MÁRIO PEIXOTO: O GÊNIO DE UM FILME REALIZADO (1988)
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CINEMA
Revista Época - Edição 210
O gênio de um filme só
Limite estréia após 71 anos, precedido de documentário sobre seu autor, Mario Peixoto
por: Cléber Eduardo
ORIGEM
Imagem idêntica foi vista por Mario Peixoto na capa de uma revista francesa. Inspirado nela, escreveu o roteiro de Limite
Foto: http://tertuliacinematografica.blogspot.com.br/2011/06/limite-1931.html
27 mai. / 2002 - O maior filme brasileiro de todos os tempos, assim eleito por críticos numa votação organizada em 1988 pela Cinemateca Brasileira, entrará em cartaz aos 71 anos de idade. Exibido pela primeira vez em 17 de maio de 1931, Limite nunca estreou em circuito comercial. A sessão inaugural acabou em bate-boca e empurra-empurra entre defensores estupefatos e detratores bocejantes. Uns se maravilharam com o experimentalismo narrativo e o rigor técnico, num tempo em que, embora o som já estivesse chegando às telas, o país ainda tropeçava para fazer filmes mudos com qualidade. Outros espectadores cochilaram solto diante da falta de história e do ritmo lento do filme. Reações parecidas deverão ocorrer agora com o tardio lançamento, agendado para 14 de junho no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Ao longo dessas sete décadas, a obra foi mostrada apenas em salas alternativas. A decomposição dos negativos exigiu um lento trabalho de recuperação entre 1959 e 1971. Nesse período de sumiço, ela se tornou mito. E seu diretor, Mario Peixoto (1908–1992), que nunca fez um segundo filme apesar de várias tentativas, transformou-se em lenda. Limite é marco precoce do cinema brasileiro moderno, consolidado 30 anos depois. Também representa a versão tropical do expressionismo alemão e da vanguarda soviética, as correntes mais influentes dos anos 20.
LIMITE
Brasil, 1931
Direção: Mario Peixoto
Com: Olga Breno, Taciana Rei, Raul Schnoor, Mario Peixoto
Estréia: 14/6 (Rio, São Paulo, Salvador e Recife)
Documentário: Onde a Terra Acaba, 30/5 (Rio e São Paulo), 14/6 (Salvador e Recife)
Essa mística em torno de Limite e Mario Peixoto é revelada – apenas parcialmente e com a reverência típica das homenagens – em outro lançamento: o documentário Onde a Terra Acaba, de Sergio Machado, que vai estrear no dia 30 no Rio e em São Paulo. O filme foi produzido por Walter Salles, que também custeou o tratamento de câncer de próstata de Peixoto, em seus últimos anos de vida. O título é o mesmo da produção que Peixoto abandonou em 1932, no meio das filmagens, após brigas com a atriz/produtora Carmen Santos. Há imagens raras no documentário: cenas de bastidores de Limite, alguns fragmentos de Onde a Terra Acaba e depoimentos de Peixoto, colhidos por Ruy Solberg para outro trabalho, O Homem do Morcego.
RARIDADE
O documentário Onde a Terra Acaba traz imagens dos bastidores de Limite
Como em qualquer documentário, revelam-se e omitem-se muitas informações. Como Peixoto é uma figura complexa e enigmática, os traços não abordados por Sergio Machado ajudam a fomentar o mito e jogar mais sombras sobre suas peculiaridades. Peixoto era mitômano. Chegou a escrever um artigo sobre sua única obra e o publicou na revista Arquitetura, em 1965, creditando o texto ao gênio russo Sergei Einsenstein, autor de O Encouraçado Potemkin (1925), clássico do cinema mudo. Peixoto mentia que a crítica saíra, nos anos 30, na revista inglesa The Tatler Magazine e que ele apenas fizera a tradução. Poucos anos antes da morte, em 1992, admitiu a farsa. Inventara a história para inflar o prestígio e obter dinheiro para outro filme.
