David Lynch: Império dos sonhos (DVD)
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— Quê é isso?
— Cu piscando pra lua
Assim eu defini o DVD “Império dos sonhos” do cineasta David Lynch, o diretor de “Veludo Azul”.
Barbárie Suprema
Se os guitarristas acumulam links em fitas, os escritores acomodados no anonimato e nos atos falhos sonham completar as frases que ficam pela metade, certos cineastas criam o próprio universo bizarro.
David Lynch é um cineasta que soterra os sentidos, se lá fora as bombas detonam a valer o filme de Lynch massacra no visual, sua matéria-prima são ações e frases descontroladas vindas do sonho.
David Lynch é um cineasta que pode encher o saco, mas ele sabe criar uma dimensão convulsiva - Inland – abusando da justaposição – a imagem no espelho sempre converge para o olho tentando convencê-lo.
“Império dos sonhos” já passara das duas horas e ainda faltavam algumas portas para a apoteose – um autêntico cu piscando pra lua – digno de Freud, cujo monumental épico de si mesmo evitava a expressão delírio. Tudo estava ligado aos sonhos.
No final de “Império dos sonhos” o filme fantástico de David Lynch encontra a sua credibilidade sem o auxílio da psicanálise.
Vale rever a estonteante Laura Dern a mesma de “Veludo Azul”.
Mais Bizarrices de David Lynch
Outro trabalho inédito nos cinemas brasileiro de David Lynch chama-se “Eraserhead” e também está disponível em DVD. A fita narra “a história de um homem estranhíssimo, às voltas com seu filho recém-nascido e mutante, que chora o tempo todo. Passado num ambiente lúgubre, o filme funde o lado onírico do surrealismo com a atmosfera sufocante do expressionismo”, anotou a revista Istoé.
• Para entender "O Império dos sonhos"...
A cena que ninguém quis ver
(Carlos Menezes)
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Hollywood em cartaz: William Desmond Taylor, depois de ser ator, se tornou um requisitado cineasta, trabalhando com as grandes estrelas da era do cinema mudo. Em 1917, ele se tornou presidente da Associação de Diretores e, em 1922, ganhou da Paramount sua própria unidade de produção dentro do estúdio. Em 22 de fevereiro do mesmo ano, seu corpo foi achado em sua mansão, um crime que permanece sem solução. Rumores indicavam, como suspeitas, duas atrizes, Mary Miles Minter e Mabel Normand, mas ninguém foi indiciado.
Hollywood, sua história, sua indústria cinematográfica e sua constelação de grandes astros, estrelas, diretores e roteiristas parece estar na ordem do dia. Depois de "A cidade das redes", de Otto Friedrich, editado pela Companhia das Letras, e que figurou demoradamente nas listas de mais vendidos no Brasil, a Rocco está lançando o romance "Elenco de assassinos" (A cast of killers) do americano Sidney Kirkpatrick, uma história de sexo, violência, mistério e corrupção, que o "Village Voice" considerou "a melhor história real de um crime".
Tudo começou em 1967, quando o famoso diretor de cinema King Vidor pôs-se a escrever o roteiro de um filme sobre um crime nunca resolvido: a morte de William Desmond, um astro da década de 20. No centro da trama, a polícia de Los Angeles e as poderosas companhias cinematográficas da época. Vidor conseuiu desvendar a identidade do assassino, mas preferiu guardar para si a descoberta, e arquivou o projeto em segredo.
Já em 1983, Sidney Kirkpatrick, então um jovem professor na Califórnia, pesquisava material para escrever uma biografia de Vidor, quando, acidentalmente, localizou um cofre, numa das propriedades do velho diretor. Em seu interior, bem guardados, estavam alguns papéis extremamente comprometedores. Intrigado, dispôs-se a reconstituir a investigação iniciada por Vidor.
Para sua grande surpresa, verificou que a polícia de Los Angeles não interrogara os principais suspeitos do assassinato de Desmond, sendo que o primeiro laudo médico indicava morte natural, apesar de uma bala ter sido encontrada no cadáver.
Em "Elenco de assassinos", além de King Vidor, ansioso para vingar a morte de Desmond, são figuras importantes Mabel Normand, joven atriz viciada em drogas e a última pessoa a ver o ator com vida; Mary Males Winter, atriz cuja carreira foi arruinada ao encontrarem peças íntimas suas no local do crime; e Charlote Shelby, mãe de Mary e sua rival. Com este romance de estréia, já vendido para a Paramount fazer uma versão cinematográfica, Kirkpatrick mergulha, impiedosmente, na decadência de uma sociedade hipócrita e soluciona um mistério que Hollywood preferiu esquecer e enterrar para sempre.
Também tendo Hollywood com como cenário, a Brasiliense está lançando "Hollywood - Entrevistas", de Michel Ciment, com uma série de entrevistas e depoimentos de grandes cineastas com John Huston, Billy Wilder, Joseph Mankiewicz, Roman Polanski, Milos Forman e Win Wenders. Tradução de Elcio Fernandes, 380 páginas.
*O Globo, 10 out. / 1988.