ZÉ CELSO DIRIGE E ATUA NA NOVA MONTAGEM D'O REI DA VELA' NO RIO

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'Bichos' (1960), de Lygia Clark, pertencente à Coleção Chateaubriand: permuta suspensa Foto: Valentino Faldini/Divulgação

MAM DESISTE DE VENDER 'BICHO' DE LYGIA CLARK 


POR NELSON GOBBI 

16 abr. / 2018 - RIO — Após pressão de artistas, galeristas e curadores que assinaram um manifesto contra a a venda da tela Nº 16", de Jackson Pollock (1912-1956), o Museu de Arte Moderna se viu em meio a outra polêmica neste fim de semana, quando foi noticiada uma permuta entre dois "Bichos", de Lygia Clark (1920-1988), entre as coleções do MAM e de Gilberto Chateaubriand para reverter fundos para a instituição.

Conforme noticiou o "Jornal do Brasil", a Coleção Chateaubriand (que está em comodato no museu desde a década de 1990) estaria estudando a doação de um Bicho (1960), em alumínio, para o acervo do museu. Outra obra de Lygia Clark, "Bicho relógio de sol" (1960-1963), de propriedade do MAM, seria repassada à coleção Chateaubriand para, posteriormente, ser colocada à venda. O valor seria revertido à instituição.

Mesmo com a possibilidade da doação, a proposta de negociação foi alvo de críticas no meio artístico. Um dos questionamentos abordava a teórica raridade do Bicho relógio de sol do MAM, que seria dourado e não prateado, como as obras mais conhecidas da artista. A informação é negada pelo departamento de museologia do MAM, que, por nota, confirma que a obra pertencente ao museu também é prateada e não dourada.

Neste contexto, Carlos Alberto Chateaubriand, presidente da instituição, decidiu não dar sequência à operação. De acordo com informações do MAM, todos os esforços serão concentrados na venda do Pollock neste momento e que, caso surja algum interesse de comprador, o "Bicho" a ser negociado será o da Coleção Chateaubriand. Segundo o museu, a permuta vinha sendo estudada desde o ano passado, antes da decisão da venda da tela do pintor americano, mas para isso foi necessário a certificação de "Bicho relógio de sol" junto à família de Lygia Clark, o que só ocorreu recentemente.

A instituição não fala em valores, mas um representante do mercado de artes, que preferiu não se identificar por não ter avaliado as duas obras pessoalmente, diz que, em valores de mercado, o Bicho e o Bicho relógio de sol valeriam, respectivamente, R$ 3 milhões e R$ 2 milhões.

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O quadro 'Nº16' de Jackson Pollock - Divulgação

— Não acredito que faria diferença em colocar a obra em leilão ou fazê-lo por venda direta. Tem uma boa quantidade de Lygia Clark no mercado, estes valores não se alteram tanto assim. Sobretudo em um momento econômico como este — afirma o especialista.

A obra Bicho relógio de sol foi doada à coleção do MAM em 1989, e foi exposta pela última vez no Instituto Tomie Ohtake (SP), na mostra Artistas do moderno, a invenção da mulher, realizada entre junho e agosto do ano passado, com curadoria de Paulo Herkenhoff. A "Bicho" da Coleção Chateaubriand, de maiores dimensões, está em exibição no terceiro andar do Museu, na mostra Guy Brett: A proximidade crítica, com curadoria de Paulo Venancio Filho, em colaboração de Luciano Figueiredo.

Enquanto isso, o MAM segue os procedimentos para leiloar a tela Nº 16, que poderia render até US$ 25 milhões, a serem aplicados em um fundo auditado, com partes dos rendimentos anuais voltados às despesas do museu e a renovação de acervo. Diante do interesse de possíveis compradores brasileiros, a instituição tenta realizar o leilão no país, mesmo que conduzido por grandes casas internacionais, como Christie's, Sotheby's ou Phillips.

Leia mais: https://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/mam-desiste-de-vender-bicho-de-lygia-clark-22597779#ixzz5CwI0suaI

THE WALKING DEAD S08E16: O FIM DA GUERRA

Por Vitória Pratini —  http://www.adorocinema.com/noticias/series/noticia-139399/

walkingdead
Leia a nossa crítica de Wrath, último episódio da temporada — com spoilers!