Não foi a única reinvenção autobiográfica. Ele também dizia ter feito Limite aos 16 anos, quando, de fato, tinha 21. Em 1942, Vinicius de Moraes, então crítico de cinema, levou Orson Welles para ver Limite. Welles, que aproveitava sua alegre temporada carioca, estava de pileque e dormiu quase a sessão inteira. Peixoto não se intimidou e espalhou outra versão: o autor de Cidadão Kane tinha adorado seu filme.
A realidade simplesmente aborrecia Mario Peixoto. Seu mundo era o da ilusão. Pois justo essa sedutora faceta é ignorada por Onde a Terra Acaba. O documentário deixa de dimensionar ainda o verdadeiro valor estético de Limite, definido no letreiro inicial apenas como um "filme inovador" (em quê?). Mas o tema é inesgotável. Em junho, será abordado no Canal Brasil, com a exibição de um especial sobre Mario Peixoto, dirigido por Joel Pizzini, que conviveu com o cineasta e defendeu uma tese de mestrado sobre o filme. Pizzini prepara um longa-metragem sobre os enigmas do autor. "Limite me levou a fazer cinema", diz. "Quando o vi, fiquei em transe."
Duas visõe sobre 'Limite'
OBRA-PRIMA O escritor alemão J.W. Goethe dizia que as obras de natureza poética, por não seguir as regras do mundo objetivo, deviam ser assimiladas com os olhos da alma e não pelas ferramentas da razão. É o caso de Limite. Para quem está habituado à relação direta entre aparência e significado, é uma árdua tarefa absorver uma imagem sem buscar um sentido imediato para ela. Diante de Limite, porém, é preciso liberar o olhar. Interessa o que as imagens transmitem, não o que elas querem dizer. O filme é uma dolorida experiência sensorial. Transforma em linguagem visual a angústia de um homem e duas mulheres que estão em um barco à deriva, impotentes diante do fluxo ininterrupto da vida em direção à morte. Os planos longos, os movimentos de câmera, a ruptura com a ordem cronológica, como se o tempo convivesse em vários níveis, buscam equivalente estético para o estado dos náufragos existenciais. Construído como ensaio poético e fúnebre, o filme não se apóia na muleta do teatro e da literatura, como a maioria dos filmes. Limite busca a autonomia do cinema, como linguagem única, de inimitáveis propriedades, para atingir o sublime. E alcança o nível impalpável e ilimitado da metafísica. CLÉBER EDUARDO MORTE Imagens traduzem a angústia do fim
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MITO Limite é o filme mudo mais falado da história do cinema. No lançamento, em 1931, teve apenas quatro exibições. Depois sumiu. Nos anos 80, servia de tema para cursos universitários de seis meses – à falta da película, as aulas eram ministradas com base num livro ilustrado com os fotogramas. Ninguém o via. Para falar mal, apelava-se aos argumentos de quem nunca pôs os olhos nele. Glauber Rocha rotulou-o de alienado antes mesmo de conhecê-lo. O fato de ser quase um fantasma não torna Limite melhor ou pior. Quem o viu (e não são muitos) costuma defini-lo como poesia, "uma integração rítmica de imagens". Há quem enxergue nele influências do cinema alemão na busca do ângulo expressivo e do soviético no casamento do ritmo não-narrativo com o contraste da fotografia em preto e branco de Edgar Brasil. Limite envelheceu – o que o fez revolucionário nas primeiras décadas do século XX, hoje seria apenas um competente trabalho acadêmico de fim de curso. É monótono, apesar das imagens bonitas, que ficam na retina. É o caso de ir ao cinema para assistir a um belo longa brasileiro? Prefira Abril Despedaçado, de Walter Salles. Abril tem tudo aquilo que se diz de Limite. FÁBIO ALTMAN COSTAS Há uma profusão de nucas no filme
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Nascimento Condição Preferência
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Diretor de 'Limite' diz que cinema brasileiro ‘tem potencial’
(Maurício Stycer)
Na próxima terça-feira, às 15h, em Mangaratiba (r. Fagundes Varella, 146), Rio de Janeiro, o cineasta Mário Peixoto será retirado do isolamento em que se mantém há décadas. A Cinemateca Brasileira oferece ao diretor de “Limite” uma homenagem pela escolha de seu filme, por eleição entre uma centena de críticos e pesquisadores, como o mais significativo da história do cinema brasileiro.
