ALLAN WILLIAMS AUTÓGRAFA LIVROS E VÊ SEU 'PREJUÍZO' ENCENADO NOS PALCOS (2003)
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The man who gave the Beatles away
(Cláudia "Lennon"/Yellow Submarine - Tradução*)
Allan Williams (lembram dele? Foi aquele manager dos Beatles ainda em Liverpool) conta no livro "The man who gave the Beatles away" sobre os velhos tempos em que os Beatles estavam começando a se tornar profissionais mesmo. E ele conta histórias bem interessantes que mostram um lado humano daqueles que são tão endeusados.
“O banheiro das senhoras no Jac (Jacaranda-bar de Allan Williams em Liverpool) era no primeiro andar. Nós não tínhamos nada para os cavalheiros, só o quintal, onde os fregueses faziam o que tinham que fazer à luz da lua.
E um dia as autoridades sanitárias apareceram numa visita de inspeção. Eles não pareceram ligar para o fato de não termos nada para os cavalheiros, mas foram rigorosos com o estado primitivo do banheiro das senhoras.
As paredes do lugar estavam frequentemente cobertas com pichações e marcavam o tamanho dos órgãos e a performance sexual de alguns caras nos grupos, incluindo os Beatles. As garotas eram muito francas e específicas e davam alguns detalhes íntimos chocantes sobre seus namorados favoritos e ‘amigos’. Comentários típicos, geralmente em batom, eram ‘Joe Soap tem o maior pau em Liverpool’ e ‘Jimmy tal-etal faz a noite inteira’. Me lembro de ter ido ao banheiro das senhoras uma noite depois do Jac ter fechado e encontrar um desenho em batom de um pênis gigante. Embaixo escrito ‘Retrato do meu cantor favorito’. Eu não me lembro o que estava escrito nas paredes especificamente sobre os Beatles, mas eu sei que eles apareciam em menções muito honrosas. Muitas vezes.
Também sei que fui mantido muito ocupado mantendo as paredes limpas, porque eu não queria que o pessoal da limpeza visse o graffiti. As senhoras da limpeza eram velhas e nervosas, características de um modo de pensar ultrapassado sobre amor, casamento e relacionamento sexual em Liverpool.
Depois que as autoridades sanitárias me disseram que o estado do banheiro das senhoras era insatisfatório, eu decidi decorá-lo (nunca havia tido uma mão de tinta desde o dia em que havia sido inaugurado) e chamei os rapazes que um dia estariam fazendo milhões de libras por ano, ‘Vocês gostariam de ganhar alguns trocados’?
Paul respondeu, ‘Tenha certeza que queremos, Allan. Quem você quer que a gente mate’? Todos riram.
‘Muito engraçado, Paul’, eu disse. ‘Posso pensar num monte de gente que eu gostaria de me livrar. Mas, não, é o banheiro das senhoras’.
‘Ah, é? ‘disse Stuart. ‘O que é que há com ele? ‘Você quer que nós o limpemos ou algo’?
Todos fecharam as caras.
‘Isto me faria desistir de mulheres pro resto da vida’, disse um deles.
‘Limpá-lo? Sim, eu suponho. Mas terá que ser também decorado porque eu estou encrencado com o departamento de saúde da cidade. Eles não estão satisfeitos. Eles disseram que eu tenho que ajeita-lo ou algo parecido. E então, que tal rapazes? Você vão faze-lo’?
George disse ‘Okay, Al, o que é que você tem para nós então? É um porre de um trabalho chatérrimos, né’?
‘Eu digo o que farei. Uma senhora oferta. Quando vocês trabalharem receberão 10 pounds por noite, certo’?
‘Certo’, eles disseram.
‘Certo, então eu dareri a vocês 10 pratas para fazer o banheiro-limpar e pinta-lo. E mais uns trocados por uma noite de serviço’.
‘Como você vai pagar’? perguntou Lennon, me olhando meio de lado. Ele nunca confiou em ninguém, aquele rapaz, mesmo naquela idade.
Os Beatles não estavam conseguindo muito trabalho, então estavam sempre precisando de dinheiro. George e Paul tinham um tipo de biscate qualquer. Tommy (Moore, que tocava com os Beatles na época) ganhava uns trocados com um horrível trabalho com garrafas (o Glass Menagerie, eles costumavam chamar). John e Stuart estudavam no Art College, quando sentiam vontade.
‘Escute John. Você receberá dez pratas por noite se e quando você trabalhar. Eu darei a todos vocês 10 pratas, e vocês não têm que pagar despesas. Então será um bom proveito’.
Eles discutiram entre eles e aceitaram minha oferta.
Durante o dia, enquanto eles estavam trabalhando no banheiro, a situação seria inconveniente. Quando alguma das freguesas precisavam utilizar o banheiro, eu chamava John, Paul e Stuart – Tommy não estava por perto – ‘Venham rapazes, temos uma freguesa. Uma parada de só alguns minutos’.