 
Atenção: o texto a seguir contém spoilers do 16º episódio da 8ª temporada de The Walking Dead

16 abr. / 2018 - A guerra entre Rick (Andrew Lincoln) e Negan (Jeffrey Dean Morgan) finalmente chegou ao fim, sem mortes importantes, em um conflito que durou bem menos do que o necessário. The Walking Dead não só acelerou a ação para o último capítulo da temporada, como concluiu a briga com meia hora de episódio.

A série encerrou seu 8º ano investindo no mesmo foco de toda temporada: as palavras de Carl (Chandler Riggs), que impulsionaram uma cena entre Rick e Siddiq (Avi Nash), algo que deveria ter acontecido há algum tempo; estiveram presentes em um flashback, e foram a derrocada de Negan.

Não se pode dizer que Wrath ("Ira", na tradução) não teve seus bons momentos. O S08E16, exibido no último domingo, empolgou ao unir todos os personagens de Alexandria, Hilltop e o Reino contra os Salvadores. Destaque para a locação onde aconteceu o conflito, ao ar livre, durante o dia; gerando boas cenas de luta, como de Michonne (Danai Gurira) com sua katana.

Também se juntaram à briga as mulheres de Oceanside — que previsivelmente apareceram — e os ex-Salvadores que eram reféns e prometeram ajudar Tara (Alanna Masterson) e os demais quando Enid (Katelyn Nacon) foge com uma bebê desengonçadamente nos braços e chorando.

A produção ainda tentou apresentar a redenção de Eugene (Josh McDermitt), fazendo com que ele fosse o salvador do dia, ao ter alterado as balas das armas. Por mais que a ideia tenha gerado uma boa sequência — inclusive com um Padre Gabriel (Seth Gilliam) ainda cego e Dwight atacando Negan — não tornou o personagem de McDermitt ainda menos insuportável do que já era. Um dos destaques, inclusive, envolveu Dwight, sempre muito bem interpretado por Austin Amelio, e Daryl (Norman Reedus).

Entretanto, o que mais surpreendeu foi a briga "mano a mano" entre Rick e Negan. Ambientado perto das árvores com vitrais mostradas anteriormente na temporada, o confronto teve um desfecho pouco previsível, trazendo Rick, novamente, traindo sua palavra. Difícil acreditar que, depois de tudo que Grimes fez, ele daria 10 segundos para ele se recompor, mesmo que fosse em nome do Carl. Ainda assim, o mais interessante foi quando Negan revelou que o "uni, duni, tê" que gerou a morte de Abraham (Michael Cudlitz) tinha sido uma farsa.

Um ponto alto do episódio, porém repetitivo, foi o conflito de Morgan (Lennie James), que brilhantemente questiona a Rick que eles são piores do que eram antes. Enquanto, pela primeira vez, a alucinação que ele teve com Jared pareceu interessante, quase divertida; mais uma vez a série resolveu inserir o conflito entre ele e Jesus (Tom Payne), só que desta vez com diálogos, conselhos e um sermão digno do nome bíblico do personagem. O estopim que gerou a saída de Morgan para o spin-off Fear The Walking Dead foi o discurso de Rick, prometendo misericórdia para todos.

Outro destaque do capítulo foi quando o personagem de Andrew Lincoln decidiu poupar Negan, gerando uma reação emotiva e raivosa de Maggie (Lauren Cohan), ainda de luto por seu marido Glenn (Steven Yeun). Parece que a série pretende investir na líder de Hilltop como uma vilã — ao lado de Daryl e Jesus — isso se o contrato de Cohan for renovado para a próxima temporada.