Mário Peixoto vive atualmente no limite da realidade. Alterna momentos de lucidez com outros de mitomania. O diretor de “Limite”, realizado no início dos anos 30, carrega há décadas o estigma de “homem de uma obra só”. Por uma série de motivos, a maioria até hoje obscuros, Peixoto não conseguiu dar seqüência a sua carreira. Nestes últimos 58 anos tentou por duas vezes dirigir um filme (“Onde a Terra Acaba” e “A Alma, Segundo Salustre”).
Os fatos e as lendas que cercam “Limite” se confundem na cabeça do cineasta. A única cópia do filme, exibida uma vez no Rio de Janeiro, em 1933, provocando polêmica e tumulto, foi depois mandada para Londres. Reza a lenda que o cineasta Serguei Eisenstein assistiu “Limite” e escreveu um artigo enaltecendo as qualidades do filme. Nesta entrevista à Folha, realizada na terça-feira, Mário Peixoto acrescenta que Bernard Shaw também se encantou com “Limite”.
A própria idade do cineasta e a data de realização do filme são motivos de controvérsia. Peixoto diz ter 69 anos, mas seu documento de identidade registra 70. O filme teria sido feito entre 1930 e 1932, não se sabe ao certo. De qualquer forma, o cineasta realizou “Limite” com menos de 15 anos de idade**.
A transformação do filme em mito foi lenta e gradual. No Brasil, os poucos eleitos que assistiram o filme na década de 30 sempre falaram muito sobre “Limite”. No final dos anos 50, Plínio Sussekind e Saulo Pereira de Mello começaram o lento trabalho de restauração da única cópia disponível – concluído em 1971.
Mário Peixoto vive há cerca de 15 anos em Angra dos Reis – atualmente num quarto e sala adaptado em um prédio de escritórios no centro da cidade. A seguir, os principais trechos da entrevista com o cineasta:
Folha – O que o senhor achou da escolha de “Limite” como o file mais significativo da história do cinema brasileiro?
Mário Peixoto – Por favor, me acredite. Eu só vou dizer a verdade. Você quer saber se eu me emocionei? Não, eu não me emocionei, absolutamente. Porque o filme já tinha sido muito discutido na Europa. Grandes personalidades, como Bernard Shaw, escreveram críticas lindíssimas.
Folha – Onde foi publicada a crítica de Bernard Shaw?
Peixoto – Na Inglaterra, em Londres, na ocasião em que o filme foi exibido lá.
Folha – Esta crítica foi publicada?
Peixoto – Foi, foi, teve muita repercussão. Mas isso são coisas tão antigas... Já se perdeu, já houve duas guerras, não era coisa que tivesse tanta importância assim na ocasião. É como hoje: você compra uma “Manchete” e depois você joga fora... Eu era muito jovem, o mundo era meu. Eu queria saborear este mundo. E o dia em que - esta que foi a encrenca – descobri o Morcego, o sítio que eu tive 47 anos, acabou tudo. Eu me dediquei só ao sítio.
Folha – Quer dizer que o sítio do Morcego foi responsável pela interrupção da sua carreira cinematográfica?
Peixoto – Não foi propriamente uma interrupção. Eu fiz aquilo por amor. Minha carreira era aquela mesma, era fazer daquele sítio um museu do Brasil.
Folha – Que tipo de museu?
Peixoto – Um museu de usos e costumes do povo brasileiro.
Folha – Por que não deu certo a idéia?
Peixoto – Porque eu não tive numerário suficiente. Exauri minhas fontes naquilo.
Folha – O senhor acha que não tinha vocação para o cinema? Sua vocação era outra?