Enquanto as garotas usavam o banheiro, os Beatles tomavam café e descansavam
Eles pintaram belas cenas de rock’n’roll nas paredes do banheiro. Mais tarde eles fizeram o mesmo trabalho no sub-solo. Na minha opinião, estes foram exemplos brilhantes de arte primitiva. A palavra ‘primitiva’ é geralmente usada para descrever algo cru e feio, mas neste caso eu uso esta palavra no senso artístico-significando simples, poderoso.
Os murais tiveram um tremendo impacto nos fregueses. Um professor americano de arte, chamado, se eu me lembro direito, Norman Crisp, ficou bastante impressionado. Ele veio ao Jac uma noite para um café. Ele estava andando por Liverpool com um grupo de amigos. Imediatamente depois de ter visto os murais ele disse, ‘Mas isto é soberbo. Quem os fez’?
Eu disse a ele que aquilo era o trabalho de um conjunto de rock’n’roll chamado The Beatles.
Ele parecia muito interessado no nome e me disse, ‘Eu acho que eles mostram grande potencial, não importa quem sejam. Ótimo material’. Ele perguntou se eles estavam por perto e eu lhe disse que ele poderia encontra-los mais tarde naquela noite, quando eles certamente apareceriam.
Crisp e seus amigos esperaram aproximadamente duas horas. Os Beatles não apareceram e eu não vi mais o professor. Quem sabe o que teria acontecido se o professor tivesse encontrado os rapazes aquela noite? Eles poderiam ter tido divergidos dos seus interesses musicais pelo entusiasmo por sua arte e nós poderíamos nunca ter tido os Beatles e as mudanças fenomenais que eles provocaram na música e na cultura e em toda a sociedade. Se, se, se...
O Jac foi redecorado várias vezes depois dessa e os murais que os Beatles pintaram foram repintados. Talvez hoje eles valessem muito dinheiro. Eles iriam sem dúvida alguma merecer um lugar num museu dos Beatles.
Eu creio que um dos rapazes assinou o trabalho em algum lugar. Mais provavelmente no banheiro. Este é o tipo de lugar que eles iam achar apropriado, com o peculiar senso de humor que eles tinham.
*Todos agradecimentos a Leilane que emprestou o livro torando possível a tradução de Cláudia “Lennon” do fã-clube Yellow Submarine e que 24 anos depois reproduzimos e reconhecemos vossos esforços.
Fernando Natalici entrevista Allan Williams*
Uma rara entrevista do pouco conhecido e lembrado Allan Williams, o empresário que perdeu os Beatles para Brian Epstein em 1962, e sofreu um prejuízo de 2 milhões de libras, no processo. Essa entrevista foi realizada em dezembro de 1976, quando Allan Williams deu palestras e coletivas em várias convenções de fã-clubes na Europa e América promovendo o seu livro “The man who gave the Beatles away”. O mais engraçado é que Andy Williams declarou não ter idéia da cena musical no Brasil mas gostaria de ter...
Fernando Natalici – Como tudo aconteceu, você foi o primeiro empresário dos Beatles?
Allan Williams – Eu tinha um bar em Liverpool que era um ponto de parada para muitos naquela época. Dois rapazes que sempre estavam lá eram Stuart Sutcliffe e John Lennon, que trabalhavam para a Escola de Artes local. Eu precisava de alguém para pintar e redecorar o banheiro das mulheres que estava ficando indecente, devido ao excesso de palavrões, escritos na parede. Então John e Stuart fizeram o trabalho. Eu não sabia que estavam envolvidos em um grupo. Até que um dia vieram pedir-me ajuda e para tocarem no bar. Então perguntei – Quem são vocês? Eles responderam – The Beatles. Eu gostei imediatamente do estilo e personalidade de cada um dos integrantes, e consegui para que se apresentassem como abertura de um show de strip-teases por 10 shillings cada. Meu sócio Lord Woodbine enraivecido acusou-me de estar protegendo e pagando-os em excesso!
Fernando Natalici - Como era o seu trabalho como empresário dos então recém-formados The Beatles?
Allan Williams – Loucura! – Eles eram umas pessoas muito dinâmicas e possuíam personalidades totalmente individuais. Trabalhei com eles antes de Ringo ingressar no conjunto. Naquele tempo, os Beatles eram cinco! Existia uma lenda em torno do quinto beatle, Brian Epstein foi chamado de “O quinto beatle”. Agora, dezesseis anos depois, querem me considerar “O Quinto”. – Ele era realmente Stuart Sutcliffe, ‘guitarrista sic’ tragicamente morto de um tumor cerebral aos 21 anos em Hamburgo. Ele foi muito confundido com Pete Best, que foi o primeiro baterista que eles tiveram.
Fernando Natalici - Existia alguma diferença no som dos Beatles com Pete Best na bateria?
Andy Williams – Em termos de som, não existia muita diferença. Ringo é um baterista mais potente. Pete era razoável. Ele e John não se davam muito bem. Até que resolveu abandonar o grupo.
Fernando Natalici - Como você foi afetado depois de passado os Beatles para frente e ver que ficaram mais famosos mais tarde?
Allan Williams – Estou aqui vivo, contente, tenho ótima saúde, esposa, filhos – não estou nadando em dinheiro, mas estou satisfeito com o que tenho e de ter feito parte da história dos Beatles.