Passado o arco dos Salvadores, The Walking Dead trilha caminho para um novo momento. Ainda que a aguardada trama dos Sussurradores não pareça estar perto de acontecer.

ilustríssima

TENSO: A NOVA VERSÃO DA SÉRIE 'PERDIDOS NO ESPAÇO' TEM TOM MAIS VEROSSÍMIL E SOMBRIO

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Pioneira na ficção científica para a TV, produção dos anos 1960 tinha faceta cômica

Rodrigo Salem
VANCOUVER (CANADÁ)

13 abr. / 2018 - A família Robinson se reúne na nave espacial Júpiter 2. John e Maureen explicam aos filhos, Judy, Penny e Will (é claro), que somente o pai deles é capaz de resolver um problema que pode tirá-los do planeta onde estão encalhados.

O caçula pergunta se o pai pode prometer retornar com vida. "Não posso fazer isso", rebate John com frieza militar.

Enquanto o garoto sai contrariado e calado, uma frase icônica parece ecoar na mente de todos que veem a cena gravada em Vancouver (Canadá): "Perigo, Will Robinson, Perigo!".

A Folha acompanhou em maio de 2017 as filmagens da nova versão de Perdidos no Espaço, uma das mais conhecidas séries de ficção científica da TV, que estreia nesta sexta-feira (13) na Netflix.

A atração original foi criada em 1965 pelo produtor Irwin Allen (1916-1991). Agora, nas mãos da Netflix, a história da família que vaga no espaço em busca de um novo lar troca a faceta cômica da antiga série (e do filme fracassado de 1998) por dez episódios dramáticos e repletos de efeitos especiais caros.

"Quando ganhei a oportunidade de refazer o programa, não pensei em reinventar os personagens, mas adaptá-los para uma realidade moderna e verossímil", explica à Folha o produtor Burk Sharpless, que se inspirou no Star Trek (2009) de J. J. Abrams para encontrar o equilíbrio entre homenagens e atualizações.

"Temos temas sérios como inteligência alienígena, mas bastante humor. Espero agradar velhos e novos fãs."

O novo Perdidos no Espaço toma outras liberdades criativas, sendo a maior delas a escolha da atriz Parker Posey (Pânico 3) para viver a Dra. Smith, papel que ficou famoso pelas mãos de Jonathan Harris (1914-2002).

"Harris foi tão criativo. Era obcecada por ele quando tinha seis anos, era divertido e charmoso. Adorei homenagear esse personagem criando a minha Smith de maneira diferente, ainda mais ambígua", afirma Posey. "Ela é ainda mais ambígua."

A trajetória da Dra. Smith e dos personagens, inclusive o mecânico Don West (Ignacio Serricchio), é contada por meio de flashbacks.

Descobrimos que daqui a dezenas de anos a Terra sofre um impacto de um meteoro e logo se tornará inabitável. Para evitar a extinção da raça humana, centenas de naves são lançadas de uma base em órbita rumo à Alpha Centauri.

Os Robinsons sofrem um acidente e terminam presos em um planeta, até que encontram a Dra. Smith, West e a última peça do xadrez: o robô.

Ao contrário daquele visual de liquidificador com braços de borrachas (controlados pelo ator Bob May, de dentro da peça) dos anos 1960, o novo Robô é uma máquina alienígena que mais lembra uma mistura de Robocop com Ultron, de Vingadores.

"Ele é uma arma, um viajante de sabedoria antiga e um protetor", descreve o designer de produção Ross Dempster.

Mas assim como no "Perdidos no Espaço" original —que teve apenas três temporadas (uma em preto e branco e duas coloridas)—, o Robô tem uma relação especial com o garotinho Will Robinson.

"Eles dependem um do outro e há uma confiança mútua. Eles não seriam as mesmas pessoas se não andassem juntas", resume o ator-mirim Maxwell Jenkins (de "Sense 8"), lembrando da ausência do pai do personagem durante boa parte da vida de Will. "O robô é tudo que estava faltando na vida dele."

O drama pode incomodar alguns que esperam uma comédia mais leve. A família Robinson volta e meia precisa equilibrar situações de risco de morte com brigas íntimas.

"O casamento não está bem, meu personagem passa muito tempo longe de casa. Quando eles caem neste planeta, precisam resolver como sobreviver e lidar uns com os outros", conta Toby Stephens (de "Black Sails"), que interpreta John Robinson.

"É uma grande aventura", completa Molly Parker (de House of Cards), que vive Maureen. "E há humor. Afinal, veja a ironia de ter uma família discutindo coisas mundanas em um outro planeta."