Peixoto – O cinema foi puramente um acaso. Aí está um assunto privativo: por que eu escrevi “Limite”? No “Inútil de Cada Um” (livro de memórias do cineasta) eu suavizei a coisa, não citei os nomes... Meu amigo Brutus Pedreira me disse na ocasião (depois da primeira exibição pública do filme): “Não exibe mais esta fita. ‘Limite’ só vai ser reconhecido no Brasil daqui há muitos anos”. Quantos anos se passaram? No estrangeiro foi muito mais rápido, foi imediato.
Folha – Este reconhecimento pode ter demorado por causa da deterioração da única cópia do filme. O trabalho de recuperação permitiu que “Limite” se tornasse mais conhecido e deu origem, inclusive, uma cópia em vídeo.
Peixoto – Horrível, uma porcaria este vídeo. A música vai para um lado, o filme vai para outro. A fotografia do Edgar Brazil está toda embaçada, toda levada da breca, de repente fica preta, de repente fica cinza, uma coisa sem pé nem cabeça. E, para cúmulo, a fotografia que está na caixinha não é de “Limite”, é uma fotografia de pessoas que foram me visitar durante as filmagens de um filme que tentei fazer com Carmen Santos.
Folha – “Onde a Terra Acaba”?
Peixoto – “Onde a Terra Acaba”. Aliás, o título não é esse. É “O Sono Sobre a Areia”. Ficou conhecido como “Onde a Terra Acaba” porque Carmen Santos, que estava financiando a fita, achou “O Sono Sobre a Areia” um título bonito mas não comercial.
Folha – Foi isso que motivou o desentendimento entre vocês e a interrupção do filme?
Peixoto – Esse assunto é tabu. Não posso dizer mais do que disse. A ética manda que eu jamais fale sobre isso.
Folha – E por que fracassou o projeto de filmar “A Alma, Segundo Salustre”?
Peixoto – Eu também não posso lhe dizer a razão direta. O produtor foi a Embrafilme dizer que eu era muito complicado, essa coisa toda, largou o projeto e não se fez o “Salustre”.
Folha – O senhor disse no início que não tinha vocação par ao cinema, mas tentou, pelo menos duas vezes depois de “Limite”, fazer um filme.
Peixoto – A minha vocação nunca foi cinema. Eu sou um grande apreciador de cinema. Já vi tudo quanto é fita boa deste mundo.
Folha – Qual foi o último grande filme que o senhor assistiu?
Peixoto – São tantos, é difícil dizer... Aqui no Brasil nós temos um que é uma beleza. Por que não colocam ele em destaque? “Noite Vazia”, do Walter Hugo Khoury, é uma obra de arte (realizado em 1964, o filme ficou em 15 lugar na pesquisa que elegeu “Limite” o filme mais significativo do cinema brasileiro). É perfeito de cabo a rabo.
Folha - O senhor gosta de outros filmes?
Peixoto – Não. Francamente, o cinema brasileiro ainda está engatinhando. Eles fazem filmes para viver, têm que tirar dinheiro, têm que fazer concessões... Então, usam aquelas coisas banais, sexo, essa coisa toda.
Folha - Não sobra nada? Nem do Cinema Novo?
Peixoto - Eles têm potencial, hja visto "Noite Vazia". Um homem que pega e faz "Noite Vazia"... Vê se depois ele fez outro? Não fez mais, porque provavelmente não deu dinheiro. Fazer dinheiro e fazer um bom cinema são coisas antagônicas.
Folha - O que mais o impressionou em "Noite Vazia" foi a fotografia. O senhor acha que o cinema dispensa as palavras?
Peixoto - Acho. Cinema é imagem. Cinema foi criado para isso.
Folha - O cinema perdeu com os om?
Peixoto - Perdeu muito. Virou teatro. Desde que entra a fala é teatro. Fala, fala, resolve-se tudo falando.
Folha - Ainda lhe passa pela cabeça a ideía de fazer um filme?
Peixoto - "A Alma Segundo Salustre", eu gostaria de fazer. Seria um prazer, o canto do cisne.
