2000: Paulo Iolovitch é pop!
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"Apesar de todos fluídos negativos o ser humano merece... Acredito que todos os seres humanos que amam mereçam... Não sei se posso me considerar um ser humano mas mereço... Escreverei uma carta de amor, todos os seres humanos pois eles merecem...". (Paulo Iolovitch, julho de 2000).
São Sebastião Pop
Paulo Iolovitch, um dos pioneiros da pop-art no Brasil residente em Brasília onde pinta há três anos e onde levantou o maior prêmio de pintura instituído para a Novacap, no I Salão de Arte Moderna do Distrito Federal, escreve-nos para dizer que realizou um São Sebastião em termos da pop-art para enviar ao concurso que a Galeria Vila Rica promove. Escreve ele ao final da carta: "Enfim, o que realmente me satisfez foi o sangue derramado; ou melhor, a tinta vermelho-marrom e algumas gotas reais do meu dedo ferido por casualidade em um dos pregos".
Na mesma carta, o artista descreve o que foi sua exposição 3 anos de Pintura em Brasília, realizada em dezembro último:
"A exposição realizou-se no Teatro Nacional em dezembro, durante a Feira de Natal. A afluência foi muito grande, inclusive vendi alguns guaches de 1962, 63. Mas o Dep. de Turismo não quis dar-me garantias nem guardas e tive que tirar os quadros. Um dos jornais daqui fotografou e publicou nota a respeito do vandalismo (me rebentaram dois trabalhos de colagem). Tentei em dezembro notificá-lo a respeito dessa exposição mas ela começou tão mal que quase previ o futuro dela. Mas, para todos os efeitos, nos poucos dias em que ficou exposta, fiz um levantamento de minha produção nestes três anos de sofrimento aqui. Era necessário, apesar do deserto, mostrar aos camelos a água que eles jamais poderiam beber".
Eis os percalços da arte moderna na mais moderna capital do mundo...
(Harry Laus, Jornal do Brasil, 17 fev. / 1965)
Iolovitch é pop!
Texto Mário Pazcheco
50.000 pessoas diariamente circulam pelo CNB (Conjunto Nacional de Brasília) aglomerado de lojas e escritórios. Kleber Marques é um desses chegantes que solicita uma informação a Paulo Iolovitch que o conduz ao Conic e à sede do Partido dos Trabalhadores...
No meio de 2000, no “Beirute” com o mesmo Kleber Marques dividindo uma “Antártica”, ví aquele pintor de boina, jaqueta e tênis levantando e acenando os braços, humanamente expondo seu trabalho... Telas que também já havia visto na casa de amigos...
— Queria comprar uma...
Foi a senha para Kleber me apresentar o pintor Paulo Iolovitch e a partir daquela noite no “Beirute” nasceram situações de resgate, encontros históricos (Iolovitch e Manoel Brigadeiro), entrevistas com Paulão de Varadero, happenings na entrada do Teatro Dulcina, acirradas conversas ideológicas e surpreendentes motivos. Nossa amizade evoluiu para padrões familiares de pai para filho para neto... Certa feita, Iolovitch furou a barreira humana e me conseguiu um autógrafo de Athos Bulcão...
304 Sul. No lado externo da porta do apartamento, a fachada de uma cidade mineira pintada... Porta e janela lateral aberta com muito verde e vista arejada. Música da “Rádio Brasília Super Rádio FM”. Em pé, apoiado na prancha, Iolovitch produz: com o auxílio da régua e do esquadro risca um retângulo, em seguida faz o fundo no tecido das telas, na sequência a hábil mão vai esboçando o desenho gerando o corte final. Acidentalmente um frasco de tinta vermelha cai derramando uma hemorragia que pinga no chão. Iolovitch senta perto da poça e em vigorosas pinceladas faz um outro fundo. Volta ao quadro original e pouco depois termina mais uma tela sonora uma homenagem aos bambas do samba: Carlos Cachaça, — Em 1928, ele introduziu o pandeiro no samba! Iolovitch ensina.
Contou que Carlos Cachaça não excursionou com Carmem Miranda, porque não podia abandonar o trabalho. Artista brasileiro!
O telefone toca, Lê Brasil, vai passar para pegar algumas telas de Iolovitch que serão usadas como uma cortina para cenário de O Anjo o novo filme Pedro Lacerda, sobre uma garota, um anjo, uma adolescente...