O jornalista RODRIGO SALEM viajou a convite da Netflix

PERDIDOS NO TEMPO

A saga dos Robinsons em três momentos

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Divulgação
1965-1968

Pioneira na ficção científica para a TV, a produção de Irwin Allen era uma aventura bem-humorada com monstros reciclados de outros shows dele. O foco era a família e não termos científicos. Há influência de 'Robinson Crusoé', de Daniel Defoe. Jonathan Harris (foto) ficou famoso pelo papel de Dr. Smith

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Reprodução
1998

O diretor Stephen Hopkins criou uma ficção científica dark e centrada na ação. Teve bilheteria medíocre (US$ 136 milhões) e avaliações destruidoras de críticos e do público. O elenco teve a participação de diversos atores da série original e de atores famosos, como Gary Oldman e Matt Leblanc, o Joey de 'Friends'

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Cena de Perdidos no Espaço
Divulgação
2018

Os dez episódios de uma hora cada focam a família aventureira e os problemas cotidianos em cenários extraterrestres. A série se passa daqui a 30 anos. Parker Posey traz um pouco do charme cômico da produção original. Molly Parker (esq.), de 'House of Cards', vive a matriarca engenheira aeroespacial

NA INTERNET PERDIDOS NO ESPAÇO

Estreia da série de dez episódios

QUANDO nesta sexta-feira (13) , na Netflix


ilustríssima
FORTÃO QUE BOTA ORDEM NA CASA, SUPERMAN É ACUSADO DE SER FASCISTA HÁ 80 ANOS

Ataques mais frequentes são de que quadrinhos naturalizam violência como forma de resolver problemas

por Rogério de Campos - Folha de S. Paulo 

13 abr. / 2018 - RESUMO Publicado pela primeira vez há 80 anos e chegando ao número mil, o Super-Homem sempre foi acusado de ser fascista ou nazista. Os ataques mais frequentes são de que os quadrinhos naturalizam a violência como forma de resolver problemas e sugerem a necessidade de um homem forte para botar ordem na sociedade.

O editor Harry Donenfeld já subira muito na vida: décadas antes, ninguém teria dado nada por aquele malandro, membro de uma das tantas gangues juvenis do Lower East Side, em Nova York. Graças à amizade com o mafioso Frank Costello, ele ganhou bastante dinheiro com um esquema de distribuição de revistas que também servia para bebidas alcoólicas durante a Lei Seca (1920-33).

No final dos anos 1930, de olho no interesse crescente por histórias em quadrinhos —cujo mercado, à época, se restringia a coletâneas de tiras publicadas nos jornais—, Donenfeld usou sua editora, a National (que depois passou a se chamar DC Comics), para publicar o abundante (e barato) material rejeitado pelos periódicos.

Ele provavelmente nem ficou sabendo quando, em março de 1938, a editora comprou os direitos de uma HQ criada por dois nerds de Cleveland. Chamava-se “Superman” e custou US$ 130 (cerca de US$ 2.300 hoje em dia, ou R$ 7.800).

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Primeira edição da revista 'Action Comics', com estreia do Superman /Reprodução
 
​​Donenfeld ficou chocado ao ver o primeiro número do Action Comics, o novo livro de quadrinhos da sua editora. A capa trazia um personagem de roupa colante e capa vermelha levantado um carro com as mãos e jogando-o contra uma rocha.

Assim como vários editores que haviam visto aquilo antes, Donenfeld achou a ideia tosca e ridícula demais até para o público infanto-juvenil. Antes de conseguirem espaço na editora National, o roteirista Jerry Siegel e o desenhista Joe Shuster colecionaram inúmeras cartas de recusa.

Para surpresa de quase todos, o sucesso foi estrondoso e duradouro. Passados 80 anos de seu lançamento, os gibis do Super-Homem ainda são produzidos; neste mês, a revista comemora seu número mil com uma edição especial.

Como uma subcultura juvenil que parecia condenada ao desaparecimento transforma-se na cultura dominante do nosso tempo?