Norma Bengell em "Noite Vazia"
* Folha de S. Paulo, 29 set. / 1988.
** Até numa entrevista, onde o diretor Mário Peixoto, pretendia veicular só a verdade, nada mais do que a verdade, surge um fato gritante para corroborar a lenda: teria feito "Limite" com apenas quinze anos quando na verdade tinha 21 anos, estes "equívocos" seriam uma constante na sua vida.
Mário Peixoto, Biografia
Mário Peixoto ou Mário Breves Peixoto, seu nome completo, nasce em 25 de março de 1908 - na mesma data que David Lean, seu diretor favorito -, provavelmente na Bélgica onde seu pai, João Cornélio, freqüentava um curso de química.
É descendente de família rica: do comendador Joaquim José de Souza Breves, maior plantador de café do império e maior traficante de escravos, da parte da mãe, e de usineiros de açúcar, da parte do pai.
Estuda no Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria de 1917 até 1926 quando interrompe o curso para seguir para a Inglaterra. Permanece de outubro de 1926 a agosto de 1927 no Hopedene College, em Willingdon, próximo de Eastbourne, no Sussex.
Na volta ao Brasil, é apresentado ao Brutus Pedreira, que o leva para o Teatro de Brinquedo. Conhece os irmãos Silvio e Raul Schnoor e a irmã Eva, bem como Adhemar Gozaga e Pedro Lima.
Em 1928, é fundado o Chaplin Club, um circulo de amigos debatendo questões teóricas relacionadas ao cinema. Participa dele, entre outros, Octávio de Faria, amigo de infância de Mário Peixoto e seu interlocutor privilegiado. O Club publica entre 1928 e 1930 a revista O FAN.
O desejo de informar-se mais sobre cinema e ver mais filmes faz Mário voltar à Europa em junho de 1929, quando visita junto com o pai Londres e Paris.
Conforme Peixoto, a seguinte foto de André Kertesz na 74. edição da revista VU visto por acaso num passeio pelas ruas de Paris, age como inspiração final para escrever na mesma noite o primeiro esboço para seu filme Limite.
De volta ao Brasil, em outubro de 1929, Mário Peixoto continua em contato com a cena artística, provavelmente presencia as filmagem de Lábios sem beijos e de Saudade e possivelmente encontra pela primeira vez a atriz Carmen Santos e o cameraman Edgar Brazil.
Apresenta o scenario de Limite aos diretores Gonzaga e Mauro, mas ambos opinam que o próprio Mario deveria realizar seu filme.
Limite estréia em 17 de maio de 1931, no cinema Capitólio (Rio de Janeiro) mas não consegue distribuição comercial apesar dos esforços de Adhemar Gonzaga.
No mesmo período, Mário inicia a filmagem de Onde A Terra Acaba, uma produção ambiciosa, financiada por Carmen Santos, também atriz principal do filme; mas devido ao rompimento entre Carmen Santos e Mário Peixoto, o filme é interrompido, e Limite permanece o único filme realizado.
Entre os vários projetos inacabados, encontram-se títulos como Constância (1936) ou Maré baixa, também chamado Mormaço, da mesma época. Em 1937, a pedido de Carmen Santos, com quem tinha se reconciliado em 1934, Mário escreve o scenario de Tiradentes. Carmen não o usa e o texto desapareceu. Em 1938, Mário Peixoto tenta realizar Três contra o mundo. Em 1946, Mário Peixoto, junto com Carmen Santos e Afonto Campiglia, pensa em voltar a filmar Onde a terra acaba em versão falada. O projeto não teve seguimento. Possivelmente em 1947, adaptou-se em scenario o ABC de Castro Alves de Jorge Amado para Carmen Santos, mas o filme não foi realizado. O scenario ficou com Carmen e desapareceu.