Sonho do sonho de Iolovitch é ver passar no próximo Festival de Cinema de Brasília, um documentário com a sua trajetória... Acabei de ligar para Iolovitch para anunciar que o seu documentário em DVD finalmente ficou pronto, se chama “Paulo Iolovitch, o Pintor de Entrequadras” filmado e concluído por nós nos últimos três anos e meio! Em dezembro, estive no seu apartamento filmando um monólogo que é uma oficina e encerra a sua fita mágica com mais de uma hora...
Numa conversa ideológica de mesa, Paulão de Varadero, perguntou: — Por que você não assina “Azul”? No início de maio de 2003, no jornal “Correio Braziliense”, o jornalista José Carlos Vieira escreveu que o grande pintor Iolovitch numa crise similar ao Prince a partir de agora assinava “Azul” e que de sacanagem ele (o repórter) continuaria chamando o pintor pelo seu nome original...
Eu particularmente, não gostei da alcunha... E conhecendo a fábrica de ideias de Iolovitch sabia que era uma pequena partícula, hoje Iolovitch, não assina mais “Azul”, suas telas não trazem mais assinaturas só um tracinho preto como carvão. Em breve, ele nem mais terá tempo para este risquinho. Quando fazem questão que assine, ele pede uma caneta e risca sob a tela.
O corpo de Iolovitch nasceu em São Paulo, porém “o pintor Iolovitch jamais morrerá...”. Depois de abandonar o emprego de publicitário em Porto Alegre, passou um tempo no Rio de Janeiro e chegou a Brasília, em fevereiro de 1962, aos 26 anos. Vinha atrás de uma paixão. Arrumou emprego de cameraman no Canal 6. E desde então desbravou o árido espaço cultural da Capital fincando uma bandeira de lutas, domesticando o cerrado. Participando da abertura de galerias pioneiras (Galeria Paiol), de livrarias e outros espaços. Em novembro deste ano, Iolovitch participaria da sua primeira mostra de arte em Brasília.
Já em 1964, expôs com sucesso no “Salão da Fundação Cultural”. A ousadia do júri local de premiar a ousadia do artista, antecipou em meses a premiação da Bienal de Veneza, quando os italianos premiaram os homônimos pintores pop americanos. Iolovitch ainda no Sul, fora apontado como o “Primeiro pintor Pop do Brasil”.
Se em 64, as obras de Iolovitch foram exibidas para o General De Gaulle, durante a visita do chefe de Estado francês, Iolovitch não se acanharia em denunciar ao jornalista Harry Laus do “Jornal do Brasil” a falta de segurança para exposição de trabalhos nos corredores do “Teatro Nacional”.
No ano seguinte a convite, conheceu a França, onde aconteceu um grande encontro com Anselmo Duarte.
No auge da Beatlemania e durante a Copa do Mundo de 66, Iolovitch conheceu a Inglaterra e a Itália.
Em 1974, ano de outra viagem pela Europa, conheceu Portugal, Espanha (casa de Picasso) e na Alemanha, na lista telefônica encontrou uma artista plástica com o mesmo sobrenome. Em 1978, quatro anos depois da “Revolução dos Cravos” ele retornou à Europa, à cidade de Paris e a qualquer hora ele lá poderá estar expondo, convites não têm faltado.
De volta a Brasília. Iolovitch, Toninho de Souza, Ary Pára-raios, Pedro Lacerda e Wanderley Lopes viveram o auge dos anos 70, trazendo à tona a discussão dos temas ligados à cultura e à ecologia, reforçando movimentos amplos antinucleares e regional nas páginas do JOU (Jornal Ordem do Universo) e nos bairros pobres e nas superquadras.
Iolovitch é muito mais que adepto da pop art, está além da multifração, da identidade – vende sua poesia, compra poesia e é generoso com os pares de palhetas.
Nos anos 80, atendendo os pedidos de pessoas, passa a pintar telas dos mais variados tamanhos experimentando até microtelas e gravatas! Da infância um tema que o marcou foi o circo. Algumas vezes encontra mulheres que carregam nas carteiras seus retratos pintados por ele.
Depois de 1971, adotou uma concepção de arte livre e passou a evitar a vulgaridade, a corrupção das galerias. A exposição pessoal de suas telas dilata as pupilas, uma droga indispensável.