“Na minha opinião, essa adoção de personagens inequivocamente infantis do início do século 20 parece indicar uma fuga das opressivas complexidades da existência moderna”, disse Alan Moore, muito provavelmente o maior roteirista do gênero de super-heróis.

Publicada em 2014, a entrevista ao escritor irlandês Pádraig Ó Méalóid anunciava a intenção de Moore de abandonar os quadrinhos.

“Parece que uma parte significativa do público, tendo desistido de tentar entender a realidade em que está vivendo, chegou à conclusão de que poderia, pelo menos, compreender os universos sem sentido, extensos, mas pelo menos limitados, oferecidos pela DC ou Marvel.”

Moore continua: “É catastrófico que criações do século passado, que nasceram para ser efêmeras, ocupem o palco cultural e se recusem a permitir que esta nossa era, certamente sem precedentes, desenvolva uma cultura própria, relevante e que dê conta das questões de nosso tempo”.

ATAQUES

Assim que foi criado, o Super-Homem foi condenado pela Igreja Católica, que odiou o personagem implausível, vindo do espaço para salvar os terráqueos. Num clima de pré-Segunda Guerra Mundial, a acusação inicial de paganismo logo deu lugar à pecha de fascista.

Mas houve intelectuais católicos que estudaram o Superman sob outra perspectiva. Marshall McLuhan, por exemplo, no livro “The Mechanical Bride: Folklore of Industrial Man” (a noiva mecânica: folclore do homem industrial, 1951), compara os super-heróis a anjos.

“Poderíamos dizer que o Super-Homem é o irmão em forma de quadrinhos dos anjos medievais. Porque os anjos, como explica Tomás de Aquino, estão acima do tempo e do espaço, mas podem agir no mundo com uma energia material sobre-humana. Como o Super-Homem, eles não precisam de educação nem de experiência, porque possuem, sem esforço, uma inteligência perfeita sobre todas as coisas.”

Por sua vez, o padre jesuíta Walter J. Ong, amigo e aluno de McLuhan, questionado pela revista Time, em 1945, foi categórico: “O Super-Homem é nazista”.

O debate estava na ordem do dia. O folclorista Gershon Legman, que não era nada católico, considerava que os problemas dos EUA eram a repressão sexual e o peso na consciência pelo massacre dos índios.

Especialista em erotismo, suposto inventor do vibrador e do slogan “faça amor, não faça a guerra”, ele via os gibis de super-heróis como uma válvula de escape, mas para o excesso de repressão sexual.

Para ele, o Super-Homem é uma apoteose provinciana do “Übermensch nazi” (super-homem nazista), e os gibis do personagem davam “a cada criança americana um curso completo de megalomania paranoica, como nenhuma criança já teve, uma convicção total na moralidade do uso da força como nenhum nazista poderia sonhar”.

O psiquiatra Fredric Wertham, autor do infame “Seduction of the Innocent” (a sedução dos inocentes, 1954) —livro que deu a base teórica para a campanha de censura aos quadrinhos nos anos 1950—, insistia que os gibis do Super-Homem e de super-heróis em geral eram aulas de fascismo para as crianças.

Garantiu que suas pesquisas haviam provado que as crianças expostas àquele tipo de publicação demonstravam “um embotamento da sensibilidade à crueldade exatamente igual àquele que caracterizou toda uma geração de jovens da Europa Central alimentada pelo mito Nietzsche-nazi do homem excepcional que está além do bem e do mal”. Wertham criou o termo “complexo de Superman” para descrever “fantasias de prazer sádico em ver outras pessoas sendo punidas várias e várias vezes enquanto você fica imune”.

A literatura antissuperfascista é ampla. As acusações mais constantes aos quadrinhos são de que naturalizam a violência como melhor forma de resolver problemas, inclusive os sociais, e, claro, de que há um autoritarismo intrínseco na ideia de ser preciso um homem forte para botar ordem na sociedade.

Como escreveu o inglês China Miéville a respeito de “Batman - O Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller: “A ideia subjacente é que as pessoas são ovelhas que precisam de um pastor forte”.

