Mangue Bangue, filme de Neville d'Almeida
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Cult perdido de Neville D’Almeida
será exibido pela primeira vez no Brasil
By: Victor Hugo Felix
http://pipocamoderna.com.br/cult-perdido-de-neville-dalmeida-sera-exibido-pela-primeira-vez-no-brasil/176696
Cena de "Mangue Bangue", filme de Neville d'Almeida recuperado
após 40 anos e que terá sessão no Sesc
20 mai.
/ 2012 - O filme “Mangue-Bangue” (1971), do brasileiro Neville d’Almeida (“A
Dama do Lotação”), será exibido pela primeira vez no Brasil. Considerado um
clássico da contracultura, o longa esteve perdido por 40 anos, e sua
redescoberta ganhará projetação numa retrospectiva dedicada ao cineasta,
promovida pelo Sesc em São Paulo.
Em
“Mangue-Bangue”, Neville d’Almeida traçou um paralelo entre homem e bicho para
construir o que chamou de um “painel de 1971?, tempo de milagre econômico,
drogas, liberdade sexual, censura e preconceito. Um homem entra em convulsão no
meio da Bolsa de Valores, consegue se arrastar até a porta, vomita as tripas e
desaba numa poça de lama. Em paralelo, galos se engalfinham numa briga sem fim.
O filme foi rodado no Mangue, zona de prostituição carioca, que visitou com o
amigo e artista plástico Hélio Oiticica (“Câncer”) no começo dos anos 1970.
“Quis
fazer um filme de ruptura”, disse o diretor ao rever o filme. “Estava revoltado
com a censura. Então, queria mostrar as drogas, gente tomando um pico na veia,
esse vômito que carrega toda a ditadura, sequências brutais”, contou ao jornal
Folha de S. Paulo.
Escrevendo
sobre o filme, Oiticica diz que a obra apresenta uma “edição em blocos
geométricos, uma estrutura em moto perpétuo”, já que o roteiro, sem texto,
embaralha as sequências num vaivém arrebatador de imagens que alternam beleza e
repulsa.
Com medo
da ditadura, D’Almeida pôs os dois rolos do filme na mala e fugiu para Londres,
onde revelou os negativos. Só dois anos mais tarde, em Nova York, D’Almeida
encontrou Oiticica, que morava lá, e decidiu mostrar o filme numa sessão no
MoMA, o museu de arte moderna, onde os rolos ficaram esquecidos por décadas até
serem recentemente reencontrados e restaurados.
Em 2008,
o filme foi exibido numa sessão em Nova York, no auge da crise econômica
americana, o que elevou o trabalho a uma nova dimensão. Nas palavras de Luis
Pérez-Oramas, curador de arte latino-americana do MoMA, “é a imagem de um mundo
de poder reduzido ao vômito, uma crítica radical do nosso tempo e também uma
das mais acerbadas imagens da decomposição formal na arte ocidental”.
Após toda esta trajetória, o filme terá sua primeira exibição nacional no Sesc
Santo Amaro, em São Paulo, no dia 3 de junho às 20h.
Nas margens do mangue
Clássico
da contracultura, filme de Neville d'Almeida perdido por 40 anos terá 1ª
exibição no país
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
18 mai. / 2012 - Folha de S. Paulo - Um homem entra
em convulsão no meio da Bolsa de Valores. Consegue se arrastar até a porta.
Vomita as tripas e desaba numa poça de lama. Em paralelo, galos se engalfinham
numa briga sem fim.
Em "Mangue-Bangue", o diretor Neville
d'Almeida traça um paralelo entre homem e bicho para construir o que chamou de
um "painel de 1971", tempo de milagre econômico, drogas, liberdade
sexual, censura e preconceito.
Foi essa a época que o cineasta tentou dissecar nas
sequências do filme que rodou no Mangue, zona de prostituição carioca a algumas
quadras da Central do Brasil, que visitou com o amigo Hélio Oiticica no começo
dos anos 70.
Com medo da ditadura, ele pôs os dois rolos do
filme na mala e fugiu para Londres, onde revelou os negativos.
Só dois anos mais tarde, em Nova York, D'Almeida
encontrou Oiticica, que morava lá, e decidiu mostrar o filme numa sessão no
MoMA, o museu de arte moderna, onde os rolos ficaram esquecidos por décadas até
serem reencontrados e restaurados.
Agora, mais de 40 anos depois de feito, "Mangue-Bangue",
um clássico perdido da contracultura, será mostrado pela primeira vez no Brasil
numa retrospectiva do cineasta no Sesc Santo Amaro.
"Quis fazer um filme de ruptura", disse o
diretor ao rever o filme em sessão exclusiva para a Folha, em São
Paulo. "Estava revoltado com a censura. Então, queria mostrar as drogas,
gente tomando um pico na veia, esse vômito que carrega toda a ditadura,
sequências brutais."
Em cena, prostitutas e travestis aparecem se
drogando e os atores Maria Gladys e Paulo Villaça encarnam homem e mulher em
busca de liberdade -algo entre ode e crítica à condição humana em tempos de
exceção.
Trata-se também de uma forma excepcional. O filme
foi o ponto de partida da colaboração de D'Almeida e Oiticica que resultou nas
"Cosmococas", instalações que mergulham o espectador em imagens,
música e cenografia.
Escrevendo sobre o filme, Oiticica identificou na
obra uma "edição em blocos geométricos, uma estrutura em moto
perpétuo", já que o roteiro, sem texto, embaralha as sequências num vaivém
arrebatador de imagens que alternam beleza e repulsa.
Nas palavras de Luis Pérez-Oramas, curador de arte
latino-americana do MoMA, "Mangue-Bangue" oscila entre "o
excrementício e o puro, a alvura e o mundano, o agônico e o extático".
Depois de restaurado pelo museu americano a um
custo de R$ 200 mil, o filme veio à luz numa sessão em Nova York há quatro
anos, no auge da crise financeira que abalou os mercados e instaurou um novo
ciclo de miséria.
"'Mangue-Bangue' ganhou então uma dimensão
urgente e atual para mim", escreveu Pérez-Oramas. "É a imagem de um
mundo de poder reduzido ao vômito, uma crítica radical do nosso tempo e também
uma das mais acerbas imagens da decomposição formal na arte ocidental.