Seu imaginário retrata o sabor da embriaguês preservando a geopolítica dos bares a exemplo da sua tela “Bar do Afonso”. Iolovitch pintou mais de um milhão de quadros.
Se nos anais, folhas, catálogos e indicadores há uma enorme omissão que sofrem os verdadeiros artistas brasileiros. O trabalho de Iolovitch, o primeiro artífice da pop art no Brasil ainda não atingiu a maximização industrial da pop art – sem ter sua cara estampada Iolovitch é puramente pop! Ultimamente ilustrou a capa do livro “Outro Guichê” do poeta menezes y morais, transformou uma ilustração 2001 num cartão de boas festas distribuídos aos amigos e na folhinha de 2004 da “Gráfica e Editora Positiva” aparece a reprodução de uma tela sua assinada como “Azul”.
Ativamente urbano, no restaurante “Universal Guiness” você pode encontrar Iolovitch atuando. Em grande fase criativa e produtiva, o avô-pintor curte os quatro anos do seu neto-pimpolho, Michael Iolovitch e a proximidade do 70º aniversário!
Prêmio 1.º salão de arte moderna do DF
"Senado Federal' (200 mil cruzeiros). Pelas condições de modernidade e invenção
Esquina da 109S. Michael Iolovitch Neto e Paulo encaram Sérgio Maggio, making of em duas versões
A dica da semana: Iolovitch no "Cênicos"
Sábado, 23 ago. / 2008, às 21 horas, no "Beirute" (109s) Paulo Iolovitch, foi o elemento cênico do próximo programa 'Cênicos'; a entrevista foi conduzida pelo jornalista, Sérgio Maggio. As recentes telas do artista serão exibidas no próximo Domingo (31 agosto) , às 20h, no programa que vai ao ar, pelo canal 11 da Net e 48 da Mais TV.
Paulo Iolovitch, levou o neto, Michael para participar e acompanhar de perto as aventuras do avô. Além de encontrar velhos amigos como o escritor José Roberto, ele foi seguido de perto por Ricardo (Photoman).
Em meio a tanto artista, o estresse foi erradicado, nessa noite calma noite as luzes brilharam e tudo foi no embalo das Olímpiadas.
Parte da talentosa equipe do 'Cênicos' é formada pelos simpático(a)s produtores: Nalva Sysnandes, Thaís e Jones Schneider (impecável direção de cena) . No programa, irá ao ar algumas cenas do meu documentário "Paulo Iolovitch, o pintor de entrequadras", eu também participo com um rápido depoimento onde proclamo: Iolovitch, o maior artista vivo de Brasília!
Foto: Ricardo Photoman
Foto: Edilson Rodrigues
Iolovitch e suas obras: oito “pratos feitos” pelo trabalho do artista plástico que tem a cara da cidade
Paulo Iolovitch resolveu que já era tempo de dedicar um trabalho ao Conic. Após décadas como frequentador do local, o artista acumulou centenas de histórias capazes de narrar a trajetória do lugar mais alternativo do Plano Piloto. Munido de caderninho, ele começou a entrevistar pessoas e anotar frases e desenhar perfis. Para cada entrevistado, fez uma pintura “A gente é beirutiano e coniquiano” , explica. “Todas as pessoas de Brasília passam por aqui”. “Aqui”, esta semana, é um cantinho entre dois postes ao lado de uma barbearia e perto da Praça do Chapéu. Iolovitch amarrou uma corda em cada ponta e pendurou oito pinturas. É apenas um extrato, uma amostra divertida da produção que conta com 136 peças guardadas na casa do amigo Mário Pazcheco.
Se não chover, Iolovitch vai fazer ponto esta semana na praça até vender as obras. “Eu só vendia em bares. Um dia disse: ‘Vou me dedicar um pouco ao Conic’”. Os frequentadores viraram personagens das pinturas e viram seus perfis estampados nas telas acompanhados nas telas acompanhados de frases pescadas nas entrevistas.
São dizeres que ajudam a definir o perfil do entrevistado e versam sobre a história do próprio centro comercial. Iolovitch diz que as peças custam oito “pratos feitos”, uma média de R$ 80, mas sempre pode haver negociação, coisa que o pintor aprecia como oportunidade para entabular conversas.
Correio Braziliense, 13 de dezembro de 2011