Também se apontou o desprezo pelas instituições criadas em torno do voto, o elogio das autoridades não eleitas (militares, policiais, juízes), uma rebeldia juvenil contra a desordem e a promoção de novas elites.

A própria escolha de Clark Kent como contraponto ao homem de aço diz muito: fraco, covarde, intelectual incapaz da ação, alguém que jamais resolveria qualquer problema, um homem comum.

Pior que isso, Clark Kent é um homem que se submete à mulher.

Mesmo a crítica ao Estado em várias dessas HQs seria de extrema direita: o Estado surge como vilão porque, dominado por fracos e covardes, impede os seres superiores de exercer seu poder livremente.

Tais acusações não têm afetado as vendas dos gibis desse gênero. Talvez por isso não tenha havido muito esforço da indústria em respondê-las. Em geral, quando a discussão a respeito do assunto toma maiores proporções, a solução preferida é lançar ou promover super-heróis negros, ou gays, ou latinos, ou super-heroínas. Assim, enquanto responde às demandas da correção política, avança sobre um novo público consumidor. Um marketing autossustentável.

NAZISMO

De resto, os porta-vozes da indústria apenas observam que, como o Super-Homem foi criado por dois garotos judeus, não pode ser nazista. E, dado que é uma criação americana, não pode ser fascista.

Costuma-se lembrar também que Hitler e Mussolini proibiram os gibis de super-heróis. Na verdade, a legislação fascista banindo da Itália os quadrinhos americanos é de 1938, anterior à publicação dos quadrinhos do tipo.

Foi repetida mais de mil vezes a história de que Joseph Goebbels, ministro da Propaganda nazista, teria demonstrado sua fúria contra o personagem em uma reunião no seu gabinete, batendo a mão na mesa e gritando: “Super-Homem é judeu!”.

Não há registro desse suposto gesto irascível, mas existe um texto, na edição de abril de 1940, que salta aos olhos dentre o lixo antissemita habitual do semanário “Das Schwarze Korps” (o corpo negro), da SS, a milícia nazista.

“Jerry [Siegel, coinventor do Super-Homem] olhou o mundo e viu as coisas acontecendo à distância, algumas que o alarmaram. Ele ouviu o despertar da Alemanha, a revitalização da Itália, em resumo, o ressurgimento das virtudes masculinas de Roma e Grécia. ‘Tudo bem’, pensou Jerry, que decidiu importar a ideia da virtude masculina e espalhá-la entre os jovens americanos. E assim nasceu esse ‘Superman’.”

Ou seja, a SS via o Superman como uma imitação do nazismo.

O americano Chris Gavaler, pesquisador de histórias em quadrinhos, escreveu: “O super-herói surge por causa do fascismo. Sem Adolf Hitler, jamais o Super-Homem teria conseguido chegar à capa do Action Comics em 1938. [...] Os super-heróis, paradoxalmente, defendiam a democracia com métodos antidemocráticos. Eram fascistas lutando contra fascistas”.

Para muitos, a violência e a seriedade das novas HQs de super-heróis provam o amadurecimento do gênero, mas me vem à mente a pergunta de Federico Fellini: “O que é o fascismo se não a adolescência prolongada para muito além de seu tempo?”.

É tentador analisar a espetacular popularidade dos super-heróis entre adultos hoje em dia como componente da onda conservadora que começou a engolir o mundo a partir dos anos 80. Mas e se chegarmos à conclusão de que gibis e filmes de super-heróis, mais que mero reflexo de um mundo cada vez mais autoritário e obscurantista, exercem um papel para a manutenção desse estado de coisas?

Os fanáticos religiosos e a extrema direita têm a solução deles para a literatura que consideram perigosa: as fogueiras (podem ou não incluir os autores).

As fogueiras e a censura servem à barbárie. Nossa tarefa é desfazer o triste encanto que tomou o mundo. Um encanto que nos impede de lembrar que a vida pode ser melhor do que ela é e que nós, pessoas comuns, podemos fazer a vida ser melhor do que ela é. Quando conseguirmos isso, não precisaremos mais do Super-Homem.