Fernando Natalici – O que você acha do fenômeno 'Bring back the Beatles' que está acontecendo atualmente?
Allan Williams – Isto prova que eles eram um fenômeno mesmo! E desde que abandonaram a cena musical juntos, existe um vácuo... Fernando Natalici - Por que você passou os Beatles adiante?
Allan Williams – Quando mandei-os pela segunda vez para Hamburgo, John Lennon persuadiu os outros integrantes do grupo a não pagarem minhas comissões. Naquela época eu estava abrindo outro clube, e não queria ter problemas com eles. Escrevi-lhes uma carta dizendo que nunca mais trabalhariam comigo e que seriam colocados na ‘lista negra’ de Liverpool.
Fernando Natalici – O que aconteceu depois que você colocou-os na ‘lista negra’?
Allan Williams – Bem, acho que depois disso todo o mundo sabe o que aconteceu, passou a ser história!
Fernando Natalici – O que você acha das possibilidades dos Beatles se reunirem novamente?
Allan Williams – Impossível. Quando encontrei-me com o Paul na última vez, fiz-lhe a mesma pergunta. Ele deu-me uma resposta direta – Não. – Eles não precisam e não querem fazer isto!
(*Fernando Natalici, de Nova York na Beatles Convention 1976 – Jornal de Música, 21 jan. /1977! Hoje. Fernando Natalici é fotógrafo brasileiro residente em Nova York).
Nos anos 80. Allan Williams, o ex-empresário dos Beatles, depois de fazer inúmeras palestras contando como conheceu os Beatles em Liverpool, fez muito sucesso na Convenção dos Beatles em Amsterdam, na Holanda em 19 abr. / 1981. Allan Williams, deu a sua primeira palestra na Primeira Convenção dos Beatles, ocorrida na cidade de Norwich (Inglaterra) no final de agosto de 1976. E não parou mais. Nos anos 80 li que ele estava suspenso da arrecadação monetária de uma estátua em homenagem aos Beatles. Desconheço o motivo. (Mário “LenMac”).
Allan Williams autógrafa livros e vê seu "prejuízo" encenado nos palcos
Dublin, 2003 - Many regard Allan Williams, the self-proclaimed ‘man who gave the Beatles away’, as rock’s ultimate loser, the small-time coffee-bar owner who missed out on millions. The Man Who Gave The Beatles Away, a new musical by Irish playwright Ronan Wilmot, running at the New Theatre in Dublin from October to December 2002, shows, very affectionately, that he wasn’t the man for the job and was better suited to running slightly shady clubs in his beloved Liverpool. The play features both a young and an old Allan Williams (Darren McHugh and Pearse Butler, respectively) and when the younger man asks the other, "Was it worth it?", he responds, "You bet." Of course, because Williams’s life has been transformed by his brief association with the Beatles: he is now a globe-trotting pensioner guesting at one Convention after another, and a second volume of his memoirs will appear in 2003.
There has to be dramatic licence, so I never expect a biographical play to offer total accuracy. As this musical is based on Williams’ own hyperbolic reminscences, I expected even less, but it doesn’t matter. The Man Who Gave The Beatles Away tells you much about Allan Williams’s relationship with the Beatles and is performed with such enthusiasm that you are sucked into the story. Almost everywhere though, something is wrong - this John Lennon plays bass and the play has you believe that they wrote "I’ll Get You" in 1960 and performed "Twist And Shout" (with Neil O’Farrell as Paul on lead vocal) before it was even recorded by the Isley Brothers. They have their Hamburg sound long before they reach Hamburg and if that were so, Williams would have been incredibly naive not to recognise their potential.
Ronan Wilmot shows that the leader of the Beatles was John Lennon. On the opening night, Allan’s former wife, Beryl, said, "You’ve got John Lennon exactly right. He always had to have the last word." And a funny one at that. Allan’s marriage to a Liverpool Chinese girl, played by Secret Huang, is well handled, but, in reality, there was opposition from both families to this match.
Pearse Butler is very good as the elder Williams and his ten minute monologue about his childhood and the death of his mother is a tour de force. Three of Butler’s sons are in the band - Kevin (John Lennon), Daragh (George Harrison) and Damien (Tommy Moore, Norman Chapman and Pete Best - presumably Beatle drummers before Ringo Starr were interchangeable!). They are not lookalikes but you can believe in the characters they are playing. To the accompaniment of "You Really Got A Hold On Me", the death of Stu Sutcliffe (Anthony Fox) is handled very sympathetically - although the author should have included Williams’s take on what had happened and surely Stu’s girlfriend, Astrid Kirchherr (Martha Van der Bly), always wore black. Allan Williams fell out with the Beatles over the payment of 10 per cent commission and, with hindsight, this was fortunate as it paved the way for Brian Epstein.
As they say in the business, The Man Who Gave The Beatles Away has legs and is expected to travel to Liverpool and other parts of the UK. It is not difficult to stage and would be perfect for any Beatles convention, perhaps with a third Allan Williams to hand with his comments.