WATERS-DIVINE: A DUPLA MAIS IMUNDA DOS ESTADOS UNIDOS

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Divine fez sua estréia em 67

 

O travesti Divine morreu asfixiado no dia 8 de março de 1988 em um quarto do hotel Regency Plaza, em Los Angeles, costa oeste dos Estados Unidos, aos 42 anos de idade. Na época, disseram que ele poderia ter sido assassinado.

Até 1967, Divine ainda atendia pelo nome de Harris Glenn Milstead e vivia em Baltimore. Maryland, na costa leste do país. Foi o diretor “trash” John Waters que o tirou do anonimato e o transformou em um sério concorrente ao título da “mais asquerosa pessoa viva” (tema usado no filme Pink Flamingos, em 1972). Waters deu a Milstead o novo nome e o levou para os círculos underground de Los Angeles e Nova York. O nome Divine foi tirado de um personagem criado pelo francês Jean Genet na peça Nossa Senhora das Flores.

Desde sua primeira associação com o diretor, no filme Eat Your Make-up (fariam outros  oito filmes juntos), Divine personificou com seus mais de 150 kg o lado mais podre do sonho americano. Vulgar, repugnante e “camp”, suas atuações eram odes ao mal gosto.

Na mais antológica cena de Pink Flamingos, Divine caminha até que vê um cachorro defecando. Se abaixa, apanha um pouco das fezes do animal e volta a caminhar, saboreando a guloseima. O filme ficou quatro anos em cartaz em Nova York. Divine fez escola e conseguiu até imitadores. No Brasil, ele se chamava Laura de Vison e morava no Rio.

 

 

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John Waters é o rei do "trash"**

John Waters é o rei do cinema "trash" norte-americano e o responsável, junto com o travesti Divine e o diretor Barry Levinson, pela entrada de Baltimore no mapa cinematográfico dos Estados Unidos. Nessa cidade do Estado de Maryland se passa grande parte de seus filmes.

Waters nasceu em 1947, em Lutherville, também em Maryland, mas se transferiu para Nova York para estudar cinema. Não terminou o curso e se transferiu para Baltimore, onde encontrou Divine.

Fizeram oito filmes juntos, os seis primeiros com orçamentos que variavam entre US$ 2 mil e US$ 10 mil. Waters começou a ter orçamentos maiores a partir de Polyester, realizado em 1981. Nesse filme, o diretor usou o sistema Odorama. O espectador recebia na entrada do cinema uma "cartela de odores" com diversos números. Quando o número aparecia na tela, ele deveria raspar a cartela e sentir o cheiro da cena. "O sistema Odorama é uma resposta a quem diz que meus filmes cheiram mal", disse. Na maioria das vezes, o cheiro emanado era de escrementos ou gasolina. Ficou mais de dois anos em cartaz em Nova York.

Depois de Pink Flamingos, seu maior sucesso e considerado um dos filmes mais repugnantes da história. O francês Dictionaire du Cinéma, de Jean Tulard, apostou na dupla Waters-Divine para ganhar o concurso da "dupla mais imunda dos Estados Unidos". **Folha de S. Paulo 24 ago. /  1990

 

O transformista Laura de Vison morreu em 2007

O Globo Online

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O travesti brasileiro Laura de Vison, fez carreira como uma espécie de clone de Divine, foi entrevistado por Jô Soares

10 jul. / 2007 - RIO - A alegre noite carioca está de luto. Ícone do transformismo brasileiro, Laura de Vison morreu no último domingo, de insuficiência respiratória, por conseqüência de complicações decorrentes de uma cirurgia para tratamento de problemas de hérnia, realizada há oito meses. O enterro aconteceu na segunda-feira, às 14h, no cemitério de Inhaúma, no Rio.

O preconceito sempre fez parte da vida de Norberto Chucri David, carioca do Engenho de Dentro, filho de pais libaneses que comercializavam tecidos com a ajuda dos filhos Odete, Ivete, Humberto, Hoover e Norberto, que estudou na Faculdade Nacional de Filosofia com licenciatura em filosofia, psicologia e história. Durante muitos anos, Laura lecionou comportadíssima: cabelo penteado para trás, terno, gravata e uma cinta para diminuir o seio. Retrato de um profissional sério que, mesmo assim, enfrentou discriminações.

Tudo bem, Norberto nunca foi um professor convencional - um dia se vestiu de Cleópatra para explicar a história egípcia - mas amava a profissão. Quando os seios começaram a brotar, morto de vergonha, o menino disfarçava as formas protuberantes com blusas largas. Apesar disso, as crianças notavam:

- Elas faziam chacota com meus peitinhos e minhas pernas, que eram bem femininas.

Laura nunca mais subirá, poderosíssima, a escadaria que a levava ao estrelato no bar Boêmio, no Centro do Rio. Ali, foi aplaudida por turistas, antropólogos, sociólogos, atores, cantores e personalidades internacionais como o estilista Jean Paul Gaultier. Quando soube que Laura lecionava história e moral e cívica na rede pública, Gaultier ficou pasmo: "Interessante essa faceta dupla, isso não seria permitido pela moral francesa", disse o estilista, levado ao show pela equipe do ELA quando esteve no Rio de Janeiro.

Balde de água nos espectadores e êxtase nos xingamentos

Seus shows antológicos eram uma espécie de videoclipe. Quando interpretava "Súplica cearense", jogava um balde de água nos espectadores. Em "This is my life", se transformava numa enfermeira e comia fígado. Volta e meia rolava, absolutamente nua, por uma escada, assistida por até 600 pessoas:

- Uns sentiam aversão, outros amavam - diz Laura.

Em "O fantasma da ópera", comia o cérebro do fantasma: dois miolos crus, quase 300 gramas:

- Eu fazia essas coisas incorporando Laura. Em meu estado normal jamais seria capaz.

Nos shows, que duravam uma hora e meia, ela alternava sua coleção de quase cem vestidos - que iam do tradicional a trajes mais sexy como baby-dolls e espartilhos - 40 perucas coloridas, 50 sapatos e botas, chapéus e muita pluma, guardados no confortável dúplex da estrela, bem no coração da Glória.

- O público me xingava de tudo, atingindo o êxtase. Para mim também era um ato de libertação.

Comparada à americana Divine, Laura conta que só teve uma paixão na vida. Pelo professor Carneiro, de português. Tinha então 14 anos e pensava nele dia e noite:

- Adorava quando ele me chamava ao quadro-negro. Nunca mais tive um sentimento igual.

 Desde então, sua vida foi uma busca desenfreada de prazeres. Relata que, numa noite de carnaval, chegou a ter relações sexuais 49 vezes:

- Sou muito volúvel, amo a vida e o prazer.

Laura fez muito sucesso nas décadas de 60, 70, 80 e 90 como transformista. Seu nome artístico surgiu ainda na década de 60, quando desfilava de biquíni e casaco de pele no Carnaval carioca. Até recentemente, Laura fazia shows na noite carioca em aparições festejadas.

O último trabalho de Laura foi a peça teatral "Dei a Elza em você", em 2006. No espetáculo, três drag-queens decadentes decidem montar um show com rapazes musculosos.

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