Rogério de Campos, 56, é diretor editorial da Veneta e autor de "Super-Homem e o Romantismo de Aço (Ugra Press) e "Imageria - O Nascimento das Histórias em Quadrinhos" (Veneta).

 rei da vela

Zé Celso dirige e atua... Foto: Divulgação/Jennifer Glass

'O REI DA VELA'
Cidade das Artes, Zé Celso Martinez dirige e atua na nova montagem de peça célebre do Oficina
 
POR PAULA LACERDAhttps://oglobo.globo.com/rioshow/o-rei-da-vela-22583236

13 abr. / 2018 - O novo espetáculo do Teatro Oficina — desde 2010 sem subir em palcos cariocas — é o velho espetáculo do Oficina: em outras palavras, O rei da vela, texto de Oswald de Andrade montado pela primeira vez pela companhia em 1967 e que volta, também pelas mãos de Zé Celso Martinez Corrêa e após temporada em São Paulo, na Grande Sala da Cidade das Artes.

A ocasião da nova encenação parte de efemérides: ano passado, a montagem fez 50 anos; Zé Celso, 80. Mas a oportunidade grita como justificativa. Zé Celso, que além de dirigir também atua na peça (ele é a virgem Dona Poloca, alternando o papel, nas apresentações, com Cristina Mutarelli), crava:

— O poeta extraordinário, em momentos de crise, emerge. O texto foi escrito em 1933, publicado em 37, montado em 67 e agora volta. Sempre em momentos em que o Estado mergulha na obscuridade e no fascismo.

Não por acaso, referências atualizadas, a história contada é a mesma. Uma tragicomédia sobre o capital e a luta de classes, apresentando a história de dois Aberlados: o primeiro, um banqueiro agiota (que em São Paulo foi assumido por seu intérprete original, Renato Borghi, e por aqui ganha a atuação de Marcelo Drummond), o segundo; seu empregado socialista (Tulio Starling). Dois homens que sabem bem o que significa o verbo subjugar.

SERVIÇO:

Cidade das Artes (Grande Sala): Av. das Américas 5.300, Barra — 3325-0102. Sex, às 20h. Sáb e dom, às 19h. R$ 80. 180 minutos (com dois intervalos). Não recomendado para menores de 16 anos. Até 24 de abril.

BMG ASSINA ACORDO DE EXCLUSIVIDADE SOBRE CARREIRA DE RINGO STARR

ringo coroado 2

Além dos direitos sobre catálogo de mais de 50 anos, a gravadora alemã também terá exclusividade nas novas composições de ex-baterista dos Beatles

EFE - http://cultura.estadao.com.br/noticias/musica 

10 abril 2018 - O cantor e compositor britânico Ringo Starr assinou um acordo "exclusivo de publicação mundial" sobre toda a sua carreira, tanto solo como da época de baterista dos Beatles, com a gravadora BMG, segundo anunciou a empresa nesta terça-feira.

Além dos direitos sobre um catálogo musical de mais de 50 anos, a BGM também terá exclusividade nas novas composições de Ringo. O acordo inclui mais de 150 músicas, entre elas as contribuições como compositor para os Beatles, com destaque para a sua estreia na função em 1968, com "Don't Pass Me By".

Outras faixas da famosa banda de Liverpool como "What Goes On", "Octopus's Garden", "Dig it" e "Maggie Mae", também passam a ser propriedade da gravadora alemã.

Além disso, a BMG fica com a totalidade da carreira solo de Ringo Starr, cujo verdadeiro nome é Richard Starkey, que conta com 19 álbuns de estúdio. "It Don't Come Easy", "Photograph" ou "Back Off Boogaloo" são só algumas das canções mais conhecidas da trajetória solo do ex-beatle.

O diretor-geral da gravadora, Hartwig Masuch, ressaltou que "Ringo Starr é um artista contemporâneo com uma história incrível" e que a empresa está "excepcionalmente orgulhosa" de ter sido escolhida para "representar o passado e o futuro de suas canções".

O músico agradeceu pelo "entusiasmo" expressado pela BGM ao ter adquirido os direitos de toda a sua carreira.

"Amo fazer música, o processo de composição das canções e juntar músicas antigas e novas. É incrível estar trabalhando com a BGM", expressou.



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