No ano seguinte, 1948, Rui Santos e Afonso Campiglia anunciam que vão produzir dois filmes: Sargaço de Mário Peixoto e Muiraquitã de Jonald, o crítico de cinema de A Noite, mas logo vem a notícia de que os dois filmes seriam substituídos por outro: Estrela Da Manhã, com scenario de Jorge Amado, fotografia de Rui Santos e direção de Jonald. O nome de Mário Peixoto desaparece dos noticiários, junto com Sargaço, e em 1952 Mário transforma o scenario do filme em A alma segundo Salustre, também não realizado.
Junto com Saulo Pereira de Mello, escreve, em 1964, o scenario de Outuno/O jardim petrificado, vagamente baseado em Missa do Galo Machado de Assis. Em 1966, Mário fixa residência no Sítio do Morcego que tinha ganhado do pai já em 1938 decora a casa com antiguidades e trabalha na reescritura de um romance publicado em 1935: O inútil de cada um. Mário estende o curto livro original para um universo literário singular com traços autobiográficos de seis volumes e aproximadamente 2000 páginas.
Trabalha nesta obra obcecadamente quase até o final de sua vida.
Por enquanto, apenas o primeiro volume foi publicado (1984).
Por problemas financeiros, é forçado a vender o sítio, se muda para o hotel Angra Turismo e vive os últimos tempos de sua vida num apartamento em Copacabana, também herdado do pai. Aqui, uma das ultimas fotos do Mário de 1991.
Seu filme Limite vira marca referencial do cinema brasileiro.
Em 1988, é escolhido, em inquérito nacional promovido pela Cinemateca Brasileira, o melhor filme brasileiro de todos os tempos. Em outubro do mesmo ano, Mário Peixoto ganha um prêmio especial do Governo do Estado do Rio de Janeiro e em janeiro de 1989, uma bolsa da Fundação Vitae para concluir os volumes restantes de O inútil de cada um.
Em 1991, com a situação econômica precária, adoece, mas é apoiado nesta fase difícil por Walter Salles. Mário Peixoto falece dia 2 de fevereiro de 1992 e é enterrado no cemitério São João Batista no Rio de Janeiro. Em 1995, no ano do centenário do cinema, Limite novamente é considerado o melhor filme brasileiro de todos os tempos em inquérito nacional promovido pela Folha de São Paulo.
Em 1996, Walter Salles funda o Arquivo Mário Peixoto na sua empresa videofilmes no Rio de Janeiro onde Saulo Pereira de Mello e sua esposa Ayla cuidam dos objetos e manuscritos originais de Mário Peixoto e editam publicações do cineasta/autor bem como textos críticos.
Onde a terra acaba, o título de um dos filmes inacabados de Mário, também é o nome de um premiado documentário realizado por Sérgio Machado em 2002.
Referências bibliográficas
Castro, Emil de. Jogos de armar. Rio de Janeiro: Lacerda, 2000.
Estudos sobre Limite de Mário Peixoto. Laboratório de Investigação Audiovisual-LIA da Universidade Federal Fluminense; CD-ROM (2000).
Mello, Saulo Pereira de. Limite. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
Mello, Saulo Pereira de. Mário Peixoto. Rio de Janeiro : Casa de Rui Barbosa, 1996.
Mello, Saulo Pereira de. Mário Peixoto - Escritos sobre cinema. Rio de Janeiro: aeroplano, 2000.
Peixoto, Mario, O inútil de cada um. Rio de Janeiro : Record, 1984.
Peixoto, Mário. Limite. “scenario” original. Rio de Janeiro: Sette Letras. 1996.
Peixoto, Mário. O inútil de cada um. Rio de Janeiro : Sette Letras, 1996. (reedição da versão de 1931, 153p.)
Peixoto, Mário. Mundéu. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996.
Peixoto, Mario e Mello, Saulo Pereira de. Outono – O jardim petrificado (scenario). Rio de Janeiro: aeroplano, 2000.
Peixoto, Mário. Poemas de permeio com o mar. Aeroplano, 2002.
Peixoto, Mário. Seis contos e duas peças curtas. Rio de Janeiro: aeroplano, 2004.
ARQUIVOS DO PRÓPRIO BOL$O - CARMEN SANTOS