rito tivesse virado realidade', observa Guilherme Henrique de Paula e Silva -, a casa recebe seguidas batidas da polícia. Vivem ali Agrippino, Maria Esther e a amiga Maria do Rosário, pivô de brigas no casal. Certa vez, Agrippino recebe voz de prisão: sua foto algemado estampa a primeira página da Última Hora (Guilherme esconderá o jornal para que a mãe não veja o filho preso). Assustado, o casal foge para a África. Passam por lugarejos em Mali, Senegal, Marrocos, onde realizam em super-8 filmes oníricos, baseados em coreografias de Maria Esther. O casal se separa: Agrippino vai a Londres (onde perde uma mala cheia de escritos, um deles um romance), Nova York (onde experimenta pela primeira vez a mescalina, 'mais forte que ácido', conforme contará a este repórter), depois gira pela Europa.
Agrippino, o profeta da Tropicália, 11 set. / 2007
Texto Ronaldo Bressane - O Estado de S. Paulo
Hitler Terceiro Mundo |
|||||
|
|||||
Sinopse: Realizado logo após a decretação do AI-5, o filme não tem uma linguagem linear nem pretende contar uma história. Apenas traça um painel da sociedade brasileira em pleno governo Médici.
Incensado como gênio tropicalista, Agrippino dirige em 1968 o média Hitler III Mundo, coadjuvado pelo diretor de fotografia Jorge Bodanzky. No filme, o Coisa, um Jô Soares vestido de gueixa e PMs reais atuando como militares (!) caçam Hitler pelas ruas do centro de São Paulo.
Agrippino, o profeta da Tropicália, 11 set. / 2007
Texto Ronaldo Bressane - O Estado de S. Paulo
|
|||||
|
|